04.01.22
A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.
Hoje em dia, o nome 'Pokémon' é sinónimo de um dos maiores 'franchises' mediáticos da História, equiparante a um Harry Potter ou 'Guerra das Estrelas'; e apesar de quase todo esse crescimento ter tido lugar já no novo milénio, foi nos 'nossos' anos 90 que se estabeleceram as bases do império, através do sempre popular binómio jogo de vídeo/série animada. E porque do 'anime' já aqui falámos no nosso último post, chega agora a vez de nos debruçarmos sobre o ponto de partida de todo o fenómeno: os dois jogos de Game Boy que apresentaram ao Mundo os bicharocos super-poderosos e os seus treinadores obcecados por lutas.
A trilogia que lançou um império
Chegados a Portugal em 1999, quatro longos anos após o seu lançamento inicial no Japão, (sendo, assim, dos últimos jogos exclusivos para o Game Boy original na Europa) 'Pokémon Red' e 'Pokémon Blue' atraíam desde logo a atenção pelo seu conceito inovador; embora os gráficos e jogabilidade fossem típicos de um RPG de vista aérea da época, o jogo propunha uma mecânica inovadora, mediante a qual os cartuchos dispunham de diferentes Pokémon consoante a cor. Especificamente, enquanto que a maioria dos monstrinhos então criados seriam semelhantes entre os dois jogos, alguns apenas podiam ser adquiridos ou evoluídos para a sua metamorfose seguinte ligando o Game Boy ao de outro jogador que dispusesse da versão inversa do título; assim, um jogador com a versão Azul precisaria de se ligar a um com a versão Vermelha a fim de obter os Pokés exclusivos da mesma, e vice-versa. Esta prática era encorajada por um dos objectivos do protagonista do título, que passava precisamente por completar o seu Pokédex, o livro de registo de espécies, bem como por capturar um exemplar de cada uma delas (um desiderato que, de uma perspectiva adulta, se afigura algo problemático, mas que faz sentido no contexto do jogo .)
Exemplo dos gráficos do jogo
Mesmo quem não quisesse ou pudesse conectar-se com um amigo (os cabos de ligação para Game Boy eram praticamente inexistentes em Portugal à época) tinha, no entanto muito com que se entreter dentro do jogo principal, fosse a capturar e fortalecer os seus Pokémon (a fim de os evoluir), a derrotar outros treinadores a fim de se tornar o campeão da região, ou apenas a tentar chegar ao fim de uma história que envolvia alguns 'puzzles' nada fáceis. E a verdade é que, qualquer que fosse a preferência do jogador (por aqui, era mesmo a vertente coleccionista que mais apelava, sendo o resto por vezes mais obstáculo do que desafio), os dois primeiros títulos de Pokémon primavam pela execução cuidada e jogabilidade variada, que convidava a completar a aventura diversas vezes e descobrir todos os segredos - alguns dos quais, como a hoje famigerada suposta localização do Pokémon lendário Mew, se viriam a revelar não serem mais que rumores. Assim, não foi de espantar que ambos os jogos tivessem sido sucessos de vendas, bem aceites e apreciados tanto pelo público infantil a quem eram direccionados como por jogadores mais velhos.
Acreditava-se que Mew estivesse escondido debaixo deste camião
O sucesso dos dois jogos e do 'anime' que os acompanhava foi tanto, aliás, que a Nintendo se viu motivada a desenvolver um terceiro jogo, 'Pokémon Yellow', que incorporava ao original alguns elementos da série animada, como o uso de Pikachu como Pokémon inicial, além de ser totalmente compatível com os dois jogos anteriores. Embora menos bem sucedido (pelo menos em Portugal) este jogo foi, também, muito bem recebido, e constituiu mesmo o primeiro contacto com o 'franchise' para alguns jogadores mais novos, desatentos, ou que tivessem chegado aos jogos a partir do 'anime'.
A partir desse ponto, a história de 'Pokémon' é bem conhecida: diversos jogos para todos os sistemas da Nintendo, infinitas séries de 'anime' a acompanhar cada geração dos mesmos, um império de 'merchandise' (com direito a artigos de imitação, como é evidente - incluindo roupa) e até edições especiais de sistemas alusivos ao jogo dos monstrinhos, como a inesquecível Nintendo 64 azul com uma molde de Pikachu embutido. No total, são já mais de duas décadas de sucesso para este 'franchise', que hoje em dia talvez seja até maior e mais conhecido do que os seus antecessores directos, como Mario e Zelda. E tudo isto a partir de dois RPGs de acção lançados para um sistema praticamente obsoleto, mas que se mantêm relevantes (quanto mais não seja na sua qualidade de fundadores de uma dinastia) até aos dias de hoje.