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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.05.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui por diversas vezes falámos do impacto que a redução do preço dos componentes electrónicos, e a maior facilidade na importação de produtos, tiveram no comércio de brinquedos e outros produtos dirigidos a um público jovem; no espaço de apenas alguns anos, as lojas portuguesas (especialmente as mais modestas ou tradicionais) viam-se positivamente 'invadidas' por um sem-fim de brinquedos electrónicos de qualidade duvidosa e funcionalidade básica, mas com preços acessíveis, oriundos da China ou do Taipei, e destinados puramente a entreter o comprador durante os dez a quinze minutos após a compra, sendo prontamente abandonados após a chegada a casa, e apenas esporadicamente revisitados subsequentemente, acabando por 'morrer de velhos' numa gaveta, onde as pilhas (invariavelmente daquelas redondas, ao estilo relógio) lentamente se esgotavam. E, de entre estes, um dos mais comuns e populares foram os telemóveis de brincar.

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Destinados, tal como os portáteis educativos, a emular uma experiência marcadamente 'adulta' e a que, à época, muito poucas crianças tinham acesso, os telemóveis de brincar distinguem-se daqueles seus congéneres por nem sequer procurarem ser mais do que aquilo que, à primeira vista, apregoavam – um produto de plástico barato, com um teclado embutido (o qual, muitas vezes, acabava 'desalinhado' dos buracos das teclas após uma pressão mais intensa) e um 'chip' sonoro básico, com um punhado de efeitos sonoros vagamente relacionados ao acto de falar ao telefone, como toques de chamada, sons a lembrar os de um 'fax' ou 'modem', ou uma operadora de voz esganiçada ao estilo Minnie Mouse. Cada um destes efeitos era activado através da pressão de uma tecla, mas desengane-se quem pensar que todas as teclas geravam um som distinto, já que a tecnologia deste produto a tanto não chegava; em vez disso, os referidos sons estavam, regra geral, ligados a pelo menos duas das teclas do pseudo-telefone, sendo alguns, até, mais comuns e frequentes do que outros.

Explicado assim, e à distância de três décadas, este brinquedo parece perfeitamente ridículo, sendo questionável como conseguiu tanta tracção entre as crianças de finais do século XX; no entanto, esta é uma daquelas situações em que o contexto se torna importante, já que as demografias infantis da época tinham significativamente menos acesso a brinquedos de índole tecnológica, e, como tal, um grau de exigência bastante menor, que conseguia tornar algo tão básico como estes telefones num produto minimamente apetecível. O facto de os mesmos terem, conforme mencionámos, um custo de venda relativamente acessível tornava-os também, em presentes 'casuais' ideais, daqueles que se traziam para casa após uma Saída de Sábado ou ida à drogaria. Esta junção de factores tornava os telemóveis de brincar naquele produto que ninguém activamente queria, mas toda a gente acabava por ter, e que, como tal, acaba por ser tão ou mais nostálgico do que outros de que aqui vimos falando; afinal, a nostalgia não se restringe a produtos activamente cobiçados à época da aquisição, mas antes engloba toda a categoria de produtos com os quais se teve convivência aprazível ao nível quotidiano – na qual, para as crianças da segunda metade dos anos 90 e primeiros anos da década seguinte, estes telemóveis definitivamente se inseriram.

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