Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.03.24

NOTA: Este 'post' é correspondente a Terça-feira, 12 de Março de 2023.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A produção televisiva portuguesa pautou-se, durante os anos 90, pelo seu carácter experimental – não no sentido artístico ou 'avant-garde', mas simplesmente da perspectiva de tentativa e erro levada a cabo com vários tipos de programação, e que acabaria por revelar alguns formatos de sucesso imediato e ainda hoje vigentes, como 'talk shows' e 'reality shows'. Era, precisamente, esse o tipo de mentalidade por detrás do programa criado e lançado pela SIC há cerca de trinta anos, e que acabaria por se manter três anos no ar, bem como por encetar um inesperado regresso quase três décadas depois.

mw-320.webp

Falamos de 'A Noite da Má Língua', o programa de literal crítica social exibido em directo às quintas-feiras, conduzido por Júlia Pinheiro (à época a porta-estandarte da apresentadora televisiva 'desbocada', a par de Teresa Guilherme) e que contava com um painel rotativo por onde passaram nomes como Miguel Esteves Cardoso, Helena Sanches Osório, Constança Cunha e Sá, Rita Blanco, Manuel Serrão ou Rui Zink que, todas as semanas, atribuíam o 'Prémio da Má Língua' a uma personalidade diferente - o que ocasionou mesmo um momento insólito, quando o cantor José Cid surgiu no programa para receber o seu prémio e quase causou uma altercação com os apresentadores. Um formato que, sem dúvida, será familiar a quem hoje assiste a programas como 'Irritações' ou '5 Para a Meia-Noite', mas que, à época, era relativamente inovador no contexto da televisão portuguesa, tendo mesmo ganho notoriedade suficiente para suscitar mesmo uma sátira por parte de Herman José (ele próprio, a dado ponto, convidado do programa) no seu 'Herman Zap', um dos muitos projectos em que o humorista embarcou nos anos pré-'Enciclopédia'.

Ao contrário de muitos outros programas abordados nestas páginas, 'A Noite da Má Língua' faz parte do 'radar' cultural da Geração Z, embora não no seu formato original. Isto porque, desde 2021, o referido programa vem sendo transmitido em formato de 'podcast', com os mesmos apresentadores da sua última encarnação televisiva – – Júlia, Rita Blanco, Manuel Serrão e Rui Zink. Um caso raro de 'regresso' que se soube adequar ao panorama actual e, como consequência, recuperar a relevância de que gozava aquando da exibição original, e captar o interesse de toda uma nova geração – a marca de um programa verdadeiramente 'à frente' do seu tempo...

04.03.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Aquando do trigésimo aniversário do nascimento da TVI, referimos aqui que, nessa fase inicial, a 'Quatro' chamou, em parte, a atenção pela sua aposta em séries e filmes de qualidade. De facto, a adesão a parâmetros religiosos (que impediam a divulgação de material mais violento ou polémico, mas que certamente traria audiências) não impediu a estação de Queluz de montar um arquivo de ficção televisiva importada de enorme qualidade, dividido entre produções mais modernas (como a emblemática 'Marés Vivas') e 'clássicos' de décadas passadas, 'repescados' e apresentados a toda uma nova geração. Era neste último grupo que se inseria a Série sobre o qual versaremos esta Segunda – a adaptação televisiva da colecção de livros semi-autobiográficos de Laura Ingalls Wilder, 'Uma Casa Na Pradaria'.

download (4).jpg

A família Ingalls, sobre a qual se centra a série.

Criada ainda nos anos 70 e produzida até 1983, num total de sete temporadas, a série em causa não era, de todo, desconhecida do público nacional mais velho, que já a acompanhara aquando da sua primeira exibição na emissora estatal, em inícios da década de 80, 'suspirando' pelo galã Michael Landon, da também mega-popular produção 'western' 'Bonanza'. Não era a essa demografia, no entanto, que esta reposição da TVI se dirigia; o 'repescar' da série como parte da grelha televisiva inicial da estação de Queluz tinha como fito captar a atenção de toda uma nova geração do público-alvo da produção – as crianças e jovens.

Nesse aspecto, no entanto, 'Uma Casa Na Pradaria' almejou resultados por demais modestos; por oposição à 'febre' que a sua transmissão inicial causara, a reposição dos anos 90 pouca ou nenhuma tracção conseguiu entre os telespectadores mais novos, à época mais 'ocupados' com material mais voltado à acção e aventura, ou com desenhos animados como 'Tiny Toon Adventures'. De facto, no pátio de recreio comum, havia pouco quem visse (ou, pelo menos, admitisse ver) a série da TVI, e mesmo na 'era da nostalgia', o discurso saudosista sobre a mesma pauta por escasso – mesmo no contexto de uma geração que recorda e sente a falta de anúncios de telemóveis, cartões telefónicos ou mesmo dinheiro em nota!

Ainda assim, 'Uma Casa...' terá gerado suficientes audiências para ser 'ressuscitada' ainda uma terceira vez por um canal, no caso a RTP Memória, que exibia a série em 2009, uma década e meia após a aposta da TVI - um intervalo suficientemente alargado para suscitar quaisquer sentimentos de nostalgia que essa segunda transmissão pudesse ter causado, ao mesmo tempo que apresentava o programa aos novos jovens da 'era digital'. Esse parecia ter mesmo sido o 'último suspiro' da família Wilder nos televisores portugueses, mas eis que, volvidos mais quinze anos, voltamos a ver este ano Charles, Caroline e as filhas Mary, Laura e Carrie na grelha de programação do principal canal saudosista da TV Cabo - um verdadeiro testamento à longevidade de uma série que, sem ser especialmente lembrada, se recusa terminantemente a ser esquecida.

27.02.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui anteriormente estabelecemos que grande parte dos programas de maior sucesso da televisão portuguesa eram adaptados quase literalmente de formatos estrangeiros semelhantes. Tratassem-se de concursos, programas de variedades ou auditório ou até programas infantis, havia sempre uma alta probabilidade de a sua essência ter sido 'copiada' (ou, pelo menos, ter tirado inspiração) de um programa semelhante de outro país – especialmente se a referida transmissão fosse criada ou produzida por um dos canais privados. Tendo em conta este paradigma, era apenas uma questão de tempo até que fosse feita uma tentativa de emular 'Judge Judy', o popular programa norte-americano em que a juíza titular, de personalidade frontal e até algo 'desbocada', ditava em directo sentenças sobre pequenos casos quotidianos, numa mistura de 'reality show' com reportagem em tribunal que fazia as delícias das audiências da época. No caso, a responsável por 'importar' este formato para a realidade nacional foi a SIC, cuja versão deste conceito, intitulada 'O Juiz Decide', estreava nas tardes de semana, algures há trinta anos.

download (1).jpg

Criado e escrito por Paulo Coelho e apresentado pela jornalista Eduarda Maio, o programa colocava frente ao juiz Ricardo Velha uma série de casos corriqueiros em cada edição, que o magistrado tratava de sentenciar e resolver dentro do tempo que durava cada episódio. Um formato em tudo semelhante ao de 'Judge Judy', portanto, não fosse uma subtil mas crucial diferença – os casos de 'O Juiz Decide' eram totalmente encenados, sendo os queixosos e arguidos actores contratados (entre eles Liliana Campos, futura modelo de capa da 'Playboy' lusitana), sendo a presença de Eduarda Maio, presumivelmente, um meio de dar um toque de autenticidade e legitimidade ao que, de outro modo, pouco mais era do que uma série de ficção sobre um juiz em tribunal. Esta medida ajudava a garantir o drama e emoção que a audiência média esperava de um programa deste tipo, mas retirava-lhe a imprevisibilidade e 'factor choque' que tornavam as decisões (reais) da juíza Judy Sheindin tão atractivas para as audiências norte-americanos.

download (3).jpgdownload (2).jpg

A apresentadora e o magistrado do programa.

Apesar desta abordagem algo desonesta – à época, os espectadores não sabiam tratar-se de figurantes, e julgavam assistir a casos reais – mais tarde copiada também pela TVI para o seu 'Vidas Reais', 'O Juiz Decide' atingiu com louvor o objectivo de tornar a SIC campeã de audiências das tardes de semana, com os casos do juiz Ricardo Velha a suplantarem largamente em interesse fosse o que fosse que os outros canais tivessem para oferecer no mesmo período. De facto, o sucesso de 'O Juiz Decide' foi tal que o programa se manteve no ar durante mais de seis anos, até Junho de 2000 – uma marca mais do que honrosa, e que ultrapassa consideravelmente a longevidade média da maioria dos programas exibidos na televisão portuguesa em finais do século XX. E apesar de a sociedade actual ser bastante mais informada no tocante a 'truques' como o que constituía o cerne deste programa, é ainda assim de questionar se uma transmissão desta indole não conseguiria, ainda hoje, captar o interesse dos espectadores portugueses da era das 'boxes' e gravação e TV Cabo, como o fez com as audiências bastante menos bem-servidas e algo mais inocentes daqueles últimos anos do Segundo Milénio...

13.02.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A ideia de aprender factos, seja sobre que assunto for, raramente é apelativa para a comum das crianças, viva ela em que era viver. Isso não impede, no entanto, que a faixa adulta da sociedade procure, ainda assim, transmitir conhecimentos relativos às mais variadas áreas, seja por meios tradicionais, seja de forma menos ortodoxa – sendo que, nesta última vertente, um dos métodos mais eficazes de captar o interesse dos mais jovens é através do chamado 'edutenimento', uma categoria de programa que incorpora o aspecto didáctico numa apresentação mais puramente lúdica, com o fito de fazer o público-alvo aprender sem 'dar por isso'. São vários os exemplos mais ou menos bem-sucedidos deste tipo de programa ao longo da História, sendo que Portugal não é excepção nesse particular, bastando recordar as históricas 'Rua Sésamo' e 'Arca de Noé', ou o posterior 'Jardim da Celeste', para perceber que havia, em Portugal, engenho e arte suficientes para criar 'edutenimento' de tanta ou mais qualidade do que o que se vinha fazendo no estrangeiro.

A esta ilustre lista há, ainda, que juntar um programa transmitido pelo segundo canal da emissora estatal há cerca de trinta anos, e que, apesar de não ser explicitamente dirigido a um público jovem, terá sem dúvida contribuído para lhe dar a conhecer uma série de figuras históricas, tanto portuguesas como internacionais, de forma divertida e cativante, e pela 'mão' daquela que era, à época, uma das figuras mais afáveis e simpáticas da programação nacional: o 'Senhor Televisão' em pessoa, Carlos Cruz, ainda a alguns anos de quase ver a sua reputação destruída no processo Casa Pia.

Falamos de 'Ideias com História', o programa da RTP2 cujo conceito e apresentação se assemelhavam ao de qualquer outro espaço de entrevistas da época, com a particularidade de, neste caso, os convidados serem figuras dos mais variados períodos da História, interpretados com requinte por uma série de nomes consagrados da televisão e teatro portugueses. De personagens-chave da História de Portugal, como o Padre António Vieira, Fernão Mendes Pinto ou Bocage, a 'gigantes' internacionais como Átila, o Huno, o Imperador romano Nero, Napoleão ou a Rainha Vitória, muitos e variados foram os nomes a passar pela 'cadeira' de Carlos Cruz ao longo do tempo de vida do programa, todos dispostos a revelar (mais ou menos) factos sobre a sua vida ao simpático apresentador.

download (1).jpg

Carlos Cruz ao comando de uma emissão do programa.

Um conceito original, bem concretizado por uma equipa e elenco talentosos, e capaz, por isso, de captar o interesse das mais variadas demografias, e de, com sorte, conseguir transmitir informações sobre as figuras em causa que perdurassem para além dos cinquenta minutos de um episódio. Razões mais que suficientes para, apesar do relativo esquecimento a que foi votado pelos Internautas nostálgicos portugueses, recordarmos aqui (ainda que brevemente) esta emissão veiculada pela 'Dois' há coisa de trinta anos, e da qual resta ainda um episódio no YouTube, com o 'convidado dos convidados', que pode ser visto (ou revisto) abaixo.

30.01.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O fenómeno da repetição de formatos televisivos não é, de todo, inédito; pelo contrário, qualquer programa que consiga alguma tracção entre a sua audiência-alvo verá, inevitavelmente, surgirem um sem-número de 'cópias' mais ou menos directas, geralmente com algum elemento diferenciador, prontas a conquistarem essa mesma demografia. Menos comum, embora também bem documentado, é o surgimento de duas transmissões quase exactamente idênticas (por vezes até criadas pelo mesmo grupo de pessoas) em dois canais rivais – e, no entanto, só o Portugal dos 90s viveu em primeira mão não um, mas dois desses casos. Do primeiro, relativo aos 'Apanhados' da RTP e ao 'Minas e Armadilhas' da SIC, já aqui aludimos; chega agora a vez de falar do outro embate directo, no caso entre a emissora estatal e a TVI, travado entre 1994 e 1996, e que teve como epicentro o programa 'A Escolha É Sua', veiculado pela estação de Queluz.

Isto porque, como o próprio nome já permite adivinhar, o referido programa derivava forte inspiração do 'Agora, Escolha', 'campeão' de audiências da RTP em início dos anos 90, e ainda hoje lembrado pelos 'X' e 'millennials' lusitanos pela sua secção central, em que a carismática Vera Roquette lia cartas e exibia desenhos de pequenos leitores, como forma de introduzir um bloco de desenhos animados quase mais popular do que a própria emissão em que se inseria. Este último elemento era, aliás, mesmo a única coisa em falta na 'cópia' directa da 'Quatro', que preferia visar um público mais declaradamente adulto; de resto, o formato do programa era em tudo idêntico, centrando-se em torno da votação em tempo real (numa linha de valor acrescentado, claro, ou não estivéssemos em meados dos 'noventa') entre dois conteúdos previamente propostos, com o mais popular a ser exibido no final do programa. A fazer as vezes de Vera Roquette estava Carmen Godinho, nome menos sonante e (presumivelmente) menos carismático do que a loira da RTP, embora tenha também chegado a apresentar, na mesma época, o 'Clube Barbie'.

22549970_F0zA3.png

Carmen Godinho ao 'leme' do Clube Barbie.

E dizemos 'presumivelmente' porque 'A Escolha É Sua' faz parte do cada vez maior grupo dos Esquecidos Pela Net, resumindo-se a sua 'pegada' digital a um parágrafo na Wikipédia, uma entrada no IMDb, e o vídeo que acima partilhamos, de pouco mais de um minuto de duração. Assim, quaisquer impressões sobre o programa inserem-se no reino da conjectura – embora seja relativamente seguro dizer, face ao curto ciclo de vida do programa por comparação com o seu antecessor, e à falta de tentativas subsequentes de o revitalizar, que o ''Agora, Escolha' da TVI' terá dado razão ao lema da Kellogg's que diz que 'o original é sempre o melhor'. Sejam quais forem as razões para este paradigma – a pouca originalidade do conceito, a falta de desenhos animados, o valor acrescentado das chamadas, a ausência de patrocínio por parte de uma mascote empresarial, ou até o menor carisma de Godinho por comparação com Roquette – a verdade é que, três décadas volvidas, a única página alusiva a este programa da TVI acaba de ser publicada, e chega agora à sua conclusão natural; prova de que nem sempre uma cópia directa de um formato de sucesso é, por si só, garantia de bons resultados...

 

05.12.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Numa edição passada desta rubrica, abordámos o programa 'Apanhados', elaborado por Joaquim Letria e transmitido pela RTP em inícios dos anos 90, concretamente até 1993. Nesse post, mencionámos que o mesmo havia constituído a última tentativa de criar uma emissão deste tipo em Portugal – uma afirmação errónea, dado ter havido pelo menos mais um programa inteiramente criado em território nacional a explorar este conceito. É dessa emissão, criada no mesmo ano em que 'Apanhados' saiu do ar (há exactas três décadas) que falaremos esta Terça-feira.

Minas e Armadilhas SIC.png

(Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

Elaborado e produzido por Manolo Bello, o 'parceiro invisível' de Joaquim Letria em 'Apanhados', e transmitido na então ainda única 'rival' privada da RTP, a SIC, 'Minas e Armadilhas' afirmava-se quase que como uma tentativa de expandir o conceito desse programa, aproximando-o mais do formato de programa de variedades clássico. De facto, embora as tradicionais 'partidas' a transeuntes insuspeitos continuassem a representar o 'cerne do programa apresentado por Júlio César, havia também espaço, ao longo dos seus cinquenta minutos de duração, para números musicais (normalmente a cargo de conjuntos de cariz tradicional, como tunas académicas e ranchos folclóricos) mini-concursos de memória com prémios em dinheiro, e, claro, bem-humoradas interacções entre o anfitrião fixo e os convidados de cada semana, os quais iam de 'drag queens' como Belle Dominique a desportistas profissionais, como a patinadora Andreia Teixeira, e até a apresentadora de programas eróticos (e antiga Miss França!) Marléne Morreau, numa mostra de ecletismo que apenas adicionava ao cariz algo anárquico e contra-cultura do programa.

SIC Minas e Armadilhas.jpg

O apresentador Júlio César com uma das anfitriãs convidadas. (Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

Estas pequenas mas significativas 'expansões' ao clássico formato de 'Apanhados' resultaram, aliás, em cheio, tendo 'Minas e Armadilhas' sido um dos baluartes da programação da SIC ao longo dos três anos seguintes, vindo a sair do ar apenas em 1996, quando a índole das grelhas televisivas nacionais se começava a alterar, e programas do seu tipo a perder espaço; ainda assim, há que dar ao programa as suas 'flores', e que lhe outorgar o seu estatuto como a verdadeira última tentativa de fazer um programa de 'apanhados' em Portugal – bem como, de longe, a mais bem-sucedida. Quem quiser saber porquê, basta reservar a próxima hora e ver o episódio completo que deixamos abaixo...

14.11.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Qualquer português nascido ou crescido nos anos 90, independentemente do seu interesse em videojogos, reconhece o 'Templo dos Jogos' da SIC como um dos mais bem-sucedidos e icónicos programas televisivos daquela década. Numa altura em que a Internet dava ainda os primeiros passos, o conceito de um programa onde eram mostradas, em exclusivo, imagens dos jogos de computador e consola mais 'badalados', em conjunto com algumas informações sobre os mesmos, era genial na sua combinação de simplicidade e utilidade, servindo o programa, essencialmente, como um Telejornal de videojogos, em que os apresentadores acabavam por servir como pouco mais do que 'pivots', deixando a verdadeira 'ribalta' para aquilo que todos queriam ver – as imagens dos jogos em si.

Tendo em conta este sucesso, não é de estranhar que uma das concorrentes da estação de Carnaxide – no caso, a RTP – tenha querido copiar a fórmula que tanto sucesso de audiências fazia na 'colega' privada; no entanto, talvez motivada pelo desejo de apresentar algo único e que não parecesse um 'xerox' tão descarado, a emissora estatal adicionou ao seu programa algumas 'nuances' que, embora bem-sucedidas em o tornar diferente, contribuíram também para o tornar menos interessante. No fundo, a RTP não percebeu o que estava, verdadeiramente, por detrás do sucesso do 'Templo', e viu a sua própria tentativa falhar como consequência do seu 'erro de cálculo'.

21825306_lRiFr.png

Patrocinado (e de forma nada subtil) pela SEGA, 'Cybermaster' tinha como premissa combinar o formato do 'Templo' da SIC com uma vertente competitiva, de concurso infantil televisivo, adornando o todo com uma estética 'cyberpunk', bem típica dos filmes de ficção científica de série B que os jovens da altura traziam todos os fins-de-semana do seu videoclube local. Os apresentadores, assistente e o próprio cenário exibiam figurinos algures entre 'O Quinto Elemento' (então ainda em produção) e 'Mad Max', e o próprio conceito do concurso colocava os jovens concorrentes em luta directa, não só entre si, mas com o malvado personagem-título, interpretado pelo actor João D'Ávila com um visual 'à la' Bela Lugosi – uma missão que envolvia, sobretudo, disputas mano-a-mano em alguns dos jogos da SEGA mais populares da altura, incluindo vários da então ainda recente Sega Saturn, azarada pioneira das consolas 32-bits.

Uma fórmula interessante, mas que não foi suficiente para garantir a longevidade do programa, que acabou por ficar no ar durante apenas um ano, entre 1996 e 1997, e é, hoje em dia, bem menos lembrado do que o 'Templo' - algo que não deixa de causar alguma estranheza, já que o formato era sólido, e tinha tudo para atrair a atenção do público-alvo. Talvez tenha sido pela necessidade de complicar em demasia um conceito simples, ou talvez pelo falhanço de vendas da Sega Saturn, que, à época, vinha já sendo pesadamente derrotada em volume pela rival PlayStation; seja qual tiver sido a razão, a verdade é que 'Cybermaster' é, hoje, uma daquelas relíquias 'de época' algo perdidas no tempo, capaz de causar nostalgia a uma parcela da geração 'millennial' portuguesa, mas que, para a maioria dos ex-'putos' noventistas, apenas causará estranheza, e uma sensação de 'como é que eu nunca vi isto?' Para esses, ficam abaixo não apenas um, mas dois episódios completos do programa, para que possam preencher essa lacuna na cultura 'pop' juvenil portuguesa de finais do século XX.

Pode parecer um delírio da imaginação, mas não é - este programa existiu mesmo...

31.10.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O sensacionalismo vende. Esta é uma máxima pela qual qualquer profissional de marketing, publicidade ou entretenimento se rege, e que foi adoptada e 'tomada a peito' por ambas as televisões privadas portuguesas a dado ponto da década de 90; e se, no caso da TVI, essa abordagem só se viria a verificar já nos últimos anos do século XX, a pioneira SIC 'abraçou-a' logo à partida, e fez dela um dos seus principais factores distintivos em relação à mais sóbria RTP. De facto, as primeiras grelhas do canal de Carnaxide continham, desde logo, uma série de programas destinados a apelar ao português médio – não o citadino, mas sim o habitante de meios mais suburbanos ou rurais, que fazia da televisão o seu principal veículo de escapismo, ao mesmo tempo que nela procurava conteúdos que fossem de encontro aos seus interesse; a SIC soube colocar-se precisamente nessa intersecção, e programas como o Buereré e Big Show SIC destacavam-se pela estética e ritmo deliberadamente exagerados, e raramente vistos em programas da RTP.

Paralelamente a este tipo de conteúdos, no entanto, havia uma série de outros que, apesar de aparentemente mais sérios, acabavam também por apelar aos instintos mais básicos do ser humano, nomeadamente a necessidade de experienciar a miséria alheia, um dos principais catalistas de programas como 'Ponto de Encontro', 'O Juiz Decide', ou a emissão de que falamos neste post, e sobre cuja estreia se celebraram este mês exactos trinta anos.

Casos-de-Polícia.webp

Tratava-se de 'Casos de Polícia', um suposto magazine noticioso cuja ênfase, como o próprio nome indicava, estava no elemento criminal, nomeadamente o residente em zonas periféricas ou de habitação social. E se o objectivo declarado do programa era dar a conhecer casos de interesse humano e diferentes realidades sociais existentes no País, a verdade é que tudo acabava por descambar para uma espécie de versão portuguesa do programa americano 'Cops', em que o grande interesse estava mesmo no 'sururu' e nas confrontações entre agentes da autoridade e meliantes – ou, à falta dos mesmos, na vida trágica e carenciada dos focados. O elemento informativo era, no entanto, recuperado pelos comentários do bem conhecido Francisco Moita Flores, que, em parceria com João Nabais, oferecia a típica visão mais avisada sobre cada um dos casos apresentados.

O resultado era um híbrido de Telejornal e programa sensacionalista (um pouco á semelhança do actual 'Rua Segura', da TVI) que, apesar de não ser especificamente dirigido a jovens, acabava por fazer parte daquele lote de programas que os mesmos consumiam através dos adultos do seu agregado familiar, acabando por formar parte da sua memória nostálgica. E ainda que esta emissão não tenha tido o mesmo impacto sobre a geração 'millennial' de alguns dos outros acima mencionados, vale ainda assim bem a pena recordá-la neste último dia do mês em que celebra o seu trigésimo aniversário.

Excerto e 'spot' publicitário do programa.

19.09.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há figuras tão peculiares ou carismáticas que são capazes, com a sua forma de ser ou estar, de transformar até o mais enfadonho dos assuntos em algo minimamente interessante – e a televisão portuguesa dos anos 90 esteve bem servida deles. De Carlos Cruz a Júlio Isidro, António Sala, Nicolau Breyner, Fernando Mendes, Jorge Gabriel, Olga Cardoso ou até 'pivots' como Artur Albarran, muitas foram as personalidades que ajudaram a 'animar' as tardes e noites dos portugueses de finais do século XX. Mas se a maioria destas figuras se movia no já de si apelativo mundo do entretenimento, uma havia que tinha pela frente missão mais 'espinhosa'; a de interessar o telespectador comum em assuntos de cultura geral, e mais concretamente ligados à História de Portugal. E a verdade é que tal tarefa não amedrontou a 'cara' em causa, que fez, durante os vinte anos de cada lado do Novo Milénio, diversas, e relativamente bem sucedidas, tentativas de educar as 'massas' portuguesas.

hqdefault.jpg

Antes de Marcelo, era este o homem conhecido como 'o Professor' pela maioria dos portugueses...

Falamos, claro está, do professor José Hermano Saraiva, talvez mais conhecido das gerações 'X' e 'millennial' como um dos mais famosos e bem conseguidos 'bonecos' da 'Enciclopédia' de Herman José (outra das tais figuras cativantes e icónicas da televisão nacional da época), que captou e satirizou com mestria os icónicos e inconfundíveis trejeitos do velho historiador; no entanto, para quem gostava (ou tentava gostar) de História, o então professor universitário era um nome incontornável, que tinha o condão de tornar as normalmente aborrecidas sequências de eventos da História de Portugal em 'histórias' (com H pequeno) capazes de captar e cativar a atenção – uma característica que o mesmo tentava implementar em cada novo programa que levava ao ar. 'A Bruma da Memória', estreado há quase exactos trinta anos (a 17 de Setembro de 1993) não é excepção, apresentando todas as características que se podiam esperar de um programa de José Hermano Saraiva.

bruma.webp

Composto por treze episódios, que perfazem uma única 'temporada', o conceito (a que a Wikipédia chama 'série', mas que, na verdade, se assemelha bastante mais a um dos então frequentes programas documentais ou de reportagem de índole cultural) foi produzido por Teresa Guilherme (sim, essa mesma!) e integrou a grelha da RTP durante exactos três meses, ao ritmo de um episódio por semana, tendo o último, sobre Macau, sido transmitido a 17 de Dezembro daquele mesmo ano. Antes, o Professor havia já visitado localidades como Guimarães, Aveiro, Tomar, Mafra e Setúbal, onde se debruçara sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes da nossa História, bem como sobre algumas das personalidades e obras de arte ligadas a cada uma das localidades, sempre no seu tom conversacional e com os famosos gestos de mãos a enfatizar a sua cadência declamatória e solene.

O resultado era um daqueles programas (e não séries...) que se podiam ver em família, depois do jantar e antes de ir para a cama, e que os pais com interesse em assuntos culturais e intelectuais mostravam aos filhos para os tentar interessar em assuntos adjacentes aos que os mesmos aprendiam na escola. E ainda que estas tentativas nem sempre fossem bem sucedidas, a verdade é que programas como o de José Hermano Saraiva desempenhavam um papel importante no contexto das mesmas, bem como nos esforços mais generalizados de fazer chegar cultura geral à população; quanto mais não seja por isso, programas como 'A Bruma da Memória' merecem ser lembrados pela geração que, apesar de talvez muito nova para os absorver na totalidade, terá uma vaga memória de os ver 'passar' na televisão lá de casa nos serões de finais de 1993. Para esses, aqui deixamos o link para a 'playlist' com todos os episódios, para que possam recordar aqueles tempos, há exactos trinta anos, em que a televisão pública ainda procurava ter conteúdos de teor cultural e didáctico...

 

29.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 28 de Agosto de 2023.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Estava-se nos primeiros anos da década de 60 quando um produtor musical norte-americano tinha a genial ideia de gravar cantores a interpretar canções de forma deliberadamente lenta e, utilizando técnicas de aceleração, alterar as suas vozes para que ficassem com um timbre exageradamente alto, quase 'cartoonesco'. Para combinar com esta voz 'de hélio', o mesmo produtor criaria, então, três personagens animados: esquilos antropomórficos e falantes, adoptados por um músico, e subsequentemente transformados em grupo vocal. Nascia, nesse instante, um fenómeno que poucos preveriam vir a perdurar durante as seis décadas seguintes, mas que continua até hoje a fazer as delícias da criançada, bastando para isso atentar no desenho animado CGI actualmente disponível no Netflix e Nickelodeon, já a terceira a contar com os personagens em causa.

Falamos, é claro, dos Esquilos (actualmente designados como Alvin e os Esquilos) o grupo virtual criado por Ross Bagdasarian (também conhecido como Dave Seville, o 'pai' adoptivo dos três rapazes) e que foi muito além do seu estatuto como 'one-hit wonder' vagamente piadético, tendo chegado a ganhar dois Grammys (!) e tido direito, desde a sua criação, a uma série de banda desenhada, quatro (!!) filmes de acção real, um sem-fim de 'merchandising' e, claro, as referidas séries animadas, das quais a mais famosa (em Portugal e não só) é a segunda, produzida em 1983 e exibida no nosso País em duas ocasiões na década seguinte.

Alvineosesquilos_serie.webp

Responsável pela criação e apresentação das Esquiletes (as namoradas dos personagens, que, como não podia deixar de ser, são versões femininas exactas dos mesmos) a série não deixa, no entanto, que as novas personagens ofusquem os três protagonistas principais; de facto, o foco continua declaradamente sobre Alvin (o travesso e teimoso Esquilo de boné e t-shirt vermelha), Simon (o Esquilo 'marrão' e atinado, oposto do irmão, e que veste de azul) e Theodore (o 'gordinho' sensível, tímido e comilão, cuja cor é o verde) e na sua relação por vezes difícil, mas sempre bem-intencionada, com o pai adoptivo humano. As histórias, essas, giram em torno dos habituais assuntos da vida quotidiana, pertinentes para o público-alvo, como as relações interpessoais ou as emoções próprias, intercalados com o aspecto mais 'show-business' da vida das três 'crianças', e uma ou outra aventura mais mirabolante. O resultado é um programa bem animado, bem conseguido a nível global, e que possui a característica mais importante para se destacar no mercado televisivo infanto-juvenil dos anos 90: um genérico de abertura daqueles instantaneamente reconhecíveis e entusiasmantes, que é já 'meio caminho andado' para o sucesso.

A segunda versão da abertura, quase uma transcrição literal do original.

E sucesso foi coisa que não faltou a esta série, que foi transmitida um pouco por todo o Mundo, incluindo (conforme acima referido) por duas vezes em Portugal, em ambos os 'extremos' da década de 90: primeiro logo a abrir a mesma, na RTP (então Canal 1) e com os nomes dos personagens 'aportuguesados', e mais tarde no Batatoon da TVI, em 1999, com nova dobragem a cargo da Nacional Filmes, e mais fiel ao original. Tal como 'Dennis o Pimentinha', esta foi, portanto, daquelas séries que tiveram a oportunidade de captar duas gerações de público-alvo totalmente distintas, e de as cativar a seguir as aventuras daquela pequena e invulgar família.

Tal como também já vimos acima, este desenho animado esteve longe de ditar o fim da popularidade dos Esquilos, que renovariam ainda a audiência por mais duas vezes ao longo das três décadas seguintes, primeiro através dos filmes e, mais tarde, do actual desenho animado. Nada mal para uma 'ideia parva' tida por um descendente de Arménios de Fresno, Califórnia em meados do século passado...

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub