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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

27.02.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Em meados dos anos 90, Portugal não era, ainda, conhecido pela sua ficção televisiva; pouco mais de meia década depois, a TVI viria a alterar completamente o paradigma com as suas famosas telenovelas, mas – nos anos antes de 'Anjo Selvagem' ou 'Morangos com Açúcar' – o nosso País era, sobretudo, produtor de programas humorísticos e infantis, ficando bastante aquém da vizinha Espanha e de países como a França ou a Alemanha no que tocava à produção de ficção mais 'séria'. À medida que a década se aproximava do fim, no entanto, começaram a surgir, paulatinamente, tentativas de criar uma série dramática viável totalmente 'made in Portugal': 'Riscos', da RTP, deu o mote, em 1997, e no ano seguinte, seria a vez de a SIC 'arriscar a mão' em conteúdo deste tipo, através da adaptação de um formato espanhol.

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Nascia assim, há pouco mais de vinte e cinco anos (a 27 de Janeiro de 1998) a versão portuguesa de 'Médico de Família', três anos após a estreia do original espanhol, no qual se inspirava directamente. Produzida pela Endemol, nome maior de muitas das produções da estação de Queluz durante este período, a série (que se manteria no ar por cerca de dois anos e meio, até Agosto de 2000, e repetiria mais tarde na SIC Mulher) trazia Fernando Luís no papel do profissional de saúde em causa, Diogo, que se vê obrigado a balançar a vida profissional e pessoal – que, no caso, consiste dos habituais 'dramas' infanto-juvenis e adolescentes, motivados pelos filhos de Diogo, um dos quais vivido por Sara Norte, filha de Vítor, o André da 'Rua Sésamo'.

No entanto, a série almejava a ser mais do que apenas um 'dramalhão' com cenário médico, ao estilo 'Grey's Anatomy', focando também alguns aspectos ligados à medicina e aos problemas de saúde, de forma realista e sem condescendências nem exageros; de facto, talvez residisse aqui a sua maior virtude, aproximando o resultado final mais de um 'ER' dos primórdios (série, aliás, então em alta) do que do referido 'Grey's'. Tal como sucedia com 'Riscos', no entanto, a 'escola de telenovela' da maioria dos actores faz-se sentir em diversos momentos, sendo que, apesar do altíssimo nivel de representação por parte de actores entre o bom e o lendário, as actuações não deixam ainda assim de ser extremamente 'portuguesas' – um termo que terá, decerto, deixado uma imagem específica na mente dos nossos leitores.

Um excerto exemplificativo das actuações da série

Ainda assim, apesar dos defeitos, 'Médico de Família' não deixa de ser uma tentativa corajosa de fazer algo, até então, muito pouco tentado, e de resultados bastante díspares – merecendo, por isso, ser celebrada quando se completa um quarto de século sobre a sua estreia...

O genérico bem ao estilo 'sitcom dos anos 80' da série, que destoa um pouco do conteúdo sério da mesma.

 

10.01.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

por diversas vezes aqui apresentámos provas cabais de que os concursos se encontravam entre os formatos televisivos mais populares dos anos 80 e 90 (e, embora em menor escala, também do Novo Milénio). Desde sempre presentes nas tardes dos portugueses, sob as mais diversas formas e formatos e subordinados aos mais variados temas, este tipo de programa nunca deixava de se afirmar como um sucesso de audiências junto do público-alvo. A adição a este genéro feita pela SIC há quase exactos vinte e cinco anos – a 12 de Janeiro de 1998, escassos dois meses após o quinto aniversário da emissora – não é excepção a esta regra, e conseguiu mesmo atrair alguma atenção durante os pouco mais de três anos em que esteve no ar.

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Tratava-se de 'Roda dos Milhões', uma espécie de mistura entre 'A Roda da Sorte' e o clássico sorteio televisionado do Totoloto que, mais do que um mero programa de televisão, se tornou num verdadeiro 'franchise', com direito a revista própria, CD alusivo aos artistas que actuavam no programa, e até uma raspadinha com o seu nome.

Apresentado inicialmente pela dupla de Jorge Gabriel (símbolo máximo do programa) e Mila Ferreira – ambos então em alta – e mais tarde também por Fátima Lopes, o programa oferecia ainda outros atractivos, como música ao vivo a cargo de artistas tanto nacionais como internacionais, mas era nos diversos jogos e passatempos que residia o principal interesse do formato, pelo menos para quem não jogava no Totoloto.

download.jpgOs dois grandes símbolos do programa.

Isto porque, à boa maneira do seu antecessor espiritual, 'A Roda da Sorte', o concurso contava em estúdio com a roda homónima, que os concorrentes da semana podiam girar para ganharem prémios imediatos em dinheiro, bem como com outros jogos, como a 'Marca da Sorte', em que o prémio era um automóvel; assim, mesmo quem não 'arriscava' nos números da Santa Casa tinha vastas razões para sintonizar semanalmente a estação de Carnaxide às Segundas, em horário nobre – especialmente porque se atravessava, à época, o longo período entre o fim d''A Roda da Sorte' original, com Herman José, e a chegada das versões 'revitalizadas' do concurso, na época seguinte, servindo a 'Roda dos Milhões' como honroso substituto.

Assim, foi com naturalidade que o programa se assumiu como mais um dos muitos sucessos da estação de Carnaxide durante a sua 'fase imperial' na segunda metade dos anos 90 – pelo menos até a SIC findar, abruptamente, a sua transmissão, por impossibilidade de manter o horário das Segundas à noite, e perder o formato para a televisão estadual, onde o seu destino seria exactamente o inverso, tendo a versão com Nuno Graciano como apresentador durado exactos três meses antes da extinção total do formato, a 6 de Junho de 2001. Nada que belisque a reputação ou marca histórica e cultural de um concurso que, ainda que simples e simplista, não deixou (com maior ou menor mérito) de ser um sucesso, e, como tal, é bem digno de ser celebrado na semana em que se completa um quarto de século sobre a sua estreia.

13.12.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há pouco menos de um ano atrás, falámos num dos nossos 'posts' sobre a emoção que representava para uma criança dos anos 90 ir assistir, ao vivo, a um espectáculo de Circo de Natal, normalmente através da(s) empresa(s) dos pais ou em visita de estudo com a escola. No entanto, e apesar de os referidos circos se espalharem, durante a época natalícia por quase todo o território português, haveria ainda, certamente, quem não tivesse oportunidade de visitar em pessoa a tenda listrada – e, nessa instância, apenas restava uma alternativa a quem queria admirar feitos impossíveis, rir dos palhaços ou emocionar-se com os sempre controversos números com animais: a emissão do 'Circo de Natal' apresentada por quase todas as televisões portuguesas da época.

Um marco perene da programação de Natal de finais do século XX (tão inevitáveis e esperados nas grelhas de 24 ou 25 de Dezembro como a 'Benção Urbi et Orbi' no Dia de Páscoa) os programas de Circo da época dividiam-se em dois grandes tipos: por um lado, as simples filmagens do espectáculo apresentado nesse ano pelos Circos Chen ou Cardinali situados em Lisboa ou no Porto, e por outro as transmissões de espectáculos de circo estrangeiros, normalmente de uma companhia prestigiada como o Circo do Mónaco; e ainda que nenhuma das duas opções enchesse totalmente as medidas ou conseguisse capturar a experiência de ver aqueles números ao vivo – os programas com base em circos portugueses, em particular, faziam ter vontade de 'estar lá' – ambos constituíam uma boa maneira de passar algumas horas da manhã de feriado, depois de já ter aberto todos os presentes e antes de sair para o almoço de Natal em casa da avó.

Ao contrário do que acontece com muitos dos programas que aqui abordamos, o Circo de Natal mantém-se intacto na grelha natalícia das televisões portuguesas – de facto, quem ligar a televisão nas próximas semanas deparar-se-à, provavelmente, com um programa em tudo semelhante aos da sua infância, sendo a única diferença, talvez, a dupla de apresentadores famosos, prontos a comentar os feitos dos artistas da companhia; uma prova cabal de que nem tudo mudou na sociedade actual por comparação à daquela época e de que, mesmo com todas as controvérsias que hoje a rodeiam, esta forma de arte continua, para muitos portugueses de todas as idades, a ser parte integrante da tradição natalícia, e tão sinónima com a mesma como o era naqueles anos 90.

29.11.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A influência do futebol na sociedade portuguesa (e sobretudo entre o sector masculino) sempre foi, e continua a ser, famosamente transversal, afectando desde grelhas de programação televisiva ao funcionamento de negócios e estabelecimentos. O segmento mais jovem da referida demografia não é, de todo, excepção – pelo contrário, as crianças, adolescentes e jovens adultos encontram-se entre os mais fervorosos seguidores e adeptos do 'desporto-rei'.

Assim, não é, de todo, de estranhar que, em meados dos anos 90, um executivo de televisão tenha tido a ideia de incorporar o futebol, e os eternos 'despiques' que provoca mesmo entre os melhores amigos, num formato televisivo de cariz competitivo e dirigido a um público jovem – e ainda menos que o mesmo se tenha revelado um enorme sucesso entre os mesmos durante o período em que esteve no ar, já que reunia dois dos seus elementos favoritos: o futebol e a competição intelectual.

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O programa em causa, que levava o título de 'Os Donos da Bola', faria a sua estreia na SIC algures em 1994, captando as audiências da hora do almoço e conseguindo alguma tracção entre o segmento a que se destinava pelo bom e velho método do 'passa-palavra', ainda hoje uma das principais medidas do sucesso de QUALQUER produto ou serviço junto do público jovem.

Encabeçado por um jovem que, alguns anos mais tarde, se transformaria num dos nomes de referência da programação de entretenimento em Portugal - e, ainda mais tarde, em verdadeiro profissional do desporto-rei - de nome Jorge Gabriel, o concurso propunha um 'derby' entre dois concorrentes – cada um representando o seu clube de eleição - que procuravam 'marcar golos' um ao outro através da resposta correcta a perguntas sobre o mundo do futebol, sendo o progresso de cada um mostrado mediante uma (hoje rudimentar, mas à época entusiasmante) simulação computorizada. Começando 'de trás', na hoje chamada 'fase de construção', era objectivo de cada um dos jogadores conseguir avançar o mais possível campo afora, correspondendo cada resposta correcta a um passo (ou 'passe') em frente no 'relvado' virtual. A complicação advinha do facto de as respostas irem aumentando de dificuldade à medida que a 'bola' progredia, tornando-se francamente difíceis no sector mais atacante – uma mecânica que, ainda que de forma básica, acabava por reflectir o cariz do próprio futebol enquanto desporto.

Exemplo do conceito do jogo 'em acção'.

Uma fórmula, no cômputo geral, até bastante simples, mas por isso mesmo bem eficaz, que permitiu ao concurso ficar no ar durante três anos e mais de 600 emissões - vindo finalmente a ser cancelado algures em 1997 – e que chegou mesmo a suscitar uma tentativa de transladação do conceito para um formato caseiro, estilo 'jogo de tabuleiro', embora neste caso sem grande sucesso – ao que parecia, os jovens preferiam ver dois concorrentes 'espalhar-se ao comprido' na resposta a perguntas sobre desporto, do que correrem eles mesmos esse risco. Ainda assim, e apesar deste ligeiro 'soluço' a nível comercial, 'Os Donos da Bola' foi um programa que, na sua época, deu que falar, encontrou e reteve a sua audiência e implementou satisfatoriamente um conceito novo, único e original, não se podendo, por isso, considerar nada menos do que um retumbante sucesso (mais um de entre muitos à época) para a ainda jovem mas já bem estabelecida estação de Carnaxide.

10.10.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Um axioma popular bem conhecido dita que, quando alguma coisa faz sucesso (seja uma receita, uma peça de roupa, uma fórmula musical ou literária, uma consola, um jogo de vídeo ou cartas ou, como neste caso, uma série televisiva) inevitavelmente aparecerão imitadores directos, cuja intenção declarada é atingir um grau de sucesso semelhante com um mínimo de esforço, muitas vezes na base da cópia directa; foi assim com as Tartarugas Ninja (cujo concorrente mais directo talvez seja o mais bem sucedido exemplo deste fenómeno), foi assim com 'Pokémon' e 'Digimon' e, claro, não pôde também deixar de ser assim com os Power Rangers.

De facto, a popularidade imediata de que a série da Saban gozou entre o público infantil, aliada aos baixos custos de produção, faziam com que a aposta neste tipo de série fosse de baixíssimo risco, e de retorno financeiro quase garantido; assim, não é de surpreender que tenham sido vários os exemplos surgidos na senda do sucesso de 'Mighty Morphin' Power Rangers', muitos deles produzidos e lançados pela própria companhia que adaptara o conceito original.

Destas, duas chegaram a 'dar à costa' em terras lusitanas, sensivelmente ao mesmo tempo que a sua inspiração-mor (que, ao contrário das ditas, tinha sentido os efeitos da 'décalage' cultural que atrasava a chegada da maioria dos produtos estrangeiros à Península Ibérica, normalmente por períodos entre três a cinco anos) e, tal como esta, em versão dobrada em português, mas sem terem conseguido sequer uma fracção do seu sucesso, não obstante as circunstâncias e clima cultural extremamente favoráveis.

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Falamos de 'Big Bad Beetleborgs' (que só uma década depois da sua estreia nacional teve direito a um título traduzido) e 'VR Troopers' (que nunca chegou a tê-lo) dois programas que adoptavam a fórmula pioneirizada por Mighty Morphin' – que misturava segmentos originais com actores norte-americanos a outros 'importados' directamente de uma qualquer série japonesa – sendo a única diferença a origem do material: enquanto que as diferentes séries dos Rangers eram adaptados dos chamados 'sentai'(séries sobre heróis em fatos às cores com enormes robôs, de que foi exemplo-mor em Portugal 'Turbo Ranger') estas duas séries procuravam importar para o Ocidente o outro grande género de programa deste tipo, o 'tokusatsu', que consistia de séries sobre heróis em fatos METÁLICOS às cores com enormes robôs. Uma diferença que pode parecer negligenciável, mas que ajuda a tornar algo como 'Kamen Rider' (o mais famoso exemplo do género) substancialmente diferente de qualquer série de 'Rangers' – mas que, inversamente, pode servir para explicar o porquê de nenhuma destas séries ter encontrado grande tracção entre o seu público-alvo, não indo qualquer delas além das duas temporadas.

E, no entanto, qualquer das duas via reunidas as condições para ter sucesso, não só se baseando numa fórmula com provas dadas (e já bem explorada pela mesma produtora) como também apresentando conceitos que, à época, faziam delirar a demografia-alvo, como a realidade virtual ou a banda desenhada de super-heróis; 'Beetleborgs' transformava mesmo os três protagonistas em crianças da idade dos próprios espectadores, à semelhança do que aconteceria mais tarde com o personagem Justin em 'Power Rangers Turbo'. No entanto, qualquer que tenha sido a razão – saturação do mercado, a sensação de ambas as séries não passarem de pálidas 'cópias' do original – a verdade é que nenhum dos dois conceitos se notabilizou o suficiente para merecer menção individual, ocupando sensivelmente o mesmo espaço, quer em termos de qualidade, quer de 'visibilidade' na memória nostálgica actual do público lusitano.

Ainda assim, nem tudo o que diz respeito a estas séries é totalmente deitado a perder; isto porque qualquer das duas tem genéricos de abertura quase tão 'radicais' como o dos 'padrinhos' Power Rangers, que constituem, de longe, o elemento mais memorável de ambas; de resto, nenhuma das duas merece, exactamente, mais do que o grau de notabilidade de que hoje goza, sendo ambas vistas hoje em dia (com total justiça, aliás) como o tipo de 'produto daquele tempo' que mais vale esquecer como simples 'desvario' de uma época diferente - como, aliás, indica o facto de ambas tenham sido 'repescadas', já no novo milénio, e prontamente voltado a ser ignoradas pela nova demografia-alvo, mais 'entretida' com produtos como 'Adventure Time', e sem tempo para 'tontices' antiquadas com fatos 'fatelas' e monstros de borracha...

Ambas as séries tinham nos excelentes temas de abertura o seu aspecto mais notável e memorável

 

 

 

04.10.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Em plena era dos canais por cabo e do 'streaming', pode ser fácil esquecer que, até há bem pouco tempo, a escolha dos telespectadores portugueses se encontrava limitada a um dos dois canais estatais; de facto, celebram-se esta semana (mais precisamente na próxima Quinta-feira, dia 6 de Outubro) apenas trinta anos sobre o aparecimento da primeira alternativa às duas RTPs, e primeiro canal de televisão privado a transmitir em Portugal – a SIC.

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Idealizada desde 1986, mas inaugurada apenas seis anos depois, a Sociedade Independente de Comunicação surgia como fruto de uma 'joint venture' que juntava diversas das maiores empresas portuguesas do sector da comunicação a diversas entidades financeiras, instituições como a Universidade Nova de Lisboa, e ainda a Rede Globo, principal rede televisiva do Brasil, e produtora por excelência de telenovelas, muitas das quais a SIC viria a exibir. Para director geral e de programação foi, aliás, escolhido outro brasileiro, Emídio Rangel – um nome a que nenhum espectador português da época será, certamente, indiferente, dado passar por ele grande parte do sucesso dos primeiros anos da emissora.

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Emídio Rangel, a mente por detrás do sucesso dos primeiros anos da SIC

De facto, ao contrário da 'irmã mais nova' TVI (cujos primeiros anos seriam algo titubeantes e dependentes do acervo de programação disponível) a SIC apresentou-se, desde o seu arranque, como um canal de personalidade já bem vincada e definida, assumindo desde logo um maior foco no entretenimento - e, neste campo, Ediberto brilhava, não só importando a 'nata' da programação do seu país natal, mas também idealizando ele próprio conceitos que se viriam a revelar sucessos de audiências, e a tornar-se quase sinónimos com o canal, como o 'Big Show Sic', o 'Buereré', o 'Ponto de Encontro', o 'Chuva de Estrelas', 'O Juiz Decide', 'Perdoa-me' ou 'Fátima Lopes', entre muitos outros programas históricos do canal.

Esta capacidade do brasileiro em discernir o que o público queria ver e o tornar realidade foi, aliás, um dos principais factores por detrás da primeira década quase 'perfeita' de que o canal de Carnaxide gozou, tornando-se líder de audiências apenas três anos após a sua primeira transmissão, e adicionando um sem-número de programas ao 'léxico' televisivo dos portugueses; foram, também, de Rangel as ideias para a cerimónia dos Globos de Ouro (uma espécie de 'Oscars' do canal, ainda hoje vigentes) e para os canais de 'expansão' para a rede TV Cabo que a emissora viria a lançar já no novo milénio, como a SIC Gold, SIC Notícias e, claro, a inesquecível SIC Radical – todos eles, também, ainda hoje presentes na grelha do cabo.

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A primeira gala dos Globos de Ouro, transmitida em 1996

Apesar do seu papel preponderante no sucesso inicial da emissora, no entanto, a saída de Rangel para a RTP não abrandou o crescimento da SIC, antes pelo contrário - Manuel Fonseca, Francisco Penim, Nuno Santos e os restantes directores de programação não só conseguiram manter o nível de sucesso conseguido pelo director inaugural da estação, como o expandiram, sem por isso comprometer a identidade da estação; aliás, a SIC de hoje em dia é, ainda, reconhecivelmente a mesma emissora que projectou a sua canção de abertura às primeiras horas da manhã de 6 de Outubro de 1992 – um feito admirável, que a 'rival' TVI não almejou replicar, e que torna ainda mais justa esta homenagem à estação de Carnaxide, na semana do seu 30º aniversário. Parabéns, SIC – e que contes mais 30!

12.09.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de, hoje em dia, fazer parte integrante da cultura popular portuguesa, o 'anime' – nome por que é genericamente conhecido qualquer produto animado oriundo do Japão – tardou a penetrar na consciência popular lusa da mesma forma que havia feito no resto do Mundo...pelo menos, aparentemente. Isto porque, mesmo sem o saberem, as crianças e jovens nacionais já vinham sendo expostas a produtos mediáticos inseríveis nesta categoria pelo menos dez anos antes das primeiras séries declaradamente identificadas como tal; de facto, quem, na infância, viu 'desenhos animados japoneses' já conhecia o género muito antes do mesmo ser categorizado como tal. Mais – além de séries de traços declaradamente nipónicos, como 'Capitão Hawk' ou 'Cavaleiros do Zodíaco', a influência japonesa fazia-se também sentir em grande parte das séries ocidentais, as quais, à época, não só 'encomendavam' muita da sua animação ao País do Sol Nascente como também tratavam de adaptar e dobrar material originalmente produzido naquela nação.

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Um exemplo deste último fenómeno, cuja criação precede qualquer das séries atrás mencionadas, mas que seria exibido em Portugal sensivelmente na mesma altura das mesmas, é ´Esquadrão Águia', o nome nacional para a adaptação norte-americana do 'anime' 'Gatchaman' que – dependendo a quem se pergunte – é conhecida ora como 'G-Force', ora como 'Battle of the Planets', ora ainda como 'Eagle Riders'. Originalmente criada e exibida no Japão em 1978, a série demoraria nada menos do que catorze anos a chegar às televisões nacionais – um 'atraso' impressionante, mesmo pelos padrões da época!

É claro que, com tal intervalo de tempo desde a sua criação, os aspectos técnicos de 'Esquadrão Águia' ficavam, naturalmente, muito atrás dos das restantes séries com que competia, incluindo os supramencionados 'Saint Seiya' e 'Captain Tsubasa'; vista mais de quarenta anos depois, a animação da série é quase dolorosamente limitada, mais próxima de um 'Speed Racer' (outra série que chegaria 'atrasada' aos televisores nacionais) do que do desenho animado médio daquele início dos anos 90. Assim, o único factor de espanto é o facto de, após essa transmissão na RTP em 1992, em versão legendada, a série ter sido repescada, não uma, mas DUAS vezes, ambas com nova dobragem a cargo da Somnorte – primeiro, na mesma década, pela SIC (onde passou em 1997) e, já na década seguinte, pela RTP2, onde passaria em 2003, um exacto QUARTO DE SÉCULO após a sua criação!

As razões para tal cariz perene da série na televisão portuguesa são pouco claras, tendo, presumivelmente, a ver com a combinação ideal entre baixos custos de aquisição e (desde há alguns anos) nostalgia apresentado pelas aventuras dos Eagle Riders no combate aos Vorak, soldados alienígenas que procuram dominar a Terra em nome da sua entidade, Cybercon; no fundo, o mesmo tipo de premissa que tem vindo a fazer das sucessivas séries de 'Power Rangers' um sucesso inter-generacional, e que parece nunca perder o apelo para as demografias mais jovens. Ainda assim, para essas, havia – na altura, e especialmente hoje em dia – opções bem melhores do que esta série meio 'tosca', que beneficiou (e muito) por ter surgido no sítio certo e na altura certa para ter feito parte do grupo de animações pioneiras do seu género em Portugal, mas cujo valor é, nos dias que correm, quase exclusivamente nostálgico.

A introdução da série permite, desde logo, verificar as deficiências técnicas da mesma por comparação à 'concorrência'.

07.09.22

NOTA: Este post é correspondente a Terça-feira, 06 de Setembro de 2022.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Para quem foi adolescente em Portugal na ponta final do século XX e inícios do novo milénio, os nomes de Rui Unas e Fernando Alvim terão, decerto, um significado bastante distinto do que têm para os restantes dos comuns mortais; isto porque, enquanto a população geral conhece estes dois homens, sobretudo, pelo seu trabalho no popular '5 Para a Meia-Noite', da RTP1, para os jovens daquele tempo os mesmos são não só 'uns gandas malucos', como a melhor dupla de apresentadores de sempre de um dos melhores programas televisivos juvenis de sempre.

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Estreado mesmo na recta final do século XX, a 15 de Setembro de 1999, o 'Curto Circuito' (ou 'CC', como era familiarmente conhecido) deu aos jovens daquele final de Segundo Milénio e inícios de Terceiro aquilo que eles já de há muito não tinham – um espaço verdadeiramente dirigido a si, e aos seus interesses, que oferecia, sem condescendências nem paternalismos, informações sobre cinema, música, videojogos, tecnologia, desporto, e até alguns temas 'de debate', sempre dentro de campos relevantes para a demografia-alvo. Escusado será dizer que a fórmula criada por Unas e Pedro Miguel Paiva foi abraçada quase de imediato por essa mesma demografia, para quem o programa – que, à época, contava com uma cara bem conhecida dos jovens portugueses como coadjuvante de Unas, no caso Rita Mendes, do Templo dos Jogos – constituía a única razão para sintonizar o hoje defunto CNL (ou Canal de Notícias de Lisboa) onde o formato começou por ganhar vida.

Rapidamente, no entanto, se tornou igualmente óbvio que o 'CC' era demasiado 'grande' para os confins daquele modesto canal, e não tardou até o programa ter nova casa; escassos dezoito meses após a sua estreia, e após uma estadia (muito) temporária no então Canal Programação da TV Cabo (e já com Alvim a fazer parelha com o 'maluco' Unas) o formato é escolhido como 'âncora' de um novo projecto ligado à SIC – um canal totalmente dirigido e dedicado ao público jovem, que levaria o nome de SIC Radical.

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Os 'gandas malucos'  originais ...

Do que se segue, reza a História da televisão portuguesa: dois apresentadores em absoluto estado de graça, um programa que cresce e se expande paralelamente ao canal que representa (e com idêntico grau de sucesso), bonecos amarelos, segmentos e rubricas que adquirem estatuto de culto (como o espaço dedicado ao rock pesado apresentado semanalmente por António Freitas), e a passagem progressiva de testemunho a outros futuros ídolos da juventude lusa, dos quais se destacam nomes hoje tão conhecidos como Diogo Beja, Pedro Ribeiro – já bem conhecido desse mesmo público enquanto apresentador de outro 'clássico' da década de 90, o Top + - João Manzarra, Diogo Valsassina e, claro, Bruno Nogueira, talvez o mais incontornável e consensual apresentador do programa desde a dissolução do duo Unas/Alvim, e ainda hoje um dos mais populares comediantes nacionais.

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...e o outro grande 'duo dinâmico' do programa

Infelizmente, os conteúdos do programa em si nem sempre acompanharam a qualidade da apresentação, sendo o período com apresentação de Bruno Nogueira e Carla Salgueiro normalmente considerado o último grande momento do 'CC' antes do declínio; ainda assim, as sucessivas gerações de espectadores do programa claramente não pareceram incomodados, como se pode comprovar pelo facto de o programa continuar no ar até aos dias de hoje, quase exactamente vinte e três anos após a sua primeira emissão, posicionando-se assim - a par de formatos lendários como 'O Preço Certo em Euros' – como um dos mais longevos programas da televisão portuguesa actual - proeza que consegue sem nunca se ter desviado do seu objectivo inicial, e tendo mantido sensivelmente o mesmo formato, um feito admirável, independentemente do que se pense sobre o estado do programa hoje em dia.

Quem 'esteve lá' no início, no entanto, sabe que, por melhor que o 'CC' actual seja, tempos houve em que o programa conseguiu ser, ainda, muito, muito melhor, e constituir a referência que a 'malta jovem' daquele tempo tanto procurava – tempos esses que esperamos ter conseguido reviver (ainda que apenas parcialmente) nestas breves linhas de tributo a um dos mais históricos formatos para jovens da História da televisão portuguesa moderna.

O 'ganda maluco' Rui Unas com a verdadeira estrela da fase inicial do programa

24.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Terça-feira, 23 de Agosto de 2022.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O conceito de 'programa de Verão' traz, normalmente, à memória imagens de apresentadores saltitantes e artificialmente entusiasmados e artistas 'pimba' fazendo 'playback' dos seus mais recentes êxitos. Trata-se de uma fórmula com décadas de existência e que, pelo sucesso que sempre vem acarretando, dificlmente é ou virá a ser alvo de grandes alterações - de facto, o mais provável é que qualquer português que ligue a televisão durante uma tarde de fim-de-semana deste mesmo Verão de 2022 dê de caras com um exemplo deste tipo de programa, que nem a pandemia de COVID-19 conseguiu travar, muito menos 'matar'.

Apesar de o ditado popular rezar que 'em equipa que ganha, não se mexe', no entanto, foi precisamente isso que a SIC decidiu fazer durante alguns Verões do fim do Segundo Milénio e inícios do Terceiro: criar um programa de Verão que interessasse activa e directamente ao público infanto-juvenil, especificamente ao segmento pré-adolescente e adolescente. O resultado foi o Dá-lhe Gás!, um formato centrado na realização de jogos e provas físicas de cariz competitivo e com banda sonora composta por artistas 'da moda', que viria a almejar sucesso suficiente para justificar a realização de precisamente cem programas, divididos ao longo de sete Verões.

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Apresentado por um trio constituído por Jorge Gabriel, Raquel Prates e Catarina Pereira - todos, à época, nomes 'em alta' no segmento 'jovem' da televisão portuguesa - o concurso reunia concorrentes de escolas de todo o País, que disputavam entre si uma série de eventos de cariz físico e desportivo, muitos deles de índole 'radical', ou não fossem aqueles os anos de maior sucesso e interesse por desportos extremos em Portugal; o ambiente de entusiasmo e animação era, conforme já referimos, auxiliado pela música escolhida pela produção, que consistia de 'hits' electro-pop tão conhecidos e icónicos para a época como 'Follow The Leader', 'Blue (Da Ba Dee)', 'Ooh La La La' ou 'Samba de Janeiro' - todos, aliás presentes no alinhamento da colectânea em CD alusiva ao programa, lançada no ano 2000, um ano depois da estreia do mesmo, e durante a sua fase de maior sucesso.

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Capa do CD alusivo à banda sonora do programa, lançado em 2000

A fórmula, no entanto, provaria ter ainda 'pernas' para se aguentar nada menos do que mais seis anos, vindo o programa a terminar apenas no Verão de 2006, quando o panorama televisivo nacional já começava, definitivamente, a distanciar-se do paradigma de finais dos anos 90, e a demografia que acompanhara o programa durante os anos anteriores perdia gradualmente o interesse no mesmo; ainda assim, essa mesma demografia não terá, decerto, deixado de criar memórias nostálgicas de tardes de Verão passadas em frente à televisão, acompanhando os esforços de outros jovens da sua idade e, certamente, desejando poder tomar parte numa edição futura do programa...

Emissão completa do programa, que, embora sem música, permite ver a estrutura e formato do mesmo.

16.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 15 de Agosto de 2022.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Nas últimas semanas, este blog debruçou-se numerosas vezes sobre a carreira de Will Smith, um dos mais populares actores e 'rappers' das décadas de 90 e 2000; assim, era inevitável que, mais cedo ou mais tarde, a nossa atenção se voltasse para a série que lhe permitiu começar o seu percurso em direcção a esse estatuto - a lendária 'sitcom' 'O Príncipe de Bel-Air'.

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Este post podia bem terminar aqui, e a maioria dos nossos leitores seriam capazes de criar a sua própria versão das próximas linhas; TODA a gente viu pelo menos um episódio d''O Príncipe de Bel-Air', senão aquando da sua transmissão original na embrionária SIC, em 1992, então na re-exibição no canal mais Radical da estação de Carnaxide, na década seguinte, ou até na Internet, onde é uma das comédias favoritas da geração 'nerd'. Do estatuto de culto da música de abertura - que grande parte das duas últimas gerações saberá de cor, ou pelo menos quase - aos 'GIFs' de Carlton Banks a fazer a sua dança característica (obviamente apelidada de 'The Carlton') a influência desta série na cultura 'pop' actual é quase inescapável, tornando qualquer contextualização redundante.

Quem não sabe esta letra, certamente, viveu debaixo de uma pedra nos últimos trinta anos...

Tentemos, ainda assim, dedicar algumas linhas a esse objectivo: 'The Fresh Prince' estreou nos primeiros meses da década de 90, na cadeia americana NBC, como forma de capitalizar sobre a fama musical da dupla protagonista, Smith e o seu parceiro Jazzy Jeff; enquanto que a carreira de ambos como criadores de 'hip-hop' entraria em trajectória decrescente, no entanto, seria como actores de comédia que ambos ficariam conhecidos entre toda uma nova geração de jovens, tendo a nova série ultrapassado até os já elevados níveis de sucesso da música da dupla.

No total, foram seis temporadas de aventuras e desventuras de Will (uma versão ficcionalizada do próprio Smith) no ambiente estranho que era a casa dos seus tios ricos, no titular bairro de luxo em Los Angeles, na Califórnia, as quais renderam personagens tão memoráveis quanto Will, Jazz (Jazzy Jeff, também basicamente a fazer dele mesmo), o mordaz mordomo Geoffrey, o iirascível mas compreensivo Tio Phil ou o supracitado Carlton, primo 'betinho' de Will que servia magnificamente a função de contrastar completamente com o mesmo - todos interpretados por actores talentosos, e cuja química mútua constituía um dos pontos fortes da série.

Como se tal não bastasse, 'O Príncipe...' contou ainda com participações especiais de alguns dos maiores nomes da cultura 'pop' norte-americana da época, de Tyra Banks a Naomi Campbell, Whoopi Goldberg, Jay Leno, e até o futuro presidente Donald Trump (que, aliás, era presença assídua em filmes e séries à época) - uma estratégia, aliás, adoptada anos mais tarde pela RTP para a adaptação televisiva de 'As Lições do Tonecas', embora a uma escala bem menor e mais local. Apenas mais um factor de atracção para um público-alvo, na sua larga maioria, já 'rendido' ao lendário charme de Smith e às mirabolantes peripécias engendradas pelos argumentistas da série, que, em conjunto, a ajudaram a tornar num dos maiores e mais memoráveis sucessos de televisão internacionais da década - estatuto que, aliás, a cultura nostálgica e 'nerd' (de que este blog faz parte) lhe permite continuar a manter, precisamente três décadas depois da sua transmissão inicial por terras lusas...

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