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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.06.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Em plena segunda década do século XXI, a escolha de um tarifário na compra de um novo telemóvel (ou simplesmente aquando de uma mudança de operadora) é praticamente um dado adquirido, ao ponto de várias operadoras nem permitirem a compra directa de um telemóvel numa das suas lojas sem que primeiro seja escolhido um tarifário a associar ao mesmo. No entanto, nem sempre foi esse o caso; há trinta anos atrás, a noção de um tarifário pré-pago não era apenas desconhecida, mas sim praticamente inexistente. Curiosamente, este mesmo conceito foi introduzido ao grande público por uma operadora portuguesa, a qual, em meados da última década do século XX, criava o primeiro tarifário pré-pago do Mundo.

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A mascote do tarifário ao lado do pacote básico do mesmo.

Falamos da TMN (hoje MEO) e do seu há muito descontinuado tarifário Mimo, lançado (segundo a maioria das fontes) em 1995, e que muitos dos leitores deste blogue recordarão decerto pela sua mascote – um mimo, naturalmente – e pelo respectivo anúncio que o mesmo protagonizava, estreado em 1998 e que se tornou um dos 'clássicos' da publicidade televisiva noventista.

Um anúncio tão icónico que, qual filme de Hollywood, foi alvo de um 'remake' em 2014, aquando da passagem da TMN a MEO.

No entanto, o verdadeiro 'golpe' do Mimo residia não tanto no seu 'marketing' (embora o mesmo tivesse, sem dúvida, sido marcante) mas antes na possibilidade que oferecia aos seus aderentes de utilizarem o serviço sem recurso a uma subscrição ou mensalidade, efectuando apenas carregamentos de saldo quando necessário, reduzindo assim os custos e abrindo o usufruto do serviço a demografias mais vastas – outro conceito, hoje, praticamente sinónimo com o uso de serviços de telemóvel, mas que à época era perfeitamente revolucionário, tendo ajudado a tornar o Mimo um dos mais populares serviços de comunicações móveis do Portugal de então, ao ponto de, a certa altura durante a segunda metade dos anos 90, 'Mimo' chegar a ser utilizado como sinónimo do próprio telemóvel!

Escusado será dizer que não tardou até a Telecel (hoje Vodafone, e eterna 'rival' da TMN/Meo) lançar a sua própria versão deste tipo de serviço, denominada Vitamina; poucos anos depois, em inícios do Novo Milénio, a própria TMN aperfeiçoaria a 'fórmula' que criara mediante o tarifário PAKO, e o resto é História. Quem, na sua juventude ou hoje em dia, utilizou um dos inúmeros e lendários tarifários de telecomunicações portugueses – dos supramencionados aos mais recentes Moche e WTF – deve essa possibilidade a um certo palhaço mudo, utilizado por uma certa subsidiária da Portugal Telecom, algures no ano de 1995...

27.04.22

NOTA: Este post é relativo a Terça-feira, 27 de Abril de 2022.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

O período compreendido entre o início da década de 80 e o dealbar do novo milénio foi, sem dúvida, um dos mais marcantes e revolucionários de todo o século XX no que toca à evolução tecnológica, em particular no domínio da chamada 'electrónica para o lar'; em pouco mais tempo do que leva a uma criança a atingir a idade adulta, a sociedade ocidental viu surgir um volume de novos recursos electrónicos sem precedentes, cujo período médio de obsolescência passava das várias décadas compreendidas entre, por exemplo, o gramofone e o gira-discos para os poucos anos que mediaram entre o auge de popularidade dos Walkman e a popularização dos seus sucessores, os Discman' – isto sem sequer falar no surgimento e rapidíssima evolução de novos meios de comunicação, em particular os hoje indispensáveis telemóveis.

Em meio a tal 'avalanche' de novos desenvolvimentos, não é de estranhar que algumas das tecnologias e 'engenhocas' surgidas durante esse fertilíssimo período em finais do século passado tenham ficado 'pelo caminho' antes mesmo de terem tempo de se popularizar – e, dessas, uma das primeiras que vem, de imediato, à mente são os chamados 'bips' ou 'pagers'.

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Concebidos e comercializados pela primeira vez ainda nos anos 80, mas chegados a Portugal nos primeiros meses da década seguinte, os 'bips' são daqueles apetrechos difíceis de explicar ou até justificar a um nativo digital das gerações pós-'millenials', mas que para estes (e para os X que os antecederam) não só faziam todo o sentido, como se afiguravam como uma inovação tecnológica estonteante, que vinha revolucionar por completo o campo da comunicação à distância; no fundo, e vistos do futuro, o que aqueles pequenos rectângulos de afixar ao cinto representavam era nada mais, nada menos do que uma espécie de protótipo primitivo daquilo que viriam a ser os telemóveis.

Tal como estes, cada 'bip' tinha um número próprio, que quem quisesse contactar com o seu dono deveria marcar; a diferença residia no facto de que, ao invés de uma chamada, era enviada uma mensagem para o aparelho, assinalada pelo característico som que lhe deu o nome em Português; uma vez recebido este aviso (que não está muito longe das 'notificações' enviadas por telemóveis, computadores e 'websites' modernos) cabia ao dono do 'bip' ligar para o centro de controlo de chamadas para ouvir a mensagem recebida, a qual lhe era então transmitida quer por um operador humano, quer por uma voz robótica. Mais tarde, à medida que as possibilidades da tecnologia digital iam sendo descobertas, muitos 'pagers' substituiram este método analógico pelo envio de mensagens de texto digitalizadas, ao mesmo tempo que expandiam as suas funcionalidades para incluir o envio e recepção de 'emails', por exemplo.

Apesar destes avanços tecnológicos, no entanto, o 'bip' teve os dias contados praticamente desde o momento em que os primeiros telemóveis (dispositivos de certa forma semelhantes, mas muito mais imediatistas e avançados) chegaram ao mercado; o aparecimento, ainda antes do final da década, dos chamados PDAs (que estavam para os 'smartphones' actuais como os 'bips' estavam para os telemóveis da época) apenas veio acelerar o declínio destes aparelhos, cuja utilização em Portugal, como um pouco por todo o Mundo, sofreu uma queda a pique nos últimos anos do século XX. A chegada do novo milénio, com todas as suas possibilidades tecnológicas, trouxe consigo a 'morte anunciada' destes objectos, que – em pouco mais de uma década – passavam de prémio mais cobiçado de uma lendária promoção da Coca-Cola a peça de 'sucata' obsoleta, constituindo o exemplo prático perfeito de como a marcha tecnológica se alterou naqueles anos de 'viragem' de ano, século e milénio.

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O icónico e muito desejado 'pager' da Coca-Cola

Corria ainda o ano de 2001 quando a TMN, principal fornecedora nacional do serviço, decide colocar um ponto final no mesmo, efectivando assim a 'morte' em definitivo de uma tecnologia que, dez anos antes, entusiasmara tantos portugueses, cansados de ficarem 'reféns' das cabines telefónicas e de 'tecnologias' como o Credifone; um fim algo inglório para um aparelho que, na sua época de lançamento, era inegavelmente útil, mas que chegou a terras lusitanas demasiado tarde para evitar ser 'apanhado' na 'enxurrada' tecnológica de que a última década do século XX foi palco.

Actualmente, os ´pagers´ sobrevivem, ainda e apenas, no sector médico e de saúde, onde encontraram uma demografia 'de nicho' para quem ainda retêm a utilidade, e em sistemas de irrigação e controlo de trânsito, que utilizam a mesma tecnologia; para o grande público da década de 2020, no entanto, estes aparelhos não são, hoje, mais do que uma memória, mais ou menos vagamente recordada após contacto com artigos como este...

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