20.07.22
A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.
Já por várias vezes, nesta mesma rubrica, falámos das compilações de 'tirinhas' de jornal norte-americanas (as chamadas 'comic strips') lançadas em Portugal por editoras como a Gradiva, sendo que, pela sua importância no contexto da referida indústria, nomes como Mafalda, Calvin e Hobbes e Garfield tiveram direito a posts individuais sobre as suas versões portuguesas; agora, chega a vez de juntar mais um nome a essa selecta lista (ainda que um com bem menos expressão nacional do que os restantes acima enumerados) e falar do primeiro álbum de Hagar, o Terrível lançado em território nacional.
Corria o mês de Agosto de 1993, quando Haggar – então com vinte anos – desembarcava do seu 'drakkar' em costas lusitanas, pela mão da Livros Horizonte, uma editora sem expressão no meio da banda desenhada, mas sem a qual os fãs portugueses do obeso 'viking' teriam ficado 'em seco' no tocante a tirinhas traduzidas para a nossa língua; mesmo assim, e apesar de 48 páginas (cada uma com cerca de quatro ou cinco tiras) serem melhor do que nada, a oferta para fãs do personagem de Dik Browne ficou muito, mas muito aquém daquilo a que as personagens que o rodeavam nos suplementos de Domingo norte-americanos tiveram direito no nosso país.
Exemplo de uma página do livro
Ainda assim, 'a cavalo dado não se olha o dente', e a verdade é que, apesar de 'magro' e sem grande brilho em termos de grafismo de capa, o volume em causa possui tradução cuidada, e serve como uma excelente amostra do trabalho de Browne; o problema reside mesmo no facto de essa amostra cumprir demasiado bem a sua missão de abrir o apetite para mais – sendo que, neste caso, o 'mais' apenas chegaria aos escaparates mais de uma década e meia depois, sob a forma de dois volumes editados em 2008 pela pequena Libri Impressi, cujo esforço de publicar cronologicamente todas as tiras do personagem se ficaria, infelizmente, por aí...
Quanto ao álbum da Horizonte, aqui em análise, a sua mais-valia reside mesmo no facto de oferecer material de Haggar (bem) traduzido para português, algo que, conforme demonstrámos nos parágrafos acima, não está propriamente disponível em abundância, e ainda menos em 1993; só esse facto já servia (e continua a servir) para justificar o (modesto) investimento neste álbum por parte dos fãs do 'viking' mais sedentário da História. Já quem não conhece Haggar, tem também aqui um bom ponto de partida por onde iniciar a sua exploração dos já quase cinquenta anos de tirinhas alusivas ao personagem editadas pelos sindicatos de BD americanos...