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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

12.03.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Todas as equipas e Selecções Nacionais têm os chamados 'jogadores utilitários' – nomes que, sem estarem na 'linha da frente' dos seleccionáveis, são suficientemente confiáveis para constituirem uma opção 'de banco' ou segunda linha perfeitamente viável, e como tal, recorrentemente usada. Muitos destes jogadores partilham, também, a particularidade de serem, ou terem sido, membros influentes de equipas também elas de 'segunda linha', onde acabam por se destacar o quanto baste para justificarem a contratação por emblemas maiores, ou a chamada à Selecção Nacional. O Portugal de finais do século XX não constituiu excepção a esta regra, e tanto os três 'grandes' como a Selecção das Quinas da época contavam com jogadores com este tipo de perfil, dos quais poderíamos destacar nomes como Areias, Frechaut, ou o jogador de que falamos neste Domingo Desportivo, Marco Ferreira.

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O extremo com a camisola que o notabilizou.

Um daqueles 'cromos' clássicos das antigas cadernetas da Panini, Marco Júlio Castanheira Afonso Alves Ferreira nasceu em Vimioso, no Norte de Portugal, há precisamente quarenta e cinco anos, e despontou para o futebol ainda antes da adolescência, em clubes locais como o GD Parada, o Bragança ou o local Águia do Vimioso. A carreira sénior, essa, viria a ter início no histórico Tirsense, onde Ferreira ingressaria para a época 1996-97, conseguindo amealhar dezassete exibições e dois golos na posição de extremo. A razoável época valeria ao jovem uma totalmente inesperada e surpreendente transferência para o Atlético de Madrid B, num daqueles 'passos maiores que a perna' que prejudicam a carreira de tantos jovens jogadores; apesar de este não ter sido o caso com Marco Ferreira, a verdade é que a experiência em Espanha não correu bem, tendo o extremo feito apenas quatro partidas pelos 'colchoneros' antes de rumar ao Yokohama Flugels, do campeonato japonês, no mercado de Janeiro. Também aí a vida não lhe correria de feição, tendo o jogador regressado a Portugal no final dessa época 1997-98, sem ter realizado qualquer jogo pela equipa nipónica.

Felizmente, o regresso ao nosso País permitiu a Marco Ferreira rectificar o seu percurso, tendo-se o extremo afirmado como parte importante da equipa do Paços de Ferreira na única época em que representou os 'castores': no total, foram dezanove as partidas realizadas por Ferreira com a camisola verde-amarela, apresentando-se o jogador a um nível suficientemente alto para despertar a atenção do histórico Vitória de Setúbal, adversário directo do Paços na então II Divisão de Honra; os sadinos acabariam mesmo, aliás, por fazer uma proposta pelo jogador e, no início da última época futebolística do século XX, Marco Ferreira rumaria a Setúbal para aquela que seria a melhor fase da sua carreira. No total, foram três épocas e meia com a 'listrada' sadina, sempre com influência determinante, como o comprovam as quase noventa partidas e quase dezena e meia de golos obtidos pelo extremo durante este período, e que lhe valeram as suas únicas chamadas à Selecção Nacional, todas no ano de 2002.

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Ferreira numa das suas três chamadas à Selecção.

A preponderância de Ferreira no plantel sadino levaria, naturalmente, ao interesse de um 'grande', e, no mercado de Inverno da época 2002-2003, o jogador diria adeus à 'casa' onde fora feliz e regressaria ao seu Norte natal, para integrar 'aquela' equipa do FC Porto de José Mourinho, que contava com outras caras previamente desconhecidas, como Pedro Mendes, Pedro Emanuel e Deco; e apesar de nunca ter conseguido ser mais do que um dos tais 'jogadores utilitários' no plantel dos 'Super' Dragões, o extremo conseguiria, ainda assim, comparecer por vinte e três vezes ao serviço da equipa durante a sua primeira época – uma delas na final da Liga dos Campeões, quando rendeu Capucho ao minuto 98, conseguindo assim ter o seu 'momento' europeu para mais tarde recordar.

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O jogador com a camisola do Porto.

Apesar da regularidade e utilidade como 'opção de banco' (apesar de suplente, chegou a marcar três golos pelo Porto) Marco Ferreira ver-se-ia, na época seguinte, dispensado por empréstimo para o Vitória de Guimarães, onde faria mais de vinte partidas, marcando três golos, antes de regressar ao Grande Porto para representar o Penafiel, naquela que se saldaria como a primeira experiência verdadeiramente 'falhada' desde os seus tempos de juventude: sete partidas e um golo são o saldo de meia época que não deixou grandes lembranças. Foi, pois, com alguma surpresa que os adeptos nacionais viram o extremo assinar por outro 'grande', no caso o Benfica, no início da época seguinte.

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Marco durante a infrutífera passagem pelo Benfica.

Como seria de esperar, no entanto, Ferreira nunca encontrou espaço no plantel 'encarnado', tendo-se a sua passagem pelos lisboetas traduzido em apenas cinco partidas e dois empréstimos, um dos quais o veria embarcar na primeira aventura internacional desde as suas primeiras épocas de sénior; nem a cedência ao Leicester City, de Inglaterra, nem o subsequente ingresso no Belenenses correram de feição, no entanto, com o extremo a conseguir apenas seis partidas em duas épocas, todas com a Cruz de Cristo ao peito. A dispensa do Benfica era, pois, inevitável, e os últimos dezoito meses da carreira de Marco Ferreira seriam passados na Grécia, ao serviço do Ethnikos Piraeus – experiência que tem o mérito de ser a primeira 'aventura' internacional bem sucedida para o jogador, e de lhe ter permitido retirar-se do futebol como figura proeminente do plantel de uma equipa, com trinta e dois jogos realizados ao serviço dos gregos, durante os quais contribuiu com cinco golos, uma das suas melhores marcas pessoais numa só época.

No momento da reforma, Marco Ferreira podia, pois, gabar-se de uma carreira repleta de 'aventuras' e que, apesar dos altos e baixos, o cimentou como uma das melhores e mais reconhecíveis 'segundas linhas' do futebol português da sua época – uma posição perfeitamente respeitável, e que o torna merecedor desta singela homenagem no dia do seu aniversário. Parabéns, Marco Ferreira!

26.02.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de não constar entre os principais campeonatos mundiais, sendo as suas competições tidas como decididamente de 'segunda linha', o futebol português sempre foi exímio em formar e exportar jogadores, fossem eles jovens com potencial ou (como sucede com o futebolista de hoje) nomes já com créditos firmados 'dentro de portas'. De igual modo, apesar de a esmagadora maioria desta formação se centrar nos chamados 'três grandes' (Benfica, Sporting e Porto) por vezes, surgem em clubes algo mais periféricos jogadores cujo talento não passa despercebido – inclusivamente ao triumvirato atrás mencionado.

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O jogador ao serviço do Porto.

Pedro Miguel da Silva Mendes, médio defensivo internacional pelas Quinas que completa hoje quarenta e quatro anos de idade, foi, na década de 90, um destes raros casos, tendo o seu despontar e afirmação sido feitos ao serviço de um dos 'históricos' do futebol português, e candidatos crónicos a 'quarto grande', no caso o Vitória de Guimarães. Foi ali que, nos primeiros anos da década de 90, um jovem de apenas onze anos vindo do 'vizinho' CD Aves começou a dar nas vistas, paradigma que se manteria durante os sete anos seguintes, com Mendes a ser, inevitavelmente, um dos jogadores de destaque em todas as equipas desde o nível de Infantis até à categoria de juniores.

Ainda assim, e apesar do talento inegável e inato, a entrada do médio na equipa principal do Guimarães não foi imediata, tendo o jogador de então dezanove anos sido enviado para 'rodar' no Felgueiras no início da época 1998/99. Previsivelmente, Mendes afirmou-se como um dos destaques da agremiação felgueirense naquela temporada, um daqueles jogadores 'de outro campeonato' claramente destinados a mais altos vôos. E esses viriam mesmo a chegar, logo na época seguinte, quando o médio defensivo é finalmente integrado no plantel vimaranense, ainda que apenas como apoio ao plantel prinipal; ainda assim, o jovem chegaria a efectuar quinze jogos pelo clube nessa primeira época, contribuindo com um golo.

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Mendes no Guimarães.

Seria apenas após o virar do Milénio, no entanto, que a carreira de Pedro Mendes começaria, verdadeiramente, a despontar, com o jogador a assumir cada vez maior preponderância no seio dos 'Conquistadores', afirmando-se mesmo, eventualmente, como titular indiscutível; no total, foram quatro as épocas e mais de noventa os jogos do médio pelo seu clube do coração, tendo a sua última temporada ficado marcada por um recorde de golos – seis, o dobro dos que havia marcado nas três épocas anteriores combinadas!

Como já seria de prever, o talento e consistência exibicional de Mendes não passaram despercebidos, tendo o médio sido alvo do interesse do FC Porto de Mourinho no início da época 2003/2004 – precisamente aquela em que o emblema portuense almejou o feito mais notável da sua História. Assim, em dez meses e pouco mais de quarenta jogos, a reputação do jogador projectava-se do nível local para um patamar internacional, e aquele que, um ano antes, havia sido 'apenas' um dos médios do Guimarães possuía, agora, honras de Campeão Europeu, bem como de internacional por uma das melhores equipas portuguesas de sempre.

Também previsivelmente, esta nova reputação suscitou interesse internacional pelos serviços do jogador, o qual, apenas um par de meses após vencer a Liga dos Campeões pelo Porto, embarcava em novos desafios em Inglaterra, no caso ao serviço do Tottenham, onde chegaria a fazer uma boa época – com trinta jogos e um golo – mas onde rapidamente perderia preponderância, sendo dispensado para o Portsmouth ainda no mercado de Janeiro da sua segunda época com os 'Spurs'.

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O médio no Portsmouth.

Ali, a vida correr-lhe-ia significativamente melhor, tendo o médio rapidamente assumido um papel preponderante na luta do clube por assegurar a manutenção, e contribuído com dois golos cruciais para esse objectivo, ambos conseguidos numa inesperada vitória por 2-1 frente ao Manchester City. As duas épocas seguintes seguiriam na mesma toada, tendo a estadia de Pedro Mendes sido coroada com a conquista da FA Cup, na época 2007/2008 – um objectivo bem menos sonante do que a Liga dos Campeões conquistada apenas quatro anos antes, mas nem por isso menos meritório.

Apesar da ligação ao Portsmouth – que, inclusivamente, o veria comprar acções do clube e juntar-se a um grupo organizado de adeptos que procuravam adquirir o mesmo de forma conjunta – a carreira de Mendes sofreria nova 'reviravolta' logo na época seguinte, que veria o médio rumar à Escócia para representar um dos seus históricos, o Rangers. Ali, o português teria novo início mais que auspicioso, tendo sido seleccionado como figura do jogo logo na sua partida de estreia, e como Jogador do Mês de Agosto, após apenas algumas semanas ao serviço do clube. Estava dado o mote para mais uma excelente época, com o jogador a afirmar-se como titular dos escoceses, a contribuir com quatro golos e a carimbar o seu regresso às convocatórias da Selecção Nacional, pela qual viria a disputar tanto a fase de qualificação quanto a fase final do Mundial de 2010.

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O jogador no Rangers.

Assim, foi de forma algo surpreendente que o mercado de Janeiro da época seguinte viu o médio regressar a Portugal, agora para representar um Sporting em fase complicada; e ainda que o jogador tenha desempenhado papel importante na segunda metade da campanha dos 'Leões', alinhando em dezasseis partidas e marcando um golo, a época seguinte vê-lo-ia perder preponderância, realizano em uma época inteira o mesmo número de partidas que fizera em seis meses do ano anterior.

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Mendes no Sporting.

Por consequência, o vínculo do médio com o clube lisboeta rescindido no final da época, a fim de possibilitar um regresso do jogador a 'casa'. A última época de Mendes como futebolista profissional seria, pois, passada no mesmo local onde a sua carreira havia começado quase uma década e meia antes: em Guimarães, onde o médio voltou a ser figura de proa, realizando vinte e dois jogos pelo seu clube formador antes de pendurar definitivamente as chuteiras – um ponto final condigno numa carreira repleta de honras e pontos altos, que inscrevia o jogador na lista de expoentes máximos da História do futebol português, e sobre a qual o mesmo quererá, certamente, reflectir no dia em que completa quarenta e quatro anos. Parabéns, Pedro Mendes – que conte muitos mais!

12.06.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.

De entre os muitos nomes sonantes a alinhar pela equipa do Sporting Clube de Portugal durante as décadas de 90 e 2000, um em particular consegue a proeza de reunir o respeito e consenso dos adeptos e de, ao mesmo tempo, ser muito menos discutido ou mesmo mencionado do que a maioria dos seus colegas ao longo dos dez (!) anos que passou de leão ao peito, mesmo tendo-se sagrado campeão por duas vezes ao longo desse período, e envergado a braçadeira de capitão durante muitas dessas temporadas.

Falamos, é claro, de Pedro Alexandre dos Santos Barbosa – vulgarmente conhecido apenas pelo primeiro e último nome – o 'falso lento' de farripas sobre a testa que dinamizou a ala esquerda do ataque dos 'leões' durante uma das suas melhores fases, sem nunca parecer sair da 'primeira velocidade'. Um ícone do Sporting Clube de Portugal (onde, aliás, terminou carreira, vindo, em épocas subsequentes, a tornar-se director desportivo) o médio-esquerdo contabilizou, ao longo do seu tempo no clube lisboeta, mais de trezentos jogos, tendo contribuído com 41 golos e sido pedra basilar dos dois títulos conquistados pelo clube nos primeiros anos do novo milénio – uma marca que, aliada à genuína dedicação que sempre mostrou ao clube, lhe valeram o referido estatuto entre os adeptos.

O que muitos desses mesmos adeptos não saberão – ou não se lembrarão – é que, antes de chegar ao Sporting, Pedro Barbosa havia já sido peça basilar de outros dois clubes, um dos quais um 'histórico' da Primeira Divisão portuguesa. De facto, após completar a formação na Academia do Futebol Clube do Porto, o natural de Gondomar iniciaria a sua carreira sénior ao serviço do Freamunde, então na chamada II Divisão de Honra, clube pelo qual alinharia por duas épocas (de 1989 a 1991), totalizando 55 partidas e 13 golos.

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Pedro, como era então conhecido (terceiro a contar da esquerda na fila de cima) ao serviço do Freamunde

Números bem interessantes para um jovem nos seus primeiros anos de sénior, e que lhe valeriam, no inicio da época 1991/92, o 'salto' para a Primeira Divisão do futebol nacional, para representar o Vitória de Guimarães, pelo qual faria, com apenas vinte e um anos, o primeiro dos mais de cem jogos que contabilizaria pelo clube da cidade-berço ao longo de quatro épocas, marcando ainda vinte golos.

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O médio ao serviço do Guimarães

As suas boas prestações, e a importância que assumia no jogo da equipa alvinegra, despertaram o interesse do 'grande' de Lisboa, que o contrataria no início da época de 1995/96...e o resto é história, já relatada no início deste 'post'; dez anos como titular quase indiscutivel do clube de Alvalade, ao longo dos quais conseguiria ainda contabilizar vinte e duas internacionalizações, embora apenas como 'coadjuvante' das verdadeiras 'estrelas' da Geração de Ouro em competições como o Euro 96 e o malfadado Mundial da Coreia/Japão, em 2002.

Em suma, apesar de o seu nome ficar indelevelmente ligado ao Sporting Clube de Portugal, até mesmo Pedro Barbosa chegou, em tempos, a ser uma 'Cara (Des)conhecida', apenas mais um jovem promissor que facilmente se poderia ter perdido nos meandros dos campeonatos profissionais da altura; o facto de ter conseguido (e merecido) atingir o auge de carreira de que desfrutou não deixa de ser um testamento, não só ao seu talento, mas à atitude consumadamente profissional que demonstrava, e que fez (e faz) dele um dos grandes nomes do futebol português moderno.

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