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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.11.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Independentemente do seu posicionamento dentro da geração 'millennial' (quer nascidos nos anos 80, quer já nos 90) todos os portugueses de uma certa idade têm em comum a experiência de ver passar na televisão, em pleno horário nobre, um curto segmento musical animado, cuja única função expressa era assinalar a divisória entre o conteúdo familiar e os programas mais explicitamente dirigidos a um público adulto, mas que muitos pais utilizavam como sinal oficial de que era hora de os mais novos irem para a cama; e embora as duas parcelas da geração em causa tenham conhecido 'canções' bem diferentes, ambas veriam o protagonista da animação em causa extravasar o contexto da mesma, tornando-se parte da cultura popular infantil como um todo, e dando origem a diversos produtos com a sua figura. Para os 'millennials' mais velhos, essa figura foi o Vitinho; para os mais novos, foi o Patinho. E se o menino agricultor de jardineiras surgiria em contextos tão díspares quanto caixas de farinha láctea e autocolantes para o carro, o seu congénere antropomórfico não lhe ficaria atrás, gerando desde CD's de música a bonecos de vinil, e tendo mesmo direito à sua própria tirinha de banda desenhada, algo que o seu antecessor nunca almejara.

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De facto, os últimos meses do século XX viram surgir na então ainda muito popular revista semanal TV Guia um novo segmento de banda desenhada, com o não menos popular patinho de fato de marinheiro como protagonista. Com um estilo muito parecido ao da animação que lhe dera fama, e com argumentos da autoria do próprio criador da mesma, Rui Cardoso (membro da companhia de animação Animanostra) o Patinho encontraria aqui ainda mais uma forma de cativar o seu público-alvo, tendo as tirinhas em causa feito parte integrante da revista durante pelo menos um ano, de 4 de Setembro de 1999 até ao mesmo mês do ano seguinte, sendo possível que a sua publicação se tenha ainda estendido por mais algum tempo.

Mesmo após perder o lugar semanal, no entanto, o referido segmento lograria ainda manter-se 'à tona' do imaginário infantil através de uma edição em álbum de capa dura, lançado ainda nos primeiros meses do Novo Milénio pela própria TV Guia, e no qual eram reunidas quarenta e cinco das histórias criadas por Cardoso ao longo do período em causa. E apesar de a fama e relevância do Patinho não terem perdurado durante muito mais tempo após esse ponto (a BD em causa apenas poderia ter sido criada e editada com sucesso num intervalo de tempo tão específico quanto estreito), há que reconhecer ao personagem em causa (à época bastante divisor de opiniões) a capacidade de cativar a 'sua' audiência, e de aproveitar ao máximo os seus 'quinze minutos de fama', não só no seu formato original no pequeno ecrã mas também, mais inesperadamente, dentro dos painéis de uma tirinha de banda desenhada, numa transição nem sempre fácil, mas que o mesmo efectuou com relativo sucesso.

05.01.22

NOTA: Este post teve como referência de pesquisa os blogs Divulgando Banda Desenhada e Blog da Banda Desenhada. As imagens utilizadas são retiradas destes blogs, e devidamente creditadas.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

As revistas semanais com conteúdos divididos entre informações sobre a grelha de programação televisiva, 'fofocas' sobre celebridades e rubricas de carácter geral foram, a par da própria televisão, um dos meios de comunicação mais omnipresentes do último quarto do século 20, sendo presença assídua quer em casas particulares, quer nas mesas da sala de espera de consultórios, cabeleireiros, ginásios e outros serviços afins. Por sua vez, esta dispersão permitiu às publicações em causa abrangerem os mais diversos tipos de público, das donas de casa a que principalmente se destinavam até uma demografia mais jovem, que muitas vezes as lia em casa de familiares, ou enquanto acompanhava os ditos familiares aos locais acima descritos.

Assim, não é de espantar que pelo menos uma das referidas revistas se tenha procurado aventurar no mundo dos suplementos juvenis; tratava-se da TV Guia, uma das mais populares publicações do género, que a partir de Julho de 1996 veiculou entre as suas páginas um suplemento descartável com banda desenhada e passatempos, singelamente apelidado TV Guia Júnior.

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Página frontal do primeiro número do suplemento (Crédito: http://divulgandobd.blogspot.com/)

Composta por quatro páginas, das quais uma de passatempos, esta algo esquecida iniciativa serviu, acima de tudo, como mostruário para o trabalho de um dos poucos criadores de BD declaradamente infantil em Portugal: o entretanto malogrado Carlos Roque, cujo trabalho mais notável se desenvolveu no estrangeiro, nomeadamente na Bélgica, como parte das equipas das históricas revistas de BD 'Tintin' - que chegou a ter edição portuguesa entre meados dos anos 60 e inícios da década de 80 - e Spirou.

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Carlos Roque, autor dos conteúdos do suplemento, chegou a trabalhar com alguns dos maiores nomes da BD franco-belga, como membro das revistas 'Tintin' e 'Spirou' (Crédito da imagem: http://bloguedebd.blogspot.com/)

Em território nacional, Roque teve de se contentar com trabalhos em bem menor escala, pelo menos em termos de visibilidade, mas não deixou créditos por mãos alheias: para o suplemento TV Guia Júnior, foram criadas (pelo 'cartoonista' e a sua mulher, a belga Monique) uma série episódica, com continuação de uma semana para a outra, e duas de 'gags' avulsas, 'Tropelias de Malaquias' (cujo protagonista não escondia a inspiração em Dennis the Menace, da histórica publicação inglesa 'Beano') e outra centrada em torno de uma paródia de Mandrake, baptizada. bem ao estilo das BDs da época, com o pouco subtil nome de Patrake. Em todas elas, era evidente o cuidado e dedicação que Roque trazia para o seu trabalho, fazendo com que valesse bem a pena investir uns minutos todas as semanas a inteirar-se das novas aventuras de cada um destes grupos de personagens.

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Uma tira de 'Patrake, o Mágico' (Crédito da imagem: http://bloguedebd.blogspot.com/)

Roque não se ficou, no entanto, pela criação de todas as BDs do suplemento; o 'cartoonista' português seria também responsável pela página de passatempos, assegurando assim o monopólio criativo de todos os conteúdos inseridos naquelas quatro páginas. E a verdade é que o 'TV Guia Júnior' não ficou a perder por isso, antes pelo contrário - tivesse Roque a publicidade e fama de que gozavam alguns dos nomes com quem trabalhara na Bélgica, os fascículos deste suplemento constituiriam, hoje em dia, artigos de coleccionador altamente procurados; sem esse mesmo renome, no entanto, Carlos Roque acaba, para toda uma geração, por ficar somente associado a um suplemento pouco lembrado, oferecido durante um Verão por uma revista popularucha - uma pena, pois como os conteúdos deste suplemento bem demonstram, tratava-se de um talento ao nível de qualquer daqueles.

 

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