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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

28.08.23

NOTA: Este 'post' é correspondente a Sábado, 26 de Agosto de 2023.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Os festivais de música ao ar livre vêm-se, desde há três décadas, afirmando como um dos principais elementos do Verão português, a ponto de quase fazerem falta quando não se realizam, como durante a época de pandemia em 2020-21. Mas se cada ano parece adicionar mais e mais eventos deste tipo ao já preenchido calendário estival, continua a haver apenas um certo e determinado número de festivais verdadeiramente icónicos e sinónimos com esta época do ano, alguns dos quais entretanto desaparecidos (como o saudoso Ermal) e outros que celebram por esta altura aniversários históricos. O Festival do Sudoeste, por exemplo, comemorou o ano passado os seus vinte e cinco anos, e, este ano, é a vez de outro nome sonante da cena 'ao vivo' estival lusitana ter atingido um marco 'de respeito', ao assinalarem-se os trinta anos sobre a primeira edição do lendário Festival Paredes de Coura.

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Celebrado anualmente, em Julho e Agosto, na região com o mesmo nome, no Alto Minho, o coloquialmente chamado 'Couraíso' perfila-se, a par do não menos icónico Vilar de Mouros, como o mais destacado festival de música da região Norte de Portugal, tendo, ao longo das suas três décadas, atraído um sem-número de artistas de renome aos seus palcos, e tornado-se local de 'romaria' quase obrigatória para os fãs de pop-rock e rock alternativo portugueses. O que poucos dos que anualmente rumam à Praia Fluvial do Tabuão saberão, no entanto, é que as origens do seu 'paraíso' musical anual remontam a uma era em que muitos deles ainda nem sequer eram nascidos - nomeadamente, ao ano de 1993, quando um grupo de amigos do município decide, de forma independente, organizar um festival de música. Para esse efeito, criam panfletos feitos à mão e impressos de forma não menos artesanal e, aproveitando algum apoio monetário da Câmara Municipal, começam a contactar bandas, com o objectivo de formar um cartaz. Após vários altos e baixos - todos contados com enorme humor por um dos organizadores no podcast do Expresso dedicado à História do festival - acabam por conseguir confirmar cinco nomes, todos nacionais: Ecos da Cave, Gangrena, Cosmic City Blues, Boubacaba e Purple Lips actuam num palco improvisado a 20 de Agosto de 1993, configurando aquele que foi, efectivamente, o primeiro cartaz de Paredes de Coura.

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Cartazes da primeira e segunda edições do certame.

E a verdade é que a perserverança dos organizadores rendeu dividendos: aquele primeiro festival foi bem-sucedido o suficiente para, no ano seguinte, atrair uma banda tão conhecida e respeitada na cena nacional como os Ena Pá 2000, que se juntavam aos históricos Tédio Boys e a mais quatro bandas (incluindo duas repetentes da primeira edição) num cartaz bastante mais atractivo que o do ano anterior. E se 1994 já representou um considerável avanço em relação ao primeiro ano, 1995 elevou o festival a ainda outro nível, podendo considerar-se o ano em que Paredes de Coura verdadeiramente 'explodiu'. Blind Zero, Braindead, Pop Dell'Arte, More República Masónica e Primitive Reason formavam parte de um cartaz ainda cem por cento nacional, mas nem por isso menos atractivo - antes pelo contrário. O ano intermédio da década de 1990 é, ainda, histórico por ser o primeiro (e único) em que o festival foi dividido entre dois dias, no caso 19 e 20 de Agosto.

A partir daí, foi sempre a somar: logo no ano seguinte, o festival passa a ter três dias de duração, durante os quais actuam nomes de monta do panorama nacional, como Da Weasel, e, há exactos vinte e cinco anos, acolhe os primeiros artistas internacionais a pisar os seus palcos, com Red House Painters, Atari Teenage Riot, Anne Clark, The Divine Comedy e Tindersticks a juntarem-se a ídolos nacionais como Moonspell, Clã, Zen, Blind Zero, Belle Chase Hotel e os então 'enormes' Silence 4. A edição seguinte, última do século XX - que trazia nomes como The Gift, Lamb, Gomez, dEUS, Suede, Mogwai, Sneaker Pimps e uns Guano Apes então em estreita relação com o nosso país, é considerada pelo próprio organizador João Carvalho como a apoteose do festival, e a garantia de que o mesmo perduraria ainda durante muitos anos. E a verdade é que, desde então, já lá vão vinte e três, sem que o festival perca a força, relevância ou fama entre os fãs de boa música independente em Portugal e no estrangeiro - antes pelo contrário, como o comprova a sua colocação entre os melhores festivais de música da Europa por parte da prestigiada revista Rolling Stone, em 2005. Parabéns, Paredes de Coura - e que continues a ser uma referência na cena 'ao vivo' nacional durante ainda mais trinta anos.

19.07.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

O conceito de ‘one-hit wonder’ – artistas que conseguem enorme sucesso com um determinado tema, sem nunca o conseguirem replicar durante o resto da sua carreira – é bem conhecido de qualquer fã de música contemporânea, tendo inclusivamente alguns representantes na própria cena musical portuguesa. Menos comum é observar esse fenómeno aplicado a um álbum inteiro, em vez de apenas uma ou duas faixas – e, no entanto, foi precisamente isso que aconteceu com os Silence 4, um quarteto de Leiria que passou de ser a maior banda de pop-rock portuguesa em 1998 a ver o seu segundo álbum ser completamente ignorado apenas dois anos depois, sem que houvesse qualquer explicação para esse fenómeno.

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Esta evolução descendente acentuada da carreira da banda torna-se ainda mais surpreendente quando nos recordamos de quão grandes eram os Silence 4 aquando do lançamento de Silence Becomes It. O álbum de estreia dos leirienses foi um sucesso de vendas quase inaudito em Portugal, especialmente para uma banda nacional, com as ‘músicas conhecidas’ a irem muito além dos singles – fenómeno que também não é habitual fora do contexto dos maiores artistas da História. Sim, havia ‘Borrow’ e ‘My Friends’, mas havia também ‘Dying Young’, ‘Old Letters’ e a ‘cover’ de ‘A Little Respect’,  dos Erasure, entre muitas outras músicas que certamente os leitores deste blog já estarão a trautear só de as relembrarem. Naquele Verão, os Silence 4 foram gigantes, como poucas bandas portuguesas não chamadas GNR ou Xutos & Pontapés conseguiram chegar a ser. O Silêncio virou mesmo 'It' - a nova moda, o novo som 'in'.

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E depois…

…depois, houve o esquecimento. Gravado em Londres, em condições bem mais profissionais do que o seu antecessor, Only Pain is Real, lançado apenas dois anos depois da hiper-bem-sucedida estreia, caiu num retumbante vácuo de indiferença – se é que vendas de Platina podem ser consideradas indiferença... Face á falta de sequer um ‘single’ de impacto, no entanto, a impressão que ficava era mesmo a de que já ninguém queria saber dos Silence 4 - o que não deixa de ser estranho, visto a sonoridade do grupo não se ter alterado minimamente desde aquele Verão louco de 1998. Antes pelo contrário – David Fonseca e os seus comparsas continuavam a praticar aquele mesmo pop-rock (com mais da primeira do que do último) movido a dualidade vocal masculina-feminina de Fonseca e Sofia Lisboa, e de espírito melancólico, sorumbático e fatalista, que tanto sucesso havia feito à época do lançamento da estreia.

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O que talvez tivesse, sim, mudado era o cenário musical nacional, com novos artistas a captar o interesse do público, e a relegarem os antigos heróis para uma posição de ‘velhas glórias’, apesar dos seus apenas quatro anos de vida. Assim, não é de todo surpreendente que um grupo que parecia ter tudo para dar luta a uns The Gift acabasse por se render à evidência e entrar num hiato voluntário.

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Este não seria, no entanto, o fim dos Silence 4. Apesar de David Fonseca ter aproveitado a oportunidade para se lançar numa carreira a solo (aliás, mais bem sucedida que a do próprio grupo) haveria ainda ensejo para o lançamento de um disco ao vivo (em 2004, quando a indiferença ainda reinava) e, em 2013, para uma reunião, ainda que fugaz, do quarteto original, a qual rendeu um segundo disco ao vivo - até à data, o último sinal de vida de um grupo cuja trajectória não pode deixar de suscitar perplexidade em quem a acompanhou. Mas pelo menos, enquanto ‘fritamos a moleirinha’ a pensar, afinal, o que terá acontecido aos leirienses, podemos fazer-nos acompanhar de uma banda sonora de luxo, e de indiscutível apelo nostálgico; e se não conseguirmos descortinar a resposta hoje, podemos sempre dizer, como David Fonseca, ‘I guess I’ll try again tomorrow…’

24.05.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E dado que desde o início desta rubrica temos vindo a falar sobretudo de movimentos e estilos musicais – quer nacionais, como o ‘pimba’, quer importados, no caso do europop ou do rock alternativo – nada mais justo do que abordarmos, esta semana, um movimento que teve um enorme ‘boom’ em território nacional precisamente nos anos 90.

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Falamos, é claro, do pop-rock, estilo que viu alguns dos seus principais representantes nacionais de décadas anteriores entrar em fases de declínio de carreira durante a última década do século XX (casos dos Xutos & Pontapés, GNR, Rui Veloso ou UHF, entre outros) mas assistiu ao nascimento e consolidação de popularidade de outros tantos artistas e colectivos, alguns dos quais relevantes ainda hoje, quase trinta anos após o seu aparecimento. Os anos 90 foram, por exemplo, a década dos Sitiados, Silence 4, Mão Morta, Ornatos Violeta, Pólo Norte, Rádio Macau, Três Tristes Tigres, Quinta do Bill, Pedro Abrunhosa, Clã ou The Gift, entre muitos outros - isto, claro, sem esquecer bandas que transitavam da década anterior ainda no auge da sua forma, como era o caso dos Delfins ou Madredeus. Um verdadeiro panteão de nomes sonantes da música portuguesa, que fazia as delícias de qualquer melómano adepto das vertentes mais melódicas da música ‘de guitarras’.

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Alguns dos muitos artistas pop-rock portugueses de finais do século XX

Um dado curioso é que muitos destes grupos contavam com vocalizações femininas, fossem principais ou secundárias. Clã, Três Tristes Tigres, Rádio Macau, Entre Aspas, The Gift e Madredeus contavam todos com vocalistas femininas, algumas delas figuras bem populares e influentes da cena musical da época, como Xana e Viviane; dos restantes, os Silence 4 também contavam com vozes de apoio femininas (numa dinâmica muito semelhante à dos Pixies, com as devidas distâncias) e os Sitiados tinham em Sandra Baptista a sua segunda figura central, embora esta última não cantasse. Isto sem esquecer, é claro, as duas finalistas do Festival da Canção mais famosas da era pré-Salvador Sobral: Sara Tavares e Anabela (a sério, conseguem nomear o finalista de algum ano sem ser 1993 e 1994?) Enfim, uma excelente representatividade para o sexo feminino, que conseguia tão ou mais sucesso que os grupos e artistas masculinos.

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Quem se lembra?

No cômputo geral, pois, os anos 90 não podem saldar-se como nada menos do que uma década fantástica para a música pop e rock portuguesa – quer em termos comerciais, quer criativos. Bebendo das bases cimentadas na década anterior, os artistas que entraram em voga durante os 90s viriam, eles próprios, a erigir muitas das fundações que informariam a música portuguesa na década seguinte, e um pouco até aos dias de hoje, tornando a última década do século XX uma das melhores de sempre para se ser fã de música em Portugal.

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