13.06.23
NOTA: Por motivos de relevância temporal, esta Terça será de TV, e não Tecnológica.
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
As festas dos chamados Santos Populares – o Santo António em Lisboa, o São João no Porto, e o São Pedro em várias outras localidades - acarretam consigo uma série de tradições, algumas partilhadas (como as sardinhadas) e outras relativas a uma das festas em particular, como os 'martelinhos' e alhos-porros do São João do Porto, ou as Marchas Populares, em Lisboa, as quais usufruem da sua própria 'sub-tradição', nomeadamente, a transmissão televisiva do desfile e subsequente votação para melhor marcha. Com origens que remontam ao início da televisão, a teledifusão das Marchas é uma das poucas certezas inerentes a qualquer mês de Junho em Portugal – o que não invalida que, a dada altura, até mesmo esta tradição tenha sido alvo de uma ligeira mudança.
As Marchas de 1993 na SIC, que dividia nesse ano a transmissão com a TVI
De facto, os anos 90 representam o primeiro período, desde o advento da chegada da televisão ao País, em que as Marchas Populares não foram, necessariamente, transmitidas pela RTP. A 'entrada em cena' de duas concorrentes privadas, no espaço de apenas alguns meses, veio ameaçar a hegemonia daquela que era até então a única emissora nacional, e promover a rotatividade de direitos de transmissão das Marchas, que, durate a década seguinte, transitariam indiscriminadamente pelos três canais, embora com especial incidência nos dois privados, a ponto de a RTP apenas ter conseguido transmitir o desfile uma única vez (em 1997) no período compreendido entre 1993 e 2003; mesmo entre as duas novas estações, a concorrência era algo desleal, com a TVI a sair clara vencedora, conseguindo garantir os direitos oficiais de transmissão do certame entre os anos de 1993 e 1995 (por obra do então edil de Lisboa, Pedro Santana Lopes) e novamente entre 2000 e 2002.
Uma 'batalha' fascinante, portanto, mas que viria a ter fim tão abruptamente quanto começara, com a recompra dos direitos das Marchas por parte da RTP, há exactas duas décadas. Desde então, o desfile não mais deixou a estação estatal, tendo-se, assim, reposto o 'status quo' anterior a 1993, e tornado as 'guerras das Marchas' num daqueles assuntos de que só quem os viveu se lembra. Felizmente, não deixar que este tipo de eventos caiam no esquecimento é, precisamente, a proposta deste blog, pelo que – no rescaldo de mais um desfile na Avenida da Liberdade, marcado por vitória histórica do Bairro da Bica, a primeira em vinte anos – não podíamos deixar de recordar os breves mas 'intensos' anos em que as Marchas de Lisboa se viram, temporariamente, sem domicílio fixo no seio da televisão portuguesa...