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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.06.23

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui falámos, numa edição passada, de como os clubes de jovens por correspondência se popularizaram entre a juventude noventista. Da Sega e Nintendo ao grupo Auchan (através das mascotes Rik e Rok) passando pelo pioneiro Clube Amigos Disney e por um sem-fim de clubes de fãs de artistas sem afiliação corporativa, criados e geridos por jovens perfeitamente normais e anónimos, foram inúmeros os exemplos deste tipo de iniciativa surgidos durante as duas últimas décadas do século XX e primeira do seguinte.

O campo da literatura não foi, de todo, excepção a esta regra, tendo sido nada menos do que duas as tentativas feitas nesse sentido por editoras populares entre a 'miudagem': o lendário Clube Caminho Fantástico, da Editorial Caminho – talvez o exemplo mais bem conseguido deste tipo de serviço – e o Clube Verbo, lançado pela editora homónima algures nos anos 80 e que, como o seu congénere, 'resistiu' até pelo menos à 'recta final' do século XX. Tal como sucedia com a maioria dos outros clubes deste tipo, cada um destes grupos tinha a sua revista própria, com passatempos, cartas e desenhos de leitores e – no caso do Correio Juvenil – também banda desenhada.

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Duas capas do suplemento, ambas alusivas à mesma história de Tintim

De facto, a revista veiculada pelo Clube Verbo destacava-se da 'concorrência' por se inserir no mesmo segmento de publicações 'oficiais' como 'Tintim', 'Spirou' e 'Selecções BD', bem como de suplementos vinculados a jornais e revistas, como o 'BDN' ou o suplemento juvenil do Expresso, ao reunir e editar em 'tranches' histórias de alguns dos autores mais clássicos do mundo da banda desenhada, com destaque para Hergé e Carl Barks, ilustrador principal da era de Ouro da BD da Disney, do qual foram veiculadas duas histórias entre os números 74 e 89, cada uma delas dividida em oito partes: do número 74 ao 81 foi editado 'O Sofá Expresso', de Donald e sobrinhos, e do 82 ao 89 'O Deus do Vulcão', com Mickey e Pateta. Os restantes (poucos) recursos actualmente existentes sobre esta revista mostram imagens de 'O Caranguejo das Tenazes de Ouro', aventura de Tintim passada no Médio Oriente, e sugerem terem sido publicadas histórias de outros autores franco-belgas menos conhecidos.

O facto, no entanto, é que o clube da Difusão Verbo foi um pouco 'Esquecido Pela Net', o que acaba por ser uma pena, já que parece tratar-se, como o Caminho Fantástico, de um exemplo particularmente bem conseguido do formato de clube de jovens por assinatura ou correspondência; cabe assim, como sempre, a este nosso 'blog' a função de recordar este clube, a sua revista, e as excelentes histórias nela publicadas, para que quem fez parte possa recordar, e quem não conhecia possa passar a estar a par...

03.11.21

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

A História da banda desenhada importada em Portugal está, grosso modo, dividida em dois grupos; por um lado, as bandas desenhadas 'de quiosque', normalmente produzidas no prolífico sistema norte-americano e importadas para a Lusitânia via Brasil ou Itália, e por outro, as BD's em álbum, geralmente algo mais 'intelectuais' e provenientes dos países da Europa francófona (embora pelo menos uma série, de considerável sucesso no nosso País, fosse oriunda de Espanha.)

Desde as décadas de 1960 e 70, estas duas vertentes têm convivido lado a lado na vida das crianças e jovens portugueses, sem que nenhuma consiga a preferência definitiva dos mesmos – e os anos 90 não foram excepção nesse campo. Se é verdade que as revistas da Disney, Marvel ou Turma da Mônica eram mais conhecidas e populares, até por serem de mais fácil acesso e terem preços mais acessíveis, também é facto que não era preciso procurar muito para encontrar uma criança que tivesse, pelo menos, um ou dois álbuns de Astérix, Lucky Luke ou Tintim em casa.

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Capa da edição original e reedição do primeiro álbum de Astérix

Grande parte da responsabilidade por esta situação, pelo menos no que às BD franco-belgas diz respeito, é da editora Meribérica-Liber, principal porta-estandarte deste tipo de obra literária, tanto no Portugal dos anos 90 como no de hoje em dia. Foi (e é) por mérito desta editora, e dos seus esforços por adquirir as licenças das mais populares séries criadas nos países francófonos, que a maioria das crianças daquela década (e das seguintes) tiveram o primeiro contacto com os heróis acima citados, bem como com outros como Spirou (o eterno 'quarto grande'), Corto Maltese, Michel Vaillant, Spaghetti, Gaston, Cubitus ou Achille Talon. Embora a maioria destes heróis já tivesse aparecido na revista 'Tintim' (publicação histórica da imprensa portuguesa, publicada durante nada menos de 15 anos, entre os finais da década de 60 e inícios da de 80 e que serviu de porta de entrada para a maioria destes personagens no nosso país) os álbuns da Meribérica serviram para os apresentar a toda uma nova geração – táctica que, aliás, resultou em pleno, dando azo a três décadas de publicação ininterrupta das suas aventuras em Portugal, além de vários álbuns periféricos, como o álbum de texto corrido de Astérix sobre como Obélix caiu no caldeirão de poção mágica em pequeno, ou o recente 'remake' de Lucky Luke que toma a dúbia opção de o montar numa bicicleta, em pleno Velho Oeste americano do século XIX (!)

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A duvidosa reimaginação recente de Lucky Luke

Re-imaginações duvidosas à parte, o que é certo é que estes álbuns cativaram mesmo o seu público-alvo, com a sua mistura bem característica de diálogos humorísticos, aventura, personagens memoráveis, e um toquezinho de 'pastelão', embora este fosse sempre usado como acessório, e nunca como centro do humor dos livros. Quando combinadas com o controlo de qualidade e atenção ao detalhe da maioria dos criadores franco-belgas de primeira e segunda linha (ou seja, aqueles que eram bons o suficiente para serem exportados) estas características faziam (e fazem) das principais séries da Meribérica apostas seguras para quem procurava bandas desenhadas infantis mais 'inteligentes' do que a média. Alguns destes personagens chegaram, inclusivamente, a originar 'merchandising' do mais insólito, como foi o caso do sumo de frutas Astérix, lançado em final dos anos 90, mas do qual, infelizmente, não restam quaisquer provas na Internet – sobre este assunto, têm de acreditar em chegou a beber o referido sumo numa ou outra festa de anos...

Numa altura em que a BD se volta a popularizar em Portugal, e em que cada vez mais lojas da especialidade surgem por esse Portugal afora, é de prever que as BD da Meribérica, e de outras editoras entretanto formadas, continuem com tendência ascendente – mesmo sabendo que não haverá, por exemplo, novos álbuns de Astérix, o grande filão da editora. Isto porque mesmo os livros mais antigos das principais séries da editora têm um certo carácter intemporal, que faz com que possam ser tão bem aceites e populares entre as crianças da década de 2020 quanto o foram junto dos seus pais, os 'putos' dos 90. ou até dos pais destes, aquando da publicação original das séries no nosso país; resta, pois, esperar para ver se, nesta era cada vez mais digital e imediatista, estes heróis clássicos conseguem continuar a prender o interesse do seu público-alvo.

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