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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

30.05.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

No início dos anos 90, os jogos de corridas assumiam, ainda, contornos maioritariamente irrealistas, o chamado estilo 'de arcada'; apesar de haver, aqui e ali, lugar a tentativas de criar algo mais realista – como as séries 'TOCA' e 'Formula 1', para a PlayStation original, ou até jogos anteriores, do tempo dos PCs com gráficos EGA – a maioria dos títulos do género continuava a apresentar uma jogabilidade de 'pé no acelerador e fé em Deus'.

Talvez por isso o jogo lançado pela Sony Computer Entertainment para a sua consola-estandarte há quase exactos vinte e cinco anos – a 8 de Maio de 1998 – tenha causado tal sensação, tornando-se num dos mais famosos e prestigiados títulos do género não só nessa consola, mas no cômputo geral. E porque, à data do seu aniversário, estávamos ocupados com outros assuntos – e por mais valer tarde do que nunca – dedicamos agora, com cerca de três semanas de atraso, algumas linhas aos primórdios de uma franquia que perdura até aos dias de hoje.

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Falamos, claro está, de 'Gran Turismo', que, mais do que umas quantas corridas, propunha uma experiência quase inteiramente realista, não só no tocante a ser piloto de competição, mas no âmbito da condução em geral. De facto, o modo homónimo do jogo obrigava o jogador a superar uma série de desafios destinados a adquirir a carta de condução necessária ao manuseio de carros de alta rotação, antes mesmo de sequer lhe ser permitido olhar para um – algo que, convenhamos, ia muito além do 'normal' dos jogos de corrida da altura! Mais – cada carta apenas dava acesso a um determinado número de eventos, sendo depois necessário repetir o processo para adquirir a licença do nível seguinte! Um desafio que, à partida, não parecia por aí além cativante, mas que se afirmava como estranhamente viciante, bem como recompensante, já que a oferta de carros disponibilizada pelo jogo era verdadeiramente impressionante, além de absurdamente variada pelos padrões da época – no total, eram cento e quarenta carros com os quais percorrer as onze pistas do jogo!

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Exemplo da jogabilidade e fabulosos gráficos do título.

É claro que o jogo vinha também equipado com um modo 'Arcade', em que os mais impacientes podiam dar as 'voltinhas' da praxe, experimentar todos os veículos (incluindo os dois exclusivamente disponíveis neste modo), admirar os (na altura) estonteantes gráficos das mesmas e familiarizar-se com as pistas; no entanto, é inegável que este modo ficava em segundo plano, enquanto a maioria dos jovens aspirantes a condutores tentava tirar a carta correspondente ao carro dos seus sonhos. É, aliás, duvidoso se 'Gran Turismo' teria tido o mesmo sucesso sem este modo, já que, apesar de soberbamente realizado a nível técnico, não oferece mais qualquer ponto distintivo em relação às melhores ofertas do género disponíveis na era 32-bit.

Tal como existiu, no entanto, 'Gran Turismo' foi um sucesso retumbante um pouco por todo o Mundo, fazendo com que valessem a pena os cinco anos que os programadores da Sony lhe dedicaram, O impacto e influência do jogo foram tais que, em 2015 – já com muitos outros títulos bastante mais avançados disponíveis no mercado – o mesmo era, ainda, reconhecido pelo conceituado portal IGN como o segundo mais influente de sempre no género das corridas, perdendo apenas para o 'ancião' 'Pole Position'.

Face ao êxito do jogo junto tanto do público como da crítica especializada, não é de admirar que, menos de dois anos após o seu lançamento (nos primeiros dias do Novo Milénio), a Sony disponibilizasse no mercado aquela que seria a primeira de muitas sequelas – e também não é, de todo, surpreendente que a mesma seguisse uma linha quase 'decalcada' do seu antecessor, mas em maior escala.

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De facto, não contente com oferecer 'mais do mesmo', 'Gran Turismo 2' oferece MUITO mais do mesmo, sendo necessários dois discos de PlayStation para armazenar os seus seiscentos e cinquenta (!!!) carros e vinte e sete pistas, mais do dobro das oferecidas pelo original. E se estes números parecem reservar a compleição do jogo apenas aos (muito) mais pacientes, a verdade é que terá havido muitos jogadores inveterados dispostos a aceitar o desafio, já que a sequela constituiu novo sucesso de vendas mundial, pesem embora alguns 'bugs' iniciais, prontamente corrigidos pela editora.

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Exemplo da jogabilidade e ainda melhores gráficos da primeira sequela.

Daí em diante, e até aos dias que correm, o percurso da franquia foi previsível, tendo sido lançados mais seis títulos principais, cada um deles um estandarte para cada nova evolução da consola da Sony, bem como uma série de jogos secundários, com menos eventos e carros. Nada disso teria sido possível, no entanto, sem o revolucionário título inaugural da franquia, um daqueles jogos tão influentes entre a geração 'Millennial' que quase suscita a pergunta 'onde é que estavas quando foi lançado o Gran Turismo?'

23.05.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Há criações assim – que não só extravasam a mediania e se tornam memoráveis para quem com elas convive, mas acabam por mudar irrevocavelmente o panorama do meio ou campo em que se inserem. O mundo dos videojogos não é excepção à regra neste aspecto – antes pelo contrário, é por demais fácil elencar toda uma série de títulos que vieram alterar para sempre o mercado do entretenimento electrónico, e a forma como o público-alvo percepcionava e interagia com o mesmo; para citar apenas alguns dos exemplos mais conhecidos, provavelmente não teria havido jogos de plataformas como os conhecemos sem o primeiro 'Super Mario Bros.', jogos de luta um-para-um sem 'Street Fighter II', jogos de tiros em primeira pessoa sem 'Wolfenstein 3D' e 'Doom', nem jogos centrados em batalhas multi-jogador travadas em arenas circulares e fechadas sem o título que abordamos esta semana, quando se celebra um exacto quarto de século sobre o seu lançamento.

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Surgido nas prateleiras mundiais a 22 de Maio de 1998, pela mão da hoje bem conhecida Epic Megagames e da GT Interactive, 'Unreal' destacou-se, desde logo, da concorrência, não só pelos extraordinários gráficos (baseados no ainda hoje utilizado Unreal Engine e que tiravam o máximo proveito das tecnologias de aceleração e processamento da época, ultrapassando mesmo os do também clássico 'Quake II', lançado apenas alguns meses antes) como pelo foco considerável e explícito na vertente multi-jogador, que aproveitava, ela mesma, as capacidades da ainda incipiente Internet.

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Exemplo dos ainda hoje impressionantes gráficos e ambientes do jogo.

De facto, em conjunto com a sua sequela e o 'concorrente' 'Half-Life', lançado cerca de seis meses mais tarde – e que também desfrutará, em breve, do seu 'lugar ao sol' nestas nossas páginas - 'Unreal' ajudou, em grande parte, a definir a experiência 'multiplayer' ao nível dos jogos de acção, tendo os seus moldes sido, postumamente, copiados e aperfeiçoados por títulos tão famosos e bem-sucedidos como 'Serious Sam', 'Halo' e até os 'decanos' 'Quake' e 'Doom', nas suas terceiras sequelas. Vinte e cinco anos depois, para quem viveu aquela época próxima da mudança de Milénio, é impossível imaginar a experiência de jogar videojogos 'online' sem 'Unreal' e 'Unreal Tournament', o que diz muito da importância dos mesmos para a evolução do meio nas primeiras décadas do século XXI.

E por falar em 'Unreal Tournament', eis uma sequela que se conseguiu tornar ainda mais famosa do que o seu antecessor, a ponto de o eclipsar e praticamente se tornar sinónima com a franquia como um todo.

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Lançado na Europa a 3 de Dezembro de 1999 – a tempo de se tornar o grande sucesso do último Natal do século XX – e mais tarde transladado para as principais consolas da época, este título tem o mérito de aperfeiçoar quase todos os pontos mais fracos do seu antecessor e da respectiva expansão, em particular a experiência 'online multiplayer', que resolvia a maioria dos 'bugs' e defeitos do original e se posicionava como o conceito central do jogo. De facto, onde 'Unreal' havia ainda sido, em larga medida, um jogo de missões simples para um só jogador, 'Tournament' oferecia muito pouco a quem não tivesse Internet em casa e adversários humanos para enfrentar, estando – juntamente com o referido 'Half-Life' e a famosíssima alteração 'caseira' do mesmo, 'Counter Strike' – na génese do género a que se convencionou chamar 'arena shooter', e tendo, como estes, contribuído para o léxico 'gamer' com termos como 'deathmatch' e 'capture the flag', que fazem hoje parte do tecido linguístico de qualquer fã de jogos electrónicos em rede.

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Exemplo da jogabilidade de 'Tournament'.

Escusado será dizer que um título que atinge tais níveis de sucesso, relevância e importância dentro do seu género – e do mundo dos jogos de computador em geral – terá, naturalmente, direito não só a várias sequelas, como a toda uma série de títulos com o seu nome. Foi assim com 'Half-Life' e foi, também, o caso com 'Unreal', que via a sua sequela directa ser lançada em 2003 – em meio a inúmeras actualizações de 'Tournament', incluindo um novo título de índole semelhante, 'Unreal Championship' – e dar o mote para toda uma panóplia de novos jogos, desenvolvidos por companhias tão conhecidas como a Infogrames, a Atari ou a Midway. E ainda que a mais recente destas continuações date já de 2014, é perfeitamente possível que a série 'Unreal' venha ainda a contribuir com mais alguns títulos para a biblioteca de jogos dos fãs de tiros em primeira pessoa, e a afirmar-se como uma alternativa nostálgica a franquias tão bem-sucedidas como aborrecidas e repetitivas, como 'Call of Duty', 'Battlefield' ou 'Gears of War' – os quais, aliás, talvez não existissem sem o motor de desenvolvimento introduzido pelo jogo original, nos idos de 1998, e que continua a servir de base a tantos e tantos títulos do género. Parabéns, 'Unreal', e obrigado pelas memórias.

09.05.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Uma das regras implícitas do marketing dirigido a crianças e jovens, tanto nos anos 90 como hoje em dia, dita que toda e qualquer propriedade intelectual existente que goze de um mínimo de popularidade e sucesso terá, inevitavelmente, direito a pelo menos um jogo de computador ou consola; e dada a tracção que o simpático 'Inspector Engenhocas' tinha entre a juventude de finais do século XX, não é de admirar que o mesmo não tenha sido excepção a esta regra.

De facto, corriam ainda os anos 80 quando o agente secreto cheio de 'truques no chapéu' (literalmente) surgia na primeira adaptação informática das suas aventuras, um jogo homónimo lançado em 1987 para aqueles que eram os sistemas mais populares da época na Europa, o Commodore 64 e o ZX Spectrum; o estilo, escusado será dizer, era o de aventura em plataformas, talvez o género mais sinónimo com o mundo dos videojogos dos anos 80 e 90. Este título não chegou, no entanto, a ganhar particular tracção junto do público-alvo, tendo passado algo despercebido nos escaparates de finais de 80 – tal como, aliás, aconteceria com a primeira aventura noventista do agente, lançada em 1992 para MS-DOS e que, apesar de se inserir num dos géneros mais populares da década junto dos utilizadores de PC's (a aventura gráfica) também acabou por se ver algo 'perdida' em meio à prolífica e excelente oferta da época.

Exemplo da jogabilidade do título para PC

Assim, o jogo que muitos dos ex-jovens da época mais prontamente associarão ao agente é o seu título homónimo para Super Nintendo, lançado em 1993. Trata-se de um daqueles títulos de plataformas com gráficos coloridos, que quase pareciam tirados do próprio desenho animado, tão típicos da era 16-bit, e que nada oferece de particularmente especial ou excitante por comparação com outros títulos licenciados na mesma veia; de facto, além do gráfico do personagem, praticamente nada remete às aventuras animadas de Gadget, que atravessa mundos perfeitamente genéricos, que poderiam estar em qualquer jogo da época (os habituais níveis de gelo, água, ruínas, deserto, túnel subterrâneo, etc.) apenas raramente fazendo uso das suas engenhocas. A ligação à licença é, aliás, tão ténue que a Hudson Soft nem mesmo fez uso do tradicional e icónico tema de abertura da série no seu ecrã de apresentação! Enfim, uma oportunidade perdida, que apenas terá valido, à época, pela oportunidade de controlar Gadget.

O jogo de 1993, uma oportunidade perdida pela Hudson Soft

Curiosamente, este título seria, a par da aventura gráfica para PC, o único a ver a luz do dia durante o auge da popularidade do agente da Interpol; mais curioso ainda, no entanto, seria constatar que o maior influxo de jogos alusivos ao agente surgiria quase uma década após esse mesmo auge! De facto, os primeiros três anos do Novo Milénio viram serem lançados nada menos do que QUATRO títulos alusivos ao personagem nos sistemas mais populares da época (PlayStation 1 e 2 e Game Boy Color e Advance) – e sem que nenhum deles tivesse qualquer ligação ao filme de 'acção real' lançado pela Disney em 1999! Um fenómeno inexplicável, mas que rendeu aos fãs da franquia (se alguns ainda restassem) várias oportunidades para se divertirem a atravessar níveis ou resolver 'puzzles' na companhia do simpático personagem.

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Os títulos de Gadget lançados em inícios dos anos 2000

Também curioso é constatar que, apesar de ter tido direito a um 'reboot' em 2015, e ao contrário do contemporâneo Wally, Gadget ainda não foi foco de qualquer título para iOS ou Android; resta, pois, esperar para ver se a popularidade do agente da Interpol volta a atingir níveis que justifiquem o investimento, ou se as aventuras digitais de Gadget, Sofia e Finório tiveram mesmo o seu fim nos primeiros anos do século XXI.

25.04.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

A década de 90 viu nascer muitas, senão a maioria, das mais icónicas consolas de videojogos de sempre. Da Mega Drive (lançada ainda nos anos 80, mas que teve na década seguinte o seu período áureo) à Super Nintendo, e da Playstation à Nintendo 64, passando pelo Game Boy original e Color, foram muitos e bons os sistemas que puseram os 'putos' de finais do século XX colados a um ecrã durante horas, a tentar passar 'aquele' nível 'daquele' jogo, ou a competir com os amigos em sempre acirrados duelos interactivos. Nem tudo foram, no entanto, rosas no campo dos jogos electrónicos durante aquela década, tendo havido também alguns 'falhanços' de monta a registar – um dos mais conhecidos dos quais completa este mês trinta anos, fazendo desta a altura perfeita para recordar a sua curta e azarada vida comercial.

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Falamos da Mega CD, a tentativa falhada da Sega de criar um 'add-on' para a Mega Drive que a tornasse compatível com o formato mais 'na berra' à época, o CD-ROM – dois anos antes de sequer se falar na Sega Saturn, mas numa altura em que a eterna rival Nintendo anunciava uma parceria com a Sony para criar algo idêntico para a Super Nintendo, algo que nunca viria a materializar-se. Escusado será dizer que este ambicioso projecto representou um considerável desafio tecnológico para a Sega, requerendo mudanças no 'hardware' da Mega Drive (com a adição de um segundo CPU, capaz de suportar as velocidades de processamento requeridas pelo novo acessório) que viriam a encarecer sobremaneira a produção da Mega CD, fazendo com que a mesma tivesse um custo exorbitante também para o consumidor.

Não deixa, portanto, de ser surpreendente que o acessório tenha, inicialmente, sido bem recebido pelos diferentes mercados de teste, incluindo o relativamente diminuto mercado japonês, onde a Mega Drive (ou Genesis, como é conhecida nas regiões NTSC) tinha uma implantação relativamente reduzida. No caso da Europa, onde a Mega CD era acompanhado por três jogos (incluindo uma compilação de títulos da Mega Drive) já é mais fácil perceber o atractivo deste acessório, mas torna-se ainda assim difícil justificar o elevadíssimo preço, sobretudo tendo em conta o valor do dinheiro em 1993!

Quando aliado à lendariamente diminuta biblioteca de jogos (um problema partilhado com o 'outro' 'add-on' para a Mega Drive, o não menos infame 32X), este factor levou a que o entusiasmo em torno do novo acessório 'esfriasse' rapidamente, tendo as vendas declinado a tal ponto que, pouco mais de seis meses após o seu lançamento na Europa, a Sega deixava de aceitar propostas de jogos para a consola, e, a partir de 1995, virava todas as suas atenções e esforços para um novo projecto, o qual teria no CD-ROM a sua base de armazenamento de raiz; e a verdade é que, apesar de muito melhor sucedida do que esta antecessora (o que, convenhamos, não era difícil) essa consola teria um percurso não menos 'azarado' que aqui exploraremos em outra ocasião. Quanto à Mega CD, exactos trinta anos após o seu lançamento na Europa, a mesma continua, ainda hoje, a constituir um exemplo acabado de uma ideia demasiado ambiciosa para os recursos disponíveis, e que poderia (e deveria) ter sido melhor explorada pela sua casa-mãe.

11.04.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Numa semana em que um dos mais populares e rentáveis heróis dos videojogos, o eterno Super Mario, 'invade' os ecrãs de cinema portugueses com o seu segundo filme (desta feita, animado) o qual vem, até agora, suscitando reacções de entusiasmo por parte dos fãs de videojogos, nada melhor do que recordarmos mais um dos muitos títulos influentes com que o mesmo contou durante a década de 90. E por já termos aqui falado do seu clássico para Super Nintendo, de uma 'pérola esquecida' do Game Boy e até da franquia paralela que o coloca como condutor de carros de corrida, resta-nos falar daquele que foi, talvez, 'O' jogo de Mario para a geração que lê este blog, e que, à época, veio revolucionar por completo a 'cena' dos videojogos, e cimentar a Nintendo como principal pretendente ao 'trono' da Sony.

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Falamos, claro, de Super Mario 64, jogo que ajudou, quase por si só, a 'vender' a revolucionária consola da Nintendo, e que continua até hoje a fazer parte de qualquer lista de grandes clássicos para a consola – um feito, em tratando-se de um título de lançamento! Essa reputação é, no entanto, totalmente merecida, bastando olhar para umas quantas imagens do jogo durante um par de segundos para perceber como e porque é que o mesmo deixou de boca aberta toda uma geração de 'putos', a nível mundial. Em Março de 1997, altura em que o jogo chega à Europa, o género das plataformas 3D tinha já alguns representantes – sendo o mais destacado a mascote da Sony, Crash Bandicoot – mas nada que sequer se assemelhasse a Mario 64, um titulo que inova o conceito de 'open world' que, mais tarde, se tornaria quase 'de regra' em jogos do género. Isto porque, além dos múltiplos níveis, sub-níveis e desafios a completar, o jogo permite ao jogador explorar as cercanias do castelo da Princesa Peach, descobrindo assim segredos, moedas e outros aspectos adicionais, que expandem ainda mais a jogabilidade do título.

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A área central do castelo, e do jogo.

Para além dessa liberdade de movimentos, da multiplicidade de níveis e do vasto rol de movimentos de Mario (a aproveitar os botões extra do comando da Nintendo 64) o jogo é, pura e simplesmente, uma proeza técnica ímpar para a época, ficando a 'léguas' mesmo dos melhores adversários, como o referido Crash. Empregando de forma inteligente as limitações gráficas da consola (como o famoso 'nevoeiro') o título conta com gráficos impressionantes para a época (e que envelheceram como o vinho), banda-sonora cuidada e, claro, a carismática voz de Mario, com as suas exclamações de 'Mamma Mia!' (sem esquecer a cabeça gigante que dava as boas-vindas aos potenciais jogadores durante o modo 'demo', e fazia 'saltar' qualquer miúdo incauto que passasse por uma N64 numa qualquer grande superfície ou loja de brinquedos...)

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Quem nunca 'saltou' com isto?

Aliados aos referidos aspectos inovadores a nível da jogabilidade, estes factores tornavam Mario 64 num daqueles títulos a ser jogado e explorado pelo menos uma vez por qualquer fanático de videojogos que se prezasse, e valeram-lhe a (por uma vez, merecida) nota de 100% no icónico Templo dos Jogos da SIC (e classificações semelhantes nas principais revistas de jogos da época), bem como um lugar cimeiro no panteão de grandes clássicos da franquia Mario, que ainda hoje – mais de um quarto de século volvido - disputa apenas com títulos como 'Super Mario World' ou os muito posteriores 'Galaxy' e 'Odyssey'. E com o filme de Mario a revelar-se um também merecido sucesso de bilheteira, está dado o mote perfeito para tirar do armário a velha N64 (ou a mais recente DS, na qual o jogo foi relançado em versão 'melhorada') e mostrar à geração actual o que constituía uma obra-prima interactiva no tempo dos seus pais...

14.03.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Os últimos anos da década de 90 e inícios da seguinte marcaram a segunda 'era de ouro' dos jogos de luta, os chamados 'beat-'em-ups'; se o início dessa mesma década tinha visto nascer franquias tão icónicas como 'Mortal Kombat', 'Street Fighter', 'King of Fighters' ou 'Samurai Shodown', a ponta final da mesma assistiu ao reinado de toda uma nova 'geração' de títulos, agora em três dimensões. Entre 'Tekken', 'Virtua Fighter', 'Dead or Alive' e outras franquias tão bem sucedidas como as suas antecessoras, havia, no entanto, alguns títulos e séries de relativo mérito que acabavam por se 'perder' ou – na melhor das hipóteses – por adquirir estatuto de culto; é o caso da franquia de que falamos esta semana, e que, apesar de algum 'falatório' à época do lançamento, acabou por nunca passar da 'segunda linha' de 'beat-'em'-ups' em 3D.

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Trata-se da série 'Bloody Roar', um exclusivo para PlayStation cujo primeiro título completa este mês vinte e cinco anos sobre o seu lançamento na Europa, e cuja premissa para se destacar da mais que ilustre concorrência passava pela capacidade dos seus lutadores se transformarem em animais ao toque de um botão, desde que tivesse sido acumulada suficiente energia. Assim, algo que começava como 'apenas' mais um jogo de luta em 3D mediano rapidamente evoluía para um festim de violência, em que as criaturas únicas de cada jogador trocavam patadas e outros golpes tipicamente animais, proporcionando uma experiência de jogo bastante distinta de um 'Tekken' ou 'Battle Arena Toshinden'.

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Capa do primeiro álbum, lançado há precisamente vinte e cinco anos, em Março de 1998

A nível de jogabilidade, aliás, 'Bloody Roar' estava bem mais próximo de um 'Dead or Alive', 'Rival Schools' ou dos lendários 'beat-'em-ups' da Sega, como 'Fighters Megamix', do que das franquias-estandarte da PlayStation: o ritmo era rápido, frenético e violento, bem distante da atitude mais pensada e 'balética' das séries supramencionadas; isto, por sua vez, ajudava a tornar o jogo mais excitante, explicando o sucesso do mesmo junto da demografia-alvo (os rapazes adolescentes).

De facto, apesar de um pouco esquecida hoje em dia, a série fez, à época, sucesso suficiente para justificar a inevitável sequela, pouco mais de um ano e meio depois. Previsivelmente, 'Bloody Roar 2' é mais do mesmo, mas com aspectos técnicos melhorados, novos 'super-ataques' adicionados ao arsenal de cada jogador, e um elenco quase totalmente renovado, com apenas cinco lutadores em comum com o primeiro capítulo; no entanto, esta acabou mesmo por ser a sua principal pecha, tendo a grande maioria da crítica especializada considerado que o jogo deixava algo a desejar, não só por comparação com o original, mas dentro do panorama geral dos jogos de luta para a consola da Sony.

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Capa da sequela, lançada no Verão de 1999

Ainda assim, a Hudson Soft não baixou os braços, e a 'era Playstation 2' veria serem adicionados à franquia, não um, mas dois jogos, em 2001 e 2003, respectivamente; em simultâneo com estes lançamentos, as 'rivais' XboX e Gamecube recebiam a primeira versão não criada exclusivamente para a Sony, baptizada 'Bloody Roar: Primal Fury' na Gamecube e 'Bloody Roar Extreme' na consola da Microsoft, e lançada entre 2002 e 2003.

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Os restantes títulos da série.

Todos estes jogos seguiam a mesma fórmula do original, apenas com elencos cada vez mais alargados, e nenhum conseguiu passar da mediania aos olhos da crítica, acabando por resultar no fim da série após o quarto capítulo. Hoje em dia, mais de vinte anos após o último lançamento, a franquia é sobretudo conhecida por ter sido citada numa letra do grupo Eiffel 65; no entanto, quem conviveu com um dos seus títulos, ainda que por breves minutos, certamente terá boas memórias daquele que foi um dos mais divertidos 'beat-'em-ups' de 'segunda linha' da era 32-bit.

28.02.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Os anos 90 foram, por excelência, a época das mascotes nos videojogos, uma tendência que perdeu 'gás' logo na década seguinte, mas que dominou o mercado durante os últimos anos do século XX, em que parecia que qualquer jogo de acção ou plataformas precisava de um 'bicharoco' engraçado como representante. Apesar do vasto número de criações deste tipo durante o referido período, no entanto, poucos destes personagens se destacaram, pertencendo a maioria deles às duas grandes fabricantes de consolas da época, a Sega e a Nintendo. Destas, destacavam-se, naturalmente, o representante da Sega, Sonic, e o porta-estandarte da Nintendo, Mario, ambos os quais atravessavam naqueles anos o seu período áureo, com excelentes séries de jogos (de alguns dos quais já aqui falámos anteriormente), enorme popularidade ao nível do 'merchandising' (algum dele bastante fora do comum) e até as inevitáveis séries de desenhos animados e tentativas de filmes de acção real a eles alusivas. Assim, não é de estranhar que qualquer das duas companhias tenha procurado explorar o mais possível o respectivo 'filão', associando as suas mascotes ao maior número de títulos possível.

Mario, em particular, era durante este período a 'estrela da companhia' da Nintendo, surgindo não só nos seus próprios títulos para as diversas consolas da fabricante, mas também em títulos totalmente aleatórios desenvolvidos pela mesma - a maioria dos quais no Game Boy, onde o canalizador vestido de vermelho tinha muito menor preponderância do que nas consolas 'a sério'. De facto, onde a NES tinha 'Super Mario Bros. 3' e a Super Nintendo tinha os excelentes 'Super Mario World' e 'Super Mario Kart', a portátil da Nintendo contava apenas com o jogo de Mario mais atípico de sempre (o desconcertante 'Super Mario Land') e com alguns títulos do estilo 'puzzle', como 'Mario & Yoshi' e 'Alleyway', um clone de Arkanoid onde o italiano pilotava uma nave espacial (!) Não foi, portanto, de estranhar que, em finais de 1992, a Nintendo tenha querido corrigir esse erro, e reforçar a presença da sua mascote principal na sua mega-popular consola portátil; e a verdade é que o jogo que criaram para esse efeito faz jus à máxima 'mais vale tarde do que nunca', afirmando-se como não só o melhor jogo de Mario no Game Boy original, mas um dos melhores da franquia como um todo.

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Falamos de 'Super Mario Land 2: Six Golden Coins', lançado na Europa há quase exactamente trinta anos (a 28 de Janeiro de 1993) e que fica na História do 'franchise' por ter apresentado ao Mundo Wario, o anafado e rezingão arqui-rival de Mario, de quem o mesmo tem que reconquistar o seu castelo na titular Mariolândia. No entanto, o jogo tem muitos, muitos outros atractivos, constituindo uma daquelas experiências de jogo que pura e simplesmente não envelhecem, continuando tão divertidas hoje em dia como na época em que foram criadas.

Grande parte dessa diversão deriva da jogabilidade clássica, que substitui os 'sprites' minúsculos, tartarugas explosivas (!), bolas saltitonas em vez de bolas de fogo (!!) temas egípcios e extraterrestes (!!!) e níveis de tiros e condução de naves (!!!!) por algo bem mais típico, e que fazia as delícias dos fãs dos restantes jogos do canalizador à época. Todos os elementos mais marcantes da franquia marcam presença, de inimigos como os Goombas ou as tartarugas Koopa Troopa até poderes como a estrela, a flor de fogo e, claro, os tradicionais cogumelos de 'crescimento' e vida extra. A estes, junta-se ainda um novo poder, infelizmente nunca reutilizado, sob a forma de orelhas de coelho que permitem a Mario voar, numa espécie de alternativa mais precisa ao clássico fato de guaxinim de 'Super Mario Bros 3.' Cada um destes poderes pode, também, ser 'comprado' utilizando moedas numa área específica, ou adquirido num 'jogo de sorte' no final de cada nível, permitindo ao jogador desenvolver uma estratégia e abordagem em função dos poderes que tenha adquirido.

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Mario atravessa um nível em vôo com as orelhas de coelho

Os níveis são igualmente criativos, indo desde os típicos níveis aquáticos ou no espaço até uma área industrial, o interior de uma árvore, uma zona com imagética de terror (e onde os Goombas usam máscaras de hóquei ao estilo de Jason de 'Sexta-Feira 13'!) ou um quintal onde tudo é gigante, ao estilo 'Querida, Encolhi os Miúdos' – e onde Mario se torna, temporariamente, minúsculo no mapa de selecção de níveis! Cada uma destas áreas tem entre dois a cinco níveis 'normais' a explorar, cada um deles repleto de segredos – incluindo novos níveis secretos para desbloquear – que apenas tornam a experiência ainda mais gratificante. Quem nunca amealhou mais de trinta vidas só a descobrir segredos nos níveis deste título, perdeu uma das experiências de jogo mais clássicas de uma época repleta delas.

Em suma, apesar de por muito tempo ter sido considerado 'à parte' da mitologia de Mario, bem como o seu antecessor (até por não ter tido o envolvimento do criador de Mario, Shigeru Miyamoto) 'Mario Land 2' acabou, paulatinamente, por conquistar o seu espaço não só no coração dos fãs, mas na biblioteca de títulos da Nintendo, que o 'canonizou' e relançou recentemente para Switch e 3DS, onde (espera-se) esteja de momento a conquistar toda uma nova legião de fãs – que, aliás, bem merece, já que, trinta anos após o seu lançamento, continua a constituir um dos melhores jogos protagonizados pelo carismático representante da companhia.

14.02.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Numa era de recursos tecnológicos praticamente ilimitados e experiências interactivas hiper-realistas, pode ser difícil recordar que, em tempos, foi necessário adoptar certas abordagens e tácticas para colmatar as limitações técnicas dos aparelhos existentes no mercado. O melhor exemplo disso mesmo eram os videojogos, que – ainda incapazes de recriar experiências realistas – optavam muitas vezes pela abordagem contrária, especialmente em tratando-se de títulos que lidavam com actividades relativamente corriqueiras e triviais, como o desporto ou as corridas.

No caso da Nintendo, essa tarefa ficava, à partida, facilitada pela reputação da companhia como criadora de jogos com estética exacerbadamente 'cartoonesca', a qual permeava a grande maioria dos seus maiores sucessos e se reflectia nas suas mais famosas personagens, da mascote Super Mario a Zelda ou Kirby, assim, ao pretender lançar um título de corridas para a sua consola de 16-bit, a Super Nintendo, nada se afigurava mais natural para a companhia japonesa do que adoptar (e adaptar) essas mesmas características, aproveitando o 'factor reconhecimento' gozado pelas suas personagens como 'alavanca de vendas'. O resultado foi um titulo que – deliberadamente ou não – se tornou um dos 'históricos' não só da consola, mas de todo o percurso da Nintendo: 'Super Mario Kart', lançado na Europa há quase exactamente trinta anos (a 21 de Janeiro de 1993) e que colocava pela primeira vez os populares personagens da respectiva franquia ao volante de pequenos veículos, em pistas (ainda) relativamente curtas e cheias de curvas apertadas e 'poderes' para cada personagem utilizar em seu benefício contra os outros jogadores.

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Um conceito que em breve viria a atingir o ponto de saturação (muito por culpa deste jogo) mas que, aqui, surgia ainda 'fresco' e entusiasmante, oferecendo aos adoptantes da consola da Nintendo uma experiência diferente da dos habituais jogos de corridas mais 'realistas', como 'Super Hang-On', da SEGA, ou até mesmo de algo como 'Outrun' (que, apesar dos gráficos estilo 'anime', nunca se rendia totalmente a essa vertente.) O impacto das características físicas de cada personagem na sua forma de correr e nas consequências de choques e impactos (com Donkey Kong ou Bowser a serem mais resistentes do que a Princesa, o cogumelo Toad ou Yoshi, por exemplo) trazia um rasgo inovador à jogabilidade, enquanto o uso de poderes e itens de bónus motivava o confronto 'a dois', proporcionando muitas e boas horas de competição, frustração e divertimento, que cedo se tornariam característica principal e marcante da série.

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O modo para dois jogadores, uma das características mais marcantes não só deste título como da série em geral.

E dizemos 'série' porque a experiência automobilística de Mario e companhia não se ficaria por aqui, antes pelo contrário – passar-se-iam menos de três anos até o canalizador de roupa vermelha voltar a ser mordido pelo 'bichinho' das corridas, num título que fazia uso total do potencial técnico da nova geração de consolas para renovar e aprimorar a fórmula estabelecida pelo jogo para Super Nintendo.

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Falamos, claro está, do ainda hoje excelente 'Super Mario Kart 64', título de lançamento da desafortunada Nintendo 64, e que tanto impressionava pela demonstração da proeza técnica da mesma como pela própria experiência que proporcionava, com destaque total para o modo multi-jogadores, ainda hoje um dos melhores de toda a História dos jogos de consola, senão mesmo dos videojogos em geral. Aliás, este jogo estava tão 'à frente do seu tempo' que continua, ainda hoje, a 'aguentar-se' bem, mesmo contra os 'irmãos mais velhos' e mais evoluídos.

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Uma das melhores experiências multi-jogador de sempre.

O impacto destes dois títulos no mercado dos jogos de corridas foi instantâneo, com tanto um como o outro a darem azo a dezenas de 'imitadores' mais ou menos competentes e divertidos, e a lançar, por si só, a 'febre' dos jogos de corridas de 'karts' entre personagens animados licenciados. Na senda do primeiro 'Super Mario Kart', por exemplo, foram lançados títulos como 'Skunny Kart' ou o famoso 'Wacky Wheels' (ambos para PC) ou ainda 'Street Racer', para as consolas da época (incluindo a própria Super Nintendo), enquanto 'Mario Kart 64' deu azo a mais jogos do que é possível listar em apenas um parágrafo, protagonizados por personagens tão díspares quanto Pac-Man, os Looney Tunes, os personagens de BD da Disney, o elenco do filme Toy Story, as mascotes da Sony ou da SEGA, ou até o pinguim Tux, mascote do sistema operativo Linux! 

E embora muito poucos de entre estes jogos chegassem a atingir o padrão de qualidade do título da Nintendo (destacando-se, nesse aspecto, 'Crash Team Racing', com os personagens da franquia Crash Bandicoot, e 'Speed Freaks', ambos para PlayStation) muitos deles renderam dividendos, fazendo com que a tendência para colocar QUALQUER grupo de personagens licenciados ao volante de 'karts' num jogo estilo 'linha de montagem' desenvolvido sem grande cuidado se mantenha até aos dias de hoje – desde a época a que aludimos neste artigo, a 'moda' já foi seguida (entre muitos, MUITOS outros) pelos personagens da Konami (no também excelente 'Konami Krazy Racers', para Game Boy Advance) por Shrek, pela mascote musical Crazy Frog, por 'Garfield e Amigos', e até pelo ursinho Teddy, personagem infantil polaca que muitos portugueses da geração 'Millennial' chegaram a ver nas suas televisões em finais dos anos 80 e inícios da década seguinte, e da qual paulatinamente aqui falaremos. Uma verdadeira 'febre', portanto, que (ao contrário de tantas outras) não dá sinais de abrandar.

O próprio Mario continuou a disputar periódicas séries de corridas com os amigos ao longo dos anos, tendo 'Mario Kart' marcado presença em todas as consolas da Nintendo desde 1993 até hoje, (com excepção dos tecnicamente limitados Game Boy original e Game Boy Color) e até em plataformas móveis, e conseguido enorme sucesso em todas elas - uma tendência que tudo indica se vá continuar a manter nas 'gerações' electrónicas futuras da companhia, e que prova que há certos conceitos que, por mais anos e décadas que passem, não perdem a sua relevância ou o interesse, afirmando-se como verdadeiramente intemporais.

31.01.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Os jogos de computador e consola posicionam-se, por natureza, como veículos de escape, permitindo aos jogadores assumirem, mesmo que temporariamente, novas e mais emocionantes personalidades, de pilotos de corrida a desportistas, lutadores de artes marciais, soldados do exército americano, fuzileiros espaciais futuristas, espiões de elite, ou simplesmente os seus heróis de ficção preferidos.

Sendo um dos ícones mais duradouros das duas últimas categorias, não deixa, portanto, de ser natural ver James Bond, 007 – o espião britânico criado por Ian Fleming – servir de inspiração a diversos títulos interactivos desde os primórdios do género; afinal, a vida de Bond, tal como foi e é retratada nos seus inúmeros filmes e nos livros originais de Fleming, presta-se perfeitamente à premissa de um jogo de acção ou espionagem – géneros em que se inseriam e inserem a esmagadora maioria dos jogos com o agente secreto como protagonista lançados nas últimas quatro décadas. De facto, desde os tempos dos computadores Commodore e ZX Spectrum que os aficionados de videojogos têm podido encarnar Bond, e enfrentar alguns dos seus mais icónicos inimigos em ambiente virtual – não tendo os anos 90 sido excepção a esta regra, pese embora o hiato de mais de meia década por que a série de filmes passou nesse período.

Pelo contrário, logo à entrada da década, os referidos computadores da década transacta recebiam um título de acção e condução baseado no filme 'O Espião Que Me Amava'; não tendo grande tradição com este tipo de máquinas, no entanto, o primeiro contacto de muitos portugueses dessa geração com um videojogo baseado no agente secreto terá sido 'James Bond 007: The Duel', lançado em 1992 para as consolas da SEGA da altura, e baseado na interpretação de Timothy Dalton do personagem. Tratava-se de um jogo de acção em 2D, bem típico da época, em que o jogador conduzia Bond através de alguns dos cenários habitualmente associados ao agente secreto, procurando libertar reféns e plantar bombas para explodir bases, até à confrontação final com o vilão Jaws – que, neste caso, não é o Tubarão de Steven Spielberg, mas sim o grande antagonista do referido 'O Espião Que Me Amava'. Um título bem dentro da média para o que a SEGA apresentava na altura, e que passou despercebido entre os entusiastas da companhia nipónica.

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Exemplo dos gráficos do jogo

Menos despercebido passaram os jogos de James Bond Jr lançados para as consolas da Nintendo no ano anterior, e que conseguem a proeza de ser, hoje em dia, muito mais recordados do que a série animada em que se baseiam. Como seria de prever, tratam-se de jogos de plataformas - embora a versão para Super Nintendo inclua também níveis de condução e vôo – que ficam, igualmente, dentro da média de ambas as consolas, proporcionando momentos de diversão 'sem mais'.

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A versão para SNES de James Bond Jr.

Da aventura seguinte de James Bond no mundo virtual já pouco há a dizer que não tenha sido dito; grande sucesso de vendas e um dos principais 'chamarizes' para a compra da Nintendo 64, GoldenEye 007' dispensa apresentações, tendo servido, à época, de elo de ligação entre os FPS típicos da altura, como 'Quake II', e a nova geração que em breve lhes tomaria o lugar. Ao contrário dos jogos que anteriormente abordámos, este titulo envelheceu extremamente bem, sendo ainda hoje popular ao ponto de ter motivado o inevitável 'remake' em alta definição para as consolas modernas, lançado em 2010. Um jogo icónico, que deixou marca no seu género, e que se pode considerar o primeiro grande sucesso interactivo de Bond na 'era moderna'.

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O icónico 'GoldenEye 64'

(Curiosamente, este jogo foi também lançado em formato LCD, não uma, mas DUAS vezes, primeiro no formato tradicional associado a este tipo de jogos, e mais tarde como 'jogo embutido' numa réplica de pistola que servia de comando!)

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As duas versões do LCD de 'GoldenEye'

O sucesso de GoldenEye motivou, inevitavelmente, a criação de outros títulos baseados nos filmes seguintes da 'era Pierce Brosnan', embora desta feita para PlayStation, por oposição à Nintendo 64. O primeiro destes foi 'Tomorrow Never Dies', lançado em 1998 e inserido na categoria de acção em terceira pessoa num ambiente 3D, muito popular nas consolas da era 32 bits. Como seria de esperar, este título apresentava muitas das cenas e cenários do filme em formato interactivo, e propunha a mistura de tiroteios com espionagem por que o agente secreto britânico ficou conhecido.

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'Tomorrow Never Dies', primeira de duas aventuras do agente secreto na PlayStation

Bem recebido pela crítica, o jogo não conseguiu, no entanto, evitar 'perder-se' na vasta e excelente biblioteca da consola da Sony, aparecendo anos mais tarde como parte de um 'pack' de dois jogos com o seu sucessor directo, 'The World Is Not Enough', lançado dois anos depoois. Também lançado para N64, este título retomava o formato 'FPS' de 'GoldenEye', suscitando assim inevitáveis comparações com aquele título, ao qual não se superiorizava; ainda assim, para utilizadores de PlayStation, tratava-se da alternativa mais próxima ao lendário jogo da Nintendo, para além de um título de mérito próprio a nível técnico, tendo assim conseguido alguma 'tracção' entre os fãs da consola da Sony.

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A versão para PlayStation de 'The World Is Not Enough'.

À margem destes dois títulos, era ainda lançado, em 1998, o singelamente intitulado 'James Bond 007' para o Game Boy clássico. Tratava-se de um jogo de acção com vista aérea (ao estilo dos RPGs lançados para a consola, como Pokémon) em que Bond tinha de 'se haver' com uma série de vilões clássicos, de Oddjob ao 'repetente' Jaws, bem como com o malvado general russo Golgov, o grande antagonista do jogo. Como os restantes títulos atrás abordados, tratou-se de um jogo competente, mas sem nada que o fizesse destacar-se de entre a vasta galeria de títulos para a portátil da Nintendo.

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James Bond em formato portátil.

A década seguinte continuou a ver Bond servir de inspiração a diversos títulos, quase todos na categoria de acção na primeira ou terceira pessoa, embora '007 Racing', ainda na época dos 32 e 64 bits, tivesse representado uma tentativa, gorada, de oferecer algo diferente; no entanto, já desde '007 Legends', de 2012, que o agente secreto não surge como protagonista de um titulo interactivo. Um projecto actualmente em desenvolvimento parece, no entanto, disposto a mudar essa situação, e trazer o sofisticado britânico de volta aos ecrãs de computadores e consolas um pouco por todo o Mundo, provando que a relevância de Bond como herói de acção 'apetecível' se encontrava apenas esmorecida, e ainda não totalmente extinta...

17.01.23

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Numa das edições de Dezembro desta rubrica, celebrámos os trinta anos do aparecimento da franquia 'Dune' nos PCs caseiros; desta feita, chega a vez de celebrar outro 'aniversário' (ainda que já com cerca de seis semanas de atraso) este de vinte e cinco anos, e relativo a um jogo que, em conjunto com outros da mesma época, ajudou a definir as fórmulas e estereótipos-base de um determinado género para as décadas que se seguiram.

Falamos de 'Quake II', o revolucionário 'first-person-shooter' da iD Software (companhia responsável pelos primeiros títulos do género e, à época, sinónima com o mesmo) que veio aperfeiçoar a fórmula já de si vencedora utilizada pela própria editora em antecessores como 'Duke Nukem 3D' (lançado pouco mais de um ano antes,), e que ainda hoje tem a distinção de ser um dos títulos mais respeitados, lembrados e acarinhados por quem teve no PC a sua 'máquina de jogos' de eleição durante os últimos anos do século XX.

Lançado mundialmente para os PCs com tecnologia Pentium a 12 de Dezembro de 1997 (e dois anos depois para PlayStation e Nintendo 64), a sequela do já de si bem-sucedido 'Quake' transcendeu todas e quaisquer marcas atingidas pelo seu antecessor, afirmando-se como um daqueles títulos que qualquer 'puto' da altura que tivesse interesse em videojogos teria, senão adquirido, pelo menos jogado uma vez ou outra. Dos ambientes gráficos atractivos e majestosos, que tornavam difícil acreditar que o pioneiro 'Doom' datava de apenas quatro anos antes, aos mapas recheados de segredos e passagens escondidas, passando pelo arsenal de armas (que, ao contrário do original, inclui a lendária BFG, de 'Doom'), pela banda-sonora (a cargo do metaleiro industrial Rob Zombie) e por alguns dos próprios inimigos, quase todos os elementos deste jogo marcaram época, e fazem parte da memória partilhada de toda uma geração, colocando 'Quake II' no mesmo patamar de 'Diablo' ou 'Tomb Raider' no panteão de 'franchises' electrónicas lendárias de finais do século XX.

Exemplo da jogabilidade e gráficos do título.

E isto antes mesmo de falar do principal 'chamariz' do jogo – os modos 'multiplayer', que aproveitavam em pleno as potencialidades da cada vez menos incipiente Internet, permitindo a jovens de todo o Mundo (Portugal incluído) 'destruírem-se' virtualmente, quer nos ambientes do jogo em si, quer em arenas fechadas lançadas pela iD sob a forma de 'patch' (dando origem ao ainda hoje popular modo 'deathmatch') ou até nos seus próprios níveis originais (os lendários 'mods').

Um conjunto de inovações que, aliado à excelente realização técnica e ao constante aparecimento de novos pacotes de níveis e missões, como era apanágio da época, viriam revolucionar para sempre os jogos 'first person shooter', e que constituem apenas mais uma razão – como se ainda fosse necessário – para celebrar este ricónico título, uma verdadeira 'pedrada no charco' do género, cujas repercussões se continuam a fazer sentir um quarto de século depois; que o diga quem, hoje em dia, passa a maior parte do tempo de jogo agachado atrás de caixotes ou muros em jogos como 'Call of Duty' – uma possibilidade que, quer o saibam ou não, devem, precisamente, a 'Quake II', primeiro título do género a permitir esta habilidade...

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