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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

04.01.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

E depois de termos já falado da série animada e dos jogos de vídeo baseados na popular série de livros infantis 'Onde Está o Wally?', nada mais natural do que dedicarmos algumas linhas aos volumes que deram início a uma das mais curiosas 'febres' infanto-juvenis dos anos 90.

Corria o ano de 1987 quando o ilustrador inglês Martin Handford logrou, finalmente, dar vida à ideia que tivera há já alguns anos a essa parte: a de criar um livro (ou série de livros) infantis cujo conceito principal fosse a procura de um único personagem em meio a uma cena propositalmente hiper-povoada, e cheia de pequenas 'distracções' e armadilhas para enganar o leitor e, assim, aumentar a diversão. O objecto da procura, esse, era um personagem criado pelo próprio Handford – um jovem de óculos e roupa listrada, equipado 'à explorador', a que o autor chamou Wally (ou, para as edições americanas, Waldo.) 

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O volume que começou a 'febre'.

Tinha assim, através de um singelo livro de capa azul-clara (ela própria uma cena onde procurar o protagonista) aquilo que viria a transformar-se numa das mais populares obras literárias da década, dando origem a uma série de volumes de conceito e realização cada vez mais complexa; não só as imagens se tornavam ainda mais movimentadas (ao ponto de o primeiro volume parecer quase um 'tutorial' para as suas próprias sequelas) como também surgiam novos personagens para serem descobertos pelo leitor – primeiro o sábio Barba-Branca, e mais tarde a namorada e cão de Wally, bem como o seu rival Odlaw, conhecido em Português pelo memorável nome de Estranho-À-Lei.

Junta, esta 'pandilha' aventurava-se pelos mais diversos lugares, desde Hollywood à Lua, chegando mesmo a quebrar barreiras espácio-temporais que lhes permitiam viajar para outras eras da evolução humana – tudo, claro, em nome da criação de 'puzzles' visuais bem divertidos, recheados de deliciosos pormenores e, claro, várias áreas vermelhas e brancas, que apenas em segunda análise se revelavam não ser o protagonista. Uma fórmula simples, mas extremamente original e divertida, que tornou (merecidamente) Wally um sucesso entre a juventude da altura, dando mesmo azo a uma onda de 'imitadores', alguns deles protagonizados por personagens tão populares como Astérix; escusado será dizer que nenhum destes tomos teve uma fracção do sucesso do original, ou não nos ensinasse a Kellogg's que 'o original é sempre o melhor...'

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O disfarce de Wally, uma escolha surpreendentemente popular em festas de Carnaval.

O próprio Wally teve, claro, também direito aos seus próprios produtos licenciados, que iam desde os 'puzzles' (dos verdadeiros, aqueles de peças) aos já referidos videojogos; ainda hoje, no entanto, o 'item' referente ao personagem mais popular entre o seu público-alvo são as réplicas carnavalescas da sua fatiota característica, uma escolha frequente mesmo em festas de Carnaval de adultos - prova cabal do impacto que Wally teve naquela que foi, talvez, a última geração a interessar-se, verdadeiramente, por coisas que não envolviam ecrãs, e que obrigavam a puxar pela cabeça...

04.01.23

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 03 de Janeiro de 2023.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Uma das regras de ouro de qualquer propriedade intelectual surgida na 'idade do marketing' prende-se com o facto de qualquer fenómeno deste tipo ter, inevitavelmente, direito a pelo menos um jogo de vídeo licenciado, quer o conceito se preste a este tipo de produto ou quer não. Os dois títulos de que falamos hoje inserem-se firmemente nesta última categoria, sendo o próprio material de origem um daqueles casos de popularidade inexplicável e surgido praticamente do nada.

Falamos de 'Onde Está o Wally?', a série de livros criada pelo desenhador Martin Handford em 1987 e que, além de providenciar a sociedade ocidental com um dos seus mais icónicos e duradouros disfarces de Carnaval, deu também origem a uma série animada – a OUTRA grande inevitabilidade de qualquer estratégia de 'marketing' para crianças e jovens dos anos 80 e 90. No entanto, enquanto o produto televisivo se afirmava como uma agradável surpresa dentro do seu estilo – e acima da média mesmo para o geral dos desenhos animados da época – os dois produtos interactivos alusivos à série posicionavam-se no extremo oposto da escala de qualidade, sendo unanimemente tidos como adições não mais do que medíocres às bibliotecas de títulos das consolas para as quais foram lançados.

A razão para esta fraca recepção é simples, e prende-se com o facto de tanto 'Where's Waldo?', lançado em 1990 para a Nintendo original, como a sequela 'The Great Waldo Search', surgida dois anos depois na sucessora Super Nintendo, padecerem dos mesmos problemas básicos, o principal dos quais reside no facto de ambos os jogos se inserirem num estilo bem mais apropriado para jogar num PC do que numa consola, nomeadamente o jogo de 'procura de objectos' – um estilo que, aliás, era bastante popular junto dos fãs de computadores da época.

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Exemplos da jogabilidade de ambos os títulos

Aí reside, no entanto, o outro problema destes títulos, nomeadamente o facto de a maioria dos mesmos serem grátis ou terem um custo pouco avultado, normalmente decorrente do regime 'shareware' em que eram disponibilizados; já os jogos de Wally exigiam a compra a preço completo (e que não era pouco) oferecendo, em troca, apenas um título de jogabilidade limitada, curto, e que não oferecia rigorosamente nada que os fãs do explorador listrado não pudessem encontrar nos livros originais, por um custo significativamente menor. Ou seja: aquilo que no PC seria grátis (e bastante mais fácil de jogar, dada a presença do rato por oposição ao comando), e em livro sairia, pelo menos, em conta, era vendido para as consolas da Nintendo a preço completo, resultando num produto desapontante e pouco merecedor do valor pedido.

O falhanço em toda a linha dos dois títulos parece, no entanto, ter servido de lição para os programadores modernos, que só na era dos controlos com movimento e ecrãs tácteis voltaram a tentar criar um jogo com Wally como protagonista – no caso, 'Where's Wally? The Fantastic Journey', de 2009, e que utilizava as potencialidades dos sistemas para que foi lançado (Wii e DS, novamente, da Nintendo, além da plataforma móvel iOS e do próprio Windows) para criar uma experiência de jogo intuitiva, e mais condicente com o género escolhido.

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Jogabilidade do título para Wii

Infelizmente, com a popularidade do personagem na 'mó de baixo', este não passou de um título menor (quase digno do famigerado rótulo 'shovelware'). Numa altura em que uma nova serie animada em torno de Wally e Wanda faz sucesso entre os mais novos, no entanto, é bem possivel que se verifique, num futuro próximo, nova tentativa de trazer o personagem de Handford para o mundo virtual – com sorte, mais bem-sucedida do que a primeira...

 

02.01.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A transição de conteúdos literários para o ecrã (seja grande ou pequeno) raramente é bem conseguida, e ainda menos em casos em que a popularidade do material original dependia de uma qualquer particularidade difícil de reproduzir em formato audio-visual. Com isto em mente, e tendo em conta a esmagadora quantidade de adaptações de livros para cinema e televisão que falharam redondamente ao longo dos anos, não deixa de ser de admirar que uma das mais bem-sucedidas transições deste tipo tenha sido feita, precisamente, por uma série de livros que não podia nem devia resultar num formato baseado em imagens em movimento.

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Falamos de 'Onde Está o Wally?', a bem-sucedida adaptação para televisão dos não menos bem-sucedidos livros infantis do inglês Martin Handford, cuja premissa implicava precisamente o que o título indiciava, cabendo ao leitor encontrar o personagem homónimo (e, mais tarde, também a sua restante 'entourage') ao longo de uma série de quadros super-povoados, e repletos de 'armadilhas' e 'distracções' visuais destinadas a dificultar a missão em causa. Com base nesta descrição, não é difícil perceber o porquê de 'Wally' (ou 'Waldo', como é conhecido nos Estados Unidos) requerer, forçosamente, um meio visual de carácter estático - e, no entanto, a versão animada do explorador de 'pullover' às riscas e seus amigos é, ainda hoje, tida como uma das melhores adaptações animadas da sua época.

Talvez esse sucesso tivesse estado ligado à qualidade da série, que se posiciona firmemente na parte superior da lista de produções animadas da época, apresentando animação fluida e personagens (se não tanto argumentos) memoráveis para quem com eles tenha convivido. O próprio Wally era um protagonista por demais simpático, muito bem coadjuvado pelo sábio Barba Branca (que o envia em diferentes missões), pela namorada Wenda, pelo cão Woof e, sobretudo, pelo memorável vilão Estranho-À-Lei, uma espécie de 'versão maléfica' do nosso herói (o seu nome original, Odlaw, é, aliás, apenas o nome 'completo' do protagonista escrito ao contrário), com a obrigatória roupa semelhante, mas com o esquema de cores 'trocado', como era apanágio da época.

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O vilão Estranho-À-Lei, talvez o personagem mais memorável do programa.

Juntos, este 'bando' envolvia-se numa série de aventuras vagamente baseada nos cenários do livro (que iam de cenas contemporâneas a locais históricos ou até astrais) em que o 'Onde' do título deixava de dizer tanto respeito à localização do personagem na cena, e passava a referir-se sobretudo ao próprio local onde a aventura se desenrolava. O resultado foi uma série que, sem entrar nos 'Tops' de desenhos animados de ninguém que tivesse a idade certa à época, tão-pouco era ignorado pelo seu público-alvo, que fazia mesmo o esforço de estar frente à televisão à hora certa para ver cada novo episódio - uma marca inegável de sucesso para uma propriedade deste tipo, como o foi o inevitável lançamento dos episódios na habitual série de VHS, pela não menos inevitável Prisvídeo, logo no ano seguinte à exibição do programa na RTP. E, como não podia deixar de ser, ter um daqueles genéricos tão 'trauteáveis' que se 'entranham' no cérebro também não deixava de ajudar com este desiderato, antes pelo contrário...

O inesquecível genérico português da série, talvez o seu elemento mais memorável

Tanto foi o sucesso, de facto, que 'Wally' teve mesmo direito a uma segunda adaptação, em 2017 - agora já com os esperados recursos ao 'Flash' para a animação, e com o casal de personagens transformado em crianças. Quem tenha filhos fãs desta nova série e acesso a episódios do original tem, no entanto, o dever de a apresentar aos mais pequenos, já que (quase exactos trinta anos após a sua estreia em Portugal) a mesma se continua a afirmar como um bom produto de animação infanto-juvenil, bem menos 'datado' do que se possa pensar, e (como tal) bem capaz de entreter toda uma nova geração do seu público-alvo.

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