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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

12.03.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Todas as equipas e Selecções Nacionais têm os chamados 'jogadores utilitários' – nomes que, sem estarem na 'linha da frente' dos seleccionáveis, são suficientemente confiáveis para constituirem uma opção 'de banco' ou segunda linha perfeitamente viável, e como tal, recorrentemente usada. Muitos destes jogadores partilham, também, a particularidade de serem, ou terem sido, membros influentes de equipas também elas de 'segunda linha', onde acabam por se destacar o quanto baste para justificarem a contratação por emblemas maiores, ou a chamada à Selecção Nacional. O Portugal de finais do século XX não constituiu excepção a esta regra, e tanto os três 'grandes' como a Selecção das Quinas da época contavam com jogadores com este tipo de perfil, dos quais poderíamos destacar nomes como Areias, Frechaut, ou o jogador de que falamos neste Domingo Desportivo, Marco Ferreira.

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O extremo com a camisola que o notabilizou.

Um daqueles 'cromos' clássicos das antigas cadernetas da Panini, Marco Júlio Castanheira Afonso Alves Ferreira nasceu em Vimioso, no Norte de Portugal, há precisamente quarenta e cinco anos, e despontou para o futebol ainda antes da adolescência, em clubes locais como o GD Parada, o Bragança ou o local Águia do Vimioso. A carreira sénior, essa, viria a ter início no histórico Tirsense, onde Ferreira ingressaria para a época 1996-97, conseguindo amealhar dezassete exibições e dois golos na posição de extremo. A razoável época valeria ao jovem uma totalmente inesperada e surpreendente transferência para o Atlético de Madrid B, num daqueles 'passos maiores que a perna' que prejudicam a carreira de tantos jovens jogadores; apesar de este não ter sido o caso com Marco Ferreira, a verdade é que a experiência em Espanha não correu bem, tendo o extremo feito apenas quatro partidas pelos 'colchoneros' antes de rumar ao Yokohama Flugels, do campeonato japonês, no mercado de Janeiro. Também aí a vida não lhe correria de feição, tendo o jogador regressado a Portugal no final dessa época 1997-98, sem ter realizado qualquer jogo pela equipa nipónica.

Felizmente, o regresso ao nosso País permitiu a Marco Ferreira rectificar o seu percurso, tendo-se o extremo afirmado como parte importante da equipa do Paços de Ferreira na única época em que representou os 'castores': no total, foram dezanove as partidas realizadas por Ferreira com a camisola verde-amarela, apresentando-se o jogador a um nível suficientemente alto para despertar a atenção do histórico Vitória de Setúbal, adversário directo do Paços na então II Divisão de Honra; os sadinos acabariam mesmo, aliás, por fazer uma proposta pelo jogador e, no início da última época futebolística do século XX, Marco Ferreira rumaria a Setúbal para aquela que seria a melhor fase da sua carreira. No total, foram três épocas e meia com a 'listrada' sadina, sempre com influência determinante, como o comprovam as quase noventa partidas e quase dezena e meia de golos obtidos pelo extremo durante este período, e que lhe valeram as suas únicas chamadas à Selecção Nacional, todas no ano de 2002.

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Ferreira numa das suas três chamadas à Selecção.

A preponderância de Ferreira no plantel sadino levaria, naturalmente, ao interesse de um 'grande', e, no mercado de Inverno da época 2002-2003, o jogador diria adeus à 'casa' onde fora feliz e regressaria ao seu Norte natal, para integrar 'aquela' equipa do FC Porto de José Mourinho, que contava com outras caras previamente desconhecidas, como Pedro Mendes, Pedro Emanuel e Deco; e apesar de nunca ter conseguido ser mais do que um dos tais 'jogadores utilitários' no plantel dos 'Super' Dragões, o extremo conseguiria, ainda assim, comparecer por vinte e três vezes ao serviço da equipa durante a sua primeira época – uma delas na final da Liga dos Campeões, quando rendeu Capucho ao minuto 98, conseguindo assim ter o seu 'momento' europeu para mais tarde recordar.

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O jogador com a camisola do Porto.

Apesar da regularidade e utilidade como 'opção de banco' (apesar de suplente, chegou a marcar três golos pelo Porto) Marco Ferreira ver-se-ia, na época seguinte, dispensado por empréstimo para o Vitória de Guimarães, onde faria mais de vinte partidas, marcando três golos, antes de regressar ao Grande Porto para representar o Penafiel, naquela que se saldaria como a primeira experiência verdadeiramente 'falhada' desde os seus tempos de juventude: sete partidas e um golo são o saldo de meia época que não deixou grandes lembranças. Foi, pois, com alguma surpresa que os adeptos nacionais viram o extremo assinar por outro 'grande', no caso o Benfica, no início da época seguinte.

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Marco durante a infrutífera passagem pelo Benfica.

Como seria de esperar, no entanto, Ferreira nunca encontrou espaço no plantel 'encarnado', tendo-se a sua passagem pelos lisboetas traduzido em apenas cinco partidas e dois empréstimos, um dos quais o veria embarcar na primeira aventura internacional desde as suas primeiras épocas de sénior; nem a cedência ao Leicester City, de Inglaterra, nem o subsequente ingresso no Belenenses correram de feição, no entanto, com o extremo a conseguir apenas seis partidas em duas épocas, todas com a Cruz de Cristo ao peito. A dispensa do Benfica era, pois, inevitável, e os últimos dezoito meses da carreira de Marco Ferreira seriam passados na Grécia, ao serviço do Ethnikos Piraeus – experiência que tem o mérito de ser a primeira 'aventura' internacional bem sucedida para o jogador, e de lhe ter permitido retirar-se do futebol como figura proeminente do plantel de uma equipa, com trinta e dois jogos realizados ao serviço dos gregos, durante os quais contribuiu com cinco golos, uma das suas melhores marcas pessoais numa só época.

No momento da reforma, Marco Ferreira podia, pois, gabar-se de uma carreira repleta de 'aventuras' e que, apesar dos altos e baixos, o cimentou como uma das melhores e mais reconhecíveis 'segundas linhas' do futebol português da sua época – uma posição perfeitamente respeitável, e que o torna merecedor desta singela homenagem no dia do seu aniversário. Parabéns, Marco Ferreira!

04.12.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa altura em que um treinador português é notícia no seu país natal por ter batido a selecção do mesmo, num jogo em que esta era favorita, nada melhor do que recordar os anos mais 'obscuros' da sua carreira de futebolista.

Falamos, é claro, de Paulo Jorge Gomes Bento, hoje seleccionador da Coreia do Sul, mas mais conhecido por ter treinado o Sporting Clube de Portugal durante alguns dos seus melhores anos no início do Milénio, altura em que se notabilizou pela sua peculiar cadência ao falar em conferências de imprensa. Muito antes disso, no entanto – uma década antes, para ser mais preciso – já o lisboeta se havia notabilizado dentro dos relvados, como peça importante das estratégias de ambos os rivais de Lisboa durante os anos 90 e inícios de 2000.

O que muitos adeptos menos atentos tendem a esquecer, no entanto, é que, muito antes de envergar a águia benfiquista ou o leão do Sporting, Paulo Bento já se havia destacado numa série de equipas de menor dimensão, entre elas dois históricos das divisões profissionais portuguesas: o Estrela da Amadora, por quem alinhou nas duas primeiras épocas da década de 90, realizando um total de trinta e sete partidas e celebrando a conquista de uma Taça de Portugal, e o Vitória de Guimarães, onde passou três anos (vários deles ao lado do também futuro 'seleccionável' e seu colega nos 'leões', Pedro Barbosa) e onde foi peça fulcral, realizando perto de cem partidas e contribuindo com treze golos – presumivelmente, o tipo de desempenho que terá chamado a atenção do clube da Luz, para onde se transferia no início da época 1994-95 (a tempo de participar 'naquele' derby) e da Selecção Nacional do início da fase Geração de Ouro, pela qual realizaria os primeiros jogos logo em 1992. Para trás ficava, ainda, o Futebol Benfica, outro histórico do futebol luso, onde Bento faria a primeira época como sénior (após passar os anos formativos no extinto Académico de Alvalade e ainda no Palmense) realizando vinte partidas e marcando dois golos.

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O jogador ao serviço de Estrela da Amadora e Guimarães, as duas equipas onde se notabilizou

Apesar do início auspicioso, no entanto, pode dizer-se que foi após a passagem para o Benfica que a carreira de Paulo Bento verdadeiramente 'descolou', tendo o médio defensivo ganho lugar preponderante (embora não cativo) na 'águia' de meados da década, realizando perto de cinquenta jogos e marcando dois golos antes de 'agarrar' a oportunidade internacional oferecida pelo Oviedo. No total, foram quatro épocas no país vizinho, durante as quais o português se afirmou como peça fulcral da equipa espanhola, realizando mais de cento e trinta jogos e marcando quatro golos ao longo da sua estadia na La Liga.

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Bento nos tempos do Benfica e Oviedo, respectivamente

Assim, foi sem surpresas que os adeptos portugueses (e a sua Lisboa natal) acolheram de volta o médio, pouco depois da viragem do Milénio, e agora do outro lado da Segunda Circular lisboeta, onde realizaria quatro épocas de verde e branco, uma das quais veria o clube lisboeta conseguir o seu segundo título em três temporadas, e atingir uma histórica 'dobradinha' sob a alçada do romeno Lazlo Boloni.

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O médio nos 'leões'.

Alvalade continuaria, aliás, a ser a 'casa' do médio mesmo depois de 'penduradas as botas' em 2004, tendo Bento transitado directamente para as funções de treinador da equipa de juniores leonina e, uma época depois, da equipa principal, função que desempenharia durante quatro anos, sempre com resultados extremamente consistentes; assim, e apesar dos atritos que marcaram o final da sua estadia em Alvalade, o treinador continua a ser tido como um dos melhores a passar pelo Sporting nas últimas décadas, a par de Boloni, Augusto Inácio ou Jorge Jesus.

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Bento na transição para treinador, ao serviço do Sporting.

Após a saída do Sporting, a carreira de treinador de Bento daria o 'salto' máximo, vindo o mesmo a ser contratado para o cargo de seleccionador nacional português, que assumiu durante a fase de preparação para o Euro 2012 e que viria a deixar seis anos depois, logo no início da qualificação para o Euro 2016. Após este revés, o português tornar-se-ia um de muitos a explorar as oportunidades oferecidas pelo campeonato brasileiro (o chamado Brasileirão), tomando as rédeas do Cruzeiro – cargo que viria a ocupar apenas por alguns meses, antes de regressar à Europa para treinar o Olimpiacos da época 2016-17. A temporada seguinte vê-lo-ia rumar à China, para treinar o Chongqing Lifang, da liga chinesa (outro destino habitual para treinadores portugueses) antes de ser convidado a treinar a Coreia do Sul, selecção que comanda desde 2018 e com quem agora faz História no Mundial do Qatar. Apenas mais um ponto alto numa carreira recheada deles, e que pode parecer quase inacreditável ter começado num clube como o Futebol Benfica, e que faz do médio uma das mais notáveis Caras (Des)conhecidas do futebol português...

13.03.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Embora Portugal tenha um longo e ilustre historial em certas modalidades desportivas (com destaque para o futebol e o atletismo), outras há em que o país pouco ou nada se destaca. Talvez por isso seja tão moralizante ver aparecer atletas lusos em desportos com pouco historial em solo nacional, como a Fórmula 1 (por muito azarada que a carreira do representante nacional, Pedro Lamy, tenha sido) ou o basquetebol, que ainda recentemente viu um jovem luso atingir o patamar máximo do desporto, ao ser recrutado para alinhar nos Sacramento Kings, da toda-poderosa NBA.

No entanto, apesar de pertencer a Neemias Queta o maior feito da história da modalidade em Portugal, o mesmo não foi o primeiro nome de destaque mundial a emergir do basquetebol lusitano; pelo contrário, quase um quarto de século antes do nascimento do jovem, despontava na sua Lisboa natal um outro nome, que se tornaria o mais reconhecível do basket português durante os mais de 45 anos seguintes.

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Falamos de Carlos Humberto Lehmann de Almeida Benholiel Lisboa Santos – mais comummente conhecido apenas como Carlos Lisboa – um natural da Cidade da Praia, Cabo Verde, criado em Lourenço Marques (hoje Maputo), mas que viria a fazer nome e carreira em outra capital, com a qual partilhava o apelido e à qual chegaria em 1974, com apenas 16 anos, para representar os juniores do Benfica.

Apesar de não ter sido particularmente auspiciosa – Lisboa foi pouco utilizado, e ponderou mesmo abandonar o basquetebol - essa primeira experiência no clube da Luz permitiu, ainda assim, a Lisboa demonstrar qualidade suficiente para atrair a atenção do rival do outro lado da Segunda Circular, que não tardou em abordar o atleta, por intermédio do seu ídolo Mário Albuquerque. Lisboa não hesitaria em aceitar a proposta, e, na época seguinte (ainda com idade de júnior) surgiria na equipa principal do clube listrado de verde e branco, cores que defenderia durante os sete anos seguintes, ajudando a agremiação de Alvalade a conquistar, durante esse período, três campeonatos nacionais e duas Taças de Portugal da modalidade, além de ter sido homenageado com o Prémio Stromp (atribuído aos atletas do clube que mais se destacam em cada ano) em 1981.

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Lisboa ao serviço do Sporting

Tudo parecia correr bem para Lisboa quando, no final dessa mesma época de 1981/82, o Sporting decide extinguir a secção de basquetebol, uma decisão que vigoraria por quase quarenta anos; o base via-se assim, de rompante, 'desalojado' no auge da sua carreira, e obrigado a procurar nova 'casa'. Propostas não faltaram, entre elas uma do FC Porto, mas Lisboa optaria mesmo por se manter na zona de Lisboa, assinando pelo Clube Atlético de Queluz; e o mínimo que se pode dizer é que a decisão do atleta foi extremamente benéfica para o até então modesto clube dos arredores de Lisboa, que, em duas épocas de Lisboa, ganharia a primeira Taça de Portugal (contra o primeiro clube do basquetebolista, o Benfica) e o primeiro campeonato nacional da sua história, elevando consideravelmente o seu estatuto no panorama basquetebolístico nacional.

Não foi apenas o estatuto do clube que se elevou durante este período, no entanto – antes pelo contrário. Com fama de 'decisor' e vencedor de títulos, e presença cativa na Selecção Nacional da modalidade, o basquetebolista não podia deixar de despertar o interesse e a cobiça de vários emblemas, e foi sem surpresas que o Queluz viu o base abandonar os seus quadros em favor do clube que o dispensara quase exactamente dez anos antes (sim, este fenómeno não é, de todo, do domínio exclusivo do futebol...)

Seria aí – no Benfica – que Lisboa viria a passar os restantes doze anos da sua carreira, sempre num registo diferenciado; e apesar de um início, novamente, pouco auspicioso (o Benfica perdeu tudo na primeira época de regresso do atleta, uma situação anómala na carreira de Lisboa) a resposta do base e do respectivo emblema seria retumbante, vindo o Benfica a estabelecer uma hegemonia que duraria quase uma década, e resultaria em sete campeonatos nacionais consecutivos, ainda que apenas em uma Taça de Portugal (em 1991-92.) E apesar de os anos 90 terem representado o ocaso da carreira de um Lisboa já envelhecido, o mesmo ainda iria a tempo de fazer muitos estragos ao serviço dos encarnados – inclusivamente na Euroliga, a principal competição europeia em basquetebol, em que o Benfica teria prestação honrosa na época de 1995-96, e onde, no feriado do 5 de Outubro, Lisboa (na sua última época enquanto profissional da modalidade) estabeleceria um novo recorde de pontos num só jogo, ao conseguir 45 contra o Partizan de Belgrado.

O mais histórico jogo da carreira de Carlos Lisboa, disputado mesmo ao 'cair do pano' da mesma

Uma carreira de mais de duas décadas, e repleta de títulos nacionais (só pelo Benfica, foram dez campeonatos em doze possíveis), via-se, assim, coroada com um feito histórico, bem merecido pela então figura maior do basquetebol nacional, mas também com uma desilusão, já que o último jogo de sempre de Carlos Lisboa seria uma derrota na final do campeonato nacional desse ano, frente ao FC Porto, e já depois de o Benfica ter arrebanhado todos os restantes títulos nacionais da modalidade.

Não terminaria aí, no entanto, a ligação de Lisboa ao desporto que o cativara aos nove anos de idade, ainda em Moçambique; pelo contrário, após a despedida dos 'courts' na qualidade de jogador, o ex-base transpôs toda a sua experiência para o outro lado das linhas, assumindo o posto de técnico em emblemas como o Estoril, o Aveiro Basket e, por duas vezes, o seu clube do coração, o qual levou a mais uma 'enxurrada' de títulos, renovando o seu estatuto como lenda viva do clube da Luz, não só dentro, como também fora dos 'courts'.

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Lisboa ao comando do seu clube do coração

Hoje com 63 anos, o 'Eusébio do basket' – cuja camisola com o número 7 'mora' ainda sobre o Pavilhão da Luz – pode ter sido destronado como detentor do maior feito de sempre da História do basket nacional, mas a verdade é que aquele que parece ser o seu sucessor natural, Neemias Queta, terá de ter uma carreira extraordinária para conseguir igualar o notável percurso de Lisboa, ainda hoje o mais condecorado e consagrado atleta português da modalidade.

 

16.01.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Um dos maiores paradoxos do futebol, quer actualmente quer em décadas transactas, prende-se com o facto de, por vezes, jogadores que se revelam como talentos invulgares terem de passar incontáveis temporadas em situação de empréstimo durante os seus anos formativos. É claro que, por vezes, existem nomes que contrariam esta tendência, principalmente desde o dealbar do futebol moderno – basta lembrarmo-nos de Luís Figo, João Moutinho, Renato Sanches, Francisco Conceição ou, claro, Cristiano Ronaldo – mas, para cada um destes exemplos, continua a haver um sem-fim de nomes que deixam os adeptos a pensar em como é possível que os clubes não tenham visto, de imediato, o potencial dos jogadores – nomes como Deco, Miguel Veloso, João Palhinha, ou o homem de que falamos hoje, Rui Costa.

Produto das escolinhas do Benfica, e considerado pela lenda Eusébio como grande promessa para o futuro, Rui Manuel César Costa parecia, à entrada para a sua primeira época como sénior, no dealbar da década de 90, uma escolha natural para a promoção ao plantel principal do clube onde crescera para o futebol – especialmente tendo em conta que o médio tinha feito parte da Selecção portuguesa que havia conquistado o título de campeão mundial de sub-20, em Riade, no ano transacto. Terá, portanto, sido com alguma surpresa que os adeptos benfiquistas viram a jovem promessa de 18 anos rumar ao Grupo Desportivo de Fafe, num dos tais empréstimos por uma época que indicam que, apesar de o clube principal ainda contar com o jogador para o futuro, existem primeiro algumas arestas a lapidar.

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Foto de arquivo que mostra Rui Costa integrado no plantel do Fafe, aqui em treino (Crédito da foto: MaisFutebol)

E o mínimo que se pode dizer é que Rui Costa alisou definitivamente quaisquer 'cantos' pontiagudos que ainda pudessem existir durante a sua temporada na equipa nortenha em 1990-91, tendo-se afirmado como parte indiscutível da equipa (entre aulas de código e visitar ao clube de vídeo, foram 38 jogos, tendo o médio ainda contribuído com seis golos) e crescido o suficiente como futebolista para, aquando do seu regresso à casa-mãe (já com o título de Campeão Mundial de Sub-21, obtido novamente em Riade e no qual Rui Costa teve papel decisivo, ao marcar o 'penalty' que decidiu a final) ser integrado nos trabalhos da equipa principal, da qual apenas sairia para protagonizar uma das primeiras grandes transferências do futebol português moderno, ao rumar à Fiorentina, de Itália, em contra de 1 milhão e 200 mil escudos, o equivalente actual a seis milhões de euros. Pelo caminho ficavam uma Taça de Portugal, ganha ao Boavista por 5-2 em 1992/93, o título máximo de campeão nacional, obtido na época seguinte, sob o comando do não menos lendário Toni, e uma dupla de meio-campo ainda hoje tida pelos adeptos benfiquistas como uma das melhores de sempre, ao lado de João Vieira Pinto.

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De Fafe, Rui Costa 'voaria' para a ribalta do futebol mundial (Crédito da foto: FotoArte/MaisFutebol)

No futuro estava, claro, mais de uma década em Itália, ao serviço da Fiorentina e AC Milão, que lhe valeria a alcunha de 'Il Maestro', outros tantos anos como 'motor' de uma Selecção Portuguesa 'movida' a Geração de Ouro, e, finalmente, um regresso ao Benfica, que acolheu de braços abertos o seu filho pródigo e, após o término natural da carreira deste, o integrou nos quadros do clube que o formara para o futebol, onde ainda hoje milita. Prova concreta de que a previsão de Eusébio, quase quatro décadas antes, estava correcta, e de que Rui Costa era mesmo um dos 'especiais' do futebol moderno – mesmo que esse talento tenha, por uma época pelo menos, andado perdido nos 'batatais' da Segunda Divisão nacional de inícios dos anos 90...

05.12.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Já aqui falámos, aquando do último encontro entre Benfica e Sporting, na época passada, da importância que o 'derby' de Lisboa tem para os adeptos de ambos os clubes, ao ponto de, muitas vezes, o seu resultado ser quase mais importante do que o desempenho de cada uma das equipas na restante prova; agora, na ressaca de novo encontro entre os dois emblemas, já no âmbito da nova época, recordamos um jogo em que se verificou, precisamente, essa situação - o famoso 3-6 de 1994, ainda hoje uma das partidas mais históricas e recordadas da História do futebol português.

Ainda hoje custa a ver, para um adepto do Sporting...

Corria o mês de Maio de 1994, e o então Campeonato Português da I Divisão aproximava-se a passos largos do final, quando os eternos rivais da Segunda Circular lisboeta se encontravam, sob chuva torrencial, no velhinho e saudoso Estádio José Alvalade, em partida a contar para a 30ª jornada. O Benfica liderava a prova, mas o Sporting mantinha acesa a perseguição, 'mordendo os calcanhares' às águias na segunda posição da tabela. O 'derby' de Alvalade era, portanto, um daqueles jogos que ajudaria a definir a classificação: o Sporting precisava de ganhar para manter a luta em aberto, e não se deixar ultrapassar pelo outro rival de ambas as equipas, o FC Porto, enquanto que o Benfica tinha na partida uma oportunidade de cimentar a liderança, deixando os dois adversários na luta apenas pelo posto de vice-campeão.

E foi precisamente isso que acabou por se verificar, muito graças a uma das melhores exibições individuais de sempre num jogo do campeonato português, por parte de um 'loirinho' endiabrado com talento inversamente proporcional à altura, de seu nome João Vieira Pinto; o número 8 benfiquista ajudou a manter o Benfica na luta durante a primeira parte de um jogo que até havia começado com o Sporting em vantagem (por duas vezes), tendo os golos do empate sido apontados, em ambas as instãncias, por...João Vieira Pinto. Foi, também, dele o golo que deu a vantagem ao Benfica pela primeira vez, assegurando que os encarnados iam para o intervalo a vencer por 2-3, num jogo em que haviam estado em desvantagem por 1-0 e 2-1 (golos de Cadete e Figo.)

Na segunda parte, foi a vez de outro jogador benfiquista 'abrir o livro' – no caso, o avançado brasileiro Isaías, que ajudou a dilatar e avolumar o resultado em favor das águias, com dois golos consecutivos, aos 48 e 57'. Aos 74', Hélder Cristóvão dava ao resultado contornos de massacre, que nem um penálti tardio do 'mago' Balakov ajudou a suavizar; o Sporting saía, mesmo, de sua casa humilhado (e bem!) pelo eterno rival, e com o Campeonato definitivamente perdido (esta mesma equipa viria aliás, semanas depois, a pôr o ponto final numa época desapontante, ao perder também a Taça de Portugal para o outro rival, por 1-2 após finalíssima.)

À distância de quase três décadas, é fácil perceber porque continua este a ser um dos jogos mais falados de sempre do futebol português: um resultado de 3-6 é tudo menos comum, e quando associado a um 'derby', com todas as 'picardias' que esse tipo de jogo acarreta, ainda mais memorável se torna. E ainda que o Sporting tivesse, mais de uma década e meia depois, conseguido 'vingar-se' deste resultado com um 5-3 para a Taça de Portugal, o jogo de 14 de Maio de 1994 continua a ser uma das 'feridas abertas' para os adeptos leões, e um dos maiores motivos de orgulho para os adeptos benfiquistas que o presenciaram...

FICHA DE JOGO

SPORTING 3-6 BENFICA

14/05/1994

Estádio José Alvalade

Campeonato Nacional da I Divisão – 30ª Jornada

Árbitro: António Marçal

SPORTING: Lemajic; Nélson, Valckx, Vujacic e Paulo Torres (Pacheco, int.); Paulo Sousa, Capucho, Balakov e Figo; Cadete e Iordanov (Poejo, 60').

BENFICA: Neno; Hélder Cristóvão, Mozer, Abel Xavier e Veloso; Kenedy, Paneira, Schwarz e Aílton; João Vieira Pinto (Rui Águas, 78') e Kenedy (Rui Costa, 71').

GOLOS: 1-0 por Cadete (8'); 1-1, por João Vieira Pinto (30'); 2-1 por Figo (35'); 2-2, por João Vieira Pinto (37'); 2-3, por João Vieira Pinto (44'); 2-4, por Isaías (47'); 2-5, por Isaías (57'); 2-6 por Hélder Cristóvão (74'); 3-6 por Balakov (pen, 80'.)

21.11.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Para a maioria das pessoas – incluindo os desportistas – a rota para o sucesso é longa e árdua. Embora haja quem pareça já ter nascido ali, no topo da cadeia alimentar da sua respectiva área, a verdade é que, a maior parte das vezes, até as mais distintas carreiras têm início nos locais mais insólitos e inesperados. Nesta nova rubrica aqui no Anos 90, vamos relembrar onde andavam algumas das caras mais icónicas do desporto português, antes de serem famosos.

E começamos, desde logo, com um exemplo perfeito do tipo de percurso acima descrito: a história de Anderson Luís de Sousa, um médio brasileiro que, no decorrer dos anos 2000, se viria a tornar um dos jogadores mais instantaneamente reconhecíveis do mundo do futebol, passeando a sua classe primeiro ao serviço de um FC Porto em transição da fase 'sarrafeira' para a fase de conquista da Europa, e mais tarde do Barcelona, do Chelsea e da Selecção Nacional portuguesa. O que poucos saberão, no entanto, é que antes de viver estes anos de glória, Deco – como era mais comummente conhecido – militou em dois outros 'históricos' do futebol português, ambos entretanto tombados: nada mais, nada menos do que o Alverca (aqui por empréstimo do 'clube-pai' Benfica, juntamente com o colega de equipa e histórico dos ribatejanos, Caju) e Sport Comércio e Salgueiros.

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Deco alinhou pelo Alverca e Salgueiros, nas épocas de 1997-98 e 1998-99, respectivamente

Sim, um dos jogadores mais claramente predestinados da sua geração começou a sua ascensão para o sucesso do mesmo modo que tantos outros: descoberto no seu Brasil natal por um 'grande', mas cedo 'despachado' para um clube satélite, onde acaba por se afirmar. No caso de Deco, no entanto, a excelente época realizada no clube ribatejano - onde foi, ao lado do conterrâneo e colega de equipa Caju, uma das figuras de proa, com 32 jogos e 12 golos - não foi suficiente para conseguir uma segunda oportunidade no Benfica de Souness, demasiado ocupado a arranjar lugares de plantel para os seus 'boys' para reparar na pérola que tina debaixo do seu nariz. No início da época de 98-99, naquele que foi considerado posteriormente como um 'erro histórico', Deco viria a desvincular-se definitivamente do Benfica, clube pelo qual nunca chegara a calçar, e rumaria a Norte, para se juntar ao Salgueiros, seguindo Nandinho (outra aposta falhada do clube da Luz) na direcção inversa. Uma época assolada por lesões levaria a que o hoje luso-brasileiro alinhasse apenas doze vezes pelo histórico clube nortenho, mas mesmo com poucas aparições e muito azar, Deco conseguiu mostrar o seu talento a ponto de despertar o interesse do Porto, que o viria a contratar ainda antes do fim da temporada. O médio estreava-se, assim, na elite do futebol mundial da melhor maneira – com um título de campeão nacional, que quase fazia esquecer a época desafortunada que acabara de viver.

O resto da história é bem conhecido – títulos europeus com o Porto, transferências para o Barcelona e depois Chelsea, participação em algumas das melhores campanhas da selecção nacional portuguesa, e eventual regresso a 'casa' para alinhar pelo Fluminense. Uma carreira verdadeiramente de 'top' mundial, que é difícil de acreditar que começou com a dispensa de uma equipa que ficou na história pelo seu elevado volume de 'mancos', mas que não teve lugar para um dos últimos grandes 'números dez' puros do futebol moderno. No entanto, como se disse no início deste texto, por vezes a vida tem destas coisas – e Deco não será, certamente, o último exemplo que aqui vemos disso mesmo...

18.10.21

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 17 de Outubro de 2021.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

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De entre as (cada vez mais) provas que compõem a época futebolística portuguesa, a Taça de Portugal continua a ser a mais acarinhada pela maioria dos verdadeiros entusiastas de futebol. Isto porque, mais do que uma oportunidade para o nosso clube do coração ganhar mais um troféu, a Taça afirma-se como a mais pura das competições desportivas nacionais (talvez em qualquer modalidade) pelo carácter igualitário que fomenta, permitindo a agremiações que normalmente nunca chegariam a ver as luzes da ribalta jogar olhos nos olhos com as principais equipas nacionais, proporcionando-lhes assim, não só visibilidade e receitas, como também a oportunidade de 'fazer uma gracinha'; e embora este último cenário não seja por aí além frequente, a verdade é que, por vezes, a Taça de Portugal lá reserva uma surpresa aos entusiastas de futebol – e os 'nossos' anos 90 foram palco daquela que talvez seja a mais cabal demonstração deste princípio em toda a História moderna da prova: a Taça de 1998-99.

As peculiaridades da referida edição da Taça começaram logo na quinta eliminatória (a primeira considerada pela maioria das listagens 'online'), em que já só se perfilavam dois dos tradicionais 'três grandes' portugueses, tendo o Sporting ficado pelo caminho ainda numa das rondas anteriores. As duas equipas que sobravam, Benfica e Porto, tinham, obviamente, enorme favoritismo, mas também elas viriam a soçobrar logo nessa mesma eliminatória, com o campeão em título a ser alvo de uma das tais 'gracinhas' mencionadas anteriormente, ao ser batido pelo Torreense em pleno Estádio das Antas - num jogo que pôs o nome de Cláudio Oeiras no radar futebolístico português - e o Benfica a perder com o Vitória de Setúbal, no Bonfim, por 2-0 – um mau resultado, sim, mas longe de uma derrota em casa contra uma equipa da II Divisão B...

As desapontantes prestações dos 'grandes', juntamente com alguns 'agigantamentos' de agremiações mais pequenas (talvez motivadas pela janela de oportunidade que as mesmas proporcionavam) resultaram naquelas que talvez sejam as meias-finais mais atípicas da História da prova, sem nenhuma equipa grande, e com a presença insólita do Esposende, o mais valoroso 'tomba-gigantes' numa época repleta deles, mas que viria a claudicar perante um Campomaiorense então ainda no pleno das suas forças; já no outro jogo, o Beira-Mar levava a melhor sobre o Vitória de Setúbal, confirmando assim uma final da Taça entre dois emblemas de meio da tabela do escalão principal – uma lufada de ar fresco que não se viria a repetir, e que permitiria ao Beira-Mar (mediante um golo de Ricardo Sousa) alcançar um feito histórico para o seu palmarés, carimbando o acesso à Liga dos Campeões do ano seguinte e tornando-se a segunda equipa da década a conseguir desafiar a hegemonia dos 'grandes' (sendo a outra o Boavista, no extremo oposto da década, em 1991.)

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A equipa vencedora, em pleno momento de festa após o seu feito histórico

Uma edição da Taça a todos os níveis atípica, portanto, e que provavelmente já não seria possível na era moderna, em que o futebol é clínico e táctico, e os favoritos normalmente acabam mesmo por ganhar. Ainda assim, o desaire do Sporting frente ao Alverca em 2019-2020 mostra que, apesar de improvável, uma repetição desta Taça não é, de todo, impossível – bastando, para isso, que uma das equipas mais pequenas em prova saiba aproveitar as oportunidades, e apanhar os adversários de surpresa. Até lá, e num fim-de-semana em que se celebrou mais uma vez a chamada 'festa da Taça', nada melhor do que recordar o ano em que alguns dos mais históricos emblemas secundários dos campeonatos portugueses tiveram, por breves instantes, o seu 'lugar ao sol'...

 

22.08.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

A vida de um adepto de futebol – tenha que idade tiver – nunca é fácil. Mesmo aqueles que seguem os clubes de maior dimensão nacional ou mundial não conseguem escaper a uma ou outra época de desilusões, frustrações e amarguras. E apesar de, eventualmente, esses períodos passarem a ser apenas uma recordação mais ou menos embaraçosa para partilhar com os amigos numa jantarada, na altura, ao vivo e a cores…doem. Doem muito.

O primeiro assunto que iremos abordar nesta nova rubrica do nosso espaço desportivo - dedicada a recordar plantéis memoráveis da nossa década de eleição - trata, precisamente, de um desses momentos, no caso relativo a um dos chamados ‘três grandes’ portugueses – nomeadamente, o Benfica. E, tendo em conta a época em que a maioria dos leitores deste blog nasceu (e o título do post…) certamente já sabem de que momento se trata.

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Sim, hoje vamos falar daquelas duas épocas em que o clube encarnado de Lisboa foi treinado por um escocês crédulo e com uns ‘parafusos a menos’, que o tentou transformar numa espécie de versão portuguesa de uma equipa do Championship ou League One, recheada de ‘pernetas’ britânicos de variáveis graus de hilaridade para os adeptos adversários. Só essa lista já deverá ser suficiente para fazer arrepiar qualquer adepto ‘lampião, tal o calibre dos nomes que a compõem. Senão vejamos: na época e meia em que Souness esteve à frente da equipa, constaram da folha salarial do Benfica nomes como Scott Minto, Mark Pembridge, Michael Thomas, Gary Charles, Brian Deane, Steve Harkness e Dean Saunders (que, em abono da verdade, até era bom jogador). Já sentiram um friozinho na espinha? Pois… Até os adeptos de outros clubes tinham pena de quem tinha que ‘gramar’ com estes toscos semana sim, semana sim, durante um campeonato inteiro.

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Quem se poderá esquecer deste gigantesco craque, notável pela sua velocidade de movimentos e execução?

E o pior é que essas equipas do Benfica não eram, de todo, desprovidas de talento – antes pelo contrário. A equipa que Souness herdou de Manuel José e Mário Wilson tinha, por exemplo, um dos melhores guarda-redes de sempre a actuar no campeonato português moderno (o eterno Preud’Homme), um dos melhores criativos (o igualmente eterno João Vieira Pinto) e ainda nomes como Tahar El-Khalej, Paulo Madeira, El-Hadrioui, Karel Poborsky (que viria a atingir outros vôos), Ovchinnikov (aqui suplente de Preud’Homme, mais tarde titularíssimo do FC Porto), Jorge Cadete ou um jovem Nuno Gomes, que já mostrava a veia goleadora pela qual se tornaria conhecido na década seguinte. A nível de resultados, também nada fora do normal – um segundo lugar e um terceiro, embora este ultimo se tenha iniciado com uma pouco típica série de cinco derrotas. E, no entanto, a principal memória tanto de adeptos como de adversários é mesmo aquela ‘colecção’ de ‘pernetas’ britânicos, que entre eles talvez perfizessem um jogador mediano...

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...imediatamente seguida pela desta 'maravilha' de equipamento alternativo, que consegue, ainda assim, a proeza de NÃO ser o pior da história recente do clube.

Mas, afinal de contas, que mais se poderia esperar do homem que, ao comando do Sunderland, adquirira sem qualquer prospecção um suposto ‘primo’ de George Weah, que afinal não passava de um ilustre desconhecido das divisões amadoras francesas? Não, caros amigos do clube rival, vocês até tiveram sorte de as ‘fézadas’ de Souness no vosso clube se terem resumido a uns quantos ‘coxos’ ao nível do segundo escalão inglês, e nunca se terem alargado a um Ali Dia; como o próprio Souness talvez dissesse, ‘be thankful for small mercies’ - entre as quais a de nunca ter havido no vosso clube outro treinador como o escocês, nem outra equipa como a que ele montou naquela recta final do século XX, da qual os maiores beneficiários eram mesmo os clubes rivais, que tinham a vida significativamente facilitada sempre que chegava a altura de um ‘derby’…

08.08.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

E porque acaba de se iniciar mais uma época do nosso ‘querido’ campeonato português (força Sporting! De três em três, sempre a somar!), nada melhor do que recordar as provas que completam, este ano, precisamente 30 e 25 anos de vida, respectivamente.

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Não que as épocas de 91/92 e 96/97 tenham tido, de todo, algo de especial; pelo contrário, qualquer das duas serviria como exemplo perfeito do paradigma do futebol português dos anos 90, o qual ficou, acima de tudo, marcado pela hegemonia do Futebol Clube do Porto, a qual se faz sentir em ambos estes campeonatos (o de 91/92 marca, inclusivamente, o início dessa hegemonia, sendo que na época imediatamente transacta – a primeira dos anos 90 – o campeão havia sido o Benfica).

A Oeste nada de novo, portanto – o que não significa que os dois campeonatos escolhidos não tenham, mesmo assim, tido os seus motivos de interesse; de facto, uma consulta rápida aos plantéis dos ‘três grandes’ em cada um dos anos revela um sem-fim de nomes bem conhecidos e memoráveis para qualquer jovem adepto. Na época de 91/92, por exemplo, militavam em Portugal nomes como Vítor Paneira, Paulo Madeira, Tahar El-Khalej, El Hadrioui, Figo, Balakov, Cadete, Iordanov, Vítor Baía, Aloísio, Fernando Couto, Timofte, Kostadinov ou Domingos, enquanto a época de 96/97 seria palco para o despontar de jovens promessas nacionais como Hugo Leal, Simão Sabrosa, ou um jovem ponta-de-lança brasileiro de 22 anos chegado a Portugal nesse mesmo ano para representar um Futebol Clube do Porto em transição da fase ‘trauliteira’ do início dos 90 para o futebol mais artístico que marcaria a década seguinte – um tal de Mário Jardel…

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O genial Balakov em acção contra o FC Porto

Mesmo fora dos ‘grandes’, havia nomes memoráveis a reter, como o de Jimmy Floyd Hasselbaink, que seguiria do Boavista onde ainda militava em 1996 para (muito) mais altos vôos em anos seguintes.

Em termos futebolísticos, no entanto, o cenário era o mesmo que se verificaria em quase todos os anos dessa década, e muitos dos da seguinte – o Porto a ganhar campeonatos de forma conclusiva, deixando Benfica, Sporting, e por vezes Boavista a digladiar-se pelo 2º e 3º lugares. Anos subsequentes revelariam a verdadeira razão dessa hegemonia, mas naqueles tempos mais inocentes, os adeptos pouco podiam fazer senão encolher os ombros e admitir que sim, CLARO que o Porto ganhava mais um…era apenas parte do ‘status quo’ futebolístico da altura, especialmente depois de os do Norte se tornarem ‘movidos’ a Jardel…

images.jpgAté ele parece confuso sobre como marcava tantos golos...

Vinte anos depois, muita coisa mudou - o futebol português assistiu, entre outras efemérides, a um Porto campeão europeu, a um novo período hegemónico mais a sul, no caso do Benfica, e até a um Sporting capaz de surpreender e deixar a sua posição de eterno derrotado na corrida aos títulos. Perante este paradigma, aqueles tempos mais inocentes, em que o campeonato se chamava Primeira Divisão, se disputava entre equipas de homens feios e brutos em lodaçais disfarçados de campos da bola, e onde se jogavam 90 minutos e no fim o Porto ganhava pode até parecer nunca ter existido, um pouco à semelhança do que acontece com o campeonato inglês pré-Premiership.

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Antes dos patrocínios e do futebol-espetáculo, era assim...fi

No entanto, quem esteve lá sabe que tal cenário não só foi absolutamente verdadeiro, como extremamente empolgante para quem a ele assistia, com as emoções à flor da pele próprias da infância; será, talvez, essa a razão para termos acabado de dedicar uma página inteira a duas épocas pouco ou nada marcantes daquele tempo – e para os nossos leitores terem dedicado algum do seu tempo a lê-la…

24.06.21

NOTA: Este post é relativo a Quarta-feira, 23 de Junho de 2021.

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

…como é o caso dos matraquilhos.

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Complemento perene de cafés, pastelarias e ‘tascas’ por esse Portugal afora, os matraquilhos não são um passatempo exclusivamente nacional (foram, aliás, inventados em Espanha, mais concretamente na Galiza) mas para quem seja mais desapercebido, quase pode parecer ser esse o caso. Afinal, ainda hoje, mais de três quartos de século após terem sido patenteados, os matraquilhos ou ‘matrecos’ marcam presença em estabelecimentos de refeições leves, acampamentos, colónias de férias, salões de jogos, e onde mais couber uma mesa.

E se muitos países estrangeiros se contentam com ter aquelas mesas básicas, com bonecos azuis sem feições a defrontar bonecos laranjas sem feições, nós portugueses não fazemos por menos – os nossos jogadores de mesa de ‘matrecos’ surgem, inevitavelmente, vestidos a rigor com os equipamentos do Sporting, Benfica ou Porto.

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Podia-se fazer uma 'jogatana' numa mesa destas? Podia, mas não era a mesma coisa...

De igual modo, enquanto no estrangeiro se vão popularizando as horríveis mesas modernas de plástico, em Portugal continuamos apegados às nossas históricas e maravilhosas criações em madeira, tão sólidas e resistentes como intemporais, sempre com aquele ar de quem já foi usado por gerações de jogadores, e estará lá para ser utilizada por várias gerações mais…

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Mesa de 'matrecos' que se preze simula um 'derby'. E quanto mais gastos os jogadores, melhor...

Enfim, apesar de serem de origem galega, os ‘matrecos’ foram-se, ao longo das suas décadas de existência no nosso país, transformando numa experiência bem ‘portuguesa’ – não só no aspecto e envolvência, como na própria forma de jogar (certos países, por exemplo, não respeitam a Regra Sagrada; no Reino Unido, as roletas não só valem, como são mais abusadas do que um Hadouken num jogo de Street Fighter.)

No entanto, a verdade é que este jogo tão simples quanto viciante – seja a dois ou, preferencialmente, a quatro jogadores – é popular o suficiente a nível internacional para justificar a existência, por exemplo, de (múltiplos!) videojogos de ‘simulação’; isto já sem contar, é claro, com as mesas em formato miniatura que todos nós queríamos ter no quarto nos idos de 90 (por aqui, havia uma, muito apreciada.) Enfim, um jogo intemporal, que atravessa gerações, e que, em tempos de euforia futebolística como os que se vivem nestas duas ou três semanas do Verão de 2021, merece bem a homenagem retrospectiva!

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