01.01.24
Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.
O início dos anos 90 assistiu a uma segunda vaga de programas de comédia totalmente produzidos em Portugal e, muitas vezes, criados também a partir de um conceito original português. Os mais famosos de entre estes - nomeadamente 'Herman Enciclopédia' e 'Os Malucos do Riso' - adoptavam um formato baseado em 'sketches' individuais e sem conexão entre si, à maneira do que faziam, no estrangeiro, 'Os Trapalhões' ou o elenco de 'Saturday Night Live'; outros tantos, no entanto, adoptavam um formato episódico, semelhante aos das 'sitcoms' britânicas e norte-americanas que tanto sucesso faziam em finais do século XX. É nesta última leva, ao lado de programas como 'Camilo e Filho' ou 'A Mulher do Senhor Ministro', que se insere a série que abordaremos nesta primeira Segunda-feira de 2024.
Estreada em Novembro de 1993, e transmitida durante quase exactamente um ano, 'Sozinhos em Casa' - não confundir com a popular série de filmes do mesmo nome, ainda que a parecença nos nomes pudesse não ser, de todo, acidental - tinha por base a série americana 'The Odd Couple', transmitida cerca de duas décadas antes no seu país natal. Ainda assim, apesar da discrepância temporal entre o material original e a adaptação portuguesa, o conceito-base da série era mais ou menos intemporal, prestando-se tão bem a situações humorísticas naqueles inícios dos 90 como o havia feito vinte anos antes, e como o faria, já no Novo Milénio, no mega-sucesso 'Dois Homens e Meio', com Charlie Sheen. Isto porque a premissa da série segue dois melhores amigos de personalidades marcadamente diferentes - um jornalista desportivo desmazelado e 'desenrasca', e um fotógrafo hipocondríaco e maníaco das limpezas - que são forçados a viver juntos após serem expulsos de casa pelas respectivas mulheres, dando azo a todas as situações que tal convivência não podia deixar de despertar.
É precisamente, o humor inerente aos estilos de vida díspares dos dois homens que serve de âncora a toda a série, num estilo de comédia que, conforme acima referido, estava, ainda, longe de se esgotar - e que, no caso da série em análise, beneficiava muito tanto do talento cómico da dupla Miguel Guilherme e Henrique Viana, como das capacidades literárias e conhecimento do meio televisivo dos argumentistas Virgílio Castelo (à época conhecido, sobretudo, como o apresentador de 'Isto Só Vídeo!') Mário Zambujal (esse mesmo, o escritor da 'Crónica dos Bons Malandros', entre outros clássicos da literatura portuguesa) e Carlos Cruz, já então uma 'lenda viva' da televisão portuguesa, ligada a programas tão icónicos como 'Um, Dois, Três' ou 'O Preço Certo'. Uma equipa de consumados profissionais que conseguiram fazer da série um bom exemplo da comédia portuguesa da época, mas que, infelizmente, não lograram prolongar o seu tempo de vida para além daquela primeira temporada de cinquenta e dois episódios, tornando 'Sozinhos em Casa' uma daquelas 'pérolas esquecidas' da televisão lusa do período em causa, bem merecedora de ser revisitada por fãs de programas similares estreados em anos subsequentes, e que gozariam de bastante mais sucesso.