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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

29.09.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa era em que a maioria dos homens ocidentais de uma certa faixa demográfica exibe uma aparência muito semelhante, e cuidada até ao extremo, é fácil esquecer que, há meros trinta anos, era por demais fácil reconhecer certas classes sociais e profissionais pelo aspecto que apresentavam. Destas, a mais famosa talvez seja a dos desportistas profissionais, e especificamente dos futebolistas, cujas marcantes escolhas no tocante a aparências popularizaram, em Portugal, a expressão 'cabelinho à jogador da bola'. São inúmeros os exemplos ilustrativos deste estilo durante os anos 90 e 2000, bastando lembrarmo-nos de Fernando Couto, Nuno Gomes, Claudio Cannigia, Jorge Cadete ou mesmo Luís Figo, mas um dos mais memoráveis e marcantes pertenceu a um jogador do Sporting Clube de Portugal na viragem da década de 80 para a de 90, o qual completa hoje sessenta e cinco anos.

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O futebolista com três das quatro camisolas que envergou em Portugal.

Falamos de Paulo Roberto Bacinello, avançado goleador cujo apelido futebolístico derivava da pequena cidade que o vira nascer em 1959 – Cascavel, no estado brasileiro do Paraná. Era ali, ao serviço do clube local, que, em finais dos anos 70, o adolescente então já conhecido como Paulinho Cascavel daria os primeiros toques na bola enquanto jogador semi-profissional; seguir-se-ia uma passagem discreta pelo Criciúma, antes de o avançado demonstrar a sua verdadeira valia ao marcar vinte e sete golos ao serviço do Joinville, conquistando assim a Bota de Ouro no Campeonato Catarinense de 1984. Esta boa prestação valer-lhe-ia, subsequentemente, o primeiro 'salto', no caso para o Fluminense, um dos 'grandes' históricos do futebol brasileiro. Ali, no entanto, Paulinho nunca seria mais do que segunda escolha atrás de Washington, uma das 'lendas' do clube carioca, tendo somado apenas oito jogos em todo o Brasileirão de 1984, das quais apenas um na condição de titular – números, ainda assim, suficientes para lhe outorgar o título de Campeão Brasileiro daquele ano.

Era, pois, com esse estatuto que Cascavel embarcava na sua primeira aventura internacional, rumando a Portugal para representar um dos três 'grandes' do País, no caso o Futebol Clube do Porto. Na Invicta, no entanto, o avançado ver-se-ia na mesma difícil posição que experienciara no Rio de Janeiro, enfrentando a concorrência desleal do 'Bi-Bota' Fernando Gomes, do qual estava fadado a ser eterno suplente. A sua única época ao serviço dos azuis e brancos saldou-se, assim, em uma única presença, antes de o avançado ter sido 'despachado' para Guimarães como parte do negócio em torno do guarda-redes Júnior Best – uma troca que acabaria por beneficiar todas as partes, já que as duas épocas na Cidade-Berço permitiriam a Cascavel relançar a carreira de forma nada menos que impressionante. Quarenta e sete golos em sessenta jogos são o saldo total do primeiro período alto da carreira do avançado desde os tempos dos distritais brasileiros, tendo a sua contribuição ajudado o Vitória FC a assegurar o terceiro lugar na época 1985-86, e a carimbar exibição honrosa na Taça UEFA do ano seguinte. Rapidamente se espalhava por Portugal e arredores o nome daquele avançado que marcava golos de todas as formas e feitios, e foi com total naturalidade que os vimaranenses viram a sua estrela ser abordada pelo segundo 'grande' português da sua carreira, desta feita localizado mais a Sul.

Esta segunda passagem por um clube de monta correria, no entanto, significativamente melhor a Paulinho Cascavel, que demonstrava em Lisboa os mesmos predicados técnicos e faro de golo que exibira em Guimarães, e se afirmava rapidamente como peça-chave do Sporting de finais dos anos 80. À entrada para a última temporada da década (e primeira dos 'noventas'), eram já mais de oitenta e cinco as presenças do avançado com o pentrado 'mullet' ao serviço dos Leões, ao longo das quais obtivera quarenta e cinco golos (sendo melhor marcador do campeonato na sua primeira época) e ajudara o clube a conquistar o seu único título nesse período, a Supertaça Cândido de Oliveira. A época de 1989/90 parecia, inicialmente, seguir nessa mesma toada, mas um desacordo com o então presidente do clube, Sousa Cintra, via Paulinho Cascavel perder preponderância na equipa, que viria a abandonar no final da temporada, tendo contribuído com meros três golos em cerca de duas dezenas e meia de presenças, números muito aquém dos que vinha obtendo em Portugal até então.

Um 'craque' em baixa anímica ou de forma não deixa, ainda assim, de ser um 'craque', e era com o máximo prazer que o Gil Vicente acolhia Paulinho Cascavel como parte do seu plantel para a época 1991/92. Esta fase da carreira do avançado ficaria, no entanto, marcada por outro conflito, este contra as sucessivas lesões que ia contraindo, e que culminaram no final da sua carreira profissional, aos trinta e dois anos, após apenas oito presenças com a camisola dos Galos.

Ao contrário de muitos dos nomes que abordamos nestas páginas, no entanto, Paulinho Cascavel não transitou para cargos técnicos ou federativos no seio do futebol, optando em vez disso por continuar a carreira por mais alguns anos, agora no Campeonato Nacional de Veteranos, onde se sagraria Bota de Ouro em cinco das seis épocas que fez ao serviço do Aliados de Lordelo. Penduradas definitivamente as chuteiras, o agora ex-jogador regressaria ao seu Brasil natal para se tornar empresário do ramo da pecuária, deixando a continuação do legado futebolístico ligado ao nome Cascavel à responsabilidade do filho, Guilherme, que desde 2005 vem representando diversos emblemas das divisões inferiores portuguesas, não tendo nunca logrado alcançar o alto nível atingido pelo pai. Continua, pois, a ser do jogador com o 'cabelinho à jogador da bola' (e bigode a condizer) e capacidade invulgar para marcar golos que muitos adeptos se lembrarão ao ouvir o nome Cascavel, merecendo o mesmo o seu lugar no panteão de Lendas da Primeira Divisão nacional. Parabéns, e que conte ainda muitos!

28.01.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de ser o elemento que menos participa num jogo de futebol, o guarda-redes não deixa de ser uma figura tão ou mais digna de nota do que os seus companheiros de campo, não só por ser sua a responsabilidade directa de não deixar entrar golos na sua baliza, como também por constituir, muitas vezes, uma voz de comando dentro das quatro linhas, função para a qual é necessária uma personalidade muito particular; os melhores guarda-redes tendem, pois, a ser figuras carismáticas e até um pouco excêntricas, às quais seria impossível passar despercebidas em campo.

Os anos 90 não foram, de todo, excepção neste particular, antes pelo contrário; até o adepto mais 'distraído' seria capaz de nomear pelo menos uma dúzia de guardiães memoráveis do futebol da época, tanto a nível interno como internacional. De Bento, Baía, William e Preud'Homme a Schmeichel, Chilavert, Rogério Ceni, Taffarel, Barthez, Songo'o ou Peruzzi – para citar apenas alguns dos nomes mais destacados – é longa a lista de 'figurões' responsáveis pela defesa das balizas das maiores equipas da época.

A esta lista há, também, que juntar o nome de um cabo-verdiano naturalizado português, o qual – não fosse a morte prematura, a poucos meses de completar sessenta anos – teria celebrado este fim-de-semana o seu aniversário, talvez fomentando a sua 'segunda paixão' através de uma sessão de 'karaoke'.Falamos de Adelino Augusto da Graça Barbosa Barros, mais conhecido na cultura popular portuguesa pelo apelido de Neno, o lendário guardião das balizas de Benfica e Vitória de Guimarães durante as épocas de 80 e 90 que era tão conhecido pelo seu sorriso 'de gaiato' como pela sua apetência para o canto, que lhe valia as alcunhas de 'guarda-redes cantor' e 'Julio Iglesias português', tendo-lhe mesmo valido uma presença em palco ao lado desse seu ídolo.

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No clube que o notabilizou.

Nascido em Cabo Verde, mas formado nas escolas do histórico Barreirense, Neno passaria os seus três primeiros anos de sénior com as cores do conjunto alvirrubro, afirmando-se como guardião titular na sua segunda época completa, ainda antes de completar vinte anos. As boas exibições durante as duas temporadas seguintes valer-lhe-iam o interesse de um outro clube alvirrubro, este de maior dimensão, e a subsequente transferência no início da época 1983/84.

Neno nem chegaria, no entanto, a 'aquecer o banco' do Benfica antes de regressar ao Barreiro, agora por empréstimo, para ali realizar mais uma época. A temporada seguinte veria o guardião ser novamente emprestado, desta feita ao Vitória de Setúbal, onde se voltou a impôr, realizando vinte e cinco partidas. Seria o último empréstimo da carreira do guardião, que, na época 1985/86, seria reintegrado no plantel das 'Águias', embora apenas como opção de banco ao titularíssimo Manuel Bento. Passar-se-iam assim duas temporadas, após as quais Neno decidiu dar novo rumo à sua carreira, e aceitar a proposta do Vitória de Guimarães.

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Com a camisola do Guimarães.

E o mínimo que se pode dizer é que essa foi uma opção acertada, já que – após uma primeira época com pouco espaço – Neno viria a tornar-se num 'histórico' dos alvinegros, cujas cores defenderia durante o resto da década de 80 e nos primeiros meses da de 90, sempre como titular. Esta boa fase da carreira valer-lhe-ia o 'regresso a casa' em inícios da temporada de 1990/91, desta vez como figura bastante mais destacada dentro do plantel, contestando a posição de primeira escolha para a baliza encarnada com Silvino, e sendo mesmo o titular indiscutível durante a época de 1993/94, que viu o Benfica sagrar-se campeão nacional.

Infelizmente para Neno, a chegada à Luz, em 1994, de outra figura incontornável da História das 'Águias', o lendário Michel Preud'Homme, viu o cabo-verdiano ser novamente relegado para uma posição secundária e de 'banco'. Face a este retrocesso na carreira, o guardião não hesitaria em fazer 'ouvidos moucos' ao provérbio popular e regressar ao lugar onde já fora feliz, voltando a assinar pelo Vitória de Guimarães no Verão de 1995, exactos cinco anos após ter deixado o Estádio D. Afonso Henriques. Seguir-se-iam mais duas épocas como titular indiscutível da baliza vimaranense antes de, já com idade avançada, o cabo-verdiano se ver forçado a aceitar nova posição como 'segunda escolha', a qual ocuparia durante as quatro últimas épocas da sua carreira – duas delas passadas na equipa de Veteranos do clube – antes de 'pendurar' oficialmente as chuteiras, já no Novo Milénio, aos trinta e nove anos de idade.

Esta seria, normalmente, a fase da carreira de um futebolista moderno em que o mesmo enveredaria por um cargo técnico, potencialmente num dos clubes 'do coração'; em inícios do Novo Milénio, no entanto, tal opção não era, ainda, tão comum, e como tal, Neno contentar-se-ia com uma vida pacata na zona da Polvoreira, em Guimarães, cidade que o conquistara a ponto de ali se estabelecer durante as duas últimas épocas da sua vida, até a doença o 'levar' prematuramente no Verão de 2021. Como legado, o luso-caboverdiano deixava duas décadas como um dos melhores e mais reconhecidos guarda-redes dos campeonatos nacionais da Primeira Divisão (tendo, inclusivamente, sido escalonado por nove vezes para defender as cores da Selecção Nacional, entre 1989 e 1996), e uma reputação como cantor que lhe valera, inclusivamente, a gravação de um álbum musical, em 1999. Que descanse em paz.

09.07.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Um adepto moderno a quem se fale de Nuno Santos certamente pensará, de imediato, no aguerrido ala-esquerdo actualmente ao serviço do Sporting. Quem tenha acompanhado os campeonatos nacionais desde antes de estes se chamarem Ligas, no entanto, terá em mente dois outros nomes, ambos, curiosamente, de guarda-redes: um, mais velho, 'grande dos pequenos' do Vitória de Setúbal de Eric Tinkler e Chiquinho Conde, o outro eterno suplente do Sporting durante o mesmo período, mas que, já no Novo Milénio, conseguiu afirmar-se entre as redes de alguns 'históricos' de menor dimensão. É sobre este último - que completa hoje, 09 de Julho de 2023, quarenta e cinco anos – que versará este post.

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Um jovem Nuno Santos.

Formado pelos 'leões' de Alvalade, onde ingressou aos treze anos, após duas épocas iniciais no União de Coimbra, Nuno Filipe Oliveira Santos conseguiu 'sobreviver' aos sucessivos 'cortes' e dispensas habituais nas camadas jovens, tendo completado todo o seu percurso ao serviço do emblema verde e branco até, na época 1996/97, se ver sujeito à segunda fase da carreira de um jovem jogador sénior, ao ser enviado, por empréstimo, para o 'satélite' ribatejano dos leões, o Lourinhanense. Ali, num contexto competitivo menos exigente, e onde um jogador com a sua qualidade se conseguia destacar e diferenciar, não é de surpreender que Nuno Santos tenha conseguido fazer uma boa primeira época, defendendo as redes dos ribatejanos em quinze ocasiões.

Dado este auspicioso início de carreira sénior, não é, também, de admirar que o Sporting tenha repetido a 'experiência' nas duas épocas seguintes; infelizmente, estes empréstimos subsequentes não correriam de feição ao guarda-redes, que se veria remetido ao estatuto de suplente até mesmo no modesto emblema, com apenas sete jogos realizados no conjunto das duas épocas.

A viragem do Milénio via, assim, Nuno Santos regressado a 'casa', e integrado na equipa B dos 'leões'. E se essa primeira época do século XXI lhe renderia, novamente, apenas cinco jogos pelas 'reservas' e um pela equipa principal, já a temporada seguinte veria, finalmente, a sua carreira reentrar nos 'eixos', com o empréstimo ao histórico Estrela da Amadora a permitir ao guardião estabelecer-se como titular indiscutível pela primeira vez na sua carreira – ao todo, foram vinte e cinco jogos com a camisola listrada do clube que acaba de regressar à I Liga. Este acréscimo de experiência permitiu ao guardião posicionar-se como primeira opção para a baliza do Sporting B na época seguinte, realizando vinte e seis jogos, bem como dois pela equipa principal.

O ano de 2003, no entanto, veria Santos mais uma vez remetido para outras paragens, com novo empréstimo, desta feita ao Penafiel; e seria este empréstimo que, verdadeiramente, 'lançaria' a carreira de Nuno Santos, que viria a passar as três temporadas seguintes como primeira opção para as redes do clube nortenho, que defenderia em mais de oitenta jogos – sempre, curiosamente, por empréstimo do Sporting - ao lado de outros nomes instantaneamente reconhecíveis das ligas profissionais lusas, como Marco Ferreira e Martelinho.

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O guardião nos tempos do Penafiel.

Seria, aliás, ainda por empréstimo que o guarda-redes ingressaria no seu clube seguinte, o Vitória de Guimarães de, entre outros, Kabwe Kasongo, ao serviço do qual se desvincularia, finalmente, dos 'leões', após quase duas décadas de ligação ao clube de Alvalade.  Ainda assim, a experiência por terras de D. Afonso Henriques não correria de feição ao guardião, que se veria novamente como figura periférica no plantel vimaranense durante as três épocas seguintes.

Assim, em inícios da época 2009/2010, aos trinta e um anos, o guardião trocaria um Vitória por outro, rumando a Setúbal para mais uma época honrosa, seguindo as passadas do seu homónimo alguns anos antes e realizando dezoito jogos entre as redes sadinas. Na temporada seguinte, nova 'mudança', com breve passagem por Portimão (onde nem chegou a aquecer o banco) antes de nova 'guinada' a norte, agora rumo a Barcelos, para fazer dez jogos ao serviço do histórico Gil Vicente. Ainda por terras nortenhas, o guarda-redes ingressaria depois no Sporting da Covilhã, onde seria primeira escolha durante a época 2011/12, amealhando vinte e três jogos antes de regressar à 'casa' onde fora feliz, nos arredores do Porto.  

Apesar da sua 'história' com o Penafiel, no entanto, esta segunda passagem pelo clube resultaria em apenas seis jogos no conjunto das duas épocas, motivando nova mudança, agora para o GD Ribeirão, por quem Santos realizaria dezassete jogos antes de 'pendurar as chuteiras', aos quase trinta e seis anos, pondo um ponto final numa carreira que praticamente define o termo britânico 'journeyman' (algo como 'andarilho') e que põe a nu o quão repletas de 'altos e baixos' podem ser as carreiras de jogadores que não conseguem afirmar-se como 'de topo'.

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Nuno é, hoje, adjunto do Guimarães, que também representou enquanto jogador.

Ainda assim, é bom saber que a vida pós-futebol correu de forma bem menos atribulada a Nuno Santos, que desde há várias épocas integra os quadros do Vitória de Guimarães, na qualidade de treinador-adjunto, e cujas passadas são seguidas pelo sobrinho, o também guarda-redes Fábio Santos, actualmente no Gondomar. Felicidades, e que conte muitos!

12.03.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Todas as equipas e Selecções Nacionais têm os chamados 'jogadores utilitários' – nomes que, sem estarem na 'linha da frente' dos seleccionáveis, são suficientemente confiáveis para constituirem uma opção 'de banco' ou segunda linha perfeitamente viável, e como tal, recorrentemente usada. Muitos destes jogadores partilham, também, a particularidade de serem, ou terem sido, membros influentes de equipas também elas de 'segunda linha', onde acabam por se destacar o quanto baste para justificarem a contratação por emblemas maiores, ou a chamada à Selecção Nacional. O Portugal de finais do século XX não constituiu excepção a esta regra, e tanto os três 'grandes' como a Selecção das Quinas da época contavam com jogadores com este tipo de perfil, dos quais poderíamos destacar nomes como Areias, Frechaut, ou o jogador de que falamos neste Domingo Desportivo, Marco Ferreira.

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O extremo com a camisola que o notabilizou.

Um daqueles 'cromos' clássicos das antigas cadernetas da Panini, Marco Júlio Castanheira Afonso Alves Ferreira nasceu em Vimioso, no Norte de Portugal, há precisamente quarenta e cinco anos, e despontou para o futebol ainda antes da adolescência, em clubes locais como o GD Parada, o Bragança ou o local Águia do Vimioso. A carreira sénior, essa, viria a ter início no histórico Tirsense, onde Ferreira ingressaria para a época 1996-97, conseguindo amealhar dezassete exibições e dois golos na posição de extremo. A razoável época valeria ao jovem uma totalmente inesperada e surpreendente transferência para o Atlético de Madrid B, num daqueles 'passos maiores que a perna' que prejudicam a carreira de tantos jovens jogadores; apesar de este não ter sido o caso com Marco Ferreira, a verdade é que a experiência em Espanha não correu bem, tendo o extremo feito apenas quatro partidas pelos 'colchoneros' antes de rumar ao Yokohama Flugels, do campeonato japonês, no mercado de Janeiro. Também aí a vida não lhe correria de feição, tendo o jogador regressado a Portugal no final dessa época 1997-98, sem ter realizado qualquer jogo pela equipa nipónica.

Felizmente, o regresso ao nosso País permitiu a Marco Ferreira rectificar o seu percurso, tendo-se o extremo afirmado como parte importante da equipa do Paços de Ferreira na única época em que representou os 'castores': no total, foram dezanove as partidas realizadas por Ferreira com a camisola verde-amarela, apresentando-se o jogador a um nível suficientemente alto para despertar a atenção do histórico Vitória de Setúbal, adversário directo do Paços na então II Divisão de Honra; os sadinos acabariam mesmo, aliás, por fazer uma proposta pelo jogador e, no início da última época futebolística do século XX, Marco Ferreira rumaria a Setúbal para aquela que seria a melhor fase da sua carreira. No total, foram três épocas e meia com a 'listrada' sadina, sempre com influência determinante, como o comprovam as quase noventa partidas e quase dezena e meia de golos obtidos pelo extremo durante este período, e que lhe valeram as suas únicas chamadas à Selecção Nacional, todas no ano de 2002.

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Ferreira numa das suas três chamadas à Selecção.

A preponderância de Ferreira no plantel sadino levaria, naturalmente, ao interesse de um 'grande', e, no mercado de Inverno da época 2002-2003, o jogador diria adeus à 'casa' onde fora feliz e regressaria ao seu Norte natal, para integrar 'aquela' equipa do FC Porto de José Mourinho, que contava com outras caras previamente desconhecidas, como Pedro Mendes, Pedro Emanuel e Deco; e apesar de nunca ter conseguido ser mais do que um dos tais 'jogadores utilitários' no plantel dos 'Super' Dragões, o extremo conseguiria, ainda assim, comparecer por vinte e três vezes ao serviço da equipa durante a sua primeira época – uma delas na final da Liga dos Campeões, quando rendeu Capucho ao minuto 98, conseguindo assim ter o seu 'momento' europeu para mais tarde recordar.

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O jogador com a camisola do Porto.

Apesar da regularidade e utilidade como 'opção de banco' (apesar de suplente, chegou a marcar três golos pelo Porto) Marco Ferreira ver-se-ia, na época seguinte, dispensado por empréstimo para o Vitória de Guimarães, onde faria mais de vinte partidas, marcando três golos, antes de regressar ao Grande Porto para representar o Penafiel, naquela que se saldaria como a primeira experiência verdadeiramente 'falhada' desde os seus tempos de juventude: sete partidas e um golo são o saldo de meia época que não deixou grandes lembranças. Foi, pois, com alguma surpresa que os adeptos nacionais viram o extremo assinar por outro 'grande', no caso o Benfica, no início da época seguinte.

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Marco durante a infrutífera passagem pelo Benfica.

Como seria de esperar, no entanto, Ferreira nunca encontrou espaço no plantel 'encarnado', tendo-se a sua passagem pelos lisboetas traduzido em apenas cinco partidas e dois empréstimos, um dos quais o veria embarcar na primeira aventura internacional desde as suas primeiras épocas de sénior; nem a cedência ao Leicester City, de Inglaterra, nem o subsequente ingresso no Belenenses correram de feição, no entanto, com o extremo a conseguir apenas seis partidas em duas épocas, todas com a Cruz de Cristo ao peito. A dispensa do Benfica era, pois, inevitável, e os últimos dezoito meses da carreira de Marco Ferreira seriam passados na Grécia, ao serviço do Ethnikos Piraeus – experiência que tem o mérito de ser a primeira 'aventura' internacional bem sucedida para o jogador, e de lhe ter permitido retirar-se do futebol como figura proeminente do plantel de uma equipa, com trinta e dois jogos realizados ao serviço dos gregos, durante os quais contribuiu com cinco golos, uma das suas melhores marcas pessoais numa só época.

No momento da reforma, Marco Ferreira podia, pois, gabar-se de uma carreira repleta de 'aventuras' e que, apesar dos altos e baixos, o cimentou como uma das melhores e mais reconhecíveis 'segundas linhas' do futebol português da sua época – uma posição perfeitamente respeitável, e que o torna merecedor desta singela homenagem no dia do seu aniversário. Parabéns, Marco Ferreira!

13.11.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de grande parte da atenção de um adepto de futebol recair nos jogadores de campo, e sobretudo nos da metade ofensiva do terreno, a importância de uma presença e personalidade consistente e talentosa entre os postes não pode ser descurada – sobretudo se a mesma exibir, também, lealdade, brio profissional e genuína dedicação ao emblema que representa.

Serve esta introdução para falar de um nome que, apesar de nunca ter sido dos mais conhecidos ou recordados pelos adeptos portugueses, exibiu, enquanto jogador, todas essas características, afirmando-se como um verdadeiro e autêntico 'grande dos pequenos', e que celebra precisamente hoje, dia 13 de Novembro, o seu vigésimo-segundo aniversário. Falamos de Paulo Sérgio Rodrigues Firmino, comummente conhecido apenas pelos seus dois primeiros nomes, e que foi figura central do histórico Campomaiorense durante as épocas em que o emblema ribatejano militou na então chamada Primeira Divisão nacional.

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O guarda-redes no Beira-Mar, já em final de carreira.

Nascido no Barreiro, na Margem Sul do Rio Tejo, Paulo Sérgio iniciou a sua carreira sénior, não no emblema local, mas no 'vizinho' Vitória Futebol Clube, onde ingressaria na última época da década de 80, com apenas dezanove anos; a primeira oportunidade de alinhar pelo novo emblema demoraria ainda, no entanto, duas épocas a surgir, tendo o guardião efectuado os primeiros jogos pelos sadinos no decurso da época 1991/92, em que alinharia num total de vinte partidas. A época seguinte traria mais do mesmo (19 partidas, cerca de metade das que um clube das divisões superiores realiza no decurso de uma época) antes de Paulo Sérgio voltar a perder preponderância no histórico emblema setubalense, realizando apenas um total de nove partidas ao longo das duas épocas seguintes.

Sem espaço para jogar, foi com naturalidade que o guarda-redes procurou, logo na época seguinte, novas paragens, encontrando nova 'casa' em Campo Maior; também aqui, no entanto, a afirmação tardaria a chegar, tendo Paulo Sérgio acumulado apenas uma dezena de jogos durante a sua primeira época no novo emblema. Desta vez, no entanto, a situação viria a alterar-se logo na época seguinte, quando o ex-sadino se tornaria escolha principal para a baliza do Campomaiorense, posto de que não mais viria a largar mão durante as restantes seis épocas que passou na histórica agremiação; da época de 1996/97 até à sua saída para o Beira-Mar, em 2002/2003, o número mínimo de partidas que Paulo Sérgio amealharia durante uma época seria de dezasseis (na época 1998/99, em que foi suplente de Poleksic, outro histórico da Primeira Divisão da época) ficando este número, quase sempre, bem acima das duas dezenas nas restantes temporadas. Durante este período, o guardião teve, ainda, o privilégio de partilhar o balneário com nomes como Jimmy Floyd Hasselbaink (um dos mais notáveis 'Grande dos Pequenos'), Beto Severo, Isaías, Paulo Torres, Jordão, Isaías, Rogério Matias (outro jogador cuja carreira justifica a presença nesta secção) e outro verdadeiro histórico dos ribatejanos, o angolano Fernando Sousa.

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O jogador ao serviço do clube que o notabilizou.

Tendo em conta este historial, e a forma como acompanhara o clube durante a sua 'queda' da Primeira Divisão e eventual regresso aos escalões secundários, foi talvez com alguma surpresa que os adeptos viram Paulo Sérgio abandonar o Campomaiorense em favor do Beira-Mar, em 2003 – ainda a tempo de fazer uma época em 'alta' pelos aveirenses, alinhando em vinte e quatro das partidas disputadas nessa época, antes de seguir o percurso natural de um jogador em fase descendente de carreira, assumindo papéis de apoio primeiro no próprio Beira-Mar, (onde alinharia em apenas nove jogos no cômputo geral das duas épocas seguintes), depois no Pinhalnovense (onde ficaria uma temporada sem nunca sair do banco) e finalmente no Olivais e Moscavide, onde viria a terminar a carreira em campo - após apenas dois jogos em outras tantas épocas - antes de rumar ao vizinho Oriental, para assumir o cargo de treinador de guarda-redes. Um desfecho honroso para um nome que, apesar de não figurar entre os 'ilustres' da Primeira Divisão de finais do século XX, não deixa, no entanto, de ter desempenhado papel de relevo em alguns dos principais emblemas 'periféricos' da mesma, fazendo, assim, por merecer o epíteto de 'Grande dos Pequenos' - e esta pequena homenagem na data do seu aniversário. Parabéns, Paulo Sérgio - que conte muitos!

22.05.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Na generalidade, a carreira de um jogador de futebol profissional desenvolve-se segundo certos trâmites, e segue uma estrutura definida: formação num determinado clube (com ou sem passagem para um clube maior durante esse período formativo), afirmação nesse mesmo clube ou em outro do mesmo país e, finalmente, a quase inevitável saída para o estrangeiro. Grosso modo, é esta a fórmula do futebol moderno, e a forma mais expectável de a carreira de qualquer futebolista se desenvolver.

Como em tudo, no entanto, existem excepções a esta regra – jogadores cuja carreira evolui de forma anómala e algo peculiar relativamente ao esperado. É, precisamente, de um caso desses que trata esta edição do Domingo Desportivo, em que nos debruçamos mais a fundo sobre uma carreira, no mínimo, estranha, e, precisamente por isso, interessante: a do sul-africano Eric Tinkler, um daqueles 'grandes dos pequenos' que se notabilizou em equipas menores do nosso campeonato, sem nunca ter dado o 'salto' para um dos três grandes.

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O jogador ao serviço do Vitória de Setúbal

Iniciada em finais da década de 80, a carreira de Tinkler parecia, numa primeira fase, desenrolar-se de forma vulgar: formado no modesto Wits University, da sua região natal, o jogador conseguiu naturalmente o seu lugar na primeira equipa, tendo realizado 18 jogos durante a sua única temporada como sénior, em que mostrou o suficiente para despoletar o interesse de um clube estrangeiro, no caso, português.

É aqui que se dá a grande surpresa da carreira do sul-africano, já que o emblema em causa não era qualquer dos três 'grandes', nem tão-pouco um dos muitos 'históricos' que povoavam e continuam a povoar as duas primeiras divisões do futebol português; antes, o clube que descobrira Eric Tinkler algures no campeonato sul-africano e se propunha trazê-lo para terras lusas era...o União de Tomar! Sim, um clube regional a militar na II Divisão B conseguia, do nada, contratar uma promessa sul-africana, que, no início da época 1991-92, viajava até à Região Centro do país para alinhar pela modesta agremiação!

Escusado será dizer que, na sua única época ao serviço do União, Tinkler se afirmou como uma das figuras da equipa, com 34 jogos e 5 golos; naturalmente, este tipo de registo rapidamente lhe valeu o interesse de um clube bastante maior, no caso o histórico Vitória de Setúbal, da Primeira Divisão. Foi, portanto, com igual naturalidade que Tinkler empreendeu a viagem para o Sul do Tejo, para integrar 'aquela' equipa com Chiquinho Conde na frente (sobre a qual, aliás, nos teremos paulatinamente de debruçar); no total, seriam quatro as temporadas do sul-africano no emblema sadino, no decurso das quais realizou um total de 84 jogos, marcando 2 golos.

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O cromo de Tinkler numa das cadernetas de cromos de futebol da Panini

Apesar das boas prestações ao serviço dos sadinos, no entanto, Tinkler nunca chegaria a mais 'altos vôos' no futebol português; em vez disso, o próximo passo da sua carreira passaria pela passagem directa para o estrangeiro, no caso para o 'Calcio', para representar o Cagliari, por quem realizaria apenas 20 jogos antes de atravessar a Europa para alinhar pelo Barnsley, de Inglaterra, onde voltou a ser nome maior, realizando perto de cem jogos nas cinco temporadas que ali realizou, e contribuindo com nove golos.

É, portanto, com um misto de espanto e incredulidade que vemos o passo seguinte da carreira do jogador (à época, recorde-se, ainda internacional pelo seu país, com 45 jogos e um golo ao serviço dos Bafana Bafana) passar por um regresso à Região Centro portuguesa, para representar mais um clube de pouca ou nenhuma expressão, o Caldas SC, das Caldas da Rainha. Este regresso à Península Ibérica dura três temporadas, durante as quais Tinkler realiza 54 jogos e contribui com 15 golos; as saudades de casa falaram, no entanto, mais alto, e a época 2005-2006 vê o sul-africano regressar à sua terra natal, para terminar a carreira com duas épocas ao serviço do Bidvest Wits, por quem realiza 29 partidas e marca 3 golos.

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Tinkler como treinador

Penduradas as chuteiras, Tinkler dedica-se a tempo inteiro ao 'outro lado' do jogo, tornando-se um dos mais proeminentes treinadores do campeonato sul-africano, onde orienta equipas como o Orlando Pirates ou SuperSport United; para trás fica um percurso como jogador quase inacreditável de tão peculiar, que vê o jogador passar da II Divisão B portuguesa para os campeonatos principais de Portugal, Itália e Inglaterra e, daí, regressar directamente às divisões inferiores nacionais, como se tal escolha representasse uma progressão natural de carreira! Só por isso, o sul-africano já merece o rótulo de 'grande dos pequenos' (afinal, conseguiu ser titular da Selecção do seu país enquanto militava no Vitória de Setúbal) e lugar de destaque como caso de estudo de uma carreira totalmente atípica para um futebolista profissional...

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