21.11.23
A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.
Uma das primeiras edições desta rubrica foi dedicada ao Game Boy, a mítica consola portátil da Nintendo que ombreia com as 'rainhas' Mega Drive e PlayStation no panteão dos sistemas de jogos mais emblemáticos do Portugal dos 'noventas'. Sucesso de vendas por toda a Europa logo a partir do seu lançamento em 1989 – muito por conta de títulos como 'Tetris', 'Super Mario Land' ou 'Nintendo World Cup' – a 'pequena mas poderosa' máquina da Nintendo conseguiu a façanha de reter os níveis de interesse do seu público-alvo durante quase uma década inteira (gozando, mesmo, de uma 'renascença' com o lançamento dos primeiros títulos da franquia 'Pokémon') tendo mesmo justificado o lançamento de uma edição especial com modelos multicoloridos (a emblemática 'Play It Loud', lançada em 1996) e de um modelo de 'segunda geração', (ainda) mais compacto e portátil, o adequadamente denominado Game Boy Pocket. De facto, a popularidade da portátil da Nintendo era tal que o único sistema capaz de a 'destronar' foi nada menos do que o seu sucessor directo, sobre cuja chegada à Europa se celebram esta semana exactos vinte e cinco anos.
Um dos mais populares modelos da consola, o translúcido.
Surgido nas prateleiras de hipermercados, supermercados e lojas de brinquedos europeias a 23 de Novembro de 1998 (cerca de um mês após o lançamento no Japão, cinco dias dias depois do norte-americano, quatro dias antes do australiano, e mesmo a tempo de ser 'estrela' dos catálogos de Natal desse ano, e de encabeçar as listas de muitas crianças), o Game Boy Color apresentava o seu principal 'argumento' tecnológico logo no nome: após cerca de uma década de gráficos 'verdes e amarelos', o novo sistema surgia munido de um ecrã a cores, que abria toda uma nova gama de possibilidades, tanto para os utilizadores como para os próprios criadores; e ainda que este não fosse, exactamente, um avanço técnico revolucionário (tanto a Game Gear quanto a 'esquecida' Atari Lynx apresentavam gráficos muito mais detalhados cinco anos antes do Game Boy Color) o facto de as principais alternativas à consola da Nintendo serem as clássicas 'máquinas de Tetris' ou os LCD de jogabilidade simplista e limitada fazia com que parecesse ser esse o caso, entusiasmando toda a geração que passara a sua infância a jogar os seus títulos favoritos em diferentes tons de 'escuro'.
O outro grande atractivo da nova consola – esse, sim, revolucionário – era a característica que ficaria conhecida como 'retro-compatibilidade', isto é, a capacidade de jogar, no novo sistema, os jogos do anterior, com um novo e apelativo esquema de cores aplicado aos gráficos anteriormente monocromáticos – uma medida que, hoje, é quase esperada com o lançamento de cada nova 'geração' de consolas, mas que, à época, era absolutamente inédito, e ajudou sobremaneira a aumentar o interesse em torno da nova proposta da Nintendo. Junte-se a isso o 'design' compacto, na linha do Game Boy Color, e as cores vivas em que era disponibilizado (incluindo o sempre popular, embora frágil, modelo em plástico translúcido) e o resultado só podia saldar-se em mais um sucesso de vendas para a Nintendo.
De facto, apesar da curta vida útil (passariam apenas cerca de cinco anos até dar lugar ao sucessor de 'nova geração', Game Boy Advance) o Game Boy Color gozaria de significativa popularidade entre os jovens portugueses e não só, muito graças a títulos como 'Wario Land III', 'Super Mario Bros Deluxe' e, claro, a segunda geração de jogos de 'Pokémon', com 'Gold', 'Silver' e 'Crystal', além do insólito mas icónico 'Pokémon Pinball'.
'Pokémon Crystal', o mais bem-sucedido jogo lançado para a consola.
Pior ficaria quem ainda tinha apenas um Game Boy clássico, a 'preto e branco', já que cada vez mais títulos passariam a trazer na capa e caixa o icónico aviso 'Only for Game Boy Color', estando os respectivos cartuchos, inclusivamente, munidos de um sistema que impedia o seu uso na consola original; ainda assim, quem se encontrava nessa situação podia, ainda, desfrutar de cerca de um terço dos novos lançamentos, que incluíam jogos como 'FIFA 2000', 'Grande Theft Auto', 'Legend of Zelda: Link's Awakening DX' ou as quartas partes de 'Bust-A-Move' ou 'Mortal Kombat', sendo os mesmos disponibilizados em cartuchos pretos que eram quase tão icónicos quanto os translúcidos dos originais para Game Boy Color.
Os cartuchos pretos indicavam jogos compatíveis tanto com o Game Boy Color como com o modelo clássico.
Em suma, apesar de efémero no panorama global da História dos videojogos, o Game Boy Color almejou deixar uma marca quase tão indelével no mesmo como quer o seu antecessor, quer o seu sucessor, tendo contribuído para fazer da 'marca' Game Boy a mais vendida de sempre no mercado portátil durante várias décadas; e ainda que o 'trio maravilha' já não goze desse título, não deixa de ser imperioso celebrar aquela que foi uma das mais marcantes consolas para a juventude de finais dos anos 90 e inícios de 2000, e que, vinte e cinco anos após a sua chegada à Europa, continua a ser quase tão lembrada quanto o modelo original. Parabéns, Game Boy Color!