23.06.24
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
O conceito e propósito declarados deste 'blog' passam por recuperar experiências vividas pela juventude portuguesa dos anos 90; no entanto, é ocasionalmente necessário fazer um pouco de 'batota' e viajar até ao primeiro ano da década, século e Milénio seguintes, para assinalar um qualquer evento digno de nota. Foi assim com 'Capitães de Abril', a única homenagem filmográfica a um dos mais importantes eventos da História de Portugal, e será assim, novamente, este Domingo Desportivo, para recordar aquele que é unanimemente considerado um dos melhores Campeonatos Europeus de sempre, e que foi palco da primeira de várias prestações honrosas da Selecção Nacional em certames deste tipo, que culminaria com a inusitada e inesperada vitória em 2016.
Entrando desde logo na História como o primeiro evento futebolístico internacional organizado 'a meias', o Euro 2000 tinha lugar a partir de 10 de Junho daquele ano, em várias localidades da Bélgica e da Holanda, países que haviam batido a Espanha e a Áustria no sorteio, e cuja pequena dimensão justificava a organização conjunta. Em prova estavam, além das duas selecções anfitriãs, catorze outras equipas, sendo que a Alemanha se qualificava igualmente de forma directa, por ser campeã em título; já Portugal beneficiava do primeiro de muitos 'bafejos' de sorte, qualificando-se como 'melhor segundo' (após o habitual 'passeio' na fase de qualificação, com goleadas aos habituais Liechtenstein e Luxemburgo) e ganhando, assim, a oportunidade de 'corrigir' o agri-doce desempenho em solo inglês, quatro anos antes.
O conjunto português presente no certame, um dos melhores de sempre.
E a verdade é que, sem ser favorito, o colectivo português apresentava um conjunto fortíssimo, 'movido' a Geração de Ouro (tal como em '96) mas com adições e peças secundárias significativamente melhores, e que ajudavam a elevar ainda mais o nível de desempenho da equipa, como era o caso de Nuno Gomes na frente de ataque, ou Sérgio Conceição na ala. O único entrave ao sucesso da Selecção das Quinas era o nível absurdamente elevado das restantes selecções, em antítese absoluta à fase de qualificação; e o grupo que calhava a Figo, Jorge Costa, Rui Costa, João Pinto e companhia era tudo menos simpático, com a sempre complicada Inglaterra e a campeã em título Alemanha a perfilarem-se como favoritas aos dois primeiros lugares. O jogo inaugural da Selecção no torneio parecia indicar isso mesmo, com a equipa portuguesa a perder por 0-2 ainda antes da meia hora...
...mas foi então que começou o milagre. Primeiro, uma remontada contra a Inglaterra para uma eventual vitória por 3-2, com golos de antologia de Figo e João Pinto; depois, o empate entre Roménia e Alemanha; e, finalmente, o 'massacre' à campeã em título, com um não menos antológico 'hat-trick' de Conceição, que cimentava Portugal como líder do grupo na mesma jornada em que a Roménia derrotava, também ela, a Inglaterra, garantindo o segundo lugar e arredando as duas favoritas da eliminatórias – no caso da Alemanha, com um único ponto! Uma fase de grupos perfeitamente 'louca', mas que fazia sobressair a equipa portuguesa como, agora sim, uma das favoritas.
O primeiro jogo do Euro veria talvez a prestação mais épica da Selecção Portuguesa da era moderna até então.
Os quartos-de-final nada fizeram para mudar essa percepção, tendo Portugal conseguido superiorizar-se confortavelmente à Turquia (curiosamente, o seu mais recente adversário à data de edição deste post, novamente com vitória folgada), por 0-2, e avançando assim para as meias-finais, onde iria enfrentar a temível França, campeã do Mundo em título; e a verdade é que, como sucederia década e meia depois, os guerreiros lusitanos surpreenderam o Mundo enfrentando os gauleses 'olhos nos olhos', e 'empurrando' o jogo para prolongamento – altura em que, finalmente, o azar bateu à porta. Centro de Trezeguet, Baía batido, e Abel Xavier leva a mão à bola em plena pequena área. Penalty, prontamente convertido pelo então melhor do Mundo, Zidane, e que confirmava a reviravolta num jogo em que Portugal até entrara a ganhar, um pouco ao invés do que sucedera frente à Inglaterra. Ficava a consolação de perder com a eventual campeã, que, dias depois, aproveitaria novamente o prolongamento para se superiorizar à Itália, garantindo assim a 'dobradinha' de troféus internacionais e cimentando-se como melhor Selecção europeia.
A honrosa prestação frente à França terminaria, infelizmente, em desapontamento.
Apesar deste resultado (novamente) agri-doce, no entanto, muitos adeptos de certa idade continuam a ter boas recordações do Euro 2000, competição que viu talvez o melhor conjunto de jogadores portugueses da era moderna (vestidos a rigor com um dos mais emblemáticos equipamentos da História da Selecção, e que vendeu muitas camisolas, tanto oficiais como da 'feira') defrontar-se 'taco a taco' com outras selecções tão boas ou melhores, e contribuir para um dos campeonatos europeus com melhor futebol de sempre, facto que não podia deixar de lhe garantir a presença nas páginas virtuais deste nosso blog nostálgico – mesmo que, tecnicamente, já não tivesse tido lugar nos anos 90...