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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

08.04.25

NOTA: Este 'post' é correspondente a Segunda-feira, 7 de Abril de 2025.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de serem praticamente contemporâneas da popularização da televisão em Portugal, foi apenas nas duas primeiras décadas do século XXI que as telenovelas portuguesas começaram verdadeiramente a ser um género em si mesmo, e a marcar presença no quotidiano de portugueses de todas as idades. E apesar de aquela a que dedicamos as próximas linhas não ter sido a primeira representante desse ressurgimento, é a ela que é, hoje em dia, creditado o fim da hegemonia das produções brasileiras do género em Portugal. Nada melhor, pois, do que recordar esta pioneira de todo um género, sobre a primeira transmissão da qual se completa um exacto quarto de século à data de publicação deste 'post'.

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Ida ao ar pela primeira vez a 8 de Abril de 2000, na TVI (canal que se tornaria sinónimo com o género nas duas décadas subsequentes) 'Jardins Proibidos' tinha, desde logo, no genérico um primeiro chamariz, já que o tema homónimo de Paulo Gonzo que, previsivelmente, servia de banda sonora aos créditos continuava mais popular do que nunca entre a população portuguesa, sendo constantemente referenciado por miúdos e graúdos. Mais do que apenas uma música, no entanto, a novela em causa trazia também o habitual drama tão ao gosto do público 'noveleiro' (no caso, com a temática bem 'batida' mas sempre eficaz das paixões proibidas e das crianças ilegítimas) e um elenco repleto de nomes de vulto e 'promessas' da televisão portuguesa, de Núria Madruga, Fernanda Serrano, Lídia Franco, José Raposo, Lurdes Norberto, Vera Kolodzig, Pedro Penim, Pedro Granger ou Rita Salema a futuras estrelas como Diogo Valsassina, Daniela Ruah ou Alexandre Personne (que chegou a apresentar o 'Clube Disney' e participou na adaptação televisiva dos livros da colecção 'Uma Aventura').

Uma conjugação de factores que não poderia deixar de transformar a novela num sucesso, que provou que era possível criar e difundir um programa deste tipo com produção cem por cento nacional. É, aliás, esse o principal legado de 'Jardins Proibidos', tendo toda e qualquer novela exibida na televisão portuguesa nos últimos vinte e cinco anos uma divida de gratidão para com a criação de Manuel Arouca e Tomás Múrias, tendo a mesma tido inclusivamente tido a honra de ser a primeira telenovela portuguesa de sempre a ter direito a um 'remake', estreado em 2014. Razões, pois, mais do que suficiente para lhe prestarmos homenagem por alturas do seu vigésimo-quinto aniversário

01.04.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Segunda-feira, 30 de Março de 2024.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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A chegada a Portugal da TV Cabo abriu novos horizontes aos quais o português médio não estava, de todo, habituado. Mesmo quem tinha televisão por satélite gozava de pouco mais do que alguns canais adicionais (e nem sempre com transmissão clara) enquanto que o novo serviço punha à disposição dos seus assinantes centenas de canais de uma só vez, todos (ou quase) com transmissão perfeita, e dentro dos mais diversos 'nichos' especializados. Para os espectadores mais jovens, em particular, isto representava uma amplitude consideravelmente maior no tocante a canais desportivos, de desenhos animados e, claro, de música, um dos mais perenes e intemporais interesses de qualquer criança ou adolescente.

E se os 'millennials' lusitanos haviam, até então, tido de se contentar apenas com o icónico 'Top +', a TV Cabo veio trazer-lhes a possibilidade de sintonizar canais de que, até então, apenas se ouvia falar em filmes ou programas de televisão estrangeiros, como a MTV e o VH1. De súbito, aquela parca 'horinha' semanal de 'videoclips' e êxitos de tabela transformava-se numa emissão praticamente perpétua, composta não só pelos vídeos 'da moda' como também por entrevistas a músicos e bandas, galas (como os icónicos MTV Video Music Awards, que mantiveram acordados pela noite dentro muitos jovens da época) notícias do foro musical, programas de curiosidades (como o 'Pop-Up Video' do VH1) documentários biográficos (como o lendário 'Behind The Music', do mesmo canal) e até conteúdos apenas tangencialmente ligados ao Mundo da música, os quais viriam, eventualmente, a 'tomar de assalto' a MTV, e a escorraçar os vídeos musicais pela qual a mesma se tornara conhecida.

Tal situação ainda estava, no entanto, a alguns anos de distância, pelo que os 'millennials' portugueses puderam, ainda, viver o 'auge' dos dois canais, a par da 'alternativa' nacional Sol Música (que já aqui teve o seu espaço) e do canal alemão VIVA, que permitia conhecer algumas das 'bizarrias' que iam fazendo sucesso na Europa Central. Um 'cardápio' com algo para todos os gostos, que não podia deixar de satisfazer os melómanos inveterados – mesmo faltando nele alguns 'ingredientes-chave', como o 'Headbangers' Ball', o programa de hard rock e heavy metal da MTV norte-americana, mas que não fazia parte da grelha da inglesa.

E se as constantes reestruturações de canais da TV Cabo vieram relegar estes canais de música para longe dos lugares de destaque que então ocupavam, a verdade é que pelo menos um – a MTV – 'resiste ainda e sempre ao invasor', qual Astérix dos canais musicais. Infelizmente, mesmo esse canal se encontra, hoje, muito desvirtuado, e quase irreconhecível para quem o conheceu nos anos 90 e 2000, quando – ao lado dos 'irmãos' nacionais e estrangeiros – constituiu um dos principais atractivos para se tornar assinante do novo e revolucionário serviço de televisão por cabo, e fez a alegria de milhares de jovens de Norte a Sul do País com as suas novidades áudio-visuais e culturais.

18.03.25

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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Um dos fenómenos sociais mais pervasivos das últimas cinco décadas em Portugal – sensivelmente desde a globalização dos televisores caseiros – vem sendo a miscigenação da cultura portuguesa com a brasileira, não só através da imigração, como também da importação de produtos mediáticos daquele País. E se, hoje em dia, esse cruzamento se limita às eternas telenovelas, a um ou outro canal da TV Cabo e às revistas da Turma da Mônica, há trinta anos, o panorama de propriedades intelectuais brasileiras presentes em Portugal era bem mais vasto, com as referidas telenovelas e as bandas desenhadas da Abril e Globo à cabeça. E terá sido, precisamente, através das referidas bandas desenhadas que uma larga parcela da população nacional terá tido o primeiro contacto com um dos mais famosos produtos mediáticos saídos do país-irmão – a 'troupe' de comediantes conhecida como Os Trapalhões.

E se a referida BD da Globo tinha como foco versões infantis do quarteto, não tardaria também a que as crianças e jovens daquela época ficassem a conhecer os 'verdadeiros' Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, quando – há quase exactos trinta e um anos, em Março de 1994 – o seu programa, lendário no Brasil, chegou finalmente aos televisores nacionais, pela mão da SIC. E a verdade é que, previsivelmente, a inspirada colecção de 'sketches' cómicos de índole 'pastelona' (com alguns dichotes brejeiros à mistura) não tardou a conquistar o público-alvo, sempre aberto a tentativas de humor deste tipo – sobretudo quando se afirmavam como bem acima da média, como era o caso. Sem nunca se terem tornado um 'caso de estudo' de popularidade, como o eram no seu país natal, Os Trapalhões encontravam, assim, em Portugal uma audiência suficientemente devota e fiel para justificar a 'aventura' inédita que o quarteto encetaria logo no ano seguinte, e sobre cuja estreia se comemoram por estes dias exactas três décadas.

Falamos de 'Os Trapalhões em Portugal', a produção nacional (da própria SIC) que procurava recuperar o formato de sucesso do programa original, ao mesmo tempo que o ambientava por terras lusitanas, com os Trapalhões ainda restantes – Didi e Dedé – a contracenarem com coadjuvantes com sotaque português, em cenas típicas da vida quotidiana nacional. Uma ideia que poderia ter resultado – e que, sob algumas métricas, resultou mesmo, já que o programa fez tanto sucesso quanto o seu antecessor – mas que perdia consideravelmente pela ausência da 'outra metade' do grupo, a saber, os malogrados Mussum e Zacarias, que muitos consideravam serem as principais fontes da comédia do grupo. Com apenas Didi como verdadeiro Trapalhão (Dedé sempre desempenhou o papel de elemento mais sério do grupo) e com a presença de actores portugueses a ressalvar a diferença de abordagem e desempenho em relação aos brasileiros, o resultado era um produto algo menos fluido, e mais 'bem-comportado', do que o hilariante original da Globo.

Ainda assim, conforme referimos acima, 'Trapalhões em Portugal' chegou a fazer sucesso entre a juventude lusitana da época, e será ainda recordado por parte dela como um dos elementos nostálgicos da sua infância ou adolescência, merecendo assim destaque nestas nossas páginas no mês em que se completam trinta anos sobre a sua primeira emissão.

19.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2025.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui anteriormente falámos dos programas de 'Apanhados' como um dos formatos de maior sucesso no panorama televisivo nacional de finais do século XX. Fosse em situações cuidadosamente 'criadas' por comediantes 'à paisana', fosse no mais orgânico e natural estilo de 'vídeo caseiro', o público telespectador nacional parecia não se cansar de presenciar a vergonha alheia, e de rir das situações mais ou menos embaraçosas em que pessoas como eles se encontravam frente a câmaras de televisão. Assim, não é de estranhar que, nos últimos meses do século XX e do Segundo Milénio, a RTP tenha querido, mais uma vez, capitalizar no formato que tantas alegrias lhe trouxera em anos anteriores, através de um programa que aliava a tradicional e bem-sucedida fórmula dos 'Apanhados' a um apresentador carismático e capaz, por si só, de cativar potenciais interessados a sintonizarem a emissão em causa.

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Surgem assim, algures em 1999, os 'Cromos de Portugal', programas de cerca de uma hora em que Guilherme Leite – à época bastante em alta – servia de 'anfitrião' a três rábulas de 'apanhados', nos moldes já bem conhecidos da audiência-alvo, e expectáveis em programas deste tipo. O sucesso, esse, foi também o expectável, partindo o programa para um ciclo de vida de respeitáveis dois anos - um de cada 'lado' da viragem do Milénio - que provavam que o público português continuava a nutrir apetência por este formato, sempre que o mesmo fosse apresentado de forma apelativa e bem executada. Mesmo não tendo tido o sucesso dos seus antecessores (exibidos quando o formato era, ainda, relativamente novo e original) nem sendo o 'expoente máximo' do género em causa, 'Cromos de Portugal' merece ainda assim, portanto, destaque nestas páginas, como mais um exemplo de que a repetição de uma fórmula de sucesso nem sempre é sinónimo de 'fadiga' por parte da audiência-alvo. E quem quiser comprovar por si mesmo pode fazê-lo no bom e velho YouTube, onde um utilizador fez o 'favor' de adicionar toda a primeira temporada do programa numa só 'playlist', perfeita para uma sessão de 'visionamento compulsivo' daquelas que estão tão na moda hoje em dia...

18.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2025.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Uma das primeiras séries a que dedicámos espaço nesta rubrica foi 'Já Tocou!', uma das emissões favoritas das crianças e jovens, em Portugal e não só, no início dos anos 90; nada mais justo, portanto, do que falarmos agora das suas duas sequelas, no mês em que uma delas completa trinta anos sobre a sua estreia nacional, e a outra trinta e um.

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Começando por esta última, 'Já Tocou! Na Faculdade' ('Saved By The Bell: The College Years' no original) segue à risca a premissa definida no título, acompanhando o já familiar grupo de protagonistas (com duas adições femininas à mistura, nos lugares de Jessie e Lisa da série anterior) em novas aventuras em ambiente universitário. E lá porque embarcaram nesta nova fase da sua vida académica e pessoal, não significa que os mesmos tenham deixado de se envolver em toda a espécie de peripécias, semelhantes às que viviam na série original, com 'namoricos', esquemas, desentendimentos, 'partidas', lições sobre companheirismo, amizade e espírito de grupo e, claro, muitos dichotes à partida. E se a 'vítima' principal do grupo, Mr. Belding, foi finalmente deixado em paz para gerir a sua escola secundária, esta série introduz uma nova antagonista, a Reitora McMann, que rapidamente se vê na 'mira' de Zack, Slater, Screech, Kelly e das duas novas amigas, Leslie e Alex, em tramas bastante próximas às do 'Já Tocou!' original.

Apesar das semelhanças, no entanto, 'Já Tocou! Na Faculdade' (que substituiu directamente o original na grelha da TVI em Fevereiro de 1994) nunca almejou, pelo menos em Portugal, o mesmo nível de impacto ou sucesso, passando relativamente despercebido, mesmo a quem era fã confesso do original. Talvez por o tema da faculdade ser algo mais 'distante' do que o da anterior escola secundária, talvez por algum 'cansaço' da fórmula ou talvez por o público-alvo ter passado à próxima nova 'febre' televisiva, a verdade é que esta continuação de 'Já Tocou!' teve 'vida curta' na televisão portuguesa, desaparecendo da grelha da 'Quatro' ao fim de apenas um ano, para dar lugar à sua sucessora, e segunda 'sequela' do original, 'Já Tocou! Os Caloiros'.

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Estreada há exactos trinta anos, em Fevereiro de 1995, esta nova série trazia, como o nome original indicava, a nova turma ('The New Class') da Secundária de Bayside, a qual prometia envolver-se em tantos 'sarilhos' quanto os seus predecessores. À cabeça deste novo grupo estava Scott Erickson, interpretado por Robert Sutherland Telfer, um aluno transferido de uma escola rival e que tomava o lugar do lendário Zack Morris como principal 'atormentador' do director Belding (ainda interpretado por Dennis Haskins) e interlocutor com a audiência. Ao lado do protagonista estavam Barton Wyzell, o 'novo Screech' (intepretado por Isaac Lidsky) e Tommy DeLuca, ou 'Tommy D' (Jonathan Angel) o 'atleta de serviço' e 'novo Slater'; os três faziam-se ainda acompanhar da 'crânia' Megan Jones (Bianca Lawson) e da sua neurótica amiga Vicki Needleman (Bonnie Russavage), bem como da popular Lindsay Warner (Natalia Cigliuti), que formavam o obrigatório 'contingente feminino' e serviam de contraponto mais sério às peripécias dos rapazes.

Como se pode facilmente aferir pelo parágrafo anterior, 'Os Caloiros' nada fazia ou experimentava de novo, sendo, pelo contrário, uma réplica quase 'um para um' do original; e se isto explica a sua quase inexistente repercussão em Portugal (ainda menor do que 'Na Faculdade', e a léguas da série de origem) mais difícil é perceber como e porque teve direito a nada menos do que sete temporadas nos seus EUA originais, batendo o recorde das duas séries anteriores! Apesar deste facto, no entanto, a presença nostálgica da 'nova turma' de 'Caloiros' é praticamente nula, ao passo que Zack, Slater, Screech, Kelly, Jessie e Lisa continuam a dominar o imaginário de quem cresceu a acompanhar as suas aventuras – um testamento à afirmação feita pela Kellogg's relativamente aos seus Corn Flakes, que postula que 'o original é sempre o melhor'.

Ainda assim, no mês em que ambas as continuações dessa primeira série celebram aniversários sobre a sua estreia nacional, nada se perde em recordar aquelas que acabaram por redundar em duas tentativas falhadas de voltar a capturar o sucesso de uma série que soube, como poucas outras, fazer uso do 'momento' cultural e social à sua época de estreia para cativar e reter um público-alvo que, por alturas destas duas continuações, já há muito tinha crescido, amadurecido e 'abalado para outras paragens'...

04.02.25

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui anteriormente nos referimos aos anos 90 como a 'era de ouro' dos concursos televisivos em Portugal, com um cada vez maior número de programas deste género a fazer 'concorrência' aos velhos sobreviventes de décadas transactas; e a verdade é que, destes, uma parcela significativa era directa e explicitamente dirigida a um público infanto-juvenil, procurando explorar a apetência por actividades competitivas típica daquela demografia. E se este novo 'nicho' apenas deu azo a um verdadeiro clássico intemporal – a lendária 'Arca de Noé' – não é menos verdade que, em redor desse ícone da televisão nacional noventista se perfilavam uma série de outros programas que, apesar de menos memoráveis, não deixaram ainda assim de proporcionar suficientes bons momentos ao seu público-alvo para merecerem uma menção nestas nossas páginas. É o caso do programa que recordamos esta Terça-feira, o qual comemora este mês os exactos trinta anos sobre a sua estreia, em Fevereiro de 1995.

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Produzido pela portuense Miragem e exibido pela RTP, 'Gugu Dadá' tinha, em relação aos seus congéneres, a particularidade de se destinar a um público (ainda) mais novo – como, aliás, era dado a entender não só pelo título como também pelo logotipo criado a partir de cubos; de facto, enquanto a maioria dos concursos infantis da época eram dirigidos a crianças em idade de instrução primária ou preparatória, 'Gugu Dadá' era, literalmente, um programa para bebés. Isto porque o conceito central do concurso postulava que nenhum dos concorrentes infantis poderia ter mais de quatro anos, fazendo com que os participantes fossem, invariavelmente, crianças muito pequenas, ainda em idade de desenvolvimento cognitivo, psicomotor, pessoal e social.

E porque não se poderia pedir a bebés nesta etapa do crescimento que respondessem a perguntas ou cumprissem o tipo de prova habitual nestes concursos, o regulamento do programa previa também a presença de um adulto em cada uma das 'equipas', cuja função era guiar a criança através dos requisitos da competição – uma oportunidade 'de ouro' para criar laços com os filhos ou familiares, embora haja lugar a questões sobre se um programa transmitido a nível nacional será o melhor local para esse tipo de experiência partilhada e de entrosamento. Felizmente, no final, todos ganhavam, levando para casa um certificado de participação e um saco de brinquedos da Tomy (marca infantil então em alta) incluindo um expressamente escolhido pela própria criança, proporcionando-lhe assim uma experiência tão divertida como gratificante, e colocando o ênfase na diversão e brincadeira, por oposição à competição – apesar de, novamente, haver razões para ponderar quanto ao efeito do ambiente de um estúdio de televisão no humor e saúde mental de crianças tão pequenas.

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O apresentador José Jorge Duarte. (Crédito das fotos: Desenhos Animados Anos 90)

Talvez por essas e outras questões éticas o programa apresentado pelo sempre carismático José Jorge Duarte (à época figura inescapável do panorama televisivo nacional, por conta do sucesso d''A Hora do Lecas' e de outro concurso infantil de relativo sucesso, 'Tal Pai, Tal Filho') apenas tenha logrado chegar às duas dezenas e meia de episódios, após os quais caiu no relativo esquecimento até o advento da Internet o vir 'resgatar' da obscuridade. E é nesse sentido que o Anos 90 procura, também, deixar a sua contribuição para o 'arquivo' de fontes sobre este concurso que, apesar de hoje algo obscuro, apresenta interesse suficiente para, à distância de quase exactos trinta anos, merecer ainda algumas linhas a si alusivas.

21.01.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao chegar finalmente a Portugal, em meados da década de 90, a TV Cabo trouxe consigo uma gama de canais suficientemente vasta para deixar estarrecido qualquer espectador que apenas recentemente vira o seu espectro de escolha duplicar de dois para quatro canais abertos e generalistas. E se a maioria das novas adições à grelha eram importadas directamente do estrangeiro, sem alterações (como nos casos dos canais generalistas de outros países, ou de canais temáticos como o Cartoon Network, TCM, VH1 ou MTV, que surgiam nas suas versões Britânicas) outros tantos eram alvo de adaptações para a realidade nacional (como os canais de documentários ou o Eurosport, que surgia com comentários de jornalistas nacionais) e outros ainda eram de 'fabrico próprio', senão em Portugal, pelo menos na Península Ibérica. Entre estes últimos contavam-se canais tão icónicos como o Viver/Vivir (e o seu 'colega de casa' menos casto, o famoso 'canal 18') os ainda hoje existentes Canal Hollywood, Sport TV e Canal Panda (do qual aqui paulatinamente falaremos) ou a estação que abordamos neste artigo, e que marcou época entre os jovens melómanos ibéricos da geração 'millennial': o saudoso Sol Música.

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Inicialmente com transmissão simultânea em Portugal e Espanha, o Sol Música iniciou as emissões em 1997, desde logo com uma proposta diferenciada: a de servir como alternativa ibérica aos canais de música internacionais, MTV e VH1, da mesma forma que o VIVA vinha fazendo em França – um desiderato atingido, sobretudo, com a inclusão de uma percentagem significativa de artistas portugueses ou espanhóis na sua rotação de vídeos. Assim, sem nunca descurar os sucessos internacionais 'da moda', o canal musical ibérico aproveitava, simultaneamente, para dar a conhecer à sua demografia-alvo bandas e cantores que, de outra forma, poderiam não ter gozado de tal nível de exposição, fomentando assim a cena musical dos dois países da Península.

Também por oposição à MTV e VH1, o Sol deixava a música falar (ou antes, tocar) mais alto, descartando a presença de apresentadores nos seus vários blocos musicais, e maximizando assim o tempo de transmissão de cada um deles, sem que se perdessem preciosos minutos com tentativas de entretenimento. Tal não significava, no entanto, que o canal não transmitisse notícias e reportagens sobre os principais acontecimentos da cena musical, apenas que essas emissões eram feitas de forma mais directa e assumida, e menos 'intermediada' – um risco que, apesar de tornar o canal menos apelativo para quem gostava dos 'video-jockeys' dos canais internacionais ou de programas como o 'Top +', o fazia também paragem de eleição para quem apenas queria 'ouver' videoclipes dos seus artistas e géneros musicais favoritos. Para estes, as noites de Sábado eram também um 'prato cheio', já que o canal dedicava este período a blocos de vídeos alusivos a apenas um artista ou banda, os quais podiam chegar a ser transmitidos durante várias horas.

Escusado será dizer que o sucesso do Sol Música foi quase imediato, tendo o mesmo granjeado suficientes audiências para justificar uma divisão 'regional', com o canal a dividir-se em dois (um para cada um dos países da Península Ibérica) há pouco mais de vinte e cinco anos, nas últimas semanas do século XX e do Segundo Milénio. Tal permitia aumentar ainda mais o volume de artistas nacionais integrados na programação de cada um dos canais, ajudando efectivamente a melhorar a proposta de valor inicial do canal, e a divulgar um maior número de bandas e artistas da cena musical de cada nação.

Apesar das aparentes vantagens desta divisão, no entanto, a mesma viria mesmo a representar o 'início do fim' das emissões do Sol Música em Portugal. De facto, apesar do continuado sucesso de que o canal ainda vem gozando no país vizinho, a vertente portuguesa do mesmo apenas duraria até 2005, altura em que as mudanças de paradigma a nível do consumo tanto de música como de televisão (e subsequente redução dos volumes de audiências) ditaram a substituição do Sol Música pelo Biography Channel – um daqueles canais 'para encher chouriços' da actual grelha da TV Cabo, cujo volume de audiências dificilmente ultrapassará o do seu antecessor. Talvez mais significativamente, esta alteração vinha acabar com uma 'era' da TV Cabo, e remeter ao domínio da memória nostálgica um canal com uma proposta verdadeiramente inovadora (e plenamente atingida), que terá ajudado a apresentar a grande parte da juventude 'millennial' portuguesa alguns dos seus artistas musicais favoritos (quer através dos videoclips, quer da compilação em CD que lograria lançar já nos primeiros meses do Novo Milénio), e que, vinte anos após a sua extinção e um quarto de século após a 'divisão' em dois, continua a representar um 'buraco' ainda por preencher na grelha a cabo nacional.

10.01.25

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

A cultura tem, tradicionalmente, sido um dos aspectos mais negligenciados na, e pela, sociedade portuguesa, que mostra normalmente apetência por formas de entretenimento menos substanciais e mais populistas; e apesar de este fenómeno se ter exacerbado no primeiro quarto do século XXI, a tendência em si vem sendo verificada pelo menos desde as últimas décadas do Segundo Milénio. Não é, pois, de surpreender que uma publicação explícita e expressamente dedicada a divulgar cultura tenha tido um ciclo de vida total de apenas pouco mais de uma década e meia, tendo o último número sido lançado há quase exactos trinta anos, a 28 de Dezembro de 1994. E porque a Quinta no Quiosque dessa semana foi, acidentalmente, dedicada a outro tema, nada melhor do que prestar agora uma homenagem póstuma (por cerca de duas semanas) a um dos mais importantes periódicos desaparecidos da imprensa portuguesa.

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(Crédito da foto: OLX)

Gerido e redigido por grandes nomes da literatura e do jornalismo português – Mário Zambujal e João Gobern contaram-se entre os seus editores, e Margarida Rebelo Pinto, Pedro Rolo Duarte, Luís de Sttau Monteiro e mesmo Herman José entre os redactores – o semanário Sete (estilizado como Se7e) nascera em 1977, com a proposta de divulgar espectáculos culturais de Norte a Sul do País, bem como transmitidos pela televisão, numa abordagem que se afirmava, declaradamente, como uma espécie de versão orientada para a cultura do tipo de jornalismo practicado pelos jornais desportivos. O objectivo, como naqueles casos, era dar visibilidade, espaço e projecção a temas tradicionalmente negligenciados pela imprensa tradicional, criando assim uma publicação 'de nicho' num mercado ainda receptivo às mesmas.

E a verdade é que, numa fase inicial, a ideia correu bem; tão bem, de facto, que o Se7e se tornaria o seu próprio 'carrasco', motivando a abertura de espaço para a cultura nos jornais tradicionais e inspirando o surgimento de concorrentes 'de peso', como a 'TV Guia' e as suas congéneres. Ainda assim, o jornal 'fazia pela vida', tendo conseguido resistir à década de 80 e aos primeiros anos da seguinte; em 1994, no entanto, o 'sonho' viria mesmo a terminar, com a passagem para o formato de magazine a não resultar – ao contrário do que aconteceria, anos mais tarde, com o 'resistente' e semi-competidor Blitz – e o periódico a ser mesmo forçado a encerrar actividades, já nos últimos dias do ano.

Ainda assim, apesar de desaparecido, o 'Se7e' deixou uma marca considerável o suficiente no panorama cultural nacional para, trinta anos após a sua extinção definitiva, ser ainda lembrado e homenageado como um conceito verdadeiramente novo e inovador, e uma autêntica 'pedrada no charco' da imprensa portuguesa, que daria o mote para o aumento de publicações periódicas especializadas no mercado português e daria espaço à cultura num País que tantas vezes a negligencia. Razões mais que suficientes, portanto, para lhe prestarmos homenagem (ainda que atrasada) nesta nossa rubrica dedicada às revistas e jornais das bancas lusitanas do século XX.

31.12.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao longo da década de 90, Herman José logrou tornar-se quase sinónimo com a programação de 'revéillon' portuguesa, mediante dois dos mais icónicos especiais de Ano Novo da televisão nacional - 'Crime Na Pensão Estrelinha', transmitido na passagem do ano de 1990 para 1991 e que fez História na RTP, e 'Hermanias Especial de Fim de Ano', emitido exactamente um ano depois, e mais centrado no formato de 'sketch' que, mais tarde, viria a encontrar grande sucesso como base da 'Herman Enciclopédia'. Estes dois baluartes da programação de 31 de Dezembro, em conjunção com a forte e continuada presença de Herman nos ecrãs nacionais (em programas como 'Roda da Sorte', 'Com A Verdade M'Enganas', 'Parabéns' ou 'Herman 98', além da própria 'Enciclopédia') fizeram com que o hiato de quase uma década do apresentador da grelha televisiva da Passagem de Ano mal se fizesse notar, parecendo Herman nunca ter deixado de acompanhar os Portugueses nessa efeméride. E no entanto, como se diz, 'tudo o que é bom chega ao fim', e essa confortável e familiar relação viria mesmo a terminar, há exactos vinte e cinco anos, por ocasião da histórica viragem simultânea do ano, século e Milénio.

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Seria, de facto, a 31 de Dezembro de 1999 que, sem o saberem, os telespectadores da RTP se despediriam do seu anfitrião de Ano Novo 'de sempre', o qual transitaria semanas depois para a 'concorrência' privada, nomeadamente para a SIC, onde chegaria a continuar a tradição mais alguns anos. Esse facto ajudou a dar ainda mais uma camada de significado a um título já pleno delas, fazendo com que aquela fosse 'A Última Noite' tanto do ano de 1999, do século XX e do Segundo Milénio como de Herman José na RTP. E a verdade é que o humorista não fez por menos, reunindo a sua habitual 'troupe' de amigos e conhecidos (bem como de alguns dos seus mais famosos 'bonecos') para ajudar os Portugueses a entrar no ano 2000 com boa disposição. A contar a História do Milénio que ora findava estavam, pois, Diácono Remédios, o famoso provedor da 'Herman Enciclopédia', e a não menos icónica Super Tia, que recebiam a visita tanto de figuras históricas do Milénio como de artistas musicais, a saber o maestro Pedro Duarte, Quim Barreiros, Claudisabel, Micaela e os Anjos, então ainda no auge da sua fama. O fim de uma 'era' ficava, assim, marcado de forma bem popular e típica por uma série de caras bem conhecidas e apreciadas pelo público televisivo português, naquela que acabaria por ser uma despedida não apenas de um ano, mas de um dos principais 'rituais' portugueses de finais do século XX, cuja última instância não podíamos deixar de assinalar, por altura do seu vigésimo-quinto aniversário. Para recordar esse histórico momento, abaixo fica o especial na sua íntegra, cortesia do 'suspeito do costume', o YouTube. Divirtam-se, e Feliz Ano Novo 2025!

10.12.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024.

NOTA: Por razões temáticas, todas as Terças-feiras de Dezembro serão de TV.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

De entre os elementos que anunciavam e compunham o Natal infantil português dos anos 90 e 2000, um dos mais salientes eram os anúncios televisivos alusivos à quadra – ou melhor, UM anúncio televisivo em particular, que qualquer 'millennial' português saberá de imediato identificar, e que foi tradição anual nos canais generalistas nacionais até ao dealbar da década de 2010.

De facto, os 'spots' publicitários natalícios da cadeia de supermercados e hipermercados Continente, e a respectiva banda sonora, são, para toda uma geração, quase tão emblemáticos da quadra como o 'Natal dos Hospitais' ou o som do Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras. Aliás, há até motivos para dizer que 'Bem Vindos Ao Mundo Encantado dos Brinquedos' é, para a referida demografia, a 'outra' música de Natal portuguesa por excelência, trazendo à mente visões da então mascote da cadeia, a avestruz Leopoldina, a movimentar-se por entre verdadeiras pilhas de brinquedos, que apenas aguçavam a vontade de visitar o mais rapidamente possível o Continente mais próximo, e se deliciar com a variedade de opções para presentes de Natal.

Escusado será dizer que, apesar de esforços continuados, o Continente não mais logrou repetir o sucesso destas cadeias; anúncios subsequentes, já com a segunda mascote Popota ao lado de Leopoldina, eram bem conseguidos, mas falhos em termos de banda sonora quando comparados com o seu antecessor – ainda que, assumidamente, o mesmo tivesse colocado a fasquia absurdamente alta. Assim, a geração nascida ou crescida durante as décadas de 90 e 2000 pode, mesmo, gabar-se de ter assistido, em primeira mão, aos melhores anúncios de Natal alguma vez criados em Portugal, cuja música (que podia perfeitamente ter sido lançada como 'single' comercial, pois encontraria sem dúvida o seu público) ainda hoje saberão sem dúvida cantar 'de trás para a frente' e 'de cor e salteado...'

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