10.02.24
As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.
Tal como sucedia com a época do Natal, também o Carnaval em Portugal se revestia, entre a juventude de finais do século XX e inícios do seguinte, de uma série de rituais. O mais óbvio e imediato era, claro, o de se mascarar, fosse com fatos 'profissionais' alugados em lojas próprias ou de forma mais improvisada e 'feita em casa'; no entanto, também os estalinhos, serpentinas, bombinhas de mau cheiro, bisnagas e balões de água podiam ser considerados 'típicos' da festa carnavalesca lusitana, bem como a realização de 'partidas' mais ou menos maliciosas. A estes rituais havia, ainda, a acrescer um outro, relevante sobretudo para as crianças e jovens de ambientes urbanos, sobretudo os que habitavam perto de um teatro – nomeadamente, a exibição de uma peça infantil por alturas da paragem lectiva de Fevereiro.
Versão contemporânea do tipo de peça em causa.
Muitas vezes alvo de visitas de estudo por parte das escolas locais, poucos dias antes das férias do Carnaval, estas peças adoptavam precisamente o mesmo modelo das famosas 'pantomimes' britânicas, embora trocando o Natal pelo Carnaval, talvez para salientar e ressalvar a associação entre os fatos vistosos dos actores e os envergados por grande parte da audiência. A fórmula era tão simples como eficaz, consistindo na adaptação de uma história ou lenda conhecida do público infantil, cuja narrativa original era enriquecida através de números musicais, piadas e 'achegas' ao público, ao melhor estilo do teatro de revista (que, à época, atravessava ele próprio um período áureo, tendo até direito a um programa televisivo a ele dedicado). Se tal abordagem poderia fazer torcer o nariz aos puristas, no entanto, o público-alvo em si não tinha tais pruridos, deliciando-se invariavelmente a patear e cantar 'co-me-ça, co-me-ça' antes do levantar do pano (normalmente em uníssono com todo o resto do teatro), ou a ajudar o herói a localizar o vilão, durante a inevitável cena 'interactiva' presente em toda e qualquer destas peças, e que as tornava ainda mais divertidas para quem tinha a sorte de fazer parte da audiência.
Tal como tantos outros hábitos e tradições de que aqui vimos falando, no entanto, também as peças de teatro infantis por alturas do Carnaval acabaram por decrescer em relevância e frequência, sendo, hoje em dia, bastante mais raras e esporádicas do que o eram há coisa de trinta anos; quem, na sua altura, assistiu a um destes espectáculos, no entanto, certamente concordará que os mesmos constituíam uma excelente e memorável Saída de Sábado na época do Carnaval, e talvez até tenha pena de que esta tradição se tenha perdido antes de os seus filhos terem idade para a conhecer, e gozar de uma experiência semelhante à vivida pelos seus pais quando tinham a mesma idade...