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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

04.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 03 de Dezembro de 2024.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui anteriormente apontámos os anos 90 como a década em que um formato futuramente ultra-popular – o 'talk show' – surgiu pela primeira vez nos ecrãs de televisão portugueses; e se Fátima Lopes é hoje lembrada como uma das pioneiras desse género de programa, com a sua emissão homónima de 1997, a verdadeira desbravadora de caminho 'morava' no canal 'ao lado', e antecipou-se à sua congénere em mais de dois anos. É a ela, e ao primeiro programa que conduziu, 'Amigos Para Sempre', que dedicamos esta Terça de TV.

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Cristina Caras-Lindas nos tempos do programa.

Estreante absoluta na televisão portuguesa – embora já com vasta experiência no Canadá – Cristina Caras-Lindas enfrentava desde logo uma luta ao tentar 'vender' o seu formato – que descreveu em entrevista recente como uma 'pedrada no charco' - aos relutantes executivos da Direcção da TVI: eventualmente, no entanto, a apresentadora viria mesmo a conseguir levar a sua avante, embora os seus 'patrões' tivessem ainda dúvidas sobre as suas capacidades como anfitriã principal de um programa do género. As mesmas rapidamente seriam desfeitas, no entanto, com a gravação-piloto do programa a superar de tal modo as expectativas que acabou por ir ao ar 'sem alterarem uma vírgula', como referiu a própria Caras-Lindas.

Essa emissão, que completa no próximo fim-de-semana exactos trinta anos (foi ao ar a 7 de Dezembro de 1994), acabaria por cimentar um formato que já se vinha tornando popular no contexto televisivo português – o 'talk-show' com audiência ao vivo, em que se misturavam entrevistas a 'famosos' de relevo no mundo da TV e espectáculo (os 'Amigos' do título) com casos e convidados de interesse humano, sempre guiados pela simpatia e enorme sorriso da apresentadora.

Um episódio do programa, exemplificativo da sua fórmula, aqui com Herman José como convidado.

Esta fórmula rapidamente se provou bem-sucedida, tendo 'Amigos Para Sempre' conseguido boas audiências durante o tempo em que esteve no ar, e catapultado a sua anfitriã para mais altos vôos, sendo, por isso, algo estranho constatar que o programa se encontra, hoje, algo Esquecido Pela Net – uma situação que este 'post' procura alterar, trazendo à tona das 'brumas' da memória um programa mais importante do que a sua pouca divulgação poderia levar a pensar, e que, à beira do seu trigésimo aniversário, merece ser mais frequentemente recordado pelos espectadores lusitanos da época.

09.04.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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No Portugal de finais do século XX e inícios do XXI, ainda mais do que no de hoje, certas frases, bordões e dichotes logravam transpõr o seu contexto original e transformar-se em parte integrante da cultura popular. Entre dizeres oriundos de séries, filmes ou concursos de televisão, músicas e 'slogans' de anúncios, e uma ou outra frase de origem mais esotérica (como o lendário 'Oh, Elsaaaa!', nascido no festival de música do Sudoeste) eram inúmeros os exemplos desta mesma tendência – e, para quem fazia, à época, parte de determinada demografia, um dos mais memoráveis será uma frase em Inglês 'macarrónico' dita por um venerando senhor de fato num dos mais populares programas de humor da História da televisão portuguesa. Falamos, é claro, do lendário 'let's luque etta traila' que era imagem de marca de Lauro Dérmio, um dos muitos 'bonecos' de inspiração real criados por Herman José para os seus vários programas humorísticos, no caso a sua icónica 'Enciclopédia'. O que muitos dos jovens que riam com a caricatura talvez não soubessem, no entanto, era que a inspiração de Herman para o personagem dispunha, ela própria, de um programa, à época acabado de sair do ar, mas que marcara os hábitos televisivos de muitos cinéfilos nacionais durante os anos transactos.

A caricatura de Herman José era mais popular do que o próprio programa que parodiava.

Tratava-se de 'Lauro António Apresenta', um programa de antevisões a filmes então prestes a chegar ao cinema transmitido pela TVI a partir de inícios de 1994, que, pontualmente, servia também como sessão de cinema, procurando neste caso destacar-se das várias (e excelentes) propostas semelhantes veiculadas pelos outros canais (muitas até aos dias de hoje) através de uma abordagem mais personalizada e intelectual no tocante aos conteúdos mostrados. Isto porque, como o próprio nome do programa indica, os filmes exibidos eram especialmente escolhidos pelo titular cineasta, responsável pelo premiado filme 'Manhã Submersa', e que se encarregava também de fazer uma pequena introdução a cada uma das películas escolhidas – fornecendo assim, involuntariamente, inspiração para a posterior caricatura engendrada pelo 'rei' do humor português.

No total, foram cinco os filmes exibidos por Lauro António, e pela TVI, como parte destas sessões, cuja cronologia se dispersa ao longo de três anos. As primeiras duas emissões, sobre as quais se assinalaram na semana transacta exactos trinta anos, foram dedicadas ao filme italiano 'Barrabás', de 1961, e às duas partes do famoso épico 'Cleópatra', realizado dois anos depois e com interpretações de Elizabeth Taylor, no papel da lendária rainha egípcia, Rex Harrison, Roddy McDowall e Martin Landau, entre outros. Após estes dois 'eventos' pascais, no entanto, a emissão extinguir-se-ia durante mais de nove meses, regressando apenas a 14 de Janeiro de 1995, com a exibição de 'Não o Levarás Contigo', de 1938. Seguir-se-iam mais quatro meses de hiato (contados quase ao dia) até ao regresso com 'O Mundo A Seus Pés', clássico de Orson Welles, a 13 de Maio.

Por mais longas que fossem estas pausas entre emissões, no entanto, nada se comparou ao intervalo entre o filme de Welles e a seguinte obra-prima apresentada por Lauro António, que iria ao ar a 22 de Fevereiro...de 1997, mais de um ano e meio após a última edição da sessão! A exibição da película francesa sobre a vida de Molière, datada de 1978, assinalaria, aliás, não só o filme mais moderno seleccionado para o programa, mas também o último, em meio a uma mudança de paradigma não só por parte da própria TVI, como do panorama televisivo nacional em geral, que 'tiraria' o programa do ar ainda nesse mesmo ano.

Esta calendarização errática, aliada à opção deliberada por filmes mais antigos e de índole mais artística, mesmo nas emissões mais 'normais' – por oposição às habituais comédias e filmes de acção preferidas pelo público infanto-juvenil – terá contribuído para que Lauro António e o respectivo programa fossem, para muitos jovens de finais do século XX, conhecidos sobretudo pelo 'boneco' paródico criado por Herman José; no entanto, a nível conceptual, há que louvar o esforço do realizador e da TVI (então ainda apostada em injectar cultura ao panorama televisivo, ao contrário do que sucederia no Novo Milénio) para alargar os horizontes do público das sessões da tarde, e lhe apresentar filmes clássicos e importantes da História da Sétima Arte – missão que, certamente, terá tornado 'Lauro António Apresenta' memorável para muitos cinéfilos nacionais, tornando-o merecedor de destaque nestas nossas páginas, por alturas dos trinta anos da sua primeira emissão. E porque não há, neste caso, 'trailers' para visionar, aqui ficam dois excertos do programa, com agradecimentos ao YouTube...

19.03.24

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 18 de Março de 2024.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

O final dos anos 80 e inícios dos 90 representaram uma 'era dourada' para a produção de comédias televisivas - as chamadas 'sitcoms' - em solo norte-americano, tendo este período sido responsável pela criação de inúmeras boas recordações de infância para cidadãos não só norte-americanos, como de vários outros países aos quais as séries chegavam, com mais ou menos atraso. Um desses países era, precisamente, Portugal, que ao longo da última década do século XX recebia 'tesouros' como 'Já Tocou!', 'Parker Lewis', 'Quem Sai Aos Seus' ou a série de que falamos hoje, 'The Nanny', traduzida em português primeiro como 'Feita À Medida' e, mais tarde, como 'Competente e Descarada'.

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Idealizada em 1993 pela humorista Fran Drescher, que reservava para si mesma o papel principal, a série foi uma das muitas apostas da TVI para as suas primeiras grelhas de programação, no caso ocupando uma das 'vagas' dos Domingos à tarde, posição que lhe garantia a atenção indivisa de uma grande fatia do público infanto-juvenil nacional. Não é, pois, de admirar que, embora declaradamente dirigido a adultos - com diálogos, premissas e situações assentes nos habituais trocadilhos brejeiros - o programa faça parte das memórias nostálgicas da geração 'millennial' portuguesa, à época ainda menor de idade, e que tinha no genérico animado e de melodia contagiante e na igualmente contagiante e icónica gargalhada de Fran os principais pontos de atracção e interesse na série.

A série contava com um daqueles temas de abertura absolutamente icónicos.

Apesar deste sucesso inicial, no entanto, 'Competente e Descarada' não conseguiu, em Portugal, o mesmo sucesso de que gozara nos seus EUA natais, onde as aventuras da ex-vendedora de cosméticos em casa da família milionária renderam seis temporadas, ficando no ar até quase à viragem do Milénio; em terras lusitanas, a série ficou no ar não mais do que um par de anos na primeira metade da década de 90, sendo que, em 1999, o panorama televisivo nacional já dificilmente encontraria espaço para 'encaixar' uma produção antiquada deste tipo. Ainda assim, quem, em pequeno, se divertiu com os 'dichotes' da desbocada Fran e com as lutas verbais entre o mordomo e a secretária da família (que acabam juntos, claro) certamente terá, após ler estas linhas, tido vontade de ir ao YouTube e procurar um par de episódios da série para 'matar saudades' e reavivar memórias...

04.03.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Aquando do trigésimo aniversário do nascimento da TVI, referimos aqui que, nessa fase inicial, a 'Quatro' chamou, em parte, a atenção pela sua aposta em séries e filmes de qualidade. De facto, a adesão a parâmetros religiosos (que impediam a divulgação de material mais violento ou polémico, mas que certamente traria audiências) não impediu a estação de Queluz de montar um arquivo de ficção televisiva importada de enorme qualidade, dividido entre produções mais modernas (como a emblemática 'Marés Vivas') e 'clássicos' de décadas passadas, 'repescados' e apresentados a toda uma nova geração. Era neste último grupo que se inseria a Série sobre o qual versaremos esta Segunda – a adaptação televisiva da colecção de livros semi-autobiográficos de Laura Ingalls Wilder, 'Uma Casa Na Pradaria'.

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A família Ingalls, sobre a qual se centra a série.

Criada ainda nos anos 70 e produzida até 1983, num total de sete temporadas, a série em causa não era, de todo, desconhecida do público nacional mais velho, que já a acompanhara aquando da sua primeira exibição na emissora estatal, em inícios da década de 80, 'suspirando' pelo galã Michael Landon, da também mega-popular produção 'western' 'Bonanza'. Não era a essa demografia, no entanto, que esta reposição da TVI se dirigia; o 'repescar' da série como parte da grelha televisiva inicial da estação de Queluz tinha como fito captar a atenção de toda uma nova geração do público-alvo da produção – as crianças e jovens.

Nesse aspecto, no entanto, 'Uma Casa Na Pradaria' almejou resultados por demais modestos; por oposição à 'febre' que a sua transmissão inicial causara, a reposição dos anos 90 pouca ou nenhuma tracção conseguiu entre os telespectadores mais novos, à época mais 'ocupados' com material mais voltado à acção e aventura, ou com desenhos animados como 'Tiny Toon Adventures'. De facto, no pátio de recreio comum, havia pouco quem visse (ou, pelo menos, admitisse ver) a série da TVI, e mesmo na 'era da nostalgia', o discurso saudosista sobre a mesma pauta por escasso – mesmo no contexto de uma geração que recorda e sente a falta de anúncios de telemóveis, cartões telefónicos ou mesmo dinheiro em nota!

Ainda assim, 'Uma Casa...' terá gerado suficientes audiências para ser 'ressuscitada' ainda uma terceira vez por um canal, no caso a RTP Memória, que exibia a série em 2009, uma década e meia após a aposta da TVI - um intervalo suficientemente alargado para suscitar quaisquer sentimentos de nostalgia que essa segunda transmissão pudesse ter causado, ao mesmo tempo que apresentava o programa aos novos jovens da 'era digital'. Esse parecia ter mesmo sido o 'último suspiro' da família Wilder nos televisores portugueses, mas eis que, volvidos mais quinze anos, voltamos a ver este ano Charles, Caroline e as filhas Mary, Laura e Carrie na grelha de programação do principal canal saudosista da TV Cabo - um verdadeiro testamento à longevidade de uma série que, sem ser especialmente lembrada, se recusa terminantemente a ser esquecida.

30.01.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O fenómeno da repetição de formatos televisivos não é, de todo, inédito; pelo contrário, qualquer programa que consiga alguma tracção entre a sua audiência-alvo verá, inevitavelmente, surgirem um sem-número de 'cópias' mais ou menos directas, geralmente com algum elemento diferenciador, prontas a conquistarem essa mesma demografia. Menos comum, embora também bem documentado, é o surgimento de duas transmissões quase exactamente idênticas (por vezes até criadas pelo mesmo grupo de pessoas) em dois canais rivais – e, no entanto, só o Portugal dos 90s viveu em primeira mão não um, mas dois desses casos. Do primeiro, relativo aos 'Apanhados' da RTP e ao 'Minas e Armadilhas' da SIC, já aqui aludimos; chega agora a vez de falar do outro embate directo, no caso entre a emissora estatal e a TVI, travado entre 1994 e 1996, e que teve como epicentro o programa 'A Escolha É Sua', veiculado pela estação de Queluz.

Isto porque, como o próprio nome já permite adivinhar, o referido programa derivava forte inspiração do 'Agora, Escolha', 'campeão' de audiências da RTP em início dos anos 90, e ainda hoje lembrado pelos 'X' e 'millennials' lusitanos pela sua secção central, em que a carismática Vera Roquette lia cartas e exibia desenhos de pequenos leitores, como forma de introduzir um bloco de desenhos animados quase mais popular do que a própria emissão em que se inseria. Este último elemento era, aliás, mesmo a única coisa em falta na 'cópia' directa da 'Quatro', que preferia visar um público mais declaradamente adulto; de resto, o formato do programa era em tudo idêntico, centrando-se em torno da votação em tempo real (numa linha de valor acrescentado, claro, ou não estivéssemos em meados dos 'noventa') entre dois conteúdos previamente propostos, com o mais popular a ser exibido no final do programa. A fazer as vezes de Vera Roquette estava Carmen Godinho, nome menos sonante e (presumivelmente) menos carismático do que a loira da RTP, embora tenha também chegado a apresentar, na mesma época, o 'Clube Barbie'.

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Carmen Godinho ao 'leme' do Clube Barbie.

E dizemos 'presumivelmente' porque 'A Escolha É Sua' faz parte do cada vez maior grupo dos Esquecidos Pela Net, resumindo-se a sua 'pegada' digital a um parágrafo na Wikipédia, uma entrada no IMDb, e o vídeo que acima partilhamos, de pouco mais de um minuto de duração. Assim, quaisquer impressões sobre o programa inserem-se no reino da conjectura – embora seja relativamente seguro dizer, face ao curto ciclo de vida do programa por comparação com o seu antecessor, e à falta de tentativas subsequentes de o revitalizar, que o ''Agora, Escolha' da TVI' terá dado razão ao lema da Kellogg's que diz que 'o original é sempre o melhor'. Sejam quais forem as razões para este paradigma – a pouca originalidade do conceito, a falta de desenhos animados, o valor acrescentado das chamadas, a ausência de patrocínio por parte de uma mascote empresarial, ou até o menor carisma de Godinho por comparação com Roquette – a verdade é que, três décadas volvidas, a única página alusiva a este programa da TVI acaba de ser publicada, e chega agora à sua conclusão natural; prova de que nem sempre uma cópia directa de um formato de sucesso é, por si só, garantia de bons resultados...

 

16.01.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Dos programas de que vimos falando desde o início desta rubrica, alguns tiveram ciclos de vida honrosos, outros mais breves; no entanto, à excepção dos espaços informativos e de alguns 'talk shows' e programas da manhã, é raro ver qualquer produto televisivo ultrapassar mais do que alguns anos de vida. Existe, contudo, mais uma excepção a esta regra, 'escondida' nas madrugadas de Domingo e conhecida apenas pelo sector populacional activamente interessado em emissões de cariz religioso, mas que consegue a façanha de se superiorizar, em tempo de vida, a praticamente qualquer outro programa, com excepção dos telejornais – e de o fazer em dois canais diferentes.

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Falamos da Eucaristia Dominical, nome dado, desde sempre, à transmissão ao vivo da missa de Domingo de manhã a partir de diferentes igrejas portuguesas, a qual celebra este ano exactas duas décadas desde o seu aparecimento na grelha televisiva portuguesa, afirmando-se assim como o programa mais antigo da actual grelha da TVI, e um dos mais antigos de toda a televisão portuguesa moderna.

De facto, apesar de não ser exactamente simultânea com o nascimento do quarto canal privado, a Eucaristia Dominical foi, praticamente, sinónima com as manhãs de fim-de-semana do mesmo para toda uma geração de crianças. Isto porque, para quem não tinha interesse no programa, o mesmo representava o último 'obstáculo' entre o jovem espectador e uma manhã inteira de desenhos animados, como era apanágio de qualquer dos quatro canais à época. Isto fazia com que muitos jovens de finais do século XX e inícios do seguinte (e, presume-se, ainda dos dias que correm) aguardassem com ansiedade mal disfarçada o fim da missa e do subsequente programa Oitavo Dia, para se poderem deliciar com os conteúdos especificamente a si dirigidos que se lhes seguiam.

Para quem tinha interesse efectivo no programa, havia ainda o 'bónus' acrescido de poder ouvir a missa de Domingo sem ter de se deslocar à igreja mais próxima, uma característica que a maioria dos portugueses tendia a ignorar, mas que terá, sem dúvida, feito as delícias dos mais idosos e dos cidadãos de mobilidade reduzida, para quem a deslocação devota semanal se afigurava inconveniente, desconfortável, ou mesmo impossível.

Fosse qual fosse o atractivo do programa, o certo é que haverá sempre, num País maioritariamente católico como Portugal, público para uma simples missa televisionada – como a TVI e também a estatal RTP rapidamente viriam a descobrir. Alie-se este facto aos reduzidos custos de produção e facilidade de realização de uma emissão deste tipo, e está explicado o porquê de, aos vinte anos, 'Eucaristia Dominical' estar ao mesmo nível de um Telejornal ou da 'Praça da Alegria' no panteão de programas perenes e imorredouros da televisão portuguesa.

06.11.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Já aqui anteriormente debatemos o relativo atraso com que Portugal acolheu o estilo então conhecido como 'Japanimação'. Apesar de séries como 'Heidi e Marco' ou 'Tom Sawyer' terem penetrado na cultura infantil nacional ainda na década de 80, grande parte do que os jovens da época viam nos diferentes canais, quer abertos quer a cabo, tinha já entre uma a duas décadas de vida, o que ajudava a explicar a falta de argumentos técnicos por comparação com as séries ocidentais. Até mesmo 'animes' tão famosos e icónicos como os da saga Dragon Ball, 'Tenchi Muyo', 'Navegantes da Lua' ou 'Samurai X' chegavam a Portugal com cerca de uma década de atraso, tendo outras, como 'Cavaleiros do Zodíaco', 'Esquadrão Águia', 'Hembei', 'Capitão Falcão' ou a série de que falamos hoje, uma 'décalage' ainda maior.

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De facto, quando chegou aos ecrãs portugueses, em 1997, 'Voltron' parecia perfeitamente arcaico em comparação não só com os restantes 'animes' então em exibição, como com a produção ocidental da mesma altura; tal devia-se ao facto de a referida série ser, originalmente, um produto de meados da década de 80, que – por razões que se desconhecem – demorou uma dúzia de anos a atravessar o oceano, e saiu do ar já com quase quinze anos de atraso em relação ao original japonês, uma autêntica criação 'fora de tempo' no mundo animado expressivo e 'elástico' da viragem do Milénio.

Perceptíveis carências técnicas à parte, no entanto, 'Voltron' tinha tudo para agradar ao seu público-alvo de fãs de acção e robôs, já que oferecia, precisamente, uma mistura de ambos. Os pilotos adolescentes e o seu 'mech' em forma de leão remetiam tanto a 'Power Rangers' (eles mesmos baseados em séries japonesas dos anos 80) como a 'Esquadrão Águia', garantindo o interesse da demografia-alvo, pelo menos durante a meia hora que durava cada episódio. Isto porque, apesar de ter passado dois anos no ar, 'Voltron' nunca conseguiu atrair o mesmo culto de Son Goku, Kenshin Himura, Bunny Tsukino ou Tom Sawyer, tendo sido poucas ou nulas as instâncias de 'merchandise' baseado nesta série; para além do próprio robô e respectivas cópias da 'loja dos trezentos', não há memória de qualquer produto com a 'marca' Voltron ter feito parte da 'lista de desejos' dos jovens portugueses para os anos ou Natal.

Em suma, a série era daquelas que se via e se apreciava, mas não o suficiente para comprar produtos alusivos à mesma. Ainda assim, vale a pena recordar esta série que muitos se lembram de ver na TVI nos últimos anos do século e Milénio passados, como uma espécie de 'relíquia' de tempos não muito longínquos, como que a fazer recordar aquilo que, durante muito tempo, foi o padrão do 'anime' em Portugal...

 

29.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 28 de Agosto de 2023.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Estava-se nos primeiros anos da década de 60 quando um produtor musical norte-americano tinha a genial ideia de gravar cantores a interpretar canções de forma deliberadamente lenta e, utilizando técnicas de aceleração, alterar as suas vozes para que ficassem com um timbre exageradamente alto, quase 'cartoonesco'. Para combinar com esta voz 'de hélio', o mesmo produtor criaria, então, três personagens animados: esquilos antropomórficos e falantes, adoptados por um músico, e subsequentemente transformados em grupo vocal. Nascia, nesse instante, um fenómeno que poucos preveriam vir a perdurar durante as seis décadas seguintes, mas que continua até hoje a fazer as delícias da criançada, bastando para isso atentar no desenho animado CGI actualmente disponível no Netflix e Nickelodeon, já a terceira a contar com os personagens em causa.

Falamos, é claro, dos Esquilos (actualmente designados como Alvin e os Esquilos) o grupo virtual criado por Ross Bagdasarian (também conhecido como Dave Seville, o 'pai' adoptivo dos três rapazes) e que foi muito além do seu estatuto como 'one-hit wonder' vagamente piadético, tendo chegado a ganhar dois Grammys (!) e tido direito, desde a sua criação, a uma série de banda desenhada, quatro (!!) filmes de acção real, um sem-fim de 'merchandising' e, claro, as referidas séries animadas, das quais a mais famosa (em Portugal e não só) é a segunda, produzida em 1983 e exibida no nosso País em duas ocasiões na década seguinte.

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Responsável pela criação e apresentação das Esquiletes (as namoradas dos personagens, que, como não podia deixar de ser, são versões femininas exactas dos mesmos) a série não deixa, no entanto, que as novas personagens ofusquem os três protagonistas principais; de facto, o foco continua declaradamente sobre Alvin (o travesso e teimoso Esquilo de boné e t-shirt vermelha), Simon (o Esquilo 'marrão' e atinado, oposto do irmão, e que veste de azul) e Theodore (o 'gordinho' sensível, tímido e comilão, cuja cor é o verde) e na sua relação por vezes difícil, mas sempre bem-intencionada, com o pai adoptivo humano. As histórias, essas, giram em torno dos habituais assuntos da vida quotidiana, pertinentes para o público-alvo, como as relações interpessoais ou as emoções próprias, intercalados com o aspecto mais 'show-business' da vida das três 'crianças', e uma ou outra aventura mais mirabolante. O resultado é um programa bem animado, bem conseguido a nível global, e que possui a característica mais importante para se destacar no mercado televisivo infanto-juvenil dos anos 90: um genérico de abertura daqueles instantaneamente reconhecíveis e entusiasmantes, que é já 'meio caminho andado' para o sucesso.

A segunda versão da abertura, quase uma transcrição literal do original.

E sucesso foi coisa que não faltou a esta série, que foi transmitida um pouco por todo o Mundo, incluindo (conforme acima referido) por duas vezes em Portugal, em ambos os 'extremos' da década de 90: primeiro logo a abrir a mesma, na RTP (então Canal 1) e com os nomes dos personagens 'aportuguesados', e mais tarde no Batatoon da TVI, em 1999, com nova dobragem a cargo da Nacional Filmes, e mais fiel ao original. Tal como 'Dennis o Pimentinha', esta foi, portanto, daquelas séries que tiveram a oportunidade de captar duas gerações de público-alvo totalmente distintas, e de as cativar a seguir as aventuras daquela pequena e invulgar família.

Tal como também já vimos acima, este desenho animado esteve longe de ditar o fim da popularidade dos Esquilos, que renovariam ainda a audiência por mais duas vezes ao longo das três décadas seguintes, primeiro através dos filmes e, mais tarde, do actual desenho animado. Nada mal para uma 'ideia parva' tida por um descendente de Arménios de Fresno, Califórnia em meados do século passado...

 

16.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 14 de Agosto de 2023.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Na passada Sexta-feira, falámos aqui dos dois filmes de 'acção real' alusivos ao personagem de Dennis, o Pimentinha (ou Dennis, The Menace) lançados durante os anos 90, numa época em que era grande o volume de séries animadas a terem direito a uma adaptação deste género; nada mais justo, portanto, do que recordarmos agora a animação original cujo sucesso deu azo às referidas tentativas cinematográficas.

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Baseada na decana banda desenhada do mesmo nome, a série animada de 'Dennis, O Pimentinha' foi produzida originalmente em 1986, através da então habitual cooperação entre estúdios norte-americanos e asiáticos, ficando estes a cargo de grande parte da componente animada. A título de curiosidade, este programa em particular contava, ainda, com o patrocínio da companhia de cereais norte-americana General Mills, que surgia, inclusivamente, como detentora dos direitos, mas sobre a qual os 'putos' portugueses não tinham qualquer referência.

Àparte este curioso 'sponsor', no entanto, 'Dennis, o Pimentinha' trazia todos os elementos comuns às séries infantis da altura, do genérico ritmado e ultra-memorável (com animação a condizer) ao formato com duas histórias por episódio, aos próprios argumentos, que seguiam a linha das situações quotidianas, focando-se, sobretudo, nas brincadeiras do protagonista e dos amigos Joey, Margaret e Gina, além do cão Ruff, e nos 'tormentos' causados pelo grupo aos vizinhos reformados, os Wilsons, e sobretudo ao sofredor patriarca George. Uma receita que arriscava pouco, mas não deixava de render vinte minutos bem passados a quem gostava desse tipo de conteúdo, como era o caso lá por casa.

Um daqueles genéricos que 'reside' de graça na cabeça de muitos 'millennials'.

Essa opinião devia, aliás, ser generalizada um pouco por todo o País, já que 'Dennis, o Pimentinha' passou, não uma, mas duas vezes na televisão portuguesa - primeiro na RTP, em versão original legendada, e mais tarde na TVI, onde surgiu em 1995 com uma nova dobragem em Português da Somnorte, em que a família Mitchell se transformava em Meireles. E apesar de se ter ficado por aí a presença de Dennis e seus amigos nos televisores portugueses (a menos que se conte a transmissão no Canal Panda, ainda alguns anos mais tarde) a influência do 'pestinha' de seis anos estendeu-se até finais da década seguinte, tendo uma série de DVDs sido lançada no mercado em 2008, com ainda uma outra dobragem em Português, agora a cargo da PSB. Nada mau para um desenho animado lançado mais de duas décadas antes e que, para o público original norte-americano, era já algo passado e bafiento, tendo constituído um daqueles casos em que o maior sucesso é encontrado num país que não o de origem.

E se, hoje, o 'puto' Dennis é algo menos conhecido - tendo a Geração Z encontrado os seus próprios heróis animados, do qual não faz parte - para os 'millennials', o rapazito loiro de jardineiras vermelhas e 't-shirt' às riscas será, para sempre, um ícone das tardes de infância passadas em frente à televisão a ver os 'bonecos', justificando por isso estas breves linhas recordatórias da sua passagem pelas ondas televisivas nacionais.

08.08.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Numa semana em que teve lugar um dos maiores eventos religiosos de sempre no nosso País – cujo corolário foi a visita de Sua Santidade, o Papa Francisco, é difícil não recordar os diversos programas católicos que as crianças e jovens dos anos 90 se habituaram a ver nas grelhas televisivas, normalmente antes dos blocos de 'bonecos' animados dos fins-de-semana de manhã. Mas entre a inevitável (e ainda hoje existente) Eucaristia Dominical e a Benção Urbi et Orbi, transmitida ao vivo do Vaticano na Páscoa e Natal, havia (e continua a haver) um programa que se destacava por tentar ir mais além do simples aspecto devoto e do contexto da missa e oração, e descobrir o catolicismo através das vivências dos portugueses comuns. Falamos de '70x7', programa que leva já quase quatro décadas e meia de existência, e que soará certamente familiar a qualquer criança ou adolescente que tenha visto pelo menos uma grelha televisiva na revista semanal ou no Teletexto.

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Criado em 1979 por dois 'padres jornalistas', António Rego e Manuel Vilas Boas, o '70x7' tinha, precisamente, como proposta unir esses dois 'mundos', objectivo que atingia com maestria, tendo inclusivamente sido premiado pela Associação Católica Internacional de Cinema e Televisão pela sua reportagem na Cartuxa de Évora, que conseguia transmitir o ambiente, idealismo e devoção dos monges ali residentes sem desrespeitar o voto de silêncio que os mesmos observam. Outros episódios eram menos solenes, indo apenas 'de câmara em punho' ao encontro de cidadãos comuns, mas sempre com uma abordagem jornalística, mais de divulgação do Catolicismo do que de evangelização. A ajudar a esta percepção estavam, também, segmentos como o do futuro comentador da TVI, e actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que faziam com que o programa tivesse um certo interesse mesmo junto de quem não era Católico

O programa sobre a Cartuxa de Évora, vencedor do prémio de Filme do Ano da Associação Católica Internacional de Cinema e Televisão.

Esta abordagem continua, aliás, firme até aos dias de hoje, mesmo trinta anos depois de o fundador ter trocado o jornalismo presencial pela direcção de informação da TVI. Um dos programas mais antigos ainda em exibição, a par de certos telejornais, '70x7' poderá não vir a marcar a actual geração da mesma forma que o fez para as duas anteriores, mas não deixa, por isso, de ser um excelente exemplo de como ter uma abordagem imparcial e informativa a algo tão pessoal e subjectivo como a fé.

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