22.08.23
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
Os chamados 'programas de Verão' - aquelas transmissões, normalmente ao vivo e a partir de pequenas povoações do Portugal rural, que combinam números musicais e de comédia com entrevistas, concursos e interacções com o público - são, normalmente, o único tipo de programa que o cidadão Português moderno consegue ser 'persuadido' a ver, pelo seu carácter leve, a permitir 'desligar os neurónios', como é apanágio da estação. E apesar de a RTP não ser, de todo, alheia a este tipo de conteúdo, há um exacto quarto de século, a emissora estatal decidiu apostar em algo um pouco diferente (e mais culto) do que vinha sendo proposto pelas 'concorrentes' privadas - nomeadamente, um programa de entrevistas ambientado, não no habitual estúdio de gravação, mas nas praias de eleição de cada convidado.
Apresentado por Margarida Pinto Correia, 'Férias Grandes' (cujo título sugeria, erroneamente, algo um pouco mais juvenil) contabilizou um total de oito episódios, cada um dedicado a um único entrevistado, sendo os mesmos retirados de um meio um pouco mais 'erudito' do que o habitual para um programa estival. De facto, o único nome 'expectável' neste contexto talvez fosse o da comediante popular (e popular comediante) Ana Bola; de resto, os convidados iam de músicos ligados ao pop-rock nacional, como Luís Represas, Rui Reininho e José Cid, ao maestro António Vitorino de Almeida, Fátima Lopes (a estilista, não a apresentadora sua homónima, estrela da 'concorrente' de Carnaxide na mesma época), Eugénia Melo e Castro ou Rosa Lobato Faria. Cada um destes nomes partilhava com a apresentadora, ao longo do episódio, memórias da sua praia favorita (actual ou de infância) à mistura com outros temas relevantes, num formato com um público-alvo muito definido e que, provavelmente, não teria a televisão ligada para o presenciar.
Assim, não é de admirar que 'Férias Grandes' não tenha voltado para uma segunda época estival, estando hoje largamente ausente da memória colectiva nacional sobre o final do século XX - o que não deixa de ser uma pena, já que, em qualquer outra época do ano, o formato tinha tudo para resultar, encontrar a sua audiência, e ir além da mão-cheia e meia de episódios. Tal e como foi lançado, no entanto, o programa de Margarida Pinto Correia constitui, um quarto de século após a sua estreia, uma mera 'nota de rodapé' na História dos Verões televisivos portugueses, bem como um caso de estudo sobre as razões pelas quais não é boa ideia lançar um programa de índole cultural em plena época alta...