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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

08.03.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há pouco menos de um mês, nesta mesma data, celebrámos uma efeméride – o aniversário do Vitinho – enquanto deixávamos passar em claro outra, bem mais trágica – a morte de Artur Albarran. Agora, e porque mais vale tarde do que nunca, trataremos de rectificar esse erro, e prestar homenagem a um dos mais carismáticos jornalistas portugueses da sua geração.

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Nascido em Moçambique logo nas primeiras semanas do ano de 1953, Artur Manuel de Oliveira Rodrigues Albarran 'nasceu' para a comunicação aos 18 anos - altura em que se mudou para Portugal - como integrante de uma equipa do Rádio Clube Português que incluía múltiplas futuras lendas do ramo, de Cândido Mota a Júlio Isidro (ambos futuros apresentadores de programas de que, paulatinamente, aqui falaremos). No entanto, mais do que como profissional de comunicação, o jovem Albarran era conhecido como activista de extrema-esquerda, afiliação que fazia questão de arvorar em directo, e que lhe valeu vários dissabores com a lei, a culminar na sua fuga para França, a 20 de Julho de 1978, evitando assim a prisão como resultado de uma acção policial que atingiu a maioria dos dirigentes e operacionais do seu partido, o PRP (Partido Revolucionário do Proletariado.) Apesar deste facto, Albarran não deixaria de ser julgado pelo assalto a um banco em Soure, crime do qual seria posteriormente absolvido, juntamente com os restantes visados pela rusga, quatro anos depois.

Por esta altura, já o português nascido em Moçambique vivera uma realidade completamente diferente, enquanto colaborador das britânicas BBC e ITV. Como repórter desta última, visita os Estados Unidos e o Brasil, antes de a vida o trazer de volta para Portugal, desta vez para integrar a equipa da RTP.

É na qualidade de colaborador do icónico programa 'Grande Reportagem' da estação estatal que Albarran surge na consciência popular de toda uma nova geração de portugueses, que se habituam a vê-lo associado a más notícias, nomeadamente respeitantes a conflitos, sejam eles a Guerra do Golfo em 1991 ou o conflito na Somália, no ano seguinte. Para além das funções de enviado especial que desempenhou em ambas estas situações, no entanto, Albarran é também, por esta altura, chefe de redacção da RTP, bem como do jornal 'O Século Ilustrado', que integrara em 1988. Esta situação mantém-se até 1993, quando o aparecimento de uma concorrente privada à RTP alicia Albarran, que aceita o convite da TVI para se tornar seu pivô,

O verdadeiro momento definidor do apresentador na mente de toda uma geração de crianças e jovens não se dá, no entanto, até 1996, quando o jornalista volta a trocar de estação, viajando de Queluz para Carnaxide para dar a cara (e emprestar a sua inconfundível voz) a uma série de programas, com início em 'A Cadeira do Poder', de 1997, e fim já no novo milénio, com o inenarrável 'Acorrentados'.

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O 'Acorrentados' acabaria por ser o último programa de Albarran enquanto apresentador

Pelo meio ficou aquele que terá sido, de todos os programas por si apresentados, aquele que mais cimentou Albarran na cultura popular; 'Imagens Reais', uma emissão que misturava informação e entretenimento e que fica na História da televisão portuguesa por ter dado origem ao famoso bordão 'o drama, a tragédia, o horror' – o qual, mais tarde, se tornaria peça fulcral de um dos mais famosos 'bonecos' de um Herman José a atravessar uma segunda fase imperial.

Ao mesmo tempo que deixava esta marca na televisão portuguesa, Albarran tornava-se também presidente do Conselho de Administração da EuroAmer, uma 'holding' imobiliária pertencente a um grupo de políticos e empresários norte-americanos, entre os quais se contava Frank Corlucci, ex-director da CIA e embaixador americano em Portugal. O seu envolvimento com este novo ramo, e as exigências do mesmo, obrigaram ao seu afastamento gradual da actividade televisiva, acabando 'Acorrentados' por ser, mesmo, a sua última aparição nos ecrãs nacionais. O seu legado, no entanto, é inegável e indelével, tanto pelo seu contributo para a informação jornalística e noticiosa em Portugal durante a primeira metade dos anos 90, como por aquele bordão que qualquer 'puto' repetia, naquela entoação característica, nos pátios de recreio daquela época. Que descanse em paz.

28.09.21

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Os noticiários não são, normalmente, um tipo de programa que apele especialmente às crianças e jovens, até por não ser a elas dirigido; a predominância de notícias violentas, deprimentes ou ambas tende a afastar um pouco o público jovem deste tipo de programação, em favor de opções mais escapistas e voltadas à ficção e fantasia.

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Nos anos 90, no entanto, a RTP conseguiu inverter este paradigma, lançando uma iniciativa pioneira e arrojada que acabou por se revelar um retumbante sucesso. Chamava-se Caderno Diário, consistia pura e simplesmente de um Telejornal especificamente direccionado a crianças entre os 8 e os 14 anos, e conseguiu permanecer no ar uns impressionantes 14 anos - entre 1989 e 2003 - tendo durante esse período ajudado a lançar as carreiras de uma série de personalidades da informação televisiva portuguesa. Pedro Mourinho, Pedro Pinto e Rita Ferro Rodrigues foram apenas os mais ilustres de entre os apresentadores do Caderno Diário, vindo-se todos os três a tornar caras bem conhecidas da televisão, embora não necessariamente de programas noticiosos (Mourinho é o único que continua ligado a este campo, marcando ainda hoje presença nos Telejornais da TVI.)

Uma edição do Caderno de 1991, apresentada por um  jovem Pedro Mourinho,

À época da estreia do programa , no entanto, qualquer um destes hoje ilustres nomes era, tão-somente, um jovem em início de carreira, pouco mais velhos do que os espectadores a quem relatavam as notícias, podendo estar precisamente aqui um dos principais factores por trás do sucesso do programa; afinal, os jovens tendem a reagir positivamente a anfitriões próximos da sua idade, e que consigam ter uma abordagem naturalista e não forçada à tarefa de lhes captar o interesse – e era precisamente este o caso com os apresentadores do Caderno Diário.

O resultado foi um programa de tal maneira bem-sucedido entre a demografia-alvo que rapidamente foi ‘promovido’ das tardes da RTP 2 para as do canal principal, onde permaneceu, com algumas mudanças de formato à mistura, até inícios do século XXI – tendo, pelo caminho, inspirado iniciativas de conceito semelhante, como as ‘Nú-Ticias’, da SIC Radical. No entanto, apesar das semelhanças superficiais, nenhum destes programas tinha como foco notícias puras e duras, apenas direccionadas a um público mais novo; nesse campo, o Caderno Diário afirmou-se mesmo como principal referência - posto que, aliás, continua, até hoje, a ocupar. Assim sendo, e numa altura em que se vive mais uma época de regresso às aulas, nada melhor do que recordar este programa de nomenclatura inspirada no mais importante acessório de qualquer estudante…

 

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