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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.10.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

De entre as muitas salas de espectáculos e bares da noite lisboeta, o Rock Rendez-Vous foi, a par do Johnny Guitar, uma das mais históricas e influentes, e continua até hoje a ser das que mais memórias e nostalgia despertam entre os portugueses de uma certa idade e com gosto pela música. E ainda que os muitos concertos ali realizados tenham uma palavra a dizer no tocante a esse estatuto, é inegável que grande parte do mesmo se devia ao histórico Concurso de Música Moderna, tão sinónimo com o espaço que muitas vezes se confunde com o mesmo, naquilo a que hoje se chama um 'efeito Mandela'.

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O livre-trânsito de uma das bandas a concurso, os Gritos Oleosos.

De facto, foi o referido concurso - realizado consecutivamente entre 1984 e 1989 – que deu a conhecer grupos como os Mler Ife Dada (vencedores da primeira edição), Ritual Tejo e Sitiados, todos os quais tiveram oportunidade de gravar para a Dansa do Som, a editora ligada ao concurso e ao próprio Rock Rendez-Vous em si. Assim, não é de estranhar que, cinco anos após a última edição anual, a competição tenha sido 'revivida' a título esporádico, e proporcionado uma despedida 'em alta' para um dos grandes eventos musicais do Portugal oitentista. Isto porque o sétimo e último Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-Vous - levado a cabo há quase exactos trinta anos, a 16 de Outubro de 1994 - teve honras de transmissão na RTP, um facto que demonstra bem a importância cultural e mediatismo que o evento havia adquirido desde a sua criação, dez anos antes.

Curiosamente, esta última edição do concurso manteve a tendência, verificada na esmagadora maioria dos seus antecessores, de atribuir a vitória a bandas que acabariam por nunca singrar, pese embora o disco lançado como prémio pela classificação no concurso. Para a História, nesta 'reencarnação' do evento, ficavam Drowning Men (mais tarde Geração X, e depois Os Vultos), Jardim Letal e Neura, nenhum dos quais é hoje lembrado ou conhecido pela esmagadora maioria da população nacional, até mesmo a que era já viva à época. O único nome 'sonante' desta edição de 1994 seria, assim, o dos Ornatos Violeta, que levavam para casa o último Prémio de Originalidade alguma vez atribuído pelo Rock Rendez-Vous, saindo assim como nome destacado da última edição de um certame histórico do panorama musical português.

A extinção do Concurso de Música Moderna não significaria, no entanto, o fim do nome Rock Rendez-Vous, o qual seria 'repescado', já no Novo Milénio, para título de uma compilação de novos talentos lançada pela Worten, em homenagem às edições do mesmo tipo que a Dansa do Som fazia sair durante o seu período áureo. E apesar de o local em si, bem como o nome, terem entretanto voltado a mergulhar nas 'brumas' da memória, haverá sempre uma certa faixa etária de portugueses para quem aquelas três palavras meio 'estrangeiradas', e o concurso que lhes estava associado, serão, eternamente, sinónimas com o melhor que se fazia, e fez, no meio pop-rock e alternativo em Portugal.

07.10.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Na passada edição desta rubrica, falámos de 'Zás Trás', uma das muitas produções portuguesas da década de 90 a procurar emular o sucesso da icónica 'Rua Sésamo' com recurso a uma fórmula muito semelhante, centrada no 'edutenimento' veiculado através de segmentos que combinavam fantoches e marionetas com acção real. No entanto, de todas as referidas séries (e foram várias) apenas uma logrou aproximar-se da popularidade e notabilidade da original, ainda que ficando mesmo assim a uma certa distância: o 'Jardim da Celeste'.

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Surgida pela primeira vez nos ecrãs portugueses algures em 1997, no bloco infantil da RTP1, a série produzida, tal como a antecessora, pela RTP centrava-se na titular Celeste, interpretada por Ana Brito e Cunha, uma educadora que viajava por todo o País numa carrinha mágica (embora não a da série homónima) acompanhada pelo seu cão, Sócrates, e interagia tanto com os fantoches seus 'alunos' como com crianças reais, exactamente como sucedia com as personagens humanas de 'Rua Sésamo'. A demografia-alvo era, também, claramente a mesma – crianças em idade pré-escolar – embora esta série não tivesse o 'apelo universal' da antecessora, sendo pouco provável que tenha conquistado muitos fãs fora desse espectro etário. Por comparação com a antecessora, 'Jardim da Celeste' tão pouco deu origem ao mesmo volume de 'merchandising' e produtos relacionados ou complementares (não chegaria, por exemplo, a haver uma revista alusiva a esta série) embora tenha chegado a ser editada em vídeo ainda durante a sua transmissão original.

Ainda assim, para quem foi criança no momento certo para dela desfrutar, tratou-se de uma série de qualidade e que terá, sem dúvida, deixado tão boas memórias quanto 'Rua Sésamo' criara aos (ligeiramente) mais velhos, enquanto a sua frequente repetição nos diversos canais da RTP a terá, sem dúvida, ajudado a encontrar novos fãs desde então. Razões mais que suficientes para lhe dedicarmos um espaço próprio neste nosso 'blog' dedicado a tudo o que de melhor teve a década de 90.

23.09.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Uma análise, mesmo que superficial, à televisão infanto-juvenil portuguesa de inícios dos anos 90 revela uma 'era de ouro' não só no tocante à importação de materiais estrangeiros de grande qualidade (vários dos quais já aqui abordámos) mas mesmo à própria produção nacional, a qual se 'aventurava' com enorme sucesso por uma série de formatos, que iam de programas como 'A Hora do Lecas', 'Os Segredos do Mimix', 'Clube Disney' ou 'Oh! Hanna-Barbera' a concursos como 'Arca de Noé', 'Tal Pai, Tal Filho' e 'Vitaminas', vídeos musicais como os do Vitinho e, claro, séries, com a icónica 'Rua Sésamo' à cabeça. Poupas, Ferrão e companhia não eram, no entanto, os únicos personagens cem por cento nacionais a procurar conquistar o coração das crianças da época – a RTP da era pré-concorrência privada (ou seja, monopolista do tempo de antena) abria também espaço para conteúdos como 'A Maravilhosa Viagem Às Ilhas Encantadas', 'Histórias de Corpo Inteiro', ou a série que abordamos nesta Segunda, 'Zás Trás'.

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Da autoria de Isabel Cerqueira e Teresa Messias, e realizada por Alexandre Montenegro (nome bastante requisitado à época) 'Zás Trás' estreava na televisão estatal há quase exactos trinta e três anos (em Setembro de 1991) e desde logo se posicionava como 'alternativa' à hegemonia da incontornável 'Rua Sésamo', apresentando um formato muito semelhante - centrado em 'sketches' protagonizados por um núcleo central de personagens representados por marionetes em cenários reais – e até um tema de abertura capaz de rivalizar com o da referida série, e que é, sem dúvida, o seu elemento mais destacado e memorável.

No entanto, tal como a série sobre higiene oral acima referida (com a qual chegou a partilhar tempo de antena em finais de 1991), 'Zás Trás' nem sequer chegaria a fazer 'cócegas' aos habitantes da Rua mais famosa da televisão portuguesa, tendo a sua passagem pela RTP sido discreta, e – ao contrário da 'concorrente' - deixado poucas memórias ao público-alvo da época, com excepção do 'contagioso' tema título e de um personagem com papel proeminente que, embora aceitável na altura como caricatura animada, seria hoje considerado problemático e até ofensivo para a população asiática. Tal como os 'designs' algo 'uncanny' de 'Histórias de Corpo Inteiro', este aspecto talvez tenha tido influência no desempenho da série a longo-prazo – ou, talvez, 'Zás Trás' apenas não fosse tão memorável como 'Rua Sésamo', com ou sem caricaturas obsoletas entre o seu núcleo central.

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Um dos personagens centrais é...digamos, problemático.

Apesar de hoje algo Esquecido Pela Net (e por aquele que foi o seu público) 'Zás Trás', e o respectivo Especial de Natal (realizado em 1992) não deixaram de ser, já no Novo Milénio, 'repescados' para a grelha programática primeiro da RTP2 e, mais tarde, também para a da RTP Memória. As alterações na cultura popular e estrutura social do Mundo ocidental desde então fazem, no entanto, prever que essa tenha sido a última aparição de 'Zás Trás' nos écrãs portugueses, estando a série destinada a ser votada ao esquecimento a breve trecho. Quem quiser ajudar a evitar esse fado (ou simplesmente deseje recordar a série mais de três décadas depois) pode, no entanto, assistir a todos os episódios no Arquivo RTP. Para quem optar por o fazer, no entanto, fica a ressalva – o tema-título continua tão cativante como sempre, e capaz de ficar no cérebro durante semanas após uma única audição...

 

25.06.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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As transmissões de jogos de futebol têm, tradicionalmente e consistentemente, estado entre os segmentos com maior 'share' de audiências da televisão em sinal aberto em Portugal. Mesmo depois do advento da Sport TV (e, mais tarde, de redes como a Eleven Sports ou dos canais privados de cada clube) os jogos exibidos na RTP, SIC e TVI não deixam de atrair números invulgares de público para cada uma dessas estações, o que se afirma como natural num país com tanto gosto e apetência pelo desporto-rei como é o nosso. Ainda assim, situações em que a emissora depende activamente do futebol para sair de uma crise de audiências não deixam de constituir casos extremos, tanto em Portugal como um pouco por todo o Mundo; e, no entanto, era precisamente esse o contexto em que a RTP se encontrava nos primeiros meses da viragem do Milénio, e que levou a emissora estatal a empregar medidas drásticas nesse Verão, aquando da realização do Campeonato Europeu de Futebol.

Isto porque, como detentora de acções na Sport TV, a RTP dividiria, normalmente, o 'pacote' de direitos de transmissão dos jogos com a emissora privada, exibindo apenas partidas selectas em sinal aberto, numa práctica que se mantém até aos dias de hoje; no caso do Euro 2000, no entanto, tal partilha não teve lugar, tendo a RTP retido os direitos de todas as vinte e sete partidas - de um total de trinta e uma - que logrou conseguir transmitir (as restantes quatro viriam a ser exibidas no 'outro' canal de desporto da TV Cabo da época, o Eurosport, que mostraria também algumas das partidas da RTP em diferido, numa emissão que dedicava vinte e quatro horas diárias à competição), obrigando a Sport TV a transmitir apenas debates sobre os jogos da competição, nos horários em que normalmente os estaria a exibir. Tais acções deviam-se à crise de resultados que a emissora estatal atravessava por comparação às rivais privadas, sendo que apenas o futebol conseguia equiparar a estação da 5 de Outubro às de Carnaxide ou Queluz.

Quando somada a uma série de 'picardias' entre o canal público e o seu 'sócio' privado – com a Sport TV a negar à RTP direitos de transmissão em directo dos jogos do FC Porto na Liga dos Campeões do ano transacto (obrigando a que os mesmos fossem exibidos em diferido, com uma hora de atraso), e a emissora estatal a 'vingar-se' bloqueando, no último momento, o acesso do canal codificado ao particular Portugal-Itália – esta atitude tornou inviável qualquer colaboração futura entre os dois canais, tendo a Sport TV procurado associar-se à SIC no tocante à partilha de direitos televisivos de eventos de desporto, iniciada com a transmissão conjunta do Open do Estoril em Ténis. Já a RTP beneficiria mesmo do 'choque na veia' proporcionado por um dos melhores Euros de sempre, ao qual se seguiram, quase de imediato, os Jogos Olímpicos de Sydney, também cobertos na quase totalidade pela emissora estatal. Um Verão de sucesso para as 'duas' RTPs, portanto - muito por conta daquilo a que a imprensa da época chegou a chamar uma 'overdose' de desporto – mas que, ao mesmo tempo, mudaria para sempre o paradigma e estrutura de partilhas e alianças para a transmissão de eventos desportivos em Portugal, numa alteração cujos efeitos se continuam a fazer sentir até aos dias de hoje, e que parece dar razão à máxima que diz que 'nunca é apenas futebol'...

09.10.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Os anos 80 e 90 representaram o grande 'boom' da então chamada 'Japanimação' (hoje designada pelo seu nome correcto, 'anime') no nosso País. Apesar de o estilo em causa vir já sendo desenvolvido desde a década de 60, foi apenas já em finais do século XX que o mesmo almejou atravessar o Oceano e surgir pela primeira vez nas televisões lusas, através de séries tão icónicas quanto 'Fábulas da Floresta Verde', 'Cavaleiros do Zodíaco', 'Esquadrão Águia', 'Capitão Falcão' ou 'Tom Sawyer', além de co-produções japonesas com estúdios europeus, como 'As Aventuras do Bocas' ou 'O Panda Tao-Tao'. A calorosa recepção a estas primeiras investidas abriu, claro, caminho a muitas outras, e antes do final do Segundo Milénio, as crianças e jovens nacionais já consideravam o 'anime' parte do seu quotidiano, com programas como 'Navegantes da Lua', 'Samurai X' ou as três partes da saga 'Dragon Ball' a atingirem níveis de sucesso até então pouco habituais em Portugal.

Entre estas duas vagas, no entanto, situou-se um período em que a animação japonesa surgiu nas televisões portuguesas, sobretudo, 'dissimulada' sob a 'capa' de produções europeias e americanas; no entanto, até mesmo esses anos viram alguns 'desenhos japoneses' penetrar as grelhas dos quatro canais nacionais. Neste grupo, por entre 'As Histórias Mais Bonitas' e 'Noeli', surgia uma série de curtos episódios (com apenas cerca de dez minutos) sobre um estranho ente de outra dimensão que, qual Mary Poppins extraterrestre, descia dos céus com o seu guarda-chuva mágico para mudar a vida de um rapazinho sortudo.

Não, não se trata de 'Doraemon'; o gato cósmico estava ainda a quase uma década de encantar toda uma geração de crianças e jovens através da icónica dobragem espanhola do Canal Panda. A série de que falamos é mais recente (foi criada em finais dos anos 80, enquanto que 'Doraemon' remonta a meados da década anterior) mas, paradoxalmente, mais antiga para o público infanto-juvenil lusitano, que a conheceu há quase exactos trinta anos, quando foi transmitida na RTP em versão dobrada.

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Falamos de 'Parasol Henbee', conhecido em Portugal pelo nome de 'Henbei', e cujas semelhanças com 'Doraemon' são tudo menos fortuitas, já que ambos os desenhos animados têm o mesmo criador – Motoo Abiko, ou 'Fujiko Fujio A', um dos membros da dupla de animadores Fujiko Fujio. Não fora esse elo de ligação e as assustadoras semelhanças entre ambas as séries podiam ser tomadas por plágio – as premissas de ambas são practicamente idênticas, o mesmo se passando com as duplas de protagonistas e situações vividas pelos mesmos; assim sendo, trata-se apenas de uma tentativa de replicar uma fórmula vencedora, que – apesar de menos memorável do que a série-base que lhe serve de inspiração – acaba por ser bem-sucedida, representando um 'prato cheio' para fãs de Doraemon, ou de séries ocidentais com conceitos semelhantes, como 'Ursinhos Carinhosos'.

E apesar de não ter 'pegado de estaca' como sucedeu com 'Doraemon', que forma parte importante da nostalgia de toda uma geração de jovens telespectadores portugueses, 'Henbei' é, ainda assim, recordado pela faixa ligeiramente mais velha de 'millennials' nacionais – quanto mais não seja, pelo seu épico tema de abertura, uma daquelas canções que merecia o mesmo nível de fama de 'Digimon', 'Dragon Ball' ou 'Tom Sawyer', mas que teve o 'azar' de fazer parte de uma série significativamente menos conhecida.

Quem conhece, já está a cantar...

Ainda assim, quanto mais não seja por esse elemento extremamente bem-sucedido, vale a pena recordar o 'parente pobre' de 'Doraemon' – e primeira experiência com animação japonesa para muitas crianças portuguesas – numa altura em que se assinalam trinta anos sobre a sua exibição única na televisão estatal nacional.

19.09.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há figuras tão peculiares ou carismáticas que são capazes, com a sua forma de ser ou estar, de transformar até o mais enfadonho dos assuntos em algo minimamente interessante – e a televisão portuguesa dos anos 90 esteve bem servida deles. De Carlos Cruz a Júlio Isidro, António Sala, Nicolau Breyner, Fernando Mendes, Jorge Gabriel, Olga Cardoso ou até 'pivots' como Artur Albarran, muitas foram as personalidades que ajudaram a 'animar' as tardes e noites dos portugueses de finais do século XX. Mas se a maioria destas figuras se movia no já de si apelativo mundo do entretenimento, uma havia que tinha pela frente missão mais 'espinhosa'; a de interessar o telespectador comum em assuntos de cultura geral, e mais concretamente ligados à História de Portugal. E a verdade é que tal tarefa não amedrontou a 'cara' em causa, que fez, durante os vinte anos de cada lado do Novo Milénio, diversas, e relativamente bem sucedidas, tentativas de educar as 'massas' portuguesas.

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Antes de Marcelo, era este o homem conhecido como 'o Professor' pela maioria dos portugueses...

Falamos, claro está, do professor José Hermano Saraiva, talvez mais conhecido das gerações 'X' e 'millennial' como um dos mais famosos e bem conseguidos 'bonecos' da 'Enciclopédia' de Herman José (outra das tais figuras cativantes e icónicas da televisão nacional da época), que captou e satirizou com mestria os icónicos e inconfundíveis trejeitos do velho historiador; no entanto, para quem gostava (ou tentava gostar) de História, o então professor universitário era um nome incontornável, que tinha o condão de tornar as normalmente aborrecidas sequências de eventos da História de Portugal em 'histórias' (com H pequeno) capazes de captar e cativar a atenção – uma característica que o mesmo tentava implementar em cada novo programa que levava ao ar. 'A Bruma da Memória', estreado há quase exactos trinta anos (a 17 de Setembro de 1993) não é excepção, apresentando todas as características que se podiam esperar de um programa de José Hermano Saraiva.

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Composto por treze episódios, que perfazem uma única 'temporada', o conceito (a que a Wikipédia chama 'série', mas que, na verdade, se assemelha bastante mais a um dos então frequentes programas documentais ou de reportagem de índole cultural) foi produzido por Teresa Guilherme (sim, essa mesma!) e integrou a grelha da RTP durante exactos três meses, ao ritmo de um episódio por semana, tendo o último, sobre Macau, sido transmitido a 17 de Dezembro daquele mesmo ano. Antes, o Professor havia já visitado localidades como Guimarães, Aveiro, Tomar, Mafra e Setúbal, onde se debruçara sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes da nossa História, bem como sobre algumas das personalidades e obras de arte ligadas a cada uma das localidades, sempre no seu tom conversacional e com os famosos gestos de mãos a enfatizar a sua cadência declamatória e solene.

O resultado era um daqueles programas (e não séries...) que se podiam ver em família, depois do jantar e antes de ir para a cama, e que os pais com interesse em assuntos culturais e intelectuais mostravam aos filhos para os tentar interessar em assuntos adjacentes aos que os mesmos aprendiam na escola. E ainda que estas tentativas nem sempre fossem bem sucedidas, a verdade é que programas como o de José Hermano Saraiva desempenhavam um papel importante no contexto das mesmas, bem como nos esforços mais generalizados de fazer chegar cultura geral à população; quanto mais não seja por isso, programas como 'A Bruma da Memória' merecem ser lembrados pela geração que, apesar de talvez muito nova para os absorver na totalidade, terá uma vaga memória de os ver 'passar' na televisão lá de casa nos serões de finais de 1993. Para esses, aqui deixamos o link para a 'playlist' com todos os episódios, para que possam recordar aqueles tempos, há exactos trinta anos, em que a televisão pública ainda procurava ter conteúdos de teor cultural e didáctico...

 

03.07.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Quem já nasceu na década de 90, sobretudo a partir de meados da mesma, certamente terá a mesma reacção à expressão 'Abram alas para o Noddy!' que os 'bebés' da década anterior têm ao genérico da 'Rua Sésamo' – nomeadamente, começar de imediato a cantar o tema de abertura da referida série, numa daquelas vagas de nostalgia que só as propriedades mais adoradas da infância e adolescência conseguem proporcionar. 

De facto, para quem já não conviveu com Poupas, Ferrão e os restantes amigos, Noddy foi – a par dos Teletubbies e quiçá do Ruca – A personagem de infância por excelência, companheiro de muitos momentos bem passados em frente à televisão em inícios do século XXI. O que muitos dos espectadores devotos dessa série talvez não tenham sabido é que a mesma era já a segunda incursão do boneco de madeira criado por Enid Blyton nas ondas televisivas, não só nacionais como mundiais – a verdadeira estreia de Noddy e dos restantes habitantes da Terra dos Brinquedos dera-se mais de meia década antes, com a bem menos famosa série auto-intitulada do personagem, produzida pela Cosgrove Hall entre 1992 e 1994 e exibida na 'culta e adulta' RTP2 um par de anos depois.

Genérico da série original.

Originalmente intitulada 'Noddy´s Toyland Adventures', esta série tem uma premissa muito semelhante à da sua mais 'ilustre' sucessora, seguindo a cada episódio as aventuras de Noddy e do seu inseparável amigo Orelhas Grandes, um gnomo de jardim, enquanto os dois viajam pela Terra dos Brinquedos no icónico carro amarelo de Noddy (imortalizado no genérico português da série de 2002) procurando resolver os problemas corriqueiros dos seus habitantes, ou aqueles que eles próprios causam com a sua ingenuidade e propensão para acidentes. O tom geral, tal como sucede com os livros, é um 'slice of life' ligeiro e 'fofinho', mas não totalmente inofensivo, perfeitamente adequado ao público-alvo de crianças em idade pré-escolar e primária.

A razão para esta primeira série de Noddy ser bastante menos conhecida ou popular que a sua sucessora é, assim, pouco clara, podendo potencialmente prender-se com o maior e melhor volume de séries e programas infanto-juvenis transmitidos em Portugal em meados dos 90, por comparação com o início do Novo Milénio; seja qual for o motivo, no entanto, ambos os programas (bem como a 'tri-quela' 'A Loja do Noddy') são bem merecedores de serem apresentados a uma nova geração falha de conteúdos infantis de qualidade e, certamente, pronta a acolher de 'braços abertos' o 'palhacito' Noddy e os seus amigos brinquedos.

02.05.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Qualquer conceito de sucesso – seja um produto ou, como neste caso, uma criação mediática – dará, inevitavelmente, azo a um sem-número de concorrentes e imitadores de índole muito semelhante, mas normalmente sem a qualidade e o factor originalidade que ajudavam a explicar o sucesso do pioneiro original. O Mundo da televisão não é excepção a esta regra - antes pelo contrário – sendo numerosos os exemplos de programas que tentam (com maior ou menor sucesso) replicar as ideias da concorrência, a fim de, idealmente, lhe retirarem uma parte do 'share' de audiências; assim, não é de todo surpreendente constatar que, em meados de 1995, a televisão estatal portuguesa tenha apostado precisamente nessa táctica para tentar 'roubar' espectadores à cada vez mais popular SIC, através de um programa praticamente 'tirado a papel químico' de um dos seus maiores êxitos.

Segundo genérico do programa.

Falamos de 'Sem Limites', um magazine apresentado por uma equipa de jovens entusiásticos, e que procurava divulgar eventos, nomes e técnicas ligados aos desportos radicais, de forma simples, entusiasmante e capaz de agradar ao público mais jovem, principal interessado nessas modalidades. E se este conceito soa estranhamente familiar, é porque o é, não sendo 'Sem Limites' mais do que a resposta da RTP ao mega-sucesso 'Portugal Radical' – embora o facto de, até hoje, muita gente confundir este programa com o 'rival' demonstre cabalmente quem ganhou essa 'batalha' em particular.

Ainda assim, e apesar de ter sido sempre o 'segundo classificado' nas 'competições radicais' dos Domingos de manhã, o 'Sem Limites' conseguiu, ainda assim, 'aguentar-se' no ar durante no mínimo quatro anos, tendo tido as primeiras emissões por volta de 1994 e permanecido na grelha da RTP até pelo menos a 1998, facto que demonstra que, apesar da forte concorrência 'privada', o programa não deixava, ainda assim, de encontrar a sua audiência – algo que, convenhamos, não era difícil naquela que foi a época de maior entusiasmo e interesse em torno dos desportos radicais.

No entanto, ao contrário do seu concorrente directo, o programa teve muito pouco impacto nostálgico na geração nascida e crescida nos anos 80 e 90, não tendo tido direito ao mesmo 'merchandising' oficial, revista e discos de banda sonora do concorrente, e a sua memória sobrevive, hoje em dia, sobretudo na secção de Arquivos do 'site' da RTP, onde se pode encontrar o equivalente a cerca de um ano e meio de episódios completos do programa; ainda assim, não deixa de ser de valor relembrar aquele que foi um dos exemplos mais 'descarados' e 'acabados' de cópia directa de um conceito na História da televisão portuguesa, numa 'jogada' que provou que a guerra das audiências dos anos 90 se desenrolava mesmo 'Sem Limites...'

Um segmento do programa, no caso, alusivo ao 'bodyboard'.

18.04.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Em edições passadas desta mesma rubrica, temos ao longo do tempo vindo a abordar concursos icónicos da televisão portuguesa de finais da década de 80 até ao dealbar do Novo Milénio; esta semana, chega a altura de juntar mais um programa a essa vasta lista de 'game shows' icónicos, e recordar outro saudoso concurso das noites daquela época; o 'Palavra Puxa Palavra'.

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Apresentado por António Sala – futuro sucessor de Carlos Cruz no 'Um, Dois, Três' e 'cara' da versão portuguesa de 'Você Decide', além de eterna 'voz' do 'Despertar' da Rádio Renascença – o concurso era, como a maioria dos seus congéneres da época, uma adaptação directa de um formato estrangeiro, no caso norte-americano, e propunha uma espécie de jogo de 'charadas', a pares, entre dois concorrentes e dois convidados especiais. A cada elemento do duo era, alternadamente, dada uma palavra, que o mesmo deveria tentar transmitir ao seu parceiro através de cinco pistas; no final, sobrava apenas um dos dois concorrentes, o qual se juntava ao convidado da sua escolha para tentar identificar dez palavras no espaço de um minuto. Pelo meio, havia também 'palavras-cheque', que davam direito a bónus, mas apenas se adivinhadas em três pistas ou menos, o que acentuava o seu carácter 'especial' e aumentava a dificuldade dos turnos em que surgiam. Um conceito original, relativamente fácil de 'vender' a um público-alvo habituado a jogar às 'Charadas', e que compreendia a tensão inerente a ter que descobrir a palavra correcta em poucos segundos, e com ajuda limitada. 

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Exemplo de um turno da primeira fase do programa.

Talvez estivesse aí um dos 'trunfos' por detrás do sucesso do programa, que conseguiu manter-se no ar durante honrosos quatro anos, de 1990 a 1994 – menos do que 'dinossauros' como 'O Preço Certo' ou o referido 'Um, Dois, Três, mas mais do que muitos dos seus contemporâneos – tendo durante três deles feito parte da grelha da RTP2 (então um pouco menos 'culta e adulta' do que hoje em dia) e no último do principal canal estatal, numa transição directa que não implicou quaisquer alterações ao formato ou sequer mudança de apresentador, pesassem embora os compromissos de Sala no 'Um, Dois, Três'.

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O carismático apresentador do programa.

À distância de trinta anos, a impressão que fica é a de um concurso que, apesar de não se encontrar ao mesmo nível dos grandes 'clássicos' da RTP neste campo, não deixava de ter todos os elementos necessários ao sucesso dentro do seu campo, do formato interessante ao apresentador carismático, e que conseguiu deixar pelo menos alguma 'marca' nostálgica na geração que passou as noites de semana no sofá, em família, a ver concorrentes 'esmifrarem-se' para ganhar prémios numa série de programas absolutamente icónicos – da qual este faz também, merecidamente, parte. Tanto assim que, findo o programa, o mesmo foi substituído por outro de formato quase exactamente idêntico, com o mesmo patrocinador e locutor, agora intitulado 'A Grande Pirâmide' – e dado que, como diz um ditado anglófono, 'a imitação é a mais sincera forma de homenagem', 'Palavra Puxa Palavra' deve, certamente, ter sido bem-sucedido naquilo a que se propunha...

28.03.23

NOTA: Este 'post' é correspondente a Segunda-feira, 27 de Março de 2023.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de ser a fonte de muita da iconografia mais apelativa para o público mais jovem, como flores e passarinhos, a Primavera encontra-se, ainda assim, sub-representada no campo da animação; apesar de muitos desenhos animados adoptarem a estética de campos verdejantes e paisagens idílicas, apenas um número muito reduzido se dá ao trabalho de localizar a acção especificamente nesta estação. No entanto, os anos 80 e a primeira metade da década seguinte viram, talvez, o maior influxo de produtividade neste capítulo em particular, pelo que – numa altura em que se celebra a chegada da estação das flores – nada melhor do que recordar algumas das mais marcantes.

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E nada mais certo do que começar por aquela que foi uma das séries mais acarinhadas por uma dada geração de portugueses, que a chegou a ver três vezes no espaço de uma década, tendo a mesma ido ao ar originalmente em 1985, na RTP1, e repetido depois em 1988, novamente na '1', e 1994, no bloco 'Um-Dó-Li-Tá', na RTP2. Falamos de 'Fábulas da Floresta Verde', um daqueles 'animes' da fase clássica da indústria (é, originalmente, de 1973) cujo nome não deixa grande lugar a dúvidas quanto ao seu tema; mais curioso é perceber que a série tem como base uma série de contos escritos pelo mesmo autor das populares histórias de 'Pedro Coelho' (Peter Rabbit), que chegaram a inspirar dois filmes de acção real, já no Novo Milénio.

Com temática e estilo semelhantes aos também mega-populares 'Bana e Flapi', trata-se, no entanto, de uma série distinta, que segue as aventuras de duas marmotas, Rocky e Polly, no seu dia-a-dia na Floresta do título, com tudo o que isso implica – incluindo ataques por parte de predadores bastante realistas, como raposas, doninhas e, claro, seres humanos. Com um genérico memorável e uma atitude despretensiosa, é fácil de perceber o porquê de esta série ter sido grande favorita entre as crianças da época.

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Outra série que focava especificamente a Primavera era 'As Ervilhinhas de Poddington', uma série britânica que seguia o então popular 'formato Estrumpfes' e o adaptava quase directamente a outro meio – neste caso, uma plantação de ervilhas, habitada por todos os habituais estereótipos, incluindo uma única personagem feminina (denominada Ervilha de Cheiro e que, claro, é loira, ao melhor estilo Estrumpfina.) Com apenas treze episódios, a série destacou-se, aquando da sua passagem por Portugal – em 1992, na RTP1 - sobretudo pelo contagiante genérico, sendo, de resto, apenas mais uma série infantil dentro da média da época em que foi criada.

O contagiante genérico da série

Por último, mas não menos merecedora de destaque, vem a série 'A Família Silvestre', transmitida pela RTP e baseada na linha de brinquedos do mesmo nome lançada pela Tomy em finais dos anos 80, e que, em Portugal, era distribuída pela inevitável Concentra. Curiosamente, o conceito do desenho animado pouco tinha a ver com a linha original, adoptando um formato mais próximo ao dos populares 'Ursinhos Carinhosos', em que a titular Família Silvestre e restantes habitantes da floresta mágica, que o ajudam a resolver o seu problema enquanto tentam derrotar os vilões de serviço. Pela sinopse, já deu para ver que se trata, apenas e tão-sómente, de 'mais uma' série destinada a promover uma linha de brinquedos, sem nada que a distinga de congéneres mais famosas como os referidos 'Ursinhos Carinhosos' ou ainda os Pequenos Póneis.

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É pena, pois, que a estação que tantas crianças fascinou e inspirou ao longo das gerações não tenha ainda tido um representante condigno no mundo da animação; ainda assim, vale a pena recordar os poucos exemplos de séries da 'era de Ouro' que faziam uso da estação nas suas tramas, ou simplesmente no Mundo que criavam.

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