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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.03.24

NOTA: Este 'post' é correspondente a Terça-feira, 12 de Março de 2023.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A produção televisiva portuguesa pautou-se, durante os anos 90, pelo seu carácter experimental – não no sentido artístico ou 'avant-garde', mas simplesmente da perspectiva de tentativa e erro levada a cabo com vários tipos de programação, e que acabaria por revelar alguns formatos de sucesso imediato e ainda hoje vigentes, como 'talk shows' e 'reality shows'. Era, precisamente, esse o tipo de mentalidade por detrás do programa criado e lançado pela SIC há cerca de trinta anos, e que acabaria por se manter três anos no ar, bem como por encetar um inesperado regresso quase três décadas depois.

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Falamos de 'A Noite da Má Língua', o programa de literal crítica social exibido em directo às quintas-feiras, conduzido por Júlia Pinheiro (à época a porta-estandarte da apresentadora televisiva 'desbocada', a par de Teresa Guilherme) e que contava com um painel rotativo por onde passaram nomes como Miguel Esteves Cardoso, Helena Sanches Osório, Constança Cunha e Sá, Rita Blanco, Manuel Serrão ou Rui Zink que, todas as semanas, atribuíam o 'Prémio da Má Língua' a uma personalidade diferente - o que ocasionou mesmo um momento insólito, quando o cantor José Cid surgiu no programa para receber o seu prémio e quase causou uma altercação com os apresentadores. Um formato que, sem dúvida, será familiar a quem hoje assiste a programas como 'Irritações' ou '5 Para a Meia-Noite', mas que, à época, era relativamente inovador no contexto da televisão portuguesa, tendo mesmo ganho notoriedade suficiente para suscitar mesmo uma sátira por parte de Herman José (ele próprio, a dado ponto, convidado do programa) no seu 'Herman Zap', um dos muitos projectos em que o humorista embarcou nos anos pré-'Enciclopédia'.

Ao contrário de muitos outros programas abordados nestas páginas, 'A Noite da Má Língua' faz parte do 'radar' cultural da Geração Z, embora não no seu formato original. Isto porque, desde 2021, o referido programa vem sendo transmitido em formato de 'podcast', com os mesmos apresentadores da sua última encarnação televisiva – – Júlia, Rita Blanco, Manuel Serrão e Rui Zink. Um caso raro de 'regresso' que se soube adequar ao panorama actual e, como consequência, recuperar a relevância de que gozava aquando da exibição original, e captar o interesse de toda uma nova geração – a marca de um programa verdadeiramente 'à frente' do seu tempo...

27.02.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui anteriormente estabelecemos que grande parte dos programas de maior sucesso da televisão portuguesa eram adaptados quase literalmente de formatos estrangeiros semelhantes. Tratassem-se de concursos, programas de variedades ou auditório ou até programas infantis, havia sempre uma alta probabilidade de a sua essência ter sido 'copiada' (ou, pelo menos, ter tirado inspiração) de um programa semelhante de outro país – especialmente se a referida transmissão fosse criada ou produzida por um dos canais privados. Tendo em conta este paradigma, era apenas uma questão de tempo até que fosse feita uma tentativa de emular 'Judge Judy', o popular programa norte-americano em que a juíza titular, de personalidade frontal e até algo 'desbocada', ditava em directo sentenças sobre pequenos casos quotidianos, numa mistura de 'reality show' com reportagem em tribunal que fazia as delícias das audiências da época. No caso, a responsável por 'importar' este formato para a realidade nacional foi a SIC, cuja versão deste conceito, intitulada 'O Juiz Decide', estreava nas tardes de semana, algures há trinta anos.

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Criado e escrito por Paulo Coelho e apresentado pela jornalista Eduarda Maio, o programa colocava frente ao juiz Ricardo Velha uma série de casos corriqueiros em cada edição, que o magistrado tratava de sentenciar e resolver dentro do tempo que durava cada episódio. Um formato em tudo semelhante ao de 'Judge Judy', portanto, não fosse uma subtil mas crucial diferença – os casos de 'O Juiz Decide' eram totalmente encenados, sendo os queixosos e arguidos actores contratados (entre eles Liliana Campos, futura modelo de capa da 'Playboy' lusitana), sendo a presença de Eduarda Maio, presumivelmente, um meio de dar um toque de autenticidade e legitimidade ao que, de outro modo, pouco mais era do que uma série de ficção sobre um juiz em tribunal. Esta medida ajudava a garantir o drama e emoção que a audiência média esperava de um programa deste tipo, mas retirava-lhe a imprevisibilidade e 'factor choque' que tornavam as decisões (reais) da juíza Judy Sheindin tão atractivas para as audiências norte-americanos.

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A apresentadora e o magistrado do programa.

Apesar desta abordagem algo desonesta – à época, os espectadores não sabiam tratar-se de figurantes, e julgavam assistir a casos reais – mais tarde copiada também pela TVI para o seu 'Vidas Reais', 'O Juiz Decide' atingiu com louvor o objectivo de tornar a SIC campeã de audiências das tardes de semana, com os casos do juiz Ricardo Velha a suplantarem largamente em interesse fosse o que fosse que os outros canais tivessem para oferecer no mesmo período. De facto, o sucesso de 'O Juiz Decide' foi tal que o programa se manteve no ar durante mais de seis anos, até Junho de 2000 – uma marca mais do que honrosa, e que ultrapassa consideravelmente a longevidade média da maioria dos programas exibidos na televisão portuguesa em finais do século XX. E apesar de a sociedade actual ser bastante mais informada no tocante a 'truques' como o que constituía o cerne deste programa, é ainda assim de questionar se uma transmissão desta indole não conseguiria, ainda hoje, captar o interesse dos espectadores portugueses da era das 'boxes' e gravação e TV Cabo, como o fez com as audiências bastante menos bem-servidas e algo mais inocentes daqueles últimos anos do Segundo Milénio...

13.02.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A ideia de aprender factos, seja sobre que assunto for, raramente é apelativa para a comum das crianças, viva ela em que era viver. Isso não impede, no entanto, que a faixa adulta da sociedade procure, ainda assim, transmitir conhecimentos relativos às mais variadas áreas, seja por meios tradicionais, seja de forma menos ortodoxa – sendo que, nesta última vertente, um dos métodos mais eficazes de captar o interesse dos mais jovens é através do chamado 'edutenimento', uma categoria de programa que incorpora o aspecto didáctico numa apresentação mais puramente lúdica, com o fito de fazer o público-alvo aprender sem 'dar por isso'. São vários os exemplos mais ou menos bem-sucedidos deste tipo de programa ao longo da História, sendo que Portugal não é excepção nesse particular, bastando recordar as históricas 'Rua Sésamo' e 'Arca de Noé', ou o posterior 'Jardim da Celeste', para perceber que havia, em Portugal, engenho e arte suficientes para criar 'edutenimento' de tanta ou mais qualidade do que o que se vinha fazendo no estrangeiro.

A esta ilustre lista há, ainda, que juntar um programa transmitido pelo segundo canal da emissora estatal há cerca de trinta anos, e que, apesar de não ser explicitamente dirigido a um público jovem, terá sem dúvida contribuído para lhe dar a conhecer uma série de figuras históricas, tanto portuguesas como internacionais, de forma divertida e cativante, e pela 'mão' daquela que era, à época, uma das figuras mais afáveis e simpáticas da programação nacional: o 'Senhor Televisão' em pessoa, Carlos Cruz, ainda a alguns anos de quase ver a sua reputação destruída no processo Casa Pia.

Falamos de 'Ideias com História', o programa da RTP2 cujo conceito e apresentação se assemelhavam ao de qualquer outro espaço de entrevistas da época, com a particularidade de, neste caso, os convidados serem figuras dos mais variados períodos da História, interpretados com requinte por uma série de nomes consagrados da televisão e teatro portugueses. De personagens-chave da História de Portugal, como o Padre António Vieira, Fernão Mendes Pinto ou Bocage, a 'gigantes' internacionais como Átila, o Huno, o Imperador romano Nero, Napoleão ou a Rainha Vitória, muitos e variados foram os nomes a passar pela 'cadeira' de Carlos Cruz ao longo do tempo de vida do programa, todos dispostos a revelar (mais ou menos) factos sobre a sua vida ao simpático apresentador.

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Carlos Cruz ao comando de uma emissão do programa.

Um conceito original, bem concretizado por uma equipa e elenco talentosos, e capaz, por isso, de captar o interesse das mais variadas demografias, e de, com sorte, conseguir transmitir informações sobre as figuras em causa que perdurassem para além dos cinquenta minutos de um episódio. Razões mais que suficientes para, apesar do relativo esquecimento a que foi votado pelos Internautas nostálgicos portugueses, recordarmos aqui (ainda que brevemente) esta emissão veiculada pela 'Dois' há coisa de trinta anos, e da qual resta ainda um episódio no YouTube, com o 'convidado dos convidados', que pode ser visto (ou revisto) abaixo.

30.01.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O fenómeno da repetição de formatos televisivos não é, de todo, inédito; pelo contrário, qualquer programa que consiga alguma tracção entre a sua audiência-alvo verá, inevitavelmente, surgirem um sem-número de 'cópias' mais ou menos directas, geralmente com algum elemento diferenciador, prontas a conquistarem essa mesma demografia. Menos comum, embora também bem documentado, é o surgimento de duas transmissões quase exactamente idênticas (por vezes até criadas pelo mesmo grupo de pessoas) em dois canais rivais – e, no entanto, só o Portugal dos 90s viveu em primeira mão não um, mas dois desses casos. Do primeiro, relativo aos 'Apanhados' da RTP e ao 'Minas e Armadilhas' da SIC, já aqui aludimos; chega agora a vez de falar do outro embate directo, no caso entre a emissora estatal e a TVI, travado entre 1994 e 1996, e que teve como epicentro o programa 'A Escolha É Sua', veiculado pela estação de Queluz.

Isto porque, como o próprio nome já permite adivinhar, o referido programa derivava forte inspiração do 'Agora, Escolha', 'campeão' de audiências da RTP em início dos anos 90, e ainda hoje lembrado pelos 'X' e 'millennials' lusitanos pela sua secção central, em que a carismática Vera Roquette lia cartas e exibia desenhos de pequenos leitores, como forma de introduzir um bloco de desenhos animados quase mais popular do que a própria emissão em que se inseria. Este último elemento era, aliás, mesmo a única coisa em falta na 'cópia' directa da 'Quatro', que preferia visar um público mais declaradamente adulto; de resto, o formato do programa era em tudo idêntico, centrando-se em torno da votação em tempo real (numa linha de valor acrescentado, claro, ou não estivéssemos em meados dos 'noventa') entre dois conteúdos previamente propostos, com o mais popular a ser exibido no final do programa. A fazer as vezes de Vera Roquette estava Carmen Godinho, nome menos sonante e (presumivelmente) menos carismático do que a loira da RTP, embora tenha também chegado a apresentar, na mesma época, o 'Clube Barbie'.

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Carmen Godinho ao 'leme' do Clube Barbie.

E dizemos 'presumivelmente' porque 'A Escolha É Sua' faz parte do cada vez maior grupo dos Esquecidos Pela Net, resumindo-se a sua 'pegada' digital a um parágrafo na Wikipédia, uma entrada no IMDb, e o vídeo que acima partilhamos, de pouco mais de um minuto de duração. Assim, quaisquer impressões sobre o programa inserem-se no reino da conjectura – embora seja relativamente seguro dizer, face ao curto ciclo de vida do programa por comparação com o seu antecessor, e à falta de tentativas subsequentes de o revitalizar, que o ''Agora, Escolha' da TVI' terá dado razão ao lema da Kellogg's que diz que 'o original é sempre o melhor'. Sejam quais forem as razões para este paradigma – a pouca originalidade do conceito, a falta de desenhos animados, o valor acrescentado das chamadas, a ausência de patrocínio por parte de uma mascote empresarial, ou até o menor carisma de Godinho por comparação com Roquette – a verdade é que, três décadas volvidas, a única página alusiva a este programa da TVI acaba de ser publicada, e chega agora à sua conclusão natural; prova de que nem sempre uma cópia directa de um formato de sucesso é, por si só, garantia de bons resultados...

 

16.01.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Dos programas de que vimos falando desde o início desta rubrica, alguns tiveram ciclos de vida honrosos, outros mais breves; no entanto, à excepção dos espaços informativos e de alguns 'talk shows' e programas da manhã, é raro ver qualquer produto televisivo ultrapassar mais do que alguns anos de vida. Existe, contudo, mais uma excepção a esta regra, 'escondida' nas madrugadas de Domingo e conhecida apenas pelo sector populacional activamente interessado em emissões de cariz religioso, mas que consegue a façanha de se superiorizar, em tempo de vida, a praticamente qualquer outro programa, com excepção dos telejornais – e de o fazer em dois canais diferentes.

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Falamos da Eucaristia Dominical, nome dado, desde sempre, à transmissão ao vivo da missa de Domingo de manhã a partir de diferentes igrejas portuguesas, a qual celebra este ano exactas duas décadas desde o seu aparecimento na grelha televisiva portuguesa, afirmando-se assim como o programa mais antigo da actual grelha da TVI, e um dos mais antigos de toda a televisão portuguesa moderna.

De facto, apesar de não ser exactamente simultânea com o nascimento do quarto canal privado, a Eucaristia Dominical foi, praticamente, sinónima com as manhãs de fim-de-semana do mesmo para toda uma geração de crianças. Isto porque, para quem não tinha interesse no programa, o mesmo representava o último 'obstáculo' entre o jovem espectador e uma manhã inteira de desenhos animados, como era apanágio de qualquer dos quatro canais à época. Isto fazia com que muitos jovens de finais do século XX e inícios do seguinte (e, presume-se, ainda dos dias que correm) aguardassem com ansiedade mal disfarçada o fim da missa e do subsequente programa Oitavo Dia, para se poderem deliciar com os conteúdos especificamente a si dirigidos que se lhes seguiam.

Para quem tinha interesse efectivo no programa, havia ainda o 'bónus' acrescido de poder ouvir a missa de Domingo sem ter de se deslocar à igreja mais próxima, uma característica que a maioria dos portugueses tendia a ignorar, mas que terá, sem dúvida, feito as delícias dos mais idosos e dos cidadãos de mobilidade reduzida, para quem a deslocação devota semanal se afigurava inconveniente, desconfortável, ou mesmo impossível.

Fosse qual fosse o atractivo do programa, o certo é que haverá sempre, num País maioritariamente católico como Portugal, público para uma simples missa televisionada – como a TVI e também a estatal RTP rapidamente viriam a descobrir. Alie-se este facto aos reduzidos custos de produção e facilidade de realização de uma emissão deste tipo, e está explicado o porquê de, aos vinte anos, 'Eucaristia Dominical' estar ao mesmo nível de um Telejornal ou da 'Praça da Alegria' no panteão de programas perenes e imorredouros da televisão portuguesa.

02.01.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

De todas as personalidades televisivas portuguesas, Herman José talvez tenha sido a que mais 'peles' encarnou ao longo das suas já cinco décadas de carreira. De humorista de 'vanguarda', o luso-alemão passou, em inícios da década de 90, a ícone dos concursos e entretenimento, ao mesmo tempo que, à margem destas duas facetas, continuava a cultivar uma terceira, que se lhes sobrepunha: a de 'cara' oficial das passagens de ano portuguesas.

De facto mesmo após as 'novatas' SIC e TVI terem tentado introduzir alternativas próprias para ter no ecrã aquando das doze badaladas, continuava a ser com Herman que os portugueses preferiam passar a meia-noite, fosse num formato mais típico - como as edições de fim-de-ano dos seus programas regulares - fosse através da vertente favorita do artista, ou seja, o humor puro e duro. Foi, aliás, neste último registo que o luso-alemão criou dois dos mais memoráveis especiais de fim-de-ano de sempre da TV portuguesa: 'Hermanias', em 1991/92, e, no ano anterior, o não menos memorável (bem como pioneiro) 'Crime Na Pensão Estrelinha'.

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Concebido como paródia directa dos programas de detectives que continuam, até hoje, a fazer sucesso (ainda que seguindo os moldes vigentes na altura, estabelecidos por séries como 'Poirot'), o especial de duas horas e meia proposto pela RTP como acompanhamento do 'reveillon' de 1990/91 excedeu todas as expectativas, mantendo 'colada' ao ecrã uma parcela significativa da audiência televisiva portuguesa, e fazendo História no contexto dos especiais de fim-de-ano. Com o próprio Herman no papel de um óbvio 'boneco' de Hercule Poirot, o programa alternava a trama de mistério com 'sketches' humorísticos, bem ao estilo do que o seu criador fizera em 'O Tal Canal', na década transacta, e voltaria a fazer em 'Hermanias' e, mais tarde, 'Herman Enciclopédia'. O resultado foi uma emissão que, apesar do carácter híbrido e algo invulgar, resultou em cheio, tornando Herman na 'estrela' das passagens de ano' noventistas e criando, involuntariamente, o molde para o não menos mítico programa de 'reveillon' do ano seguinte.

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Herman como Hércules Pirô, detective e personagem principal do especial.

Infelizmente, as passagens de ano subsequentes investiriam em formatos bem mais clássicos e menos inovadores - não obstante o sucesso de que haviam gozado esta 'Pensão Estrelinha' e as 'Hermanias' de 91 - facto que, aliado à ligeira alteração de carreira de Herman, significaria que o humorista raramente voltaria a ter ensejo de explorar a sua veia puramente cómica no contexto dos programas de 'reveillon' da década de 90. Ainda assim, o humorista luso-alemão tirou o máximo proveito das oportunidades que teve, criando dois absolutos clássicos das passagens de ano das gerações 'X' e 'millennial', ainda hoje eminentemente 'visíveis' e lembrados por todos os que, naqueles idos de 90, se deixaram embrenhar, juntamente com o detective Hércules Pirô, no mistério de quem havia assassinado o dono da Pensão Estrelinha...

05.12.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Numa edição passada desta rubrica, abordámos o programa 'Apanhados', elaborado por Joaquim Letria e transmitido pela RTP em inícios dos anos 90, concretamente até 1993. Nesse post, mencionámos que o mesmo havia constituído a última tentativa de criar uma emissão deste tipo em Portugal – uma afirmação errónea, dado ter havido pelo menos mais um programa inteiramente criado em território nacional a explorar este conceito. É dessa emissão, criada no mesmo ano em que 'Apanhados' saiu do ar (há exactas três décadas) que falaremos esta Terça-feira.

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(Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

Elaborado e produzido por Manolo Bello, o 'parceiro invisível' de Joaquim Letria em 'Apanhados', e transmitido na então ainda única 'rival' privada da RTP, a SIC, 'Minas e Armadilhas' afirmava-se quase que como uma tentativa de expandir o conceito desse programa, aproximando-o mais do formato de programa de variedades clássico. De facto, embora as tradicionais 'partidas' a transeuntes insuspeitos continuassem a representar o 'cerne do programa apresentado por Júlio César, havia também espaço, ao longo dos seus cinquenta minutos de duração, para números musicais (normalmente a cargo de conjuntos de cariz tradicional, como tunas académicas e ranchos folclóricos) mini-concursos de memória com prémios em dinheiro, e, claro, bem-humoradas interacções entre o anfitrião fixo e os convidados de cada semana, os quais iam de 'drag queens' como Belle Dominique a desportistas profissionais, como a patinadora Andreia Teixeira, e até a apresentadora de programas eróticos (e antiga Miss França!) Marléne Morreau, numa mostra de ecletismo que apenas adicionava ao cariz algo anárquico e contra-cultura do programa.

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O apresentador Júlio César com uma das anfitriãs convidadas. (Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

Estas pequenas mas significativas 'expansões' ao clássico formato de 'Apanhados' resultaram, aliás, em cheio, tendo 'Minas e Armadilhas' sido um dos baluartes da programação da SIC ao longo dos três anos seguintes, vindo a sair do ar apenas em 1996, quando a índole das grelhas televisivas nacionais se começava a alterar, e programas do seu tipo a perder espaço; ainda assim, há que dar ao programa as suas 'flores', e que lhe outorgar o seu estatuto como a verdadeira última tentativa de fazer um programa de 'apanhados' em Portugal – bem como, de longe, a mais bem-sucedida. Quem quiser saber porquê, basta reservar a próxima hora e ver o episódio completo que deixamos abaixo...

14.11.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Qualquer português nascido ou crescido nos anos 90, independentemente do seu interesse em videojogos, reconhece o 'Templo dos Jogos' da SIC como um dos mais bem-sucedidos e icónicos programas televisivos daquela década. Numa altura em que a Internet dava ainda os primeiros passos, o conceito de um programa onde eram mostradas, em exclusivo, imagens dos jogos de computador e consola mais 'badalados', em conjunto com algumas informações sobre os mesmos, era genial na sua combinação de simplicidade e utilidade, servindo o programa, essencialmente, como um Telejornal de videojogos, em que os apresentadores acabavam por servir como pouco mais do que 'pivots', deixando a verdadeira 'ribalta' para aquilo que todos queriam ver – as imagens dos jogos em si.

Tendo em conta este sucesso, não é de estranhar que uma das concorrentes da estação de Carnaxide – no caso, a RTP – tenha querido copiar a fórmula que tanto sucesso de audiências fazia na 'colega' privada; no entanto, talvez motivada pelo desejo de apresentar algo único e que não parecesse um 'xerox' tão descarado, a emissora estatal adicionou ao seu programa algumas 'nuances' que, embora bem-sucedidas em o tornar diferente, contribuíram também para o tornar menos interessante. No fundo, a RTP não percebeu o que estava, verdadeiramente, por detrás do sucesso do 'Templo', e viu a sua própria tentativa falhar como consequência do seu 'erro de cálculo'.

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Patrocinado (e de forma nada subtil) pela SEGA, 'Cybermaster' tinha como premissa combinar o formato do 'Templo' da SIC com uma vertente competitiva, de concurso infantil televisivo, adornando o todo com uma estética 'cyberpunk', bem típica dos filmes de ficção científica de série B que os jovens da altura traziam todos os fins-de-semana do seu videoclube local. Os apresentadores, assistente e o próprio cenário exibiam figurinos algures entre 'O Quinto Elemento' (então ainda em produção) e 'Mad Max', e o próprio conceito do concurso colocava os jovens concorrentes em luta directa, não só entre si, mas com o malvado personagem-título, interpretado pelo actor João D'Ávila com um visual 'à la' Bela Lugosi – uma missão que envolvia, sobretudo, disputas mano-a-mano em alguns dos jogos da SEGA mais populares da altura, incluindo vários da então ainda recente Sega Saturn, azarada pioneira das consolas 32-bits.

Uma fórmula interessante, mas que não foi suficiente para garantir a longevidade do programa, que acabou por ficar no ar durante apenas um ano, entre 1996 e 1997, e é, hoje em dia, bem menos lembrado do que o 'Templo' - algo que não deixa de causar alguma estranheza, já que o formato era sólido, e tinha tudo para atrair a atenção do público-alvo. Talvez tenha sido pela necessidade de complicar em demasia um conceito simples, ou talvez pelo falhanço de vendas da Sega Saturn, que, à época, vinha já sendo pesadamente derrotada em volume pela rival PlayStation; seja qual tiver sido a razão, a verdade é que 'Cybermaster' é, hoje, uma daquelas relíquias 'de época' algo perdidas no tempo, capaz de causar nostalgia a uma parcela da geração 'millennial' portuguesa, mas que, para a maioria dos ex-'putos' noventistas, apenas causará estranheza, e uma sensação de 'como é que eu nunca vi isto?' Para esses, ficam abaixo não apenas um, mas dois episódios completos do programa, para que possam preencher essa lacuna na cultura 'pop' juvenil portuguesa de finais do século XX.

Pode parecer um delírio da imaginação, mas não é - este programa existiu mesmo...

31.10.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O sensacionalismo vende. Esta é uma máxima pela qual qualquer profissional de marketing, publicidade ou entretenimento se rege, e que foi adoptada e 'tomada a peito' por ambas as televisões privadas portuguesas a dado ponto da década de 90; e se, no caso da TVI, essa abordagem só se viria a verificar já nos últimos anos do século XX, a pioneira SIC 'abraçou-a' logo à partida, e fez dela um dos seus principais factores distintivos em relação à mais sóbria RTP. De facto, as primeiras grelhas do canal de Carnaxide continham, desde logo, uma série de programas destinados a apelar ao português médio – não o citadino, mas sim o habitante de meios mais suburbanos ou rurais, que fazia da televisão o seu principal veículo de escapismo, ao mesmo tempo que nela procurava conteúdos que fossem de encontro aos seus interesse; a SIC soube colocar-se precisamente nessa intersecção, e programas como o Buereré e Big Show SIC destacavam-se pela estética e ritmo deliberadamente exagerados, e raramente vistos em programas da RTP.

Paralelamente a este tipo de conteúdos, no entanto, havia uma série de outros que, apesar de aparentemente mais sérios, acabavam também por apelar aos instintos mais básicos do ser humano, nomeadamente a necessidade de experienciar a miséria alheia, um dos principais catalistas de programas como 'Ponto de Encontro', 'O Juiz Decide', ou a emissão de que falamos neste post, e sobre cuja estreia se celebraram este mês exactos trinta anos.

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Tratava-se de 'Casos de Polícia', um suposto magazine noticioso cuja ênfase, como o próprio nome indicava, estava no elemento criminal, nomeadamente o residente em zonas periféricas ou de habitação social. E se o objectivo declarado do programa era dar a conhecer casos de interesse humano e diferentes realidades sociais existentes no País, a verdade é que tudo acabava por descambar para uma espécie de versão portuguesa do programa americano 'Cops', em que o grande interesse estava mesmo no 'sururu' e nas confrontações entre agentes da autoridade e meliantes – ou, à falta dos mesmos, na vida trágica e carenciada dos focados. O elemento informativo era, no entanto, recuperado pelos comentários do bem conhecido Francisco Moita Flores, que, em parceria com João Nabais, oferecia a típica visão mais avisada sobre cada um dos casos apresentados.

O resultado era um híbrido de Telejornal e programa sensacionalista (um pouco á semelhança do actual 'Rua Segura', da TVI) que, apesar de não ser especificamente dirigido a jovens, acabava por fazer parte daquele lote de programas que os mesmos consumiam através dos adultos do seu agregado familiar, acabando por formar parte da sua memória nostálgica. E ainda que esta emissão não tenha tido o mesmo impacto sobre a geração 'millennial' de alguns dos outros acima mencionados, vale ainda assim bem a pena recordá-la neste último dia do mês em que celebra o seu trigésimo aniversário.

Excerto e 'spot' publicitário do programa.

17.10.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

As décadas de 80 e 90 foram palco de um estranho sub-género de concurso televisivo, em que as provas eram mais focadas na habilidade física do que intelectual, consistindo muitas vezes de corridas de obstáculos ou confrontos de cariz quasi-desportivo, cujo mais famoso exemplo são os icónicos 'Jogos Sem Fronteiras'. Já aqui falámos, numa ocasião anterior, de um desses programas, o mítico 'Jogo do Ganso', produzido em Espanha e transmitido pela TVI, e, em tempo, aqui falaremos dos referidos 'Jogos' e da variante japonesa, 'Takeshi's Castle', conhecido em Portugal pelo insólito título de 'Nunca Digas Banzai'; esta semana, no entanto, a nossa atenção recairá sobre a versão americana deste tipo de programa, que cativou a atenção dos jovens portugueses aquando da sua transmissão na SIC, há exactos trinta anos.

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No ar nos seus EUA natais desde finais da década anterior, 'Gladiadores Americanos' tinha, já, o seu formato (um cruzamento entre o conceito dos supramencionados 'Jogos Sem Fronteiras' e a estética da luta-livre americana) mais do que bem definido quando, em 1993, atravessou o Atlântico para apresentar aos jovens lusitanos os 'guerreiros' titulares – todos musculados, com fatos de 'lycra' justos e nomes como Blade e Hawk, bem ao estilo do que faziam a WWF e WCW – e as mirabolantes provas a que os mesmos submetiam os concorrentes, algumas das quais (como a da 'justa' sobre plataformas oscilantes) chegaram a entrar no imaginário da cultura pop norte-americana.

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A prova mais célebre do programa

E apesar de o programa não ter tido, em Portugal, o mesmo sucesso de que gozava no seu país natal (onde teve direito a seis temporadas, além de um breve retorno em 2008) o mesmo não deixou, ainda assim, de marcar época na TV portuguesa, muito graças ao comentário do icónico, inigualável e inconfundível Jorge Perestrelo – o qual, como Tarzan Taborda no programa da WWF  transmitido pela RTP na mesma época, ajudava a dar um colorido especial à emissão, com o seu entusiasmo e expressões características.

Mesmo sem este 'bónus' acrescido da locução de Perestrelo, no entanto, 'Gladiadores Americanos' era tudo o que um jovem da altura poderia querer de um programa deste tipo, com provas frenéticas e fisicamente intensas, e personagens que simbolizavam o ideal de perfeição da época, e que ajudavam a disfarçar o facto de o próprio conceito do programa ser injusto; afinal, toda a competição se centrava em torno de disputas físicas entre jovens perfeitamente normais e atletas profissionais com físicos 'de ginásio', e a quem havia sido dito que não refreassem os seus esforços! Ainda assim, acabava sempre por haver quem se conseguisse superiorizar aos 'empregados' do programa, e almejar a tão cobiçada vitória final, num daqueles desfechos de 'David Contra Golias' que nunca deixam de ser satisfatórios.

Apesar desta junção de factores bem apelativos, no entanto, 'Gladiadores Americanos' nunca foi tão bem-sucedido que justificasse a produção de uma versão portuguesa, como havia já acontecido em outros países; no entanto, quem chegou a acompanhar aquela transmissão dobrada e adaptada dos primórdios da SIC certamente guardará, ainda hoje, a memória daqueles homens e mulheres musculosos a lutar com paus de borracha sobre uma plataforma oscilante, ao som da voz característica de Jorge Perestrelo...

Publicidade ao programa exibida na SIC à época da transmissão do mesmo.

 

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