NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 29 de Novembro de 2024.
Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.
Um dos aspectos mais memoráveis e marcantes da experiência de ser adolescente em Portugal nos anos de viragem do Milénio foi a vincada demarcação da demografia juvenil nas clássicas 'tribos urbanas' já conhecidas dos filmes americanos, mas apenas então verdadeiramente chegadas a Portugal. Rótulos como gótico, 'dread' ou 'skater' vieram juntar-se aos já existentes 'betos', 'metaleiros' e surfistas, e trouxeram consigo toda uma nova gama de estilos e acessórios de moda, muitos dos quais viriam rapidamente a permear a cultura popular juvenil como um todo. É o caso do acessório de que falamos nesta Sexta com Style, com origem no movimento 'skater' mas que rapidamente se alastrou à moda juvenil 'generalista', sendo visão frequente entre os seguidores dos estilos mais alternativos durante os últimos anos do século XX e os primeiros do seguinte.
Exemplo do acessório em causa a uso na actualidade.
Falamos dos atacadores largos, normalmente fluorescentes, que qualquer bom adepto do estilo em causa não dispensava nos seus sapatos de ténis Adidas, Airwalk, Skechers ou semelhante. Isto porque, para além da sua função declarada de oferecer maior estabilidade ao sapato e não se desatar tão facilmente (o que não deixava de ser irónico, já que eram maioritariamente usados desamarrados) os acessórios em causa davam um toque de estilo e cor a ténis cujas cores dominantes tendiam a ser o cinzento, o castanho e o preto – característica que ajuda, também, a explicar a popularidade dos mesmos junto do público alternativo feminino.
Ao contrário do que acontece com tantas outras peças de que vimos falando nesta mesma secção, os atacadores largos e fluorescentes nunca desapareceram verdadeiramente dos estilos juvenis, apenas mudando ligeiramente de configuração, e sido aplicados a novos tipos de sapatos; e, com o apreço que a actual geração de adolescentes demonstra pelas cores vivas e 'neon', não se prevê que tal tendência venha a mudar num futuro mais próximo, fazendo destes atacadores um dos poucos e mais inesperados produtos a 'unir' as mais recentes gerações de portugueses.
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A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.
A ùltima década do século XX foi palco de um significativo aumento de popularidade dos desportos radicais junto da população infanto-juvenil, não só portuguesa como do resto do Mundo em geral, com actividades anteriormente periféricas, como o 'surf','bodyboard', snowboard, 'skate', patins em linha ou BMX competitiva a adquirirem renovado interesse para a referida demografia, que se revia na estética dos praticantes e no 'factor cool' das manobras em si. Não foi, pois, de estranhar que rapidamente principiassem a surgir novos conceitos ligados a estas e outras modalidades, fosse através de programas especificamente dedicados às mesmas, como o 'Portugal Radical', fosse utilizando o outro grande meio de 'atingir' o público jovem, os videojogos; e se, neste universo em particular, a estética 'radical' vinha já perdurando há vários anos, a segunda metade dos anos 90 e primeira da década e século seguintes viram ser feito um esforço concertado para proporcionar aos 'gamers' versões virtuais dos seus desportos radicais favoritos. A chegada da novíssima e revolucionária tecnologia poligonal, que permitia a criação de ambientes tridimensionais onde movimentar os personagens, apenas veio tornar a criação de jogos centrados em desportos radicais ainda mais apetecível, e não tardaria até o mercado em questão ver surgir nos escaparates o seu primeiro clássico, o qual, sem que ninguém o esperasse, viria a influenciar o seu sub-género durante as (até agora) três décadas seguintes.
Corria a primeira quinzena de Outubro de 1999 quando os 'gamers' europeus, nomeadamente os detentores de uma Sony PlayStation, tiveram pela primeira vez contacto com 'Tony Hawk's Skateboarding', título que trazia, desde logo, a 'garantia de qualidade' associada a licença e 'apadrinhamento' oficiais do nome mais mediático da cena 'skate' mundial. De facto, a presença de Hawk e dos seus colegas de profissão não só ajudava a criar um atractivo extra para os jovens fãs da hoje modalidade olímpica, como também 'obrigava' a Activision (então ainda longe de cair em desgraça) a produzir algo acima da média, e que honrasse os nomes envolvidos. E o mínimo que se pode dizer é que a editora esteve à altura do desafio; embora o primeiro 'Tony Hawk's' não seja um título perfeito, nem tão-pouco o melhor da série, o seu estatuto de pioneiro de um género hoje popularíssimo, e o impacto que teve no mercado dos videojogos em geral, não pode ser negado.
De facto, é ao primeiro título da futura série 'Tony Hawk' que o panorama interactivo deve a popularização do formato mediante o qual o jogador 'veste a pele' de uma estrela do 'skate' (ou de qualquer outra modalidade) e percorre diferentes cenários, realizando truques, cumprindo objectivos e descobrindo segredos que, por sua vez, ajudam a activar novos personagens, cenários ou acessórios, tudo ao som de uma banda-sonora composta do melhor do 'punk' melódico e rock alternativo contemporâneo. Uma fórmula hoje expectável, e quase 'batida', mas que, naqueles meses da viragem do Milénio, era verdadeiramente inovadora, ajudando a demarcar o jogo de títulos 'arcaicos' como 'Skate or Die', para a Nintendo 8-bits. O sucesso, esse, foi imediato e retumbante, não tardando 'Tony Hawk's Skateboarding' a estar nas 'bocas do Mundo' infanto-juvenil, a par de títulos como 'Grand Theft Auto', 'Tomb Raider', 'Final Fantasy VII' ou 'Metal Gear Solid', com os quais viria a partilhar o estatuto de 'best-seller' no mercado da altura.
Surpreendentemente, no entanto, o melhor estaria ainda para vir: ainda os jovens ocidentais cantarolavam 'Superman', dos Goldfinger (grande 'malha' do primeiro álbum) e já a Activision lançava no mercado o segundo volume da série, agora numa maiorvariedadede plataformas e com uma ligeira mudança de nome (para a variante americana 'Tony Hawk's Pro Skater', que se tornaria permanente). E seria aquela que se revelaria como a primeira de muitas continuações da série até aos dias de hoje a grande responsável por implementar grande parte dos elementos hoje associados com a mesma, cumprindo a função inerente a qualquer boa sequela – isto é, a de melhorar as bases estabelecidas pelo título original – e produzindo uma banda sonora, se possível, ainda mais icónica, com 'bombas' sonoras a cargo de Bad Religion, Powerman 5000 ou Anthrax com Public Enemy, entre outros. O sucesso foi, mais uma vez, estrondoso, sendo 'Tony Hawk's Pro Skater 2' ainda hoje considerado por muitos como o melhor título da série, ou pelo menos o mais completo e equilibrado a nível dos aspectos técnicos.
Quiçá a melhor banda sonora de qualquer videojogo moderno.
A restante história é bem conhecida de qualquer cidadão ocidental com interesse em videojogos: mais dois títulos da série original, expansão para novas plataformas, novas séries 'derivadas' (como 'Tony Hawk's Underground') e uma franquia que perdura até aos dias de hoje, embora já não necessariamente com o 'gás' dos primeiros tempos. E se aquele já distante primeiro título parece, hoje em dia, algo 'anómalo' no contexto da série como um todo, a verdade é que haverá pouco quem conteste a sua importância para o panorama actual de jogos de desporto e habilidade, continuando o mesmo a ocupar um lugar especial no coração da primeira geração de 'gamers' da era poligonal, para quem foi parte integrante e marcante dos anos da adolescência, permitindo-lhes, após um dia de truques simples mais ou menos bem-sucedidos, imaginar-se a realizar proezas quase impossíveis, entre a elite do 'skate' competitivo mundial...
NOTA: Por motivos de relevância, este Sábado será novamente de Saída. Os Saltos voltarão nas duas semanas seguintes.
Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.
As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.
Tal como acontece com qualquer geração em qualquer parte do Mundo, também os jovens portugueses de finais do século XX tiveram as 'suas' marcas e lojas icónicas, algumas delas já abordadas nestas páginas. E se a maioria destas se incluía na categoria mais tarde conhecida como 'fast fashion' – que ainda hoje engloba lojas como a Zara/Pull & Bear, H&M, Mango, Bershka, Springfield ou Stradivarius, entre outras – havia, ainda assim, certas lojas especializadas numa só marca que capturavam a imaginação dos 'millennials' nacionais pela sua combinação de popularidade e 'designs' apelativos. Era o caso da Benetton, da Gant, da Timberland, da Gap, das incontornáveis Sacoor e Quebramar, ou ainda da loja que abordamos neste post aglutinador de Sexta com Style e Saída ao Sábado, a qual completa neste mês de Outubro vinte e oito anos de existência.
Popularizada sobretudo pela sua ligação declarada ao movimento e cultura 'surfista', muito em voga durante toda a década de 90, a Ericeira Surf Shop não tardou a disseminar-se bem para além da sua 'base' e demografia-alvo, e a invadir os pátios de escola, sobretudo os frequentados por alunos de classes sociais mais abastadas, os chamados 'betinhos'. Assim, por alturas da viragem do Milénio, ser visto com roupas da loja em causa dava já tanto crédito social como usar qualquer das marcas acima descritas, com o bónus acrescido de as mesmas não serem facilmente encontradas numa qualquer feira, obrigando a um considerável investimento. Por outro lado, como sucedia com algumas das outras marcas populares da época, este factor tirava a Ericeira Surf Shop das possibilidades financeiras de grande parte dos jovens, reforçando a natureza algo elitista da loja e respectivos artigos e criando um sentimento de inferioridade a quem não tinha 'cachet' para os mesmos – o que, bem vistas as coisas, talvez fosse precisamente o objectivo da sua clientela, embora não necessariamente da loja em si.
Tal como a maioria das marcas e lojas que aqui abordamos, no entanto, também a Ericeira Surf Shop acabou por 'passar de moda' entre a população jovem em geral, e regressar ao seu 'reduto' mais especializado, onde permanece até hoje, agora com o nome de Ericeira Surf & Skate e um espectro mais alargado de especializações, onde se inclui também o 'snowboard'. Os portugueses de uma certa idade, no entanto, recordarão para sempre a marca pelo seu nome anterior, que tanta inveja causava ao ser lido num saco de compras ou peça de roupa de um amigo ou colega de escola. Parabéns, e que conte ainda muitos.
Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.
Numa edição passada desta mesma rubrica, dedicámos algumas linhas aos ténis Airwalk, talvez a mais conhecida e cobiçada marca de ténis de skate entre a juventude dos anos 90 e inícios de 2000. No entanto, havia uma outra marca quase equiparante à supramencionada, e cujos sapatos constituiam uma excelente alternativa ou 'segunda opção' aos da mesma; é dessa 'concorrente que peso' que falaremos nesta Sexta com Style.
Um dos icónicos modelos da marca na década de 90.
Fundada na Califórnia em 1992, a Skechers nascia das cinzas da LA Gear, marca de alguma expressão entre as demografias jovens americanas da década anterior, e visava precisamente o mesmo tipo de público-alvo, pelo menos no tocante à faixa etária. Isto porque, enquanto a LA Gear se havia afirmado como uma marca mais generalista, a Skechers visava, nessa primeira fase, sectores mais especializados da faixa jovem, nomeadamente os praticantes de 'skate', ao mesmo tempo que tentava rivalizar e competir com marcas como a Dr. Martens no mercado das botas. O foco rapidamente se alargaria, no entanto, e a marca não tardaria a conseguir o seu primeiro grande sucesso com a linha D'Lites, precursora dos ténis de sola grossa, quase plataforma, que povoariam o vestuário juvenil nas décadas seguintes. Se esse foi o grande 'cartão de visita' da marca nos seus EUA natais, no entanto (tendo, inclusivamente, dado à marca estatuto suficiente para permitur colaborações com mega-estrelas 'pop' e celebridades como Kim Kardashian) já em Portugal, foram mesmo os ténis de 'skate' que se tornaram sinónimos com o nome Skechers, e que foram activamente procurados e cobiçados pela juventude da época, tendo inclusivamente servido de 'inspiração' e modelo para um sem-número de inevitáveis imitações, algumas delas, inclusivamente, lançadas por marcas concorrentes, algumas já bem estabelecidas no mercado.
Tal como aconteceu com a Airwalk, no entanto, também a Skechers acabou, inevitavelmente, por ceder caminho a outras marcas 'da moda', como a Vans e a New Balance. À medida que o Novo Milénio avançava, e a juventude 'millennial' dava, progressivamente, lugar à 'Z', a fabricante californiana foi, progressivamente, perdendo expressão dentro do seu próprio mercado, a ponto de, um quarto de século volvido sobre o auge da sua popularidade, ser considerada, em certas partes do Mundo, uma marca de índole quase ortopédica, e favorecida pelo público idoso – uma ideia, no mínimo, causadora de dissonância cognitiva para quem, em adolescente, teve (ou sonhou ter) um par de ténis Skechers para combinar com as calças largas e t-shirt de 'skate'...
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
Qualquer conceito de sucesso – seja um produto ou, como neste caso, uma criação mediática – dará, inevitavelmente, azo a um sem-número de concorrentes e imitadores de índole muito semelhante, mas normalmente sem a qualidade e o factor originalidade que ajudavam a explicar o sucesso do pioneiro original. O Mundo da televisão não é excepção a esta regra - antes pelo contrário – sendo numerosos os exemplos de programas que tentam (com maior ou menor sucesso) replicar as ideias da concorrência, a fim de, idealmente, lhe retirarem uma parte do 'share' de audiências; assim, não é de todo surpreendente constatar que, em meados de 1995, a televisão estatal portuguesa tenha apostado precisamente nessa táctica para tentar 'roubar' espectadores à cada vez mais popular SIC, através de um programa praticamente 'tirado a papel químico' de um dos seus maiores êxitos.
Segundo genérico do programa.
Falamos de 'Sem Limites', um magazine apresentado por uma equipa de jovens entusiásticos, e que procurava divulgar eventos, nomes e técnicas ligados aos desportosradicais, de forma simples, entusiasmante e capaz de agradar ao público mais jovem, principal interessado nessas modalidades. E se este conceito soa estranhamente familiar, é porque o é, não sendo 'Sem Limites' mais do que a resposta da RTP ao mega-sucesso 'Portugal Radical' – embora o facto de, até hoje, muita gente confundir este programa com o 'rival' demonstre cabalmente quem ganhou essa 'batalha' em particular.
Ainda assim, e apesar de ter sido sempre o 'segundo classificado' nas 'competições radicais' dos Domingos de manhã, o 'Sem Limites' conseguiu, ainda assim, 'aguentar-se' no ar durante no mínimo quatro anos, tendo tido as primeiras emissões por volta de 1994 e permanecido na grelha da RTP até pelo menos a 1998, facto que demonstra que, apesar da forte concorrência 'privada', o programa não deixava, ainda assim, de encontrar a sua audiência – algo que, convenhamos, não era difícil naquela que foi a época de maior entusiasmo e interesse em torno dos desportos radicais.
No entanto, ao contrário do seu concorrente directo, o programa teve muito pouco impacto nostálgico na geração nascida e crescida nos anos 80 e 90, não tendo tido direito ao mesmo 'merchandising' oficial, revista e discos de banda sonora do concorrente, e a sua memória sobrevive, hoje em dia, sobretudo na secção de Arquivos do 'site' da RTP, onde se pode encontrar o equivalente a cerca de um ano e meio de episódios completos do programa; ainda assim, não deixa de ser de valor relembrar aquele que foi um dos exemplos mais 'descarados' e 'acabados' de cópia directa de um conceito na História da televisão portuguesa, numa 'jogada' que provou que a guerra das audiências dos anos 90 se desenrolava mesmo 'Sem Limites...'
Um segmento do programa, no caso, alusivo ao 'bodyboard'.
Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.
As primeiras edições desta rubrica foram dedicadas a alguns dos mais populares meios de locomoção assistida entre o público infanto-juvenil da época, como as bicicletas BMX, os skates ou os patins em linha; concomitantemente a todos eles, no entanto, existia um outro 'meio de transporte' que, não sendo tão generalizado como os acima referidos, não deixava de proporcionar excelentes Sábados aos Saltos a quem o possuía.
Um modelo clássico do brinquedo em causa, que poderia perfeitamente ter pertencido a qualquer criança de finais do século XX
Falamos dos 'karts' a pedal, veículos ainda hoje populares em certas partes do Mundo (como a América do Sul) e que também chegaram a ter o seu 'momento ao sol' em Portugal, em finais dos anos 80 e inícios de 90 – embora, conforme já referimos, em muito menor escala do que os seus congéneres, presumivelmente devido ao preço mais elevado.
De funcionamento semelhante ao de uma bicicleta (ou, pelo número de rodas, um triciclo), mas com os pedais colocados na frente (nas posições em que, normalmente, estariam o acelerador e travão de um kart eléctrico ou a motor) estes veículos constituíam - até à chegada dos Playcenters de 'shopping' e respectivas pistas de 'karts 'a sério' - a melhor (e única...) opção para quem queria simular a emoção de uma corrida deste tipo no seu quintal, pátio, ou até na rua; no entanto, a falta de velocidade por comparação a uma bicicleta ou até a uns patins, bem como a maior complexidade e lentidão da manobra, poderão ter jogado contra os 'karts' a pedal no tocante a popularidade - o que, aliado ao já referido preço algo elevado, terá contribuído para que poucas crianças da época tivessem conseguido (ou, até, querido) desfrutar da experiência de conduzir um destes veículos. Uma pena, já que os 'karts' a pedal poderiam perfeitamente (e talvez até merecessem) ter tido uma palavra a dizer no mercado da locomoção divertida de finais do século XX, e ter sido bem mais do que os 'parentes pobres' dos outros veículos mencionados ao longo deste texto.
As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.
A época natalícia não se resumia, para um jovem dos anos 90, apenas ao dia e às festividades que o rodeavam; para as crianças daquele tempo, o Natal começava bem mais cedo – com a recepção do primeiro catálogo de brinquedos na caixa do correio – e englobava uma série de momentos absolutamente mágicos, dos quais temos vindo a falar ao longo deste mês: a última semana de aulas antes das férias de Natal, a saída para ver as iluminações e, claro, a ida ao hipermercado ou 'shopping'para ver, ao vivo e a cores, os brinquedos cobiçados e avidamente assinalados no referido catálogo.
Já aqui falámos, numa ocasião anterior, do 'frisson' que era ir ao hipermercado, numa altura em que os mesmos estavam, ainda, nas primeiras etapas da sua penetração em Portugal, e confinados sobretudo às duas maiores cidades; no entanto, qualquer ex-criança que tenha visitado um destes espaços na altura do Natal certamente se recordará da dimensão extra que tal visita acarretava, e concordará que a mesma merece o seu próprio post separado.
O elemento que tornava esta experiência ainda mais mágica no mês de Dezembro é fácil de identificar, e ainda mais fácil de explicar – a visão daqueles múltiplos corredores repletos apenas e só de brinquedos era suficiente para fazer subir os níveis de adrenalina de qualquer criança, e dar asas a sonhos de ter todos e cada um daqueles produtos debaixo da árvore no dia 25. Para alguém cuja visão do Mundo era ainda 'à escala', as prateleiras de bonecas, figuras de acção, carros telecomandados, peluches, jogos, consolas ou artigos electrónicos – as quais ocupavam, cada uma, todo um corredor da loja – pareciam esticar-se até ao tecto, oferecendo uma variedade assoberbadora de escolhas que tornava ainda mais difícil escolher apenas um ou dois presentes para receber do Pai Natal; e para além dos brinquedos propriamente ditos, havia ainda as bicicletas, os skates, os patins, as motas e carros eléctricos, as bolas, os vídeos de desenhos animados, e toda uma imensidão de outros artigos de particular interesse para a demografia infanto-juvenil, que dificultavam ainda mais a tarefa, e faziam com que esta fosse uma visita que se queria o mais prolongada possível, para ter tempo de ver e vivenciar tudo o que o espaço tinha para oferecer – incluindo, com sorte, uma visita à 'Gruta do Pai Natal', para falar com o velhote em pessoa (ou com um dos seus assistentes, dependendo do que os pais nos diziam.)
Hoje em dia, a experiência de ir ao hipermercado tornou-se algo mais corriqueira, o que, aliado ao facto de os brinquedos serem cada vez mais electrónicos, e de coisas como os jogos de tabuleiro terem caído em desuso, torna a visita por altura do Natal algo menos mágica do que o era nos 'nossos' anos 90; que o diga quem lá esteve, e se imaginou perdido entre aquelas prateleiras infinitas de brinquedos, e com acesso ilimitado a todos eles...
NOTA: Este post corresponde a Quinta-feira, 14 de Outubro de 2021.
Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
Nos anos 90 e início do novo milénio, qualquer conceito ou propriedade intelectual de sucesso tinha grandes probabilidades de contar, entre o seu 'merchandising' oficial, com uma revista ou publicação, muitas vezes apenas tangencialmente conectada ao tema ou conceito em causa, outras mais directamente relevante para o mesmo. Foi assim, por exemplo, com a Rua Sésamo, no início da década, e com o Batatoon, já nos primeiros anos do novo milénio; exactamente a 'meio caminho' entre estas duas, no entanto, surgia uma outra representante do género, esta dirigida a um público um pouco mais velho - a revista 'Portugal Radical'.
Capa de um dos números da revista
Baseada no programa do mesmo nome, exibido pela SIC, esta revista mantinha-se extremamente fiel ao conceito por detrás do mesmo, nomeadamente, o de manter informado um público ávido por desportos radicais, e espectador assíduo da emissão que esta publicação complementava. Assim, não é de surpreender que a mesma constasse, essencialmente, de página após página dedicada a dar a conhecer os mais populares desportos alternativos da época, bem como aquilo que se ia passando na 'cena' competitiva de cada um deles. Tal como acontecia na emissão televisiva, também aqui os principais desportos representativos do movimento - do skate ao surf, BTT, BMX, motocross ou patins em linha - tinham, cada um, direito ao seu próprio espaço, revezando-se no que tocava a honras de capa, mas nunca sendo deixados de fora de qualquer número da revista, abordagem que emprestava abrangência à publicação, e garantia a fidelidade do público-alvo, independentemente da sua modalidade de eleição.
Exemplos do tipo de conteúdos da revista
Infelizmente, e apesar da notabilidade e popularidade durante a época áurea do programa, a revista 'Portugal Radical' não conseguiu emular a longevidade ou impacto cultural da sua emissão irmã; embora a maioria dos jovens daquele tempo ainda se lembrem de acompanhar o programa na televisão e de coleccionar os cromos, apenas os mais dedicados (quer aos desportos radicais, à época, quer à 'escavação' cibernética, hoje em dia) se lembrarão de que existiu também uma revista alusiva ao conceito, até porque 350 'paus' (como o anúncio televisivo apregoava) eram uma quantia considerável - quase duas semanadas para a maioria das crianças da época! - e, muitas vezes, valores mais altos se alevantavam...
Ainda assim, vale a pena recordar esta revista meio esquecida pelo passar do tempo (embora não pela Internet) e que serve, hoje em dia, como verdadeira 'cápsula do tempo' para uma época bem mais inocente, divertida, e (sim) radical...
NOTA: Este post corresponde a Terça-feira, 12 de Outubro de 2021.
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
O aparecimento da SIC, em 1992, representava uma revolução no mercado televisivo português. Enquanto primeira estação privada do país, a emissora de Carnaxide quis, desde logo, deixar evidentes as vantagens de não se encontrar limitada aos ‘guidelines’ e registos a que os canais nacionais se encontravam restritos, apresentando uma grelha programática mais vasta, abrangente e virada ao entretenimento do que aquela por que as RTPs se pautavam.
Um dos esteios iniciais deste manifesto foi, também ele, um programa pioneiro em Portugal, e cuja fórmula não mais viria a ser repetida nos vinte anos após a sua última emissão. Quer tal se devesse a uma mudança nos interesses dos jovens, à cada vez maior expressão da nova ferramenta chamada Internet, ou simplesmente ao facto de qualquer repetição do formato correr o risco de ser inferior, a verdade é que este programa continua – à semelhança de outros, como o Top +, por exemplo – a ser caso único na História da televisão portuguesa, e ainda hoje recordado com carinho por aqueles que o acompanharam.
Falamos do Portugal Radical, programa que estreou ao mesmo tempo que a emissora onde era transmitido, e que se afirmou como pioneiro na divulgação dos chamados ‘desportos radicais’ junto da população jovem portuguesa. E a verdade é que o ‘timing’ de tal empreitada não podia ter sido melhor, já que o início dos anos 90 marca, precisamente, o primeiro grande ‘boom’ de interesse em modalidades como o skate, os patins em linha, o surf ou a BMX, que viriam a dominar o resto da época. Transmitido entre 1992 e 2002, o ‘Portugal Radical’ conseguiu acompanhar toda a evolução das ditas modalidades, desde os seus primeiros passos como fenómeno ‘mainstream’ até ao momento em que o fascínio com as mesmas começava a arrefecer um pouco, garantindo assim uma audiência constante durante a sua década de existência.
A apresentadora Raquel Prates
Apresentado, durante a esmagadora maioria desse período, por Raquel Prates, com trabalho jornalístico de Rita Seguro, também do já referido ‘Top +’ (Rita Mendes, do ‘Templo dos Jogos’, tomaria as rédeas da apresentação já no último ano de vida do programa) o ‘PR’, como também era muitas vezes conhecido, era um conceito criado por Henrique Balsemão, a partir da rubrica com o mesmo nome na revista ‘Surf Portugal’, tendo sido exibido pela primeira vez no ‘Caderno Diário’ da RTP, ainda antes do nascimento da SIC. Foi, no entanto, a passagem para o canal de Carnaxide que ajudou a transformar um modesto conceito baseado numa coluna jornalística num verdadeiro fenómeno, com direito a ‘merchandising’ próprio, incluindo a inevitável caderneta de cromos, e ainda um CD com ‘malhas’ de grupos bem ‘anos 90’, como Oasis, Radiohead, The Cult, Smashing Pumpkins, Spin Doctors ou Manic Street Preachers.
Capa do CD de 'banda sonora' do programa
Mais significativamente, no entanto, o programa terá tido uma influência mais ou menos directa no interesse que a maioria dos jovens portugueses desenvolveu por desportos radicais ao longo da década seguinte, o que, só por si, já lhe justifica um lugar no panteão de programas memoráveis da televisão portuguesa – bem como nesta nossa rubrica dedicada a recordar os mesmos. Uma aposta arrojada por parte da SIC, talvez, mas mais um dos muitoscasos em que a atitude ‘nada a perder’ da estação de Francisco Pinto Balsemão viria, inequivocamente, a render dividendos...
Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.
Hoje concluímos (já com algum atraso) a ‘trilogia’ de meios de deslocação ‘radicais’ dos anos 90; depois de em edições anteriores desta rubrica termos falado dos patins em linha e das bicicletas BMX, chega hoje a vez de abordarmos um ‘meio de transporte’ que menos crianças da época tinham, mas que quase todas desejavam – o ‘skate’.
Imaginem isto, mas em amarelo-canário com rodas vermelhas e um desenho em cima...era o nosso
Disseminados entre as massas pela ‘febre’ dos desportos radicais que se instalou um pouco por todo o Mundo durante a década de 90 (e que no nosso país tinha a sua expressão máxima no programa ‘Portugal Radical’), os ‘skates’ passaram ainda alguns anos como equipamentos mais ‘de nicho’ antes de passarem a ocupar o topo das listas de Natal das crianças portuguesas; uma vez essa posição ocupada, no entanto, não mais a largariam, tendo a segunda metade da década ficado marcada pela proliferação de estruturas especificamente destinadas à prática do ‘skate’, bem como dos seus ‘irmãos’ já aqui abordados, os patins e a BMX. Sim, a atual geração que tão bom uso faz dos ‘skate parks’ espalhados um pouco por todo o País tem a agradecer aos seus pais a popularização destes tipos de ‘hobby’, a ponto de serem criados equipamentos específicos para a sua prática.
Mais - onde os ‘skates’ usados pelos ‘putos’ de hoje em dia são do tradicional formato preto em cima e com desenhos mais ou menos ‘radicais’ na base, os dos seus pais eram muito, mas mesmo muito mais ‘fixes’. Maioritariamente no formato ‘banheira com rodas’, entretanto caído em desuso, eram normalmente feitos de plástico colorido (o nosso era amarelo e vermelho, das mesmas cores da bicicleta BMX), e adornados com todo o tipo de motivos. tanto em baixo como na parte superior; alguns traziam, inclusivamente, desenhos alusivos a propriedades intelectuais populares entre o público-alvo - por aqui, por exemplo, quase caímos para o lado quando percebemos que o desenho do nosso ‘skate’ dos 5-6 anos de idade era uma reprodução em cores algo estranhas de uma ilustração de…Dragon Ball Z!!
Enfim, embora fossem menos ergonómicos e bastante mais ‘matacões’ do que os modelos de décadas posteriores, estes ‘skates’ ganhavam-lhes largamente em termos de ‘estilo’ – e de apelo para o público mais jovem.
Exemplo de uma 'parte de baixo' de 'skate' com desenhos licenciados - neste caso, das Tartarugas Ninja
Infelizmente, tal como os patins em linha, o ‘skate’ era daquelas coisas para que todos queriam ter ‘jeito’, mas nem todos conseguiam. Mesmo com capacete e protecções (não tantas quanto nos tempos modernos, mas chegávamos a pôr) os ‘trambolhões’ eram mais que muitos, e como consequência, muitas crianças usavam o skate mais como um adorno, uma coisa ‘fixe’ para ter no quarto ou na garagem. Ainda assim, aqueles que conseguiam dominar a arte eram olhados com admiração e inveja, e davam por vezes azo a mais umas quantas tentativas frustradas de fazer o mesmo, antes de o ‘skate’ voltar para o seu lugar de honra contra a parede…
Ao contrário dos outros instrumentos de que falámos nesta rubrica, que acabaram por cair em desuso com o passar dos anos (e o virar da década, século e milénio), os ‘skates’ continuam a gozar de enorme popularidade entre os jovens até aos dias de hoje – muito por culpa de uma certa e imensamente bem-sucedida série de videojogos cujo primeiro título foi lançado, precisamente, nos anos 90. Ainda assim, há que mostrar a essa nova geração de onde veio e como era o seu passatempo de eleição no tempo em que os ‘velhotes’ trintões eram da sua idade…algo que, espera-se, este post terá conseguido fazer. Fica, agora, a faltar falar do último desporto radical adoptado pela juventude daquela época, e que também ainda retém a sua popularidade - mas isso será no próximo post. Por agora, fiquem com uma reportagem de época (precisamente do 'Portugal Radical') sobre um dos primeiros eventos portugueses totalmente dedicados ao (então) novo fenómeno que acabámos de abordar...