16.03.25
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
O mundo do futebol profissional tende a dividir-se em dois tipos de jogador: os talentos natos, que se tornam estrelas e centram em si todas as atenções, e os mais utilitários, mas tão ou mais necessários para o bom funcionamento de uma equipa – os chamados jogadores de 'fato-macaco'. É de um dos mais famosos representantes nacionais deste segundo tipo – ainda hoje conhecido em 'praça pública' - que falaremos neste 'post', no fim-de-semana em que celebra cinquenta e três anos de idade.
O jogador com algumas das camisolas que representou na carreira.
Filho 'do meio' de um quinteto de irmãos futebolistas (de um total de treze crianças!), José Luís da Cruz Vidigal viria mesmo a ter a carreira mais honrosa de entre os três, conseguindo elevar o seu futebol a um patamar que nem os dois irmãos mais velhos, Beto e Lito, nem os dois mais novos, Toni e Jorge, alguma vez viriam a almejar. Antes dos habituais 'saltos' que marcam o percurso de qualquer jogador promissor – primeiro para um 'grande' e, depois, para o estrangeiro – a trajectória do futuro internacional português, companheiro de Selecção dos membros da 'Geração de Ouro' no Euro 2000, desenrolava-se de forma exactamente análoga à dos irmãos, tendo tido início no modesto mas histórico O Elvas (do qual foi elemento-chave entre a estreia em 1992 e a saída em 1994, tendo realizado sessenta jogos) e continuado na periferia de Lisboa, novamente de amarelo e azul, embora desta feita num patamar mais alto, ao serviço do Estoril-Praia.
A estadia na Amoreira - sobre a qual se comemoram esta temporada exactas três décadas - duraria apenas uma época, mas daria ao jovem de vinte e um anos tempo mais que suficiente para explanar as suas qualidades, tendo deixado apontamentos suficientes ao longo dos vinte e sete jogos que realizou para justificar a chamada às Selecções Sub-21 e Sub-23 e suscitar o interesse de um dos 'grandes' da vizinha capital. No caso, seria o Sporting, recém-sagrado vencedor da Taça de Portugal, quem asseguraria a contratação do médio defensivo no Verão de 1995, no caso como elemento de 'apoio' a um plantel onde a sua posição estava assegurada por nada menos do que Emílio Peixe, Oceano e Carlos Xavier. E se esta concorrência 'de peso' poderia fazer crer que a estadia de Vidigal nos 'Leões' de Lisboa seria curta e inexpressiva, a verdade é que o jogador desafiou todas as expectativas, fazendo cinco épocas de leão ao peito e conseguindo mesmo afirmar-se como elemento importante dos plantéis por onde passou, numa fase que culminaria com a titularidade absoluta na época de 1999/2000, em que foi peça-chave na quebra do 'jejum' de dezoito anos do clube de Alvalade, com a conquista do Campeonato Nacional – proeza que, curiosamente, seria repetida pelo seu irmão mais novo dois anos depois!
Montagem dos melhores momentos de Vidigal no Sporting.
Como é evidente, o alto rendimento do jogador nessa época agudizou o interesse no seu perfil por parte de clubes estrangeiros, algo a que a participação na excelente campanha portuguesa no Euro 2000 veio ainda acrescer. Assim, foi sem surpresas que, nos primeiros meses do Novo Milénio, os adeptos leoninos viram o seu destruidor de jogo rumar a paragens mais apetecíveis, nomeadamente a Itália, país onde passaria os oito anos seguintes – representando sobretudo as cores do Nápoles e do Livorno, excepção feita a uma breve passagem pela Udinese - e onde acabaria mesmo por jogar durante mais um ano do que em Portugal, país ao qual só regressaria já em final de carreira, mas ainda a tempo de fazer dezassete jogos no escalão principal, com a camisola do Estrela da Amadora, fechando de forma honrosa uma bonita carreira.
Ao contrário de tantos outros jogadores já aqui abordados, no entanto – e do próprio irmão mais velho – Luís Vidigal escolheu não fazer a transição para cargos técnicos após o fim de carreira; ao invés, o antigo médio-defensivo viria a manter-se relevante na opinião pública enquanto analista desportivo, cargo que ainda hoje desempenha, podendo ser ouvido semanalmente nas transmissões televisivas de jogos do campeonato e não só, tendo o legado futebolístico do seu clã sido deixado a cargo do sobrinho, André, filho do malogrado Beto. Uma nova etapa na carreira de um nome menos fulgurante, mas não menos importante, do que outros da sua geração, e bem merecedor deste destaque no seu fim-de-semana de aniversário. Parabéns, e que conte muitos.