03.07.21
NOTA: Este post é relativo a Terça-feira, 29 de Junho de 2021.
A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.
Tamagotchi. Só o nome já traz memórias de andar na escola primária ou preparatória e ter – ou querer ter – um desses bichinhos virtuais que moravam em pequenos aparelhos digitais em forma de ovo. Parece que foi ontem…e, no entanto, já se passaram 25 anos!
Pois é, a mascote digital alienígena oriunda do Japão completa este ano um exacto quarto de século de existência, cuja celebração vai ficar marcada pelo lançamento de um novo modelo, desta vez em formato ‘wearable’, ou seja, embutido em relógios ou pulseiras bem ao estilo Apple, por oposição ao tradicional formato ‘handheld’ com que todos crescemos.
O Tamagotchi, versão 2021
Descaracterização, dirão alguns, evolução, dirão outros, mas o certo é que, em termos de mecânica e até apresentação, muito pouco parece ter mudado; o conceito continua a centrar-se numa pequena mascote aprisionada num ecrã LCD, a qual requer tratamento constante para chegar à idade adulta, de preferência sem ser um mimado mal-agradecido. Pelo meio ficam jogos, sessões de alimentação, e muitas, muitas sessões de limpeza de necessidades fisiológica - talvez a característica mais marcante e memorável dos Tamagotchi originais.
O ecrã que ninguém gostava de ver...
A verdade é que, mesmo com fezes à mistura (ou talvez *por causa* das fezes) o animal virtual electrónico que a Bandai imaginou em 1996 encantou toda uma geração de crianças, muitas das quais não podiam ter animais de estimação. Mesmo as que podiam, no entanto, eram seduzidas pela lógica de ‘previsibilidade imprevisível’ do brinquedo, segundo a qual, apesar de as actividades de manutenção em si serem repetitivas e sempre iguais, nunca se sabia como é que o nosso monstrinho ia crescer, ou sequer SE ia crescer; aliado ao facto de os Tamagotchis poderem precisar de ajuda a QUALQUER altura, isto fazia com que as crian;as andassem constantemente de olhos postos no pequeno ecrã onde o animal vivia, tornando o Tamagotchi numa espécie de antecessor dos actuais ‘smartphones’.
Como é óbvio, um produto com o nível de sucesso do Tamagotchi não podia deixar de ter os seus ‘imitadores’ - neste caso, brinquedos com nomes genéricos como ‘Virtual Pet’ ou ‘Computer Pet’, que, à parte ligeiras diferenças no ‘design e gráficos’, eram em tudo idênticos ao animal virtual da Bandai, mas sem o ‘branding’ e selo de qualidade da marca, e, por isso, vendidos por um terço do preço.
Um exemplo típico de 'Fakegotchi'
Curioso é notar que estes ‘Fakegotchis’ tiveram, em Portugal, uma longevidade muito maior que o original, podendo ainda hoje, por vezes, ser avistados no seu ‘habitat’ natural, na secção de jogos e brinquedos de qualquer grande drogaria ou loja de eletrónica ‘de bairro’. A popularidade, essa, é que já não é a mesma, até porque o ultimo quarto de século viu surgir (ainda) mais alternativas no mundo dos brinquedos eletrónicos – entre eles jogos de animais virtuais para consolas portáteis, como o popular ‘Nintendogs’ - que fazem com que estes bichinhos LCD pareçam cada vez mais obsoletos e redundantes.
Dessa perspectiva, não deixará de ser curioso avaliar como o ‘novo’ Tamagotchi se sairá no mundo digital da actualidade. Numa era em que os telemóveis eram, ainda, raros (e caros) e os jogos portáteis relativamente primitivos, este era um brinquedo impressionante do ponto de vista conceptual e tecnológico; num mundo em que todas as semanas surgem ‘gadgets’ novos e mais avançados, no entanto, é bem possível que o animal virtual da Bandai se torne ‘só mais’ uma relíquia saudosista-revivalista. O tempo o dirá. Até lá, nós, os da geração original, teremos sempre as memórias de como foi ver, e brincar, pela primeira vez com um destes estranhos mas cativantes aparelhos. Parabéns, Tamagotchi!