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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

19.05.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O objectivo desta rubrica – tal como das restantes que compõem o blog – passa, normalmente, pela 'repescagem' de elementos e experiências positivas que faziam parte do Portugal dos anos 90 e inícios de 2000; no entanto, ocasionalmente, é também necessário recordar efemérides menos agradáveis, mas que deixaram ainda assim marca indelével na década em causa, bem como nas subsequentes, como foram o caso Aquaparque ou a tragédia de cariz desportivo que recordamos este Domingo, escassas vinte e quatro horas volvidas sobre o seu vigésimo-oitavo aniversário. Falamos, claro está, da morte de um adepto do Sporting como consequência da explosão de um artefacto pirotécnico, em pleno Estádio do Jamor, durante o 'derby' a contar para a final da Taça de Portugal entre os 'leões' e os rivais da Segunda Circular, a 18 de Maio de 1996.

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O momento da tragédia, captado pelas câmaras televisivas presentes no estádio.

Estavam decorridos apenas dez minutos da partida quando, como forma de celebrar o golo inaugural marcado por Mauro Airez, um membro da claque organizada benfiquista 'No Name Boys' lança um 'very light', um tipo de foguete já então proibido por lei em áreas habitadas. Não contente com essa violação da lei, Hugo Inácio decidiu fazer 'pontaria', não para o ar, mas para a bancada Sul do estádio, onde se encontravam os adeptos do Sporting, num gesto deliberado que terminaria com a morte de Rui Mendes, de trinta e seis anos.Um crime de assassinato que deveria ter feito parar o jogo, mas ao qual não foi dada, no momento, a devida importância, tendo a partida continuado, com eventual resultado de 3-1 a favor do Benfica, e respectiva consagração como vencedor da competição – uma decisão que causou, e continua a causar, polémica, sobretudo entre adeptos dos 'leões' que sentem que a perda da vida de Mendes foi trivializada pelo prosseguimento da partida.

De facto, só mais tarde a FPF viria a mostrar solidariedade para com a família do adepto falecido, doando dez por cento da receita bruta de um jogo da Selecção Nacional para ajudar às despesas da mesma, já depois de o Sporting ter custeado na íntegra o funeral. Já Hugo Inácio viria a ser detido e a cumprir quatro anos de prisão, naquela que foi a primeira de muitas passagens do adepto pela prisão em anos subsequentes – pena que parecia pouca para o crime de homicídio qualificado, num desfecho que, novamente, revoltaria os sportinguistas. Quanto aos adeptos rivais, os mesmos incorporariam, a partir desse dia, um novo som à sua panóplia de cantos e palavras de ordem – um assobio a simular um foguete, ainda hoje ouvido em qualquer partida frente ao Sporting, numa 'picardia' de inequívoco mau gosto, que trivializa ainda mais uma tragédia perfeitamente evitável, e dá a entender que os No Name Boys tiveram orgulho no sucedido – uma ideia quase grotesca de tão revoltante.

Aquele que muitos consideram, justificadamente, o dia mais negro do desporto português acabou, ainda assim, por ter alguns (pequenos) efeitos positivos, nomeadamente a imposição de controlos muito mais restritos sobre a pirotecnia no contexto de jogos dos campeonatos portugueses, por forma a assegurar que tal situação nunca mais se repetisse; há, ainda, que ressalvar o facto de o ataque em causa ter vitimado apenas um adepto, e adulto. numa bancada onde se encontravam inúmeras crianças, podendo a acção deliberada do elemento da claque benfiquista ter tido um desfecho ainda muito pior. No entanto, a verdade é que nenhum destes factos ajudará a trazer de volta à vida Rui Mendes, mártir de uma paixão que, por vezes, assume contornos bem negros. Que continue a descansar em paz, e que nunca seja esquecido.

07.04.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

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O jogador com a camisola que o celebrizou.

No futebol português dos anos 80, 90 e 2000 (ainda mais do que no actual) existiu um conjunto bem demarcado de jogadores que, sem atingirem o nível de fama ou os altos vôos de alguns dos seus contemporâneos (nomeadamente os da chamada 'Geração de Ouro') conseguiram, ainda assim, afirmar-se como ícones de um ou mais clubes e, pela sua presença constante nos campeonatos nacionais da época, atingir o estatuto de Lendas da Primeira Divisão. Um dos principais nomes desse grupo – onde se incluem ainda jogadores como Emílio Peixe, Rui Barros ou Folha – foi um médio que, após iniciar a carreira como Cara (Des)conhecida ainda na década de 80, acabou eventualmente por fazer também parte do selecto contingente de jogadores que representaram mais do que um 'grande' em Portugal durante a sua carreira; falamos de António Manuel Pacheco Domingos (vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro apelido), o 'histórico' do Benfica que chegou, também, a representar o Sporting, e que faleceu há cerca de duas semanas – a 20 de Março de 2024 – aos cinquenta e sete anos, em consequência de um ataque cardíaco. E porque, à data da sua morte, o 'blog' se encontrava em hiato temporário, fica agora, embora já com algum atraso, a nossa merecida homenagem a uma das muitas caras icónicas do futebol nacional de finais do século XX.

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Ainda jovem, no Torralta.

Nascido em Portimão, Algarve, no primeiro dia de Dezembro de 1966, António Pacheco iniciou carreira no modesto Torralta, clube em que realizara a maior parte da sua formação enquanto futebolista. Durante a única época em que representou o emblema, o médio fez pouco mais de três dezenas de jogos, contribuindo com oito golos, marca que se provaria suficiente para lhe garantir três presenças na Selecção Nacional Sub-18 despertar o interesse do outro clube por onde Pacheco passara enquanto jovem - o Portimonense, que representara na categoria de Iniciados. Assim, com apenas dezanove anos, e exactamente meia década após ter deixado o clube da sua terra natal, o atleta voltava a vestir de preto e branco, dando assim o considerável 'salto' das divisões distritais para o principal escalão nacional.

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O plantel do Portimonense para a época 1986-87; Pacheco está em baixo, à direita.

Este desafio não intimidou, no entanto, o médio, que partiria para nova época de destaque: sem ser titular indiscutível, Pacheco logrou registar vinte e três presenças ao serviço do Portimonense, bem como nove pela Selecção Nacional Sub-21, no decurso das quais demonstrou qualidade suficiente para alargar ainda mais os seus horizontes futebolísticos. Previsivelmente, não tardou a surgir na secretaria portimonense uma oferta pelos préstimos do promissor futebolista, oriunda da capital portuguesa, e de um dos principais emblemas dos campeonatos nacionais, o Sport Lisboa e Benfica.

Face a esta oferta nada menos do que irrecusável, o jovem Pacheco não teve outra escolha senão 'fazer as malas' e mudar-se de 'armas e bagagens' para Lisboa, no Verão de 1987, para equipar de vermelho e branco. E se muitos jogadores nas mesmas condições têm uma entrada mais gradual na equipa, por forma a habituá-los ao desafio, já no caso de Pacheco, o impacto foi imediato, tendo o médio logrado participar em mais de três dezenas e meia de partidas logo na sua primeira época, e contribuído com seis golos.

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Ao serviço da Selecção Nacional A.

Estava dado o mote para seis épocas a espalhar classe na zona intermédia benfiquista, sempre como peça-chave, durante as quais levantaria por duas vezes o troféu de Campeão Nacional (em 1988-89 e 1990-91), bem como uma Taça de Portugal e uma Supertaça, além de marcar presença em duas finais da então Taça dos Campeões Europeus (hoje Liga dos Campeões). Um autêntico 'conto de fadas', que estabeleceria Pacheco como um dos grandes ícones do clube encarnado, lhe carimbaria um lugar na Selecção Nacional A (que representaria seis vezes) e só viria a terminar no 'Verão quente' de 1993, fruto de um desentendimento com o então treinador do Benfica, Toni; pouco depois, os adeptos encarnados viam, com horror, Pacheco juntar-se ao colega de sector (e membro da 'Geração de Ouro') Paulo Sousa, e atravessar a Segunda Circular, ingressando no plantel do maior rival das 'águias', o Sporting.

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Com a 'listrada' do maior rival benfiquista.

Embora muito lembrado em Alvalade, no entanto, duraria apenas duas épocas a estadia de Pacheco no referido estádio, tendo o médio sido praticamente 'carta fora do baralho' na segunda (a de 1994-95), após ter estado ao seu nível na época anterior, em que foi um dos infelizes intervenientes num dos mais famosos 'derbies' da História do futebol português. Ainda assim, e apesar das 'desavenças' com o treinador Carlos Queiroz, as três presenças do médio na sua segunda temporada de leão ao peito chegariam para adicionar novo título ao seu palmarés pessoal, com a conquista da Taça de Portugal, um ano depois de ter visto o seu antigo clube voltar a sagrar-se campeão. Em Alvalade, Pacheco foi, ainda, colega de nomes tão ilustres no 'reino do leão' como Balakov, Oceano, Iordanov, Cherbakov, Stan Valckx, Juskowiak, Jorge Cadete, Emílio Peixe, Amunike, Ricardo Sá Pinto ou mesmo Luís Figo, além de uma futura Cara (Des)conhecida, um promissor jovem de nome Nuno Valente

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A homenagem do Belenenses, um dos vários clubes por que passou após deixar o Sporting.

Sem que ainda se soubesse, começava aí o declínio da carreira de Pacheco, que as épocas seguintes transformariam naquilo a que os britânicos chamam um 'journeyman' – um jogador que transita de clube em clube, sem nunca ter grande impacto em qualquer deles. Assim, foi decerto com tristeza que os fãs do médio viram um ex-internacional português ser peça 'periférica' dos plantéis de Belenenses, Santa Clara e Atlético, bem como da Reggiana, de Itália, que lhe proporcionou a primeira e única experiência 'fora de portas' – emblemas, note-se, que, pese embora o fugaz envolvimento com o jogador, não deixaram de lhe prestar homenagem aquando da notícia do seu falecimento.

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A única 'aventura' do médio fora de Portugal foi em Itália, ao serviço da Reggiana, que também lhe prestou homenagem aquando da nota de falecimento.

Seria, pois, necessário esperar até à ponta final do Segundo Milénio para ver a carreira de Pacheco ganhar um 'segundo fôlego': uma boa época ao serviço do Estoril garantiu alguma visibilidade ao então já veterano médio, que contribuiu para a campanha dos 'canarinhos' com quatro golos em cerca de duas dezenas e meia de presenças.

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Com a camisola do Estoril-Praia, na sua 'última salva' enquanto futebolista profissional.

Não foi, no entanto, suficiente para revitalizar o interesse no jogador, que saía pela 'porta pequena' logo na época seguinte, novamente ao serviço do Atlético, clube no qual faria a transição para cargos técnicos, assumindo a posição de treinador. Seguir-se-ia nova experiência como técnico, agora na sua 'casa-mãe', o Portimonense, antes de o ex-futebolista decidir enveredar por novos rumos, com a abertura de um bar em Lagos, estabelecimento que viria a gerir até ao seu prematuro falecimento em Março de 2024.

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No papel de treinador.

Para a história fica uma carreira honrosa, mas algo prejudicada pelo temperamento rebelde, sem o qual Pacheco talvez tivesse conseguido inscrever o seu nome junto dos de alguns dos seus mais ilustres contemporâneos – o que não invalida que o médio seja, por direito próprio, uma das Lendas da Primeira Divisão portuguesa noventista. Que descanse em paz.

25.12.23

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 24 de Dezembro de 2023.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Qualquer adepto português dos anos 80, 90 e 2000 tem 'na ponta da língua' o nome de uma série de jogadores históricos dos campeonatos da época, dos elementos da Geração de Ouro a ídolos mais modernos, como o já lendário Cristiano Ronaldo. Numa categoria logo abaixo da destes, menos 'universais' mas não menos conceituados, existe todo um outro lote de jogadores que chegam a ídolos dentro do seu próprio clube, sem nunca extravasarem por aí além esse patamar, do qual, em Portugal, fazem parte nomes como Aloísio, Iordanov ou Isaías, para citar apenas exemplos ligados aos três 'grandes'.

É, também, deste último grupo que faz parte o nome que hoje recordamos, que celebra neste dia 24 de Dezembro o seu sexagésimo-sexto aniversário e que, há exactos trinta anos, partia para os últimos seis meses de uma carreira que abrangeu mais de uma década e meia, quase sempre ao serviço de apenas dois emblemas. Falamos de António Santos Ferreira André, médio-defensivo vila-condense formado no Rio Ave mas que, entre finais da década de 70 e meados da de 90, se celebrizou ao serviço primeiro do 'vizinho' Varzim e, mais tarde, do Futebol Clube do Porto, onde foi esteio do meio-campo durante grande parte da sua carreira.

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De facto, à excepção dos três primeiros anos da carreira sénior (passados com as camisolas do Rio Ave e Ribeirão) António André foi 'homem de dois clubes', amealhando mais de cem jogos pelo Varzim entre finais da década de 70 e meados da seguinte antes de se transferir para os 'Dragões' do Norte, onde viria a passar as nove temporadas até ao final de carreira. Durante esse período, o médio viria a disputar mais de duzentos e setenta e cinco jogos pelo clube das Antas, e ganharia tudo o que havia para ganhar: sete títulos de Campeão Nacional da I Divisão (o último dos quais celebrado há exactas trinta épocas, no Verão de 1994), três Taças de Portugal, seis Supertaças e, em 1987, a 'tríplice' europeia, com uma Taça dos Campeões Europeus, uma Supertaça Europeia e uma Taça Intercontinental, feito apenas superado já no século e Milénio seguintes, quando o 'super-Porto' venceria a Taça UEFA e a Liga dos Campeões em anos consecutivos. Pelo meio, ficaria também a natural e expectável chamada à Selecção Nacional, pela qual alinhou no Mundial de 1986 - aquele que viria a ficar na História por um dos melhores golos de todos os tempos, da autoria de Diego Maradona.

Ao 'pendurar as botas' e transitar para a função de olheiro (do FC Porto, claro), António André podia, assim, gabar-se de uma carreira ilustre, da qual se retirava com estatuto de ídolo, senão para a geração 'Millennial', pelo menos para os adeptos da 'X' - e sobre a qual se encontrará, certamente, a reflectir nesta quadra natalícia em que também completa sessenta e seis anos, na companhia do filho, o também futebolista André André, notabilizado no Vitória de Guimarães. Parabéns, e que conte ainda muitos!

25.06.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Por muitas mudanças que o futebol português sofra ao longo das décadas e séculos – com remodelações no formato dos campeonatos ou a adição de novas competições – uma constante se mantém imutável: a Taça de Portugal, último troféu do ano para os clubes portugueses, que tanto pode constituir 'mais um' galardão para a vitrine como a última oportunidade de conseguir 'salvar' uma época, para clubes a quem a temporada tenha corrido menos bem. Isto, claro está, além daquelas ocasiões em que 'há Taça', e em que um clube mais pequeno consegue eliminar um claro favorito (o chamado fenómeno 'tomba-gigantes') ou até atingir as fases finais da competição. E apesar de este ser um fenómeno relativamente raro, uma final entre dois emblemas de menor expressão no futebol português, ou que não insiram nos três ou quatro 'grandes', não é, de todo, inédita, antes pelo contrário; de facto, só na década de 90, aconteceu duas vezes, uma no final da temporada 1998/99 com Beira-Mar e Campomaiorense como protagonistas e da qual já aqui falámos anteriormente, e outra, logo no início da década, com outros dois históricos do futebol luso em confronto directo.

Falamos da primeira final da Taça dos anos 90 (ou última dos anos 80, conforme o ponto de vista), cuja finalíssima seria disputada há pouco mais de vinte e três anos, no habitual palco do certame – o Estádio Nacional do Jamor, nos arredores de Lisboa - e veria o Estrela da Amadora levar de vencida o Farense de Paco Fortes por 2-0, após empate a uma bola na primeira mão. E porque, por ocasião do aniversário dessa partida, preferimos focar a carreira de Ricardo Sá Pinto, emendamos agora essa omissão, dedicando algumas linhas a mais esse momento histórico do futebol português.

Para quem tinha idade suficiente para ter sido adepto, nenhum destes dois clubes será, de todo, desconhecido; pelo contrário, tanto o Estrela de João Alves como o Farense treinado por Paco Fortes trarão, de imediato, memórias relacionadas com alguns dos mais reconhecíveis e históricos jogadores do futebol nacional daquela época – alguns dos quais acabaram, mesmo, por atingir mais altos vôos, como o referido Paulo Bento ou ainda o guardião Lemajic, do Farense, ambos os quais se tornariam reforços do Sporting Clube de Portugal em épocas vindouras, com o guardião a representar ainda, antes disso, outro histórico, o Boavista, e Bento o 'rival' lisboeta dos leões, o SL Benfica. O médio (então com apenas vinte anos) seria, aliás, um dos destaques deste jogo, a par do influente e irrequieto Baroti, ao conseguir um golo de antologia, num remate de primeira de fora da área que seria o momento do jogo, não fosse o outro golo, uma 'chapelada' primorosa obtida por outro então jovem, o avançado Ricardo. Outros dos nomes instantaneamente reconhecíveis e presentes em campo naquela tarde de Verão de 1990 incluíam Pedro Barny e Bobó (que acabaria expulso) do lado do Estrela, e Formosinho e Nelo pelo Farense.

E porque o vencedor da Taça de Portugal tem acesso directo à principal competição europeia (então conhecida como Taça dos Vencedores das Taças), o Estrela teve ocasião de adicionar também essa honra ao seu historial logo na época seguinte; tal como sucederia com o Beira-Mar meia década mais tarde, no entanto, também o conjunto de João Alves não almejaria grandes 'surpresas' na competição, sendo excluído logo na segunda eliminatória pelos belgas do RFC Liège. Ainda assim, um momento histórico para os amadorenses, e que apenas cimentaria a sua reputação junto dos adeptos lusos.

Ambos os clubes continuariam, aliás, a ser figuras frequentes no mais alto escalão do futebol português ao longo da década seguinte, antes de o Novo Milénio trazer um revés nas fortunas de ambos, que os 'atiraria' para as divisões inferiores; numa altura em que, pela primeira vez desde aquele tempo, os dois clubes competirão juntos no principal campeonato lusitano, nada melhor do que recordar o mais histórico de todos os encontros entre os dois, disputado quando ambos se encontravam no seu auge, e que entra, merecidamente, para o panteão de jogos lendários do futebol português moderno.

Resumos televisivos de ambos os jogos transmitidos à época.

 

15.01.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Qualquer adepto de futebol, independentemente da idade ou era em que viveu, terá sempre os seus ídolos e ícones dentro do desporto, seja nos grandes clubes mundiais, seja nas agremiações do seu próprio campeonato. O Portugal dos 'noventas' não foi, de forma alguma, excepção a essa regra, tendo os adeptos nacionais da época tido o privilégio de ver jogar na então Primeira Divisão, não só os maiores nomes da Geração de Ouro, como também alguns jogadores internacionais muito acima da média. Um desses jogadores – um búlgaro de 'pézinhos de lã' que foi ícone de todos os clubes por que passou, e que era igualmente indiscutível na Selecção Nacional do seu país – celebrou há poucos dias os trinta e dois anos da sua estreia no campeonato onde viria a passar quatro inesquecíveis anos, tornando este Domingo o momento ideal para passar em revista a sua ilustre carreira.

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Uma imagem nostálgica para qualquer sportinguista,

Falamos de Krasimir Genchev Balakov, um daqueles 'fantasistas' que já ajudavam a definir o termo 'número dez' muito antes de cada jogador ter número próprio, e que só surgem num campeonato como o português muito de longe a longe. Reforço de Inverno do Sporting na primeira temporada completa da década de 90, o médio ofensivo contratado ao Etar Veliko Tarnovo - clube da sua Bulgária natal onde iniciara a sua carreira como sénior e pelo qual contabilizara quase cento e cinquenta jogos – faria a sua estreia menos de duas semanas após o início do ano de 1991, em jogo contra o Penafiel que o Sporting venceria por 2-0, com dois golos de Gomes.

Sem que ninguém soubesse, e de forma ainda algo discreta, ficava aí dado o mote para quatro épocas de 'magia', como parte de um plantel do Sporting ao qual sobrava em qualidade o que faltava em títulos (durante este período, o clube ganhou, tão-somente, uma Taça de Portugal, em 1994-95), e que contava também com nomes com outras 'lendas da Primeira Divisão' como Luís Figo, Paulo Sousa, Marco Aurélio ou o compatriota de Balakov, Yordanov. E a verdade é que, ao longo da sua estadia em Alvalade, Balakov viria a justificar o (parco) investimento do então presidente Sousa Cintra, tornando-se peça fulcral do 'onze' e fazendo 'mexer' a equipa com a mistura de 'arrebites' técnicos, clarividência e golos (no Veliko haviam sido trinta e cinco em sete épocas, no Sporting foram quarenta e três em quatro, incluindo 'obras de arte' históricas ao Benfica e Setúbal) que o tornaram um dos mais respeitados estrangeiros de sempre, não só do Sporting, como dos campeonatos portugueses em geral.

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O cromo de Balakov na caderneta do Euro '96 da Panini.

Não era, aliás, apenas 'dentro de portas' que Balakov 'dava cartas' e chamava a atenção: também a nível internacional o médio se vinha afirmando como um dos melhores do Mundo na sua posição, tendo inclusivamente sido seleccionado como parte do 'onze' ideal' do Mundial de 1994 – uma distinção que é, ainda hoje, o único jogador búlgaro a alguma vez ter recebido, sendo que nem mesmo compatriotas ilustres como Stoichkov conseguiram, alguma vez, igualar esse feito.

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O jogador em acção no Estugarda.

Melhor ainda é perceber que, após a sua saída do reduto dos 'leões', a carreira de Balakov não se 'perdeu', como a de tantos outros jogadores que partem para 'vôos' internacionais; pelo contrário, o búlgaro não só se conseguiu afirmar no seu novo clube, o Estugarda, como adquiriu o estatuto de 'símbolo' também naquele clube, onde passou sete épocas, sempre como presença regular na equipa, pela qual contabilizou mais de duzentas e cinquenta partidas. A sua parceria com Fredi Bobic e Giovane Élber originou, aliás, um daqueles 'tridentes mágicos' de que qualquer adepto do desporto-rei tanto gosta, por serem garantia de muitos golos – só por conta do búlgaro, foram cinquenta e quatro, um número talvez não tão prolífico quanto a sua marca no Sporting, mas ainda assim de respeito. É, também, como elemento do clube alemão que vê serem-lhe atribuídos os prémios de Melhor Jogador Búlgaro correspondentes aos anos de 1995 e 1997, sendo o troféu de 1996 atribuído a...Ivailo Yordanov, ex-colega de equipa no Sporting!

Tal como tantos outros nomes de que aqui falamos, também a carreira de Balakov transitou do interior dos relvados para a lateral dos mesmos, tendo o búlgaro assumido, logo em 2003, o cargo de adjunto num Estugarda que o idolatrava. Seguiram-se passagens pelo modesto Plauen (onde fez a sua última aparição oficial num relvado, aos trinta e nove anos, na qualidade de treinador-jogador) por vários clubes conhecidos da 'terceira linha' do futebol europeu, como St. Gallen, Grasshoppers, Chernomorets Burgas, Hadjuk Split, Kaiserslautern, Litex e CSKA Sófia, além do clube que o vira 'nascer' para o futebol, o Veliko Tarnovo, e da própria Selecção que tão briosamente representara em várias competições internacionais. E apesar de nunca ter dado o 'salto' para um grande clube na qualidade de treinador, é de crer que Balakov tenha adquirido, pelo menos, tanto respeito nesse seu novo cargo como tinha quando espalhava magia atrás dos avançados, nos relvados de Tarnovo, Alvalade ou Estugarda...

18.10.21

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 17 de Outubro de 2021.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

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De entre as (cada vez mais) provas que compõem a época futebolística portuguesa, a Taça de Portugal continua a ser a mais acarinhada pela maioria dos verdadeiros entusiastas de futebol. Isto porque, mais do que uma oportunidade para o nosso clube do coração ganhar mais um troféu, a Taça afirma-se como a mais pura das competições desportivas nacionais (talvez em qualquer modalidade) pelo carácter igualitário que fomenta, permitindo a agremiações que normalmente nunca chegariam a ver as luzes da ribalta jogar olhos nos olhos com as principais equipas nacionais, proporcionando-lhes assim, não só visibilidade e receitas, como também a oportunidade de 'fazer uma gracinha'; e embora este último cenário não seja por aí além frequente, a verdade é que, por vezes, a Taça de Portugal lá reserva uma surpresa aos entusiastas de futebol – e os 'nossos' anos 90 foram palco daquela que talvez seja a mais cabal demonstração deste princípio em toda a História moderna da prova: a Taça de 1998-99.

As peculiaridades da referida edição da Taça começaram logo na quinta eliminatória (a primeira considerada pela maioria das listagens 'online'), em que já só se perfilavam dois dos tradicionais 'três grandes' portugueses, tendo o Sporting ficado pelo caminho ainda numa das rondas anteriores. As duas equipas que sobravam, Benfica e Porto, tinham, obviamente, enorme favoritismo, mas também elas viriam a soçobrar logo nessa mesma eliminatória, com o campeão em título a ser alvo de uma das tais 'gracinhas' mencionadas anteriormente, ao ser batido pelo Torreense em pleno Estádio das Antas - num jogo que pôs o nome de Cláudio Oeiras no radar futebolístico português - e o Benfica a perder com o Vitória de Setúbal, no Bonfim, por 2-0 – um mau resultado, sim, mas longe de uma derrota em casa contra uma equipa da II Divisão B...

As desapontantes prestações dos 'grandes', juntamente com alguns 'agigantamentos' de agremiações mais pequenas (talvez motivadas pela janela de oportunidade que as mesmas proporcionavam) resultaram naquelas que talvez sejam as meias-finais mais atípicas da História da prova, sem nenhuma equipa grande, e com a presença insólita do Esposende, o mais valoroso 'tomba-gigantes' numa época repleta deles, mas que viria a claudicar perante um Campomaiorense então ainda no pleno das suas forças; já no outro jogo, o Beira-Mar levava a melhor sobre o Vitória de Setúbal, confirmando assim uma final da Taça entre dois emblemas de meio da tabela do escalão principal – uma lufada de ar fresco que não se viria a repetir, e que permitiria ao Beira-Mar (mediante um golo de Ricardo Sousa) alcançar um feito histórico para o seu palmarés, carimbando o acesso à Liga dos Campeões do ano seguinte e tornando-se a segunda equipa da década a conseguir desafiar a hegemonia dos 'grandes' (sendo a outra o Boavista, no extremo oposto da década, em 1991.)

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A equipa vencedora, em pleno momento de festa após o seu feito histórico

Uma edição da Taça a todos os níveis atípica, portanto, e que provavelmente já não seria possível na era moderna, em que o futebol é clínico e táctico, e os favoritos normalmente acabam mesmo por ganhar. Ainda assim, o desaire do Sporting frente ao Alverca em 2019-2020 mostra que, apesar de improvável, uma repetição desta Taça não é, de todo, impossível – bastando, para isso, que uma das equipas mais pequenas em prova saiba aproveitar as oportunidades, e apanhar os adversários de surpresa. Até lá, e num fim-de-semana em que se celebrou mais uma vez a chamada 'festa da Taça', nada melhor do que recordar o ano em que alguns dos mais históricos emblemas secundários dos campeonatos portugueses tiveram, por breves instantes, o seu 'lugar ao sol'...

 

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