24.02.23
Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.
Qualquer era do cinema vê serem produzidos filmes que, sem serem 'blockbusters' ou contarem com grandes orçamentos publicitários, conseguem ainda assim alguma 'tracção' junto dos cinéfilos, por conta – sobretudo – do passa-palavra e da boa recepção crítica, acabando por se afirmar como obras memoráveis para toda uma geração de entusiastas de cinema.
Nos anos 90, um dos principais exemplos deste tipo de filme-fenómeno era uma comédia dramática sobre temas que pouco ou nada tinham de cómico, realizada por um actor italiano que assumia também o papel principal: 'A Vida É Bela' ('La Vitta É Bella', no original, e que não deve ser confundido com o filme nacional homónimo, com Nicolau Breyner), obra que celebrou a 20 de Dezembro passado os vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal; e porque, durante esse mês, preferimos dar foco a filmes verdadeiramente natalícios - acabando assim por não assinalar este marco relativo a um filme de algum impacto a nível nacional – vimos agora corrigir essa falha, e dedicar algumas linhas ao polarizante filme de Roberto Benigni.
E dizemos 'polarizante' porque 'A Vida É Bela' é daqueles filmes que não deixa ninguém indiferente, ou mesmo comedido – quem gosta, adora (citando a excelente cinematografia e interpretações, e o facto de este ser claramente um projecto 'de coração' de Benigni), e quem não gosta, odeia (apontando o facto de a Itália Fascista e os campos de concentração não serem, de todo, um pano de fundo adequado para o enredo excessivamente frívolo de Benigni, ou remetendo para os irritantes 'tiques' do personagem Guido, como o memético 'buongiorno, Principessa' dirigido ao interesse romântico, Dora.) Apesar de estas opiniões se terem, assumidamente, diluído à medida que o filme se vai tornando progressivamente menos falado e mediático, nos anos imediatamente após o seu lançamento (em que era difícil falar ou ler sobre cinema sem se deparar com menções a este trabalho, que ganhou três Óscares, entre uma série de outros prémios, e era, a dada altura, frequentemente exibido em escolas no contexto da disciplina de História) este era mesmo um dos filmes que mais dividia opiniões entre os cinéfilos portugueses, não só jovens, mas de todas as idades.
À distância de vinte e cinco anos, continua a ser difícil inserir esta obra perfeitamente delicodoce na mesma categoria de filmes como 'A Lista de Schindler' (que aqui terá, paulatinamente, o seu espaço) ou mesmo o posterior 'O Rapaz do Pijama Ás Riscas', que partilha muitos dos mesmos problemas da película de Benigni. No entanto, não deixa de ser encorajador constatar que a longevidade do filme como instrumento pseudo-Histórico e pseudo-educativo foi limitada, e que o mesmo tão-pouco parece ter entrado na 'eterna rotação' dos canais de filmes da TV Cabo; em suma, 'A Vida É Bela' parece ter, senão desaparecido, pelo menos esfumado-se da consciência cinematográfica nacional. Ainda assim, pela importância que esta obra teve para toda uma geração de jovens cinéfilos, e pelo marco que recentemente atingiu, não podíamos deixar de 'desenterrar' do baú aquele que, durante um período considerável em finais do século XX e inícios do seguinte, foi um dos filmes mais falados de sempre em território nacional.