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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

13.05.25

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

No nosso último 'post', falámos do tema que General D, um dos pioneiros do 'rap' e 'hip-hop' em Portugal, havia contribuído para a banda-sonora de 'Até Amanhã, Mário', um dos filmes portugueses com maior projecção da década de 90. Nada mais justo, portanto, do que falar agora do programa de televisão que permitiu a D ser considerado para tal projecto, mediante o encontro com o produtor e compositor Tiago Lopes, com quem colaborou na faixa em causa.

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Um dos vários trios de jovens apresentadores do magazine.

Estreado logo nos primeiros meses da nova década, 'Lentes de Contacto' partia do formato muito típico dos 'magazines' juvenis da altura, como 'Caderno Diário', e adicionava-lhe um elemento de interacção humana, através da presença de entrevistados e convidados musicais, num resultado final que antecipava a fórmula do icónico 'Curto Circuito' em quase uma década. De facto, tal como o programa-estandarte da SIC Radical (e, antes, do CNL), 'Lentes de Contacto' misturava as referidas entrevistas e actuações com debates e peças informativas sobre temas de interesse directo para o público-alvo, mediadas por trios rotativos de jovens apresentadores cuja presença e forma de comunicar garantiam a tão desejada conexão com o público-alvo, exactamente como no posterior programa da TV Cabo.

Comparativamente ao 'CC', no entanto – e a outros programas semelhantes, como o 'Muita Lôco' – 'Lentes de Contacto' é relativamente Esquecido Pela Net, vindo as principais referências ao magazine do próprio 'site' da RTP. Ainda assim, e apesar de pouco falado entre os membros da Geração X portuguesa (principal demografia-alvo do programa, sendo os 'millennials' algo novos para se interessarem pelo formato) não há razão para duvidar que pelo menos alguns desses mesmos rapazes e raparigas (hoje homens e mulheres na casa dos quarenta a sessenta anos) tenham sintonizado a RTP a cada nova transmissão do programa, para acompanharem o debate daquele dia ou simplesmente apreciarem as actuações do convidado musical do dia – entre os quais, como referimos, se contou em tempos General D, a principal (mas não única) razão para recordamos este magazine nas páginas do Anos 90...

01.04.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Segunda-feira, 30 de Março de 2024.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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A chegada a Portugal da TV Cabo abriu novos horizontes aos quais o português médio não estava, de todo, habituado. Mesmo quem tinha televisão por satélite gozava de pouco mais do que alguns canais adicionais (e nem sempre com transmissão clara) enquanto que o novo serviço punha à disposição dos seus assinantes centenas de canais de uma só vez, todos (ou quase) com transmissão perfeita, e dentro dos mais diversos 'nichos' especializados. Para os espectadores mais jovens, em particular, isto representava uma amplitude consideravelmente maior no tocante a canais desportivos, de desenhos animados e, claro, de música, um dos mais perenes e intemporais interesses de qualquer criança ou adolescente.

E se os 'millennials' lusitanos haviam, até então, tido de se contentar apenas com o icónico 'Top +', a TV Cabo veio trazer-lhes a possibilidade de sintonizar canais de que, até então, apenas se ouvia falar em filmes ou programas de televisão estrangeiros, como a MTV e o VH1. De súbito, aquela parca 'horinha' semanal de 'videoclips' e êxitos de tabela transformava-se numa emissão praticamente perpétua, composta não só pelos vídeos 'da moda' como também por entrevistas a músicos e bandas, galas (como os icónicos MTV Video Music Awards, que mantiveram acordados pela noite dentro muitos jovens da época) notícias do foro musical, programas de curiosidades (como o 'Pop-Up Video' do VH1) documentários biográficos (como o lendário 'Behind The Music', do mesmo canal) e até conteúdos apenas tangencialmente ligados ao Mundo da música, os quais viriam, eventualmente, a 'tomar de assalto' a MTV, e a escorraçar os vídeos musicais pela qual a mesma se tornara conhecida.

Tal situação ainda estava, no entanto, a alguns anos de distância, pelo que os 'millennials' portugueses puderam, ainda, viver o 'auge' dos dois canais, a par da 'alternativa' nacional Sol Música (que já aqui teve o seu espaço) e do canal alemão VIVA, que permitia conhecer algumas das 'bizarrias' que iam fazendo sucesso na Europa Central. Um 'cardápio' com algo para todos os gostos, que não podia deixar de satisfazer os melómanos inveterados – mesmo faltando nele alguns 'ingredientes-chave', como o 'Headbangers' Ball', o programa de hard rock e heavy metal da MTV norte-americana, mas que não fazia parte da grelha da inglesa.

E se as constantes reestruturações de canais da TV Cabo vieram relegar estes canais de música para longe dos lugares de destaque que então ocupavam, a verdade é que pelo menos um – a MTV – 'resiste ainda e sempre ao invasor', qual Astérix dos canais musicais. Infelizmente, mesmo esse canal se encontra, hoje, muito desvirtuado, e quase irreconhecível para quem o conheceu nos anos 90 e 2000, quando – ao lado dos 'irmãos' nacionais e estrangeiros – constituiu um dos principais atractivos para se tornar assinante do novo e revolucionário serviço de televisão por cabo, e fez a alegria de milhares de jovens de Norte a Sul do País com as suas novidades áudio-visuais e culturais.

18.03.25

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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Um dos fenómenos sociais mais pervasivos das últimas cinco décadas em Portugal – sensivelmente desde a globalização dos televisores caseiros – vem sendo a miscigenação da cultura portuguesa com a brasileira, não só através da imigração, como também da importação de produtos mediáticos daquele País. E se, hoje em dia, esse cruzamento se limita às eternas telenovelas, a um ou outro canal da TV Cabo e às revistas da Turma da Mônica, há trinta anos, o panorama de propriedades intelectuais brasileiras presentes em Portugal era bem mais vasto, com as referidas telenovelas e as bandas desenhadas da Abril e Globo à cabeça. E terá sido, precisamente, através das referidas bandas desenhadas que uma larga parcela da população nacional terá tido o primeiro contacto com um dos mais famosos produtos mediáticos saídos do país-irmão – a 'troupe' de comediantes conhecida como Os Trapalhões.

E se a referida BD da Globo tinha como foco versões infantis do quarteto, não tardaria também a que as crianças e jovens daquela época ficassem a conhecer os 'verdadeiros' Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, quando – há quase exactos trinta e um anos, em Março de 1994 – o seu programa, lendário no Brasil, chegou finalmente aos televisores nacionais, pela mão da SIC. E a verdade é que, previsivelmente, a inspirada colecção de 'sketches' cómicos de índole 'pastelona' (com alguns dichotes brejeiros à mistura) não tardou a conquistar o público-alvo, sempre aberto a tentativas de humor deste tipo – sobretudo quando se afirmavam como bem acima da média, como era o caso. Sem nunca se terem tornado um 'caso de estudo' de popularidade, como o eram no seu país natal, Os Trapalhões encontravam, assim, em Portugal uma audiência suficientemente devota e fiel para justificar a 'aventura' inédita que o quarteto encetaria logo no ano seguinte, e sobre cuja estreia se comemoram por estes dias exactas três décadas.

Falamos de 'Os Trapalhões em Portugal', a produção nacional (da própria SIC) que procurava recuperar o formato de sucesso do programa original, ao mesmo tempo que o ambientava por terras lusitanas, com os Trapalhões ainda restantes – Didi e Dedé – a contracenarem com coadjuvantes com sotaque português, em cenas típicas da vida quotidiana nacional. Uma ideia que poderia ter resultado – e que, sob algumas métricas, resultou mesmo, já que o programa fez tanto sucesso quanto o seu antecessor – mas que perdia consideravelmente pela ausência da 'outra metade' do grupo, a saber, os malogrados Mussum e Zacarias, que muitos consideravam serem as principais fontes da comédia do grupo. Com apenas Didi como verdadeiro Trapalhão (Dedé sempre desempenhou o papel de elemento mais sério do grupo) e com a presença de actores portugueses a ressalvar a diferença de abordagem e desempenho em relação aos brasileiros, o resultado era um produto algo menos fluido, e mais 'bem-comportado', do que o hilariante original da Globo.

Ainda assim, conforme referimos acima, 'Trapalhões em Portugal' chegou a fazer sucesso entre a juventude lusitana da época, e será ainda recordado por parte dela como um dos elementos nostálgicos da sua infância ou adolescência, merecendo assim destaque nestas nossas páginas no mês em que se completam trinta anos sobre a sua primeira emissão.

05.03.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 03 de Março de 2025.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Quando se fala em desfiles de Carnaval, restam poucas dúvidas de que o mais famoso é o do Rio de Janeiro, que atrai multidões a cada ano, desejosas de ver o espectáculo de luz, cor, música, brilhantes e dançarinas em trajes sugestivos. No entanto, esse está longe de ser o único evento histórico ligado à festa em causa, sendo que Portugal tem, inclusivamente, a sua própria alternativa ao mesmo, ainda que bastante mais modesta: o Carnaval de Sines, que coloca, anualmente, a localidade algarvia no 'mapa' em finais de Fevereiro e inícios de Março. Mas se, na esmagadora maioria das ocasiões, esta festa tem um âmbito puramente local, há pouco mais de três décadas a mesma chegou a gozar os seus 'quinze minutos de fama' a nível nacional, quando foi escolhida como alvo da emissão da RTP para a programação de Carnaval.

De facto, numa iniciativa que jamais se viria a repetir, não só a emissora estatal transmitiu as festividades ligadas ao evento, como também enviou para o terreno as equipas de apresentadores não de um, mas de dois programas da manhã, o 'Viva A Manhã' e a recém-inaugurada 'Praça da Alegria' (ambos os quais também terão aqui o seu espaço). A festa pôde, assim, gozar, naquele fim-de-semana, de uma exposição mediática muito acima do comum, a qual terá, certamente, ajudado a divulgar o evento a uma população mais vasta, numa época em que a Internet estava, ainda, longe de se globalizar. Razão mais que suficiente para recordarmos a referida cobertura, da qual deixamos abaixo diversos excertos, para quem quiser ficar a par da referida emissão, ou apenas recordar e 'matar saudades' da mesma.

  

19.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2025.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui anteriormente falámos dos programas de 'Apanhados' como um dos formatos de maior sucesso no panorama televisivo nacional de finais do século XX. Fosse em situações cuidadosamente 'criadas' por comediantes 'à paisana', fosse no mais orgânico e natural estilo de 'vídeo caseiro', o público telespectador nacional parecia não se cansar de presenciar a vergonha alheia, e de rir das situações mais ou menos embaraçosas em que pessoas como eles se encontravam frente a câmaras de televisão. Assim, não é de estranhar que, nos últimos meses do século XX e do Segundo Milénio, a RTP tenha querido, mais uma vez, capitalizar no formato que tantas alegrias lhe trouxera em anos anteriores, através de um programa que aliava a tradicional e bem-sucedida fórmula dos 'Apanhados' a um apresentador carismático e capaz, por si só, de cativar potenciais interessados a sintonizarem a emissão em causa.

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Surgem assim, algures em 1999, os 'Cromos de Portugal', programas de cerca de uma hora em que Guilherme Leite – à época bastante em alta – servia de 'anfitrião' a três rábulas de 'apanhados', nos moldes já bem conhecidos da audiência-alvo, e expectáveis em programas deste tipo. O sucesso, esse, foi também o expectável, partindo o programa para um ciclo de vida de respeitáveis dois anos - um de cada 'lado' da viragem do Milénio - que provavam que o público português continuava a nutrir apetência por este formato, sempre que o mesmo fosse apresentado de forma apelativa e bem executada. Mesmo não tendo tido o sucesso dos seus antecessores (exibidos quando o formato era, ainda, relativamente novo e original) nem sendo o 'expoente máximo' do género em causa, 'Cromos de Portugal' merece ainda assim, portanto, destaque nestas páginas, como mais um exemplo de que a repetição de uma fórmula de sucesso nem sempre é sinónimo de 'fadiga' por parte da audiência-alvo. E quem quiser comprovar por si mesmo pode fazê-lo no bom e velho YouTube, onde um utilizador fez o 'favor' de adicionar toda a primeira temporada do programa numa só 'playlist', perfeita para uma sessão de 'visionamento compulsivo' daquelas que estão tão na moda hoje em dia...

04.02.25

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui anteriormente nos referimos aos anos 90 como a 'era de ouro' dos concursos televisivos em Portugal, com um cada vez maior número de programas deste género a fazer 'concorrência' aos velhos sobreviventes de décadas transactas; e a verdade é que, destes, uma parcela significativa era directa e explicitamente dirigida a um público infanto-juvenil, procurando explorar a apetência por actividades competitivas típica daquela demografia. E se este novo 'nicho' apenas deu azo a um verdadeiro clássico intemporal – a lendária 'Arca de Noé' – não é menos verdade que, em redor desse ícone da televisão nacional noventista se perfilavam uma série de outros programas que, apesar de menos memoráveis, não deixaram ainda assim de proporcionar suficientes bons momentos ao seu público-alvo para merecerem uma menção nestas nossas páginas. É o caso do programa que recordamos esta Terça-feira, o qual comemora este mês os exactos trinta anos sobre a sua estreia, em Fevereiro de 1995.

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Produzido pela portuense Miragem e exibido pela RTP, 'Gugu Dadá' tinha, em relação aos seus congéneres, a particularidade de se destinar a um público (ainda) mais novo – como, aliás, era dado a entender não só pelo título como também pelo logotipo criado a partir de cubos; de facto, enquanto a maioria dos concursos infantis da época eram dirigidos a crianças em idade de instrução primária ou preparatória, 'Gugu Dadá' era, literalmente, um programa para bebés. Isto porque o conceito central do concurso postulava que nenhum dos concorrentes infantis poderia ter mais de quatro anos, fazendo com que os participantes fossem, invariavelmente, crianças muito pequenas, ainda em idade de desenvolvimento cognitivo, psicomotor, pessoal e social.

E porque não se poderia pedir a bebés nesta etapa do crescimento que respondessem a perguntas ou cumprissem o tipo de prova habitual nestes concursos, o regulamento do programa previa também a presença de um adulto em cada uma das 'equipas', cuja função era guiar a criança através dos requisitos da competição – uma oportunidade 'de ouro' para criar laços com os filhos ou familiares, embora haja lugar a questões sobre se um programa transmitido a nível nacional será o melhor local para esse tipo de experiência partilhada e de entrosamento. Felizmente, no final, todos ganhavam, levando para casa um certificado de participação e um saco de brinquedos da Tomy (marca infantil então em alta) incluindo um expressamente escolhido pela própria criança, proporcionando-lhe assim uma experiência tão divertida como gratificante, e colocando o ênfase na diversão e brincadeira, por oposição à competição – apesar de, novamente, haver razões para ponderar quanto ao efeito do ambiente de um estúdio de televisão no humor e saúde mental de crianças tão pequenas.

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O apresentador José Jorge Duarte. (Crédito das fotos: Desenhos Animados Anos 90)

Talvez por essas e outras questões éticas o programa apresentado pelo sempre carismático José Jorge Duarte (à época figura inescapável do panorama televisivo nacional, por conta do sucesso d''A Hora do Lecas' e de outro concurso infantil de relativo sucesso, 'Tal Pai, Tal Filho') apenas tenha logrado chegar às duas dezenas e meia de episódios, após os quais caiu no relativo esquecimento até o advento da Internet o vir 'resgatar' da obscuridade. E é nesse sentido que o Anos 90 procura, também, deixar a sua contribuição para o 'arquivo' de fontes sobre este concurso que, apesar de hoje algo obscuro, apresenta interesse suficiente para, à distância de quase exactos trinta anos, merecer ainda algumas linhas a si alusivas.

21.01.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao chegar finalmente a Portugal, em meados da década de 90, a TV Cabo trouxe consigo uma gama de canais suficientemente vasta para deixar estarrecido qualquer espectador que apenas recentemente vira o seu espectro de escolha duplicar de dois para quatro canais abertos e generalistas. E se a maioria das novas adições à grelha eram importadas directamente do estrangeiro, sem alterações (como nos casos dos canais generalistas de outros países, ou de canais temáticos como o Cartoon Network, TCM, VH1 ou MTV, que surgiam nas suas versões Britânicas) outros tantos eram alvo de adaptações para a realidade nacional (como os canais de documentários ou o Eurosport, que surgia com comentários de jornalistas nacionais) e outros ainda eram de 'fabrico próprio', senão em Portugal, pelo menos na Península Ibérica. Entre estes últimos contavam-se canais tão icónicos como o Viver/Vivir (e o seu 'colega de casa' menos casto, o famoso 'canal 18') os ainda hoje existentes Canal Hollywood, Sport TV e Canal Panda (do qual aqui paulatinamente falaremos) ou a estação que abordamos neste artigo, e que marcou época entre os jovens melómanos ibéricos da geração 'millennial': o saudoso Sol Música.

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Inicialmente com transmissão simultânea em Portugal e Espanha, o Sol Música iniciou as emissões em 1997, desde logo com uma proposta diferenciada: a de servir como alternativa ibérica aos canais de música internacionais, MTV e VH1, da mesma forma que o VIVA vinha fazendo em França – um desiderato atingido, sobretudo, com a inclusão de uma percentagem significativa de artistas portugueses ou espanhóis na sua rotação de vídeos. Assim, sem nunca descurar os sucessos internacionais 'da moda', o canal musical ibérico aproveitava, simultaneamente, para dar a conhecer à sua demografia-alvo bandas e cantores que, de outra forma, poderiam não ter gozado de tal nível de exposição, fomentando assim a cena musical dos dois países da Península.

Também por oposição à MTV e VH1, o Sol deixava a música falar (ou antes, tocar) mais alto, descartando a presença de apresentadores nos seus vários blocos musicais, e maximizando assim o tempo de transmissão de cada um deles, sem que se perdessem preciosos minutos com tentativas de entretenimento. Tal não significava, no entanto, que o canal não transmitisse notícias e reportagens sobre os principais acontecimentos da cena musical, apenas que essas emissões eram feitas de forma mais directa e assumida, e menos 'intermediada' – um risco que, apesar de tornar o canal menos apelativo para quem gostava dos 'video-jockeys' dos canais internacionais ou de programas como o 'Top +', o fazia também paragem de eleição para quem apenas queria 'ouver' videoclipes dos seus artistas e géneros musicais favoritos. Para estes, as noites de Sábado eram também um 'prato cheio', já que o canal dedicava este período a blocos de vídeos alusivos a apenas um artista ou banda, os quais podiam chegar a ser transmitidos durante várias horas.

Escusado será dizer que o sucesso do Sol Música foi quase imediato, tendo o mesmo granjeado suficientes audiências para justificar uma divisão 'regional', com o canal a dividir-se em dois (um para cada um dos países da Península Ibérica) há pouco mais de vinte e cinco anos, nas últimas semanas do século XX e do Segundo Milénio. Tal permitia aumentar ainda mais o volume de artistas nacionais integrados na programação de cada um dos canais, ajudando efectivamente a melhorar a proposta de valor inicial do canal, e a divulgar um maior número de bandas e artistas da cena musical de cada nação.

Apesar das aparentes vantagens desta divisão, no entanto, a mesma viria mesmo a representar o 'início do fim' das emissões do Sol Música em Portugal. De facto, apesar do continuado sucesso de que o canal ainda vem gozando no país vizinho, a vertente portuguesa do mesmo apenas duraria até 2005, altura em que as mudanças de paradigma a nível do consumo tanto de música como de televisão (e subsequente redução dos volumes de audiências) ditaram a substituição do Sol Música pelo Biography Channel – um daqueles canais 'para encher chouriços' da actual grelha da TV Cabo, cujo volume de audiências dificilmente ultrapassará o do seu antecessor. Talvez mais significativamente, esta alteração vinha acabar com uma 'era' da TV Cabo, e remeter ao domínio da memória nostálgica um canal com uma proposta verdadeiramente inovadora (e plenamente atingida), que terá ajudado a apresentar a grande parte da juventude 'millennial' portuguesa alguns dos seus artistas musicais favoritos (quer através dos videoclips, quer da compilação em CD que lograria lançar já nos primeiros meses do Novo Milénio), e que, vinte anos após a sua extinção e um quarto de século após a 'divisão' em dois, continua a representar um 'buraco' ainda por preencher na grelha a cabo nacional.

31.12.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao longo da década de 90, Herman José logrou tornar-se quase sinónimo com a programação de 'revéillon' portuguesa, mediante dois dos mais icónicos especiais de Ano Novo da televisão nacional - 'Crime Na Pensão Estrelinha', transmitido na passagem do ano de 1990 para 1991 e que fez História na RTP, e 'Hermanias Especial de Fim de Ano', emitido exactamente um ano depois, e mais centrado no formato de 'sketch' que, mais tarde, viria a encontrar grande sucesso como base da 'Herman Enciclopédia'. Estes dois baluartes da programação de 31 de Dezembro, em conjunção com a forte e continuada presença de Herman nos ecrãs nacionais (em programas como 'Roda da Sorte', 'Com A Verdade M'Enganas', 'Parabéns' ou 'Herman 98', além da própria 'Enciclopédia') fizeram com que o hiato de quase uma década do apresentador da grelha televisiva da Passagem de Ano mal se fizesse notar, parecendo Herman nunca ter deixado de acompanhar os Portugueses nessa efeméride. E no entanto, como se diz, 'tudo o que é bom chega ao fim', e essa confortável e familiar relação viria mesmo a terminar, há exactos vinte e cinco anos, por ocasião da histórica viragem simultânea do ano, século e Milénio.

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Seria, de facto, a 31 de Dezembro de 1999 que, sem o saberem, os telespectadores da RTP se despediriam do seu anfitrião de Ano Novo 'de sempre', o qual transitaria semanas depois para a 'concorrência' privada, nomeadamente para a SIC, onde chegaria a continuar a tradição mais alguns anos. Esse facto ajudou a dar ainda mais uma camada de significado a um título já pleno delas, fazendo com que aquela fosse 'A Última Noite' tanto do ano de 1999, do século XX e do Segundo Milénio como de Herman José na RTP. E a verdade é que o humorista não fez por menos, reunindo a sua habitual 'troupe' de amigos e conhecidos (bem como de alguns dos seus mais famosos 'bonecos') para ajudar os Portugueses a entrar no ano 2000 com boa disposição. A contar a História do Milénio que ora findava estavam, pois, Diácono Remédios, o famoso provedor da 'Herman Enciclopédia', e a não menos icónica Super Tia, que recebiam a visita tanto de figuras históricas do Milénio como de artistas musicais, a saber o maestro Pedro Duarte, Quim Barreiros, Claudisabel, Micaela e os Anjos, então ainda no auge da sua fama. O fim de uma 'era' ficava, assim, marcado de forma bem popular e típica por uma série de caras bem conhecidas e apreciadas pelo público televisivo português, naquela que acabaria por ser uma despedida não apenas de um ano, mas de um dos principais 'rituais' portugueses de finais do século XX, cuja última instância não podíamos deixar de assinalar, por altura do seu vigésimo-quinto aniversário. Para recordar esse histórico momento, abaixo fica o especial na sua íntegra, cortesia do 'suspeito do costume', o YouTube. Divirtam-se, e Feliz Ano Novo 2025!

24.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2024.
 
Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.
 
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
 
Já aqui anteriormente falámos dos concursos de talentos vocais infantis, um formato muito popular na última década do século XX, e que, em Portugal, ficava ligado sobretudo à época natalícia, altura em que era invariavelmente transmitido o 'Sequim d'Ouro', o clássico festival internacional com sede em Itália e que visava apurar o melhor mini-cantor do Mundo. Talvez por isso a SIC tenha escolhido, precisamente, a Véspera de Natal para lançar aquela que era, essencialmente, uma versão nacional desse tradicional certame, e que adoptava mesmo uma expressão italiana para a sua denominação.
 

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De facto, essa astúcia ao nível do 'timing' permitiu a 'Bravo Bravíssimo' encontrar de imediato um público mais do que receptivo logo a partir da estreia, há exactos trinta anos, na Consoada de 1994. Tão-pouco viria esse sucesso a diminuir a curto prazo - pelo contrário, 'Bravo Bravíssimo' viria a manter-se no ar durante nada menos do que oito anos (sobrevivendo, inclusivamente, à passagem do Milénio) sempre com um formato imutável, com Ana Marques e José Figueiras como apresentadores, e com níveis de adesão na casa dos milhares de crianças, todos com esperança de serem considerados as novas 'mini-estrelas' nacionais. O aspecto diferenciado em relação a 'Sequino d'Ouro' ficava por conta dos campos abrangidos e aceites no programa, que extrapolavam a música e o canto e se estendiam à dança e até mesmo à ginástica, dando assim oportunidade a que ainda mais crianças mostrassem os seus talentos ao País em geral. E a verdade é que, de entre os muitos nomes que passaram pelo programa ao longo dos seus oito anos, alguns viriam mesmo a tornar-se conhecidos do grande público num contexto mais geral e alargado, como é o caso do futuro vencedor do Festival da Eurovisão, Salvador Sobral, do fadista Ângelo Freire, ou do artista de dobragens Fernando Fernandes, ou FF.
 

 
De muitos outros, não reza necessariamente a História, mas mesmo esses terão tido, depreende-se, alguns benefícios a curto prazo resultantes da sua participação no programa, sobretudo se bem qualificados. E ainda que 'Bravo Bravíssimo' tenha, eventualmente, chegado ao fim natural do seu ciclo de vida - embora parecesse ainda ter algo a oferecer ao paradigma televisivo de inícios do século XXI - o legado que deixou ao fim de oito anos foi suficiente para o tornar um dos mais emblemáticos programas televisivos do seu tempo, e o cimentar como parte da memória nostálgica dos 'millennials' portugueses, que tinham a mesma idade dos concorrentes à altura da estreia e provavelmente sonhavam, como eles, poder ir à televisão mostrar os seus talentos 'ao Mundo'; para eles, aqui fica a recordação, por altura dos exactos trinta anos da primeira transmissão do programa.
 

17.12.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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(Crédito da imagem: Desenhos Animados Anos 90)

Um dos principais conceitos tradicionalmente ligados ao Natal – para além do estreitamento de laços de amizade e parentesco e, claro, da troca de prendas – é o da solidariedade para com o próximo, em particular no tocante aos mais desfavorecidos. E porque a máxima deste tipo de gesto reza que 'cada um dá o que pode', não é de surpreender que as entidades públicas ou empresariais estejam entre as que, a cada ano, mais significativos esforços fazem para ajudar quem precisa – sejam as suas intenções genuínas ou não.

Nos anos da viragem do Milénio, uma das 'faces' mais visíveis desta caridade 'corporativa' (à falta de melhor expressão) era a SIC, a qual, durante nada menos do que cinco anos – de 1997 a 2001 - dedicou todo um bloo horário a um programa que tinha tanto de interesse humano como de auto-promoção, e que via os seus apresentadores saírem à rua ao som do inevitável 'A Todos Um Bom Natal' e a bordo de um camião repleto de brinquedos, conseguidos em parceria com a Associação de Apoio À Criança e destinados a assegurar que milhares de crianças desfavorecidas de Norte a Sul do 'País do Natal' gozavam de uma quadra festiva acima da média, mantendo assim o espírito da época natalícia.

De facto, os benefícios desta iniciativa para a demografia-alvo acabavam por ser duplos, já que, para além dos simbólicos (ou talvez nem tanto) presentes, as crianças visadas por esta iniciativa tinham, ainda, a oportunidade de conhecer em primeira mão alguns dos principais nomes associados à estação de Carnaxide, de Jorge Gabriel a Catarina Furtado ou Bárbara Guimarães – uma experiência, certamente, inesquecível, e que, ao mesmo tempo, deixava 'bem vistos' os homens e mulheres que davam a cara ao programa, adicionando o supramencionado elemento de auto-promoção.

Ainda assim, era difícil levar a mal um programa que, no seu âmago, mais não pretendia do que personificar o espírito natalício de entreajuda e solidariedade – algo que, já à época, ia cada vez mais escasseando na sociedade ocidental. É, aliás, incerto porque razão a SIC deixou de percorrer, com o seu camião mágico, o 'País do Natal', já que o programa homónimo era um daqueles formatos intemporais que continuaria, sem dúvida, a ser bem recebido, mesmo na bastante mais cínica sociedade dos anos 2020 - afinal, quem não gosta de ver praticar o bem e ajudar os mais desfavorecidos na época natalícia? Não será, pois, de surpreender se a SIC escolher 'ressuscitar' a sua 'tradição' natalícia para quadras futuras, talvez adaptando-a à nova era digital, e alegrando o Natal não só das crianças pobres que (infelizmente) continuam a existir em Portugal, como também dos telespectadores fartos da mesma sequência anual de filmes de família, e em busca de algo diferente que ver durante os últimos dias de Dezembro...

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