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24.12.24
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17.12.24
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
(Crédito da imagem: Desenhos Animados Anos 90)
Um dos principais conceitos tradicionalmente ligados ao Natal – para além do estreitamento de laços de amizade e parentesco e, claro, da troca de prendas – é o da solidariedade para com o próximo, em particular no tocante aos mais desfavorecidos. E porque a máxima deste tipo de gesto reza que 'cada um dá o que pode', não é de surpreender que as entidades públicas ou empresariais estejam entre as que, a cada ano, mais significativos esforços fazem para ajudar quem precisa – sejam as suas intenções genuínas ou não.
Nos anos da viragem do Milénio, uma das 'faces' mais visíveis desta caridade 'corporativa' (à falta de melhor expressão) era a SIC, a qual, durante nada menos do que cinco anos – de 1997 a 2001 - dedicou todo um bloo horário a um programa que tinha tanto de interesse humano como de auto-promoção, e que via os seus apresentadores saírem à rua ao som do inevitável 'A Todos Um Bom Natal' e a bordo de um camião repleto de brinquedos, conseguidos em parceria com a Associação de Apoio À Criança e destinados a assegurar que milhares de crianças desfavorecidas de Norte a Sul do 'País do Natal' gozavam de uma quadra festiva acima da média, mantendo assim o espírito da época natalícia.
De facto, os benefícios desta iniciativa para a demografia-alvo acabavam por ser duplos, já que, para além dos simbólicos (ou talvez nem tanto) presentes, as crianças visadas por esta iniciativa tinham, ainda, a oportunidade de conhecer em primeira mão alguns dos principais nomes associados à estação de Carnaxide, de Jorge Gabriel a Catarina Furtado ou Bárbara Guimarães – uma experiência, certamente, inesquecível, e que, ao mesmo tempo, deixava 'bem vistos' os homens e mulheres que davam a cara ao programa, adicionando o supramencionado elemento de auto-promoção.
Ainda assim, era difícil levar a mal um programa que, no seu âmago, mais não pretendia do que personificar o espírito natalício de entreajuda e solidariedade – algo que, já à época, ia cada vez mais escasseando na sociedade ocidental. É, aliás, incerto porque razão a SIC deixou de percorrer, com o seu camião mágico, o 'País do Natal', já que o programa homónimo era um daqueles formatos intemporais que continuaria, sem dúvida, a ser bem recebido, mesmo na bastante mais cínica sociedade dos anos 2020 - afinal, quem não gosta de ver praticar o bem e ajudar os mais desfavorecidos na época natalícia? Não será, pois, de surpreender se a SIC escolher 'ressuscitar' a sua 'tradição' natalícia para quadras futuras, talvez adaptando-a à nova era digital, e alegrando o Natal não só das crianças pobres que (infelizmente) continuam a existir em Portugal, como também dos telespectadores fartos da mesma sequência anual de filmes de família, e em busca de algo diferente que ver durante os últimos dias de Dezembro...
18.11.24
Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.
As décadas de 1970 a 1990 representaram um período áureo para a produção cómica britânica, com alguns dos seus melhores e maiores nomes não só no activo, como prolíficos nas suas produções, tornando a 'marca' 'Britcom' tão conceituada quanto apetecível para qualquer estação de televisão. E ainda que nem todas as séries da altura tenham almejado expandir-se além das fronteiras das Ilhas, houve ainda assim vários nomes que lograram 'invadir' não só a Europa como também o resto do Mundo. Portugal não foi excepção, tendo acolhido, no período em causa, várias produções do género, das quais se destacavam duas, de cariz diametralmente oposto: por um lado, as diatribes coléricas de Basil Fawlty, proprietário do hotel menos bem cotado do Mundo televisivo, maravilhosamente interpretado pelo ex-Monty Python John Cleese, e por outro, as caretas e humor físico do icónico Mr. Bean, de Rowan Atkinson, que vem fazendo rir sucessivas gerações de crianças desde a sua chegada a Portugal, algures nos anos 90.
De facto, desde essa transmissão original, no horário nobre da RTP, a série produzida e interpretada por Atkinson vem sendo presença constante na grelha não só do canal estatal como também da 'concorrente' privada SIC, que a adquiriu nos primeiros anos do Novo Milénio, criando uma situação em que o simpático personagem semi-mudo passava quase em simultâneo em dois dos quatro canais portugueses! Seja em versão original legendada ou numa quase sacrílega dobragem portuguesa (embora Mr. Bean nunca tenha muito a dizer...) as diferentes 'curtas' do personagem raramente têm saído do imaginário colectivo português, com o seu humor baseado na elasticidade física de Atkinson a garantir o apelo universal, mesmo para quem não fala Inglês nem tem familiaridade com o típico humor britânico; e apesar de a série animada produzida para capitalizar sobre a gigantesca popularidade do personagem entre o público jovem também ter passado no nosso País, continua a ser no Mr. Bean de 'carne e osso' que as crianças portuguesas imediatamente pensam ao ouvir mencionar o seu nome.
A referida popularidade só foi, aliás, auxiliada pela edição dos episódios em VHS, no tradicional formato periódico característico da Planeta deAgostini, e acompanhados do inevitável fascículo - ao qual, neste caso, poucos terão 'ligado', sendo o mesmo pouco mais que um complemento à verdadeira 'proposta de valor', no caso as 'cassettes' com episódios. Felizmente, hoje em dia, não é preciso esperar pelo próximo fascículo, sintonizar a televisão à hora correcta, nem tão-pouco gastar dinheiro para conseguir ver e rever clássicos como 'Boa Noite, Mr. Bean' ou 'Feliz Natal, Mr. Bean', graças à 'magia' de portais cibernéticos como o YouTube, os quais proporcionam a oportunidade perfeita para recordar a fonte de tantas gargalhadas ao longo da infância, e para apresentar aos membros mais 'distraídos' das novas gerações o 'Grande Mestre' das caretas silenciosas, cujo génio fica patente no clip 'de época' com que fechamos este 'post', retirado directamente da emissão do Canal 1 da RTP do ano de 1997. Desfrutem!
08.10.24
NOTA: Por razões de relevância temporal, esta Terça será de TV, e a próxima Tecnológica.
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
A chegada a Portugal da TV Cabo, na ponta final da década de 90, veio terminar definitivamente com a hegemonia dos canais abertos, completando um processo de transição e expansão iniciado aquando da criação dos dois canais privados, SIC e TVI, alguns anos antes. Pela primeira vez, o panorama televisivo português contava com uma amplitude e liberdade anteriormente inimagináveis, as quais abriam possibilidades nunca antes pensadas, nomeadamente no tocante à criação de 'alternativas' menos generalistas aos quatro canais originais. Escusado será dizer que este paradigma não tardou a ser explorado, tendo os primeiros anos do serviço assistido ao aparecimento de toda uma gama de novos canais 'feitos em Portugal', muitos deles tematizadas. E se algumas destas novas adições ditariam o 'mote' para o próximo quarto de século de emissões por cabo, outras tantas ficariam 'pelo caminho', destinadas a permanecer confinadas à memória dos primeiros adoptantes da TV Cabo. Entre estes, contava-se um canal sobre cujas primeiras emissões se acabam de celebrar, há coisa de três semanas,vinte e cinco anos, e que demonstrava as supramencionadas possibilidades do novo sistema televisivo nacional.
Falamos do Canal de Notícias de Lisboa, vulgarmente abreviado para CNL, que surgia pela primeira vez nos ecrãs portugueses a 15 de Setembro de 1999, pela mão da SIC e da Portugal Telecom, que assim adquiria o seu segundo canal, depois da Sport TV. Por comparação com os canais generalistas abertos, o CNL apresentava um foco mais regional, explícito no próprio nome, e uma marcada e assumida aposta em jornalistas e 'pivots' mais jovens, que fazia com que os seus programas fossem mais bem aceites por espectadores de faixas etárias mais baixas, os quais se sentiam talvez mais 'representados' do que anteriormente. Esta opção pela juventude estendia-se, aliás, também aos programas de entrevista e debate, tendo o CNL entrado para a História da televisão portuguesa como o canal que albergou o formato original de um dos mais icónicos programas entre os portugueses da geração 'millennial', o famoso Curto Circuito. Por entre os diversos blocos informativos, havia ainda lugar a algumas 'bizarrias' difíceis de imaginar na grelha de outros canais, como o programa que fechava cada emissão, 'Morfina'.
Uma das consequências da inovação, no entanto, é o potencial para o insucesso – factor que, infelizmente, viria a afectar irremediavelmente o CNL, o qual, no seu formato original, não chegaria a completar um ano e meio de vida, sofrendo uma reestruturação menos de dezasseis meses após ir ao ar, a 8 de Janeiro de 2001. Desengane-se, no entanto, quem pensar que o canal se extinguiu; antes pelo contrário, o mesmo continua a marcar presença diária em muitos lares portugueses, embora agora sob um novo nome – SIC Notícias. Não deixa de ser curioso perceber, no entanto, que um dos maiores canais especificamente noticiosos da televisão portuguesa talvez não tivesse sido possível sem aquela 'aventura' de um ano e três meses, que acabou por 'desbravar' caminho a tanto do que se seguiu ao nível da informação por cabo...
11.09.24
NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 9 de Setembro de 2024.
Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.
Uma das principais características da maioria dos produtos audio-visuais dirigidos ao público jovem é a sua natureza cíclica, muitas vezes dependente de 'modas' ou 'febres' sobre as quais capitalizar como forma de garantir audiências, pelo menos a curto-prazo, antes de desaparecerem da consciência popular para sempre - ou, pelo menos, até serem 'repescados' por uma geração futura, como é agora o caso com 'Dragon Ball Z'. Em meio a esta ainda prevalente tendência, no entanto (e como contraponto à mesma) existem, igualmente, uma série de programas que, sem qualquer 'afiliação' específica e sem fazer uso de grandes 'alaridos', conseguem ainda assim assumir um carácter semi-perene, atravessando gerações com um grau de sucesso semelhante ou muito aproximado. Na televisão portuguesa dos anos 90, existiam vários exemplos flagrantes disso mesmo, com destaque para a imortal 'Rua Sésamo' (que, no seu curto tempo de vida, conseguiu marcar indelevelmente toda uma geração de crianças lusitanas), para as várias séries de 'Noddy' (que ainda hoje continua a ser alvo de novas adaptações televisivas) e para o programa que abordamos neste 'post', que poderia praticamente ser a ilustração do tipo de série em causa.
Surgido pela primeira vez nas páginas de um livro publicado em 1931, Babar, o Rei dos Elefantes, tem desde então sido uma daquelas personagens infantis que, sem ser a favorita de ninguém, não deixa ainda assim de ser instantaneamente reconhecível para qualquer criança ou jovem, graças à sua extensa série de livros de histórias e às várias adaptações televisivas de que foi alvo a partir de finais dos anos 60. E se essa primeira série nunca chegou a passar em Portugal, o mesmo não se pode dizer da segunda (e mais conhecida) tentativa de adaptar Babar ao pequeno ecrã, produzida em 1989 e estreada em terras lusas logo no ano seguinte, no dealbar dos anos 90.
Adaptando um formato muito semelhante ao dos livros originais, com cada episódio a ser conduzido por um narrador, a segunda série televisiva de Babar mantém-se por demais fiel à estética estabelecida nos mesmos, parecendo consistir de ilustrações em movimento e apresentando os tradicionais tons pastel para cenários e personagens. Os argumentos seguiam também na linha das aventuras originais idealizadas por Michel e Laurent de Brunhoff, centrando-se sobre situações do quotidiano do titular elefante e respectiva família, e demarcando-se do teor mais voltado para a acção da maioria das outras séries infanto-juvenis. Até mesmo o genérico seguia esta toada, com as suas suaves notas de piano e imagens de tranquilidade e conforto em família.
Aliada à estética de livro de histórias, esta escolha fazia com que a série fosse, sobretudo, popular entre o público de menor idade, tendendo os 'mais crescidos' a gravitar para séries mais dinâmicas, coloridas e movimentadas. Para os mais pequenos, no entanto, poucos programas havia na televisão daquela época com tanta qualidade e cuidado na execução como Babar, que se apresentava como uma das melhores opções da altura para a demografia em causa, a par das séries acima referidas ou de algo como o 'Urso Teddy', com quem Babar partilha algumas semelhanças.
Dado o sucesso inicial da série, tão-pouco é de espantar que a mesma tenha, poucos anos depois, sido 'repescada' pela SIC, que a exibia entre 1993 e 1994 e, mais tarde, alvo de nova dobragem, aquando do seu regresso à televisão estatal nacional, já no Novo Milénio, concretamente em 2007. Pelo meio ficava, ainda, uma nova série, exibida novamente pela 'Três' no ano 2000, e que trazia uma dobragem diferente de quaisquer das adoptadas para a sua antecessora. Para o 'registo' ficam, também, dois filmes, produzidos com dez anos de diferença e lançados no mercado de vídeo e DVD, tendo o primeiro (de 1989) chegado também a ser transmitido pela SIC. Prova cabal, como se tal fosse necessário, da popularidade de que o então septuagenário elefante ainda gozava entre o seu público-alvo.
Nos anos subsequentes, no entanto, a popularidade de Babar sofreu um significativo abalo, tendo o simpático rei dos elefantes sido ultrapassado por novos 'ídolos' animados, como Ruca, Dora a Exploradora ou a Patrulha Pata. Não seria de espantar, no entanto, se, num futuro próximo – quiçá por alturas do centenário da sua criação – o personagem criado em França regressasse com uma nova série, filme ou colecção de livros, pronto a conquistar os corações de ainda mais uma geração...
04.09.24
NOTA: Este 'post' é respeitante a Terça-feira, 04 de Setembro de 2024.
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
Há três décadas atrás, a televisão portuguesa estava longe do cariz formatado, homogéneo e algo anónimo de que se reveste hoje em dia. De facto, enquanto que a programação actual dos vários canais é semelhante ao ponto de os mesmos se confundirem, em meados da década de 90, cada um dos apenas quatro canais disponíveis tinha uma personalidade bem distinta, e bastante mais margem de manobra no tocante a apostas para a grelha de programação, sobretudo no caso das recém-nascidas emissoras privadas, que não tinham de obedecer aos mesmos padrões da estatal RTP; e escusado será dizer que tanto a SIC quanto a TVI tiraram o máximo proveito desta liberdade, apostando em vários conceitos, no mínimo, inusitados, como o mega-popular 'Jogo do Ganso' da 'Quatro'. No entanto, até a mais arriscada destas apostas parece perfeitamente normal ao lado daquele que talvez seja o programa mais delirante e tresloucado a alguma vez passar na televisão portuguesa, um verdadeiro 'sonho psicadélico' composto de provas mirabolantes disputadas por concorrentes frenéticos, um literal vilão de ficção e comentários que mais se aproximavam a números de 'stand-up comedy'.
Falamos, claro está, de 'Nunca Digas Banzai', o histriónico nome escolhido para o misto de concurso e filme de acção japonês originalmente baptizado 'Takeshi's Castle', em honra do seu ideólogo e actor principal, a estrela de cinema nipónica Takeshi Kitano, sobre cuja estreia em Portugal se celebram este ano exactas três décadas. De facto, seria apenas quatro anos após a sua conclusão no seu Japão natal, e oito após a sua estreia, que a 'loucura' de Takeshi 'aterraria' em Portugal, onde teria honras de exibição nas tardes de Sábado da SIC (embora originalmente estivesse incluído no bloco da manhã, o 'Sábado Mágico') e de locução por parte de João Carlos Vaz (também narrador do homólogo 'Gladiadores Americanos') e José Carlos Malato, então ainda um relativo desconhecido nos meandros da televisão portuguesa, e cujos improvisos formaram grande parte da personalidade da versão portuguesa do programa, sendo hoje um dos elementos mais lembrados e nostálgicos para quem assistia ao mesmo.
E como diz o ditado, 'mais vale tarde que nunca', já que 'Nunca Digas Banzai' compensaria a sua chegada tardia aos écrãs nacionais com o seu retumbante sucesso, devido em parte precisamente à locução de Malato, cujas hilariantes observações combinavam na perfeição com o caos frenético da própria competição, uma espécie de versão hiper-exagerada dos 'Jogos Sem Fronteiras' ou do referido 'Gladiadores Americanos', em que largas dezenas de concorrentes se 'matavam' em provas físicas cada uma mais extrema do que a seguinte, na esperança de conseguir chegar ao confronto final com o malvado Conde Takeshi - dono do castelo que dava o título original ao programa, e interpretado pelo seu criador – e ganhar o grande prémio de um milhão de ienes (cerca de 6300 euros actuais). A natureza extrema das provas, aliada a algumas 'batotas' por parte de Takeshi, assegurava, no entanto, a raridade de tal feito, apenas por nove vezes almejado em todo o ciclo de vida do programa.
Mesmo sem 'finais felizes', no entanto, os episódios de 'Nunca Digas Banzai' ofereciam entretenimento suficiente para saciar até o mais hiperactivo dos espectadores noventistas, com o seu misto de provas inenarráveis e disputadas a ritmo frenético, e comentários 'a condizer', com destaque para as famosas denominações dos vilõess como 'Fuji-moto', 'Fuji-carro' e 'Fuji-lambreta', em trocadilhos que, hoje, poderiam ser considerados controversos, mas que, à época, divertiam o público maioritariamente jovem que reservava parte da sua tarde de Sábado para ver japoneses anónimos cair de plataformas para dentro de piscinas, enquanto dois comentadores ao mais puro estilo luta-livre lhes atribuem nomes de celebridades para os distinguir uns dos outros. Um conceito que apenas poderia ter nascido e sido transmitido na era de 'liberdade televisiva' vivida em finais do século XX, à qual toda uma geração de portugueses (e não só) tem a agradecer alguns dos melhores e mais memoráveis programas de sempre da televisão portuguesa, dos quais 'Nunca Digas Banzai' faz, definitivamente, parte. E caso este 'post' tenha 'activado' a nostalgia a algum dos nossos leitores, abaixo fica um episódio completo, que reflecte bem a loucura que grassava neste lendário concurso nipónico.
02.07.24
NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 01 de Julho de 2024.
Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.
Já aqui anteriormente referenciámos a década de 90 como talvez o auge da produção de humor em Portugal, com nomes tão icónicos como Nicolau Breyner, Herman José e Camilo de Oliveira a encabeçarem um sem-número de produções especiais, programas de 'sketches' e, claro, séries. E embora a maioria destas últimas surgisse num formato mais do que típico, com apenas o guião e interpretações a denotar a sua natureza humorística, uma delas, estreada na SIC algures em 1999, tentava uma abordagem ligeiramente diferente, e que vinha rendendo frutos em países como os Estados Unidos desde há já várias décadas – a gravação 'ao vivo em estúdio', frente a uma plateia, numa estratégia que permitia uma reacção orgãnica aos elementos supracitados, mais próxima da verificada numa peça de teatro ou espectáculo de revista do que da típica produção televisiva.
Falamos de 'Residencial Tejo', cuja premissa – pai e filha saloios 'aterrados' na capital e a braços com a gestão de uma pensão – reunía vários elementos muito apreciados do público português, aliando um foco na ainda hoje extensa classe popular provinciana, com personagens perfeitamente balanceadas entre os toques caricaturais e a verosimilhança, a um estilo de humor fácil, ligeiro e de 'escola' tipicamente portuguesa, que havia já assegurado o sucesso de várias outras séries no decurso da mesma década, e haveria ainda de impulsionar muitas mais. Junte-se a isso um elenco perfeitamente capaz de dar vida às respectivas personagens - encabeçado por Anna Paula, Canto e Castro (ele que acumularia ainda, durante mais alguns meses, o papel de professor de Tonecas na icónica adaptação televisiva dos textos de Oliveira Cosme) António Vitorino D'Almeida (numa rara incursão pelo universo dramático) e Maria do Céu Guerra, naquele que se tornaria o seu papel mais icónico, o da campónia protagonista Seição – e estava dado o mote para três temporadas de relativo sucesso, embora não tão longevo ou memorável como o de séries semi-contemporâneas como 'Camilo & Filho, Lda.' 'Major Alvega' ou as próprias 'Lições do Tonecas'.
Maria do Céu Guerra, no seu papel mais marcante como Seição, responsável pela residencial homónima da série.
Ainda assim, e apesar das críticas de que foi alvo por parte do eminente analista de televisão Eduardo Cintra Torres – que considerou a premissa pouco realista por sugerir uma miscigenação pouco conflituosa entre classes sociais muito distintas – 'Residencial Tejo' teve, obviamente, suficiente aceitação por parte do público nacional da viragem do Milénio para se manter no ar durante vários anos, o que – embora hoje se encontre algo esquecida no vasto 'baú' de séries de humor suas contemporâneas – não deixa de lhe outorgar um merecido lugar entre as páginas deste nosso 'blog'.
21.05.24
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
Já aqui por várias vezes nos referimos ao início dos anos 90 como o período por excelência de experimentação televisiva em Portugal, com o aparecimento de dois canais independentes a permitir a aposta em programas inovadores, muitos deles adaptados de formatos estrangeiros de igual sucesso. De concursos a programas de auditório, passando por emissões sentimentais e até falsos casos de tribunal televisionados, foram muitos os formatos a correr riscos calculados em busca das sempre 'fugidias' audiências; a essa lista, há agora que juntar aquela que foi uma das grandes apostas da SIC para a temporada televisiva de 1994, e que introduzia mais um conceito pioneiro no contexto da televisão portuguesa – o 'Perdoa-me'.
Com uma premissa algures entre o 'Ponto de Encontro' e 'O Juiz Decide', com uma pitada de 'Jerry Springer' à mistura, o programa apresentado primeiro por Alexandra Lencastre (a Guiomar da 'Rua Sésamo', entretanto transformada em apresentadora de televisão credível) e depois por Fátima Lopes, mais tarde pioneira dos 'talk shows' nacionais, propunha-se, simplesmente, a resolver publicamente conflitos entre duas partes lesadas, numa tentativa de restabelecer as boas relações entre elas – um daqueles conceitos que apela ao 'voyeurismo' e partilha da desgraça alheia inerentes a grande parte da humanidade, e a que os portugueses não são excepção. Assim, não é de surpreender que o programa se tenha instantaneamente afirmado como um sucesso de audiências, atingindo um 'share' de 53.5%, um número histórico à época e que indicava que mais de metade dos lares portugueses tinham o programa sintonizado! Esta inaudita popularidade ajudou, aliás, a catapultar para o sucesso os programas que se sucediam ao 'Perdoa-me', em particular o 'All You Need Is Love', outro conceito pioneiro que aqui terá, em breve, o seu 'lugar ao Sol'.
Apesar deste sucesso quase absurdo, no entanto, 'Perdoa-me' é, trinta anos depois, lembrado sobretudo pelo episódio transmitido a 1 de Junho de 1994, em que Alexandra Lencastre se deixou enganar pelos próprios convidados, dois jovens estudantes de Agronomia cuja pretensa querela não passava de um artifício para conseguir aparecer no programa e, por consequência, na televisão; um momento algo embaraçoso, que fez parangonas na imprensa da época e que não deixou de ser recordado no 'Jornal da Noite' aquando dos vinte anos da efeméride. Um 'legado' algo inglório para um programa pleno de boas intenções, e que, à época, provou aos executivos televisivos que, por vezes, valia a pena arriscar, sem que posteriormente fosse necessário pedir perdão...
Excertos das duas 'eras' ou 'fases' do programa.
20.05.24
Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.
Na última edição desta rubrica, falámos dos três volumes de 'Canções da Rua Sésamo', os quais se juntam às 'Canções do Lecas' aos LP's da Arca de Noé, ao disco dos Patinhos e aos dois álbuns do Batatoon no panteão de lançamentos infantis ligados a programas de televisão que se revelaram sucessos por direito próprio. Tal lista não estaria completa, no entanto, sem um outro álbum, que aproveitou em pleno a presença de um nome ligado à música para conseguir alguma tracção para além dos confins das composições para crianças, e penetrar na consciência popular portuguesa durante vários anos após o seu lançamento.
Falamos, é claro, de 'Super Buereré', também frequentemente conhecido como 'Ana Malhoa e Hadrianno', o álbum 'oficial' do icónico programa infantil de Ediberto Lima, lançado em pleno auge do mesmo, em 1996, e que pôs todo um país a recitar as cinco vogais do alfabeto latino juntamente com a 'versão portuguesa' da musa infantil brasileira Xuxa, e com um homem vestido de gorila. E se, descrito assim, o disco pode parecer um grotesco sonho febril causado pelo abuso de substâncias psicotrópicas, a verdade é que, no contexto português de meados dos anos 90, o conceito por detrás do mesmo fazia todo o sentido, juntando duas das estrelas favoritas das crianças da época – e duas das principais figuras da SIC de Ediberto Lima – numa alegada colaboração que, de facto, se ficava pelo aspecto plástico, já que o macaco Hadrianno se limitava a dançar e posar para as fotos com Ana Malhoa, a quem cabia todo o trabalho de interpretação.
Assim, mais do que uma colaboração alusiva ao programa que lhe dá título, este acabava por ser, sobretudo, mais um álbum de Ana Malhoa, então prolífica no 'universo paralelo' da música 'pimba', com a principal diferença a residir no grau de visibilidade da cantora, que abria estas doze canções a um público bem mais vasto do que o habitual. E a verdade é que o 'esquema' de Ediberto Lima resultou em cheio, não havendo criança ou jovem da época que – de forma irónica ou sincera – não soubesse entoar a 'Canção do Hadrianno' e, sobretudo, 'Começar no A', um dos 'hinos' da primeira vaga de 'millennials' lusitanos, que decerto ainda conseguem recitar de cor a letra da autoria de Toy (outro ícone da música 'pimba'), e talvez até recriar a saltitante coreografia; já das outras dez faixas, pouco reza a História, apesar de terem, decerto, servido de forma perfeitamente aceitável a sua função de 'enchimento' em torno dos dois 'singles', perfazendo um álbum que grande parte das crianças daquele ano de 1996 terá, decerto, 'implorado' aos pais para ter.
De facto, tal foi a procura pelo CD que, meses depois, o mesmo era reeditado, com capa e grafismo diferentes, a ordem das faixas alterada, e menos quatro canções (entre elas os dois 'singles', aqui presentes apenas em formato 'karaoke') sob o nome 'Super Buereré Vol. 2' – embora, ao contrário do que acontecia com os supracitados LP's da Rua Sésamo e Arca de Noé, de 'segundo' só tivesse mesmo o nome. Uma jogada de 'marketing' perfeitamente descarada, mas que terá, ainda assim, chegado para satisfazer os desejos das crianças que não tinham posses para comprar um disco inteiro, e que conseguiam, graças a este lançamento, desfrutar ainda assim de um mini-álbum, ainda que sem os dois principais 'chamarizes' do disco original.
A capa alternativa que disfarçava o disco original de 'Vol. 2.'...
Fosse qual fosse o formato, no entanto, é inegável que 'Ana Malhoa e Hadrianno – Super Buereré' merece lugar de destaque na discografia infanto-juvenil dos anos 90, tanto pelo sucesso de que o seu programa-base gozava como pelo impacto que teve entre a sua demografia-alvo no período de doze meses imediatamente após o seu lançamento. E se dúvidas restarem, não há senão que pedir a um português nascido na segunda metade dos anos 80 para entoar a canção do alfabeto do programa, e observar o que imediatamente acontece...
Os dois mega-sucessos retirados do álbum, e inesquecíveis para qualquer ex-criança dos anos 90.
23.04.24
Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.
A década de 90 foi, no que toca à televisão portuguesa, um período de experimentação por excelência. Antes do sucesso das telenovelas portuguesas e dos primeiros 'talk-shows' e 'reality shows' virem formatar irreversivelmente a oferta televisiva nacional para o Novo Milénio, o aparecimento de dois novos canais de índole independente, livres das restrições da emissora estatal e com grelhas inteiras para preencher, permitiu a aposta numa série de conceitos pioneiros (pelo menos no nosso País) e originais ao ponto de, até hoje, alguns ainda constituírem o único exemplo do género. Entre programas de reencontros, encenações de processos jurídicos em directo, emissões sensacionalistas sobre trabalho policial e outras que misturavam entretenimento juvenil com discussões sérias sobre os problemas dessa demografia, não era difícil até ao conceito mais 'estapafúrdio' encontrar o seu nicho dentro da programação da SIC e da TVI; como tal, não é surpreendente que um programa como 'Cenas de Um Casamento' tenha, também ele, conseguido gozar de uma temporada como parte da grelha da estação de Carnaxide.
Estreado há exactos trinta anos, em Abril de 1994, e apresentado pelo sempre carismático Guilherme Leite, 'Cenas de Um Casamento' partia de uma premissa que quase se podia considerar predecessora dos 'reality shows' da década seguinte, embora sem o 'factor espectáculo' manufacturado destes últimos. O foco da emissão eram, não celebridades 'acabadas' ou anónimos em busca de fama e fortuna, mas casais normais, do dia-a-dia, em processo de planificação e preparação do seu casamento. Cada episódio do programa levava os telespectadores através de toda a História romântica do casal, do início de namoro à fase actual, permitindo-lhes 'viver' o evento ao lado do noivo e da noiva, ao mesmo tempo que proporcionava a estes últimos não só quinze minutos de fama como também uma plataforma para mostrarem ao Mundo (ou, pelo menos, ao País) a bela cerimónia de que haviam sido o centro. Um conceito tão picaresco quanto pitoresco (sobretudo na era das redes sociais) mas que não deixava de encontrar o seu público entre a vasta faixa de população que procurava 'perder-se' nos contos de fadas de estranhos como forma de trazer emoção à sua própria vida.
Conforme mencionámos acima, este conceito dificilmente resultaria como emissão em horário nobre numa era em que o efeito proposto pelo programa é facilmente realizável no espaço de uns poucos 'cliques' numa qualquer rede social gratuita, com a vantagem adicional de não ser necessário esperar pela semana seguinte para acompanhar outra história; na sua época, no entanto, a proposta de 'Cenas de Um Casamento' não só fazia sentido como era pioneira, justificando tanto a presença na grelha da SIC para a Primavera de 1994 como a recordação neste nosso 'blog' nostálgico, por alturas do trigésimo aniversário da sua estreia.
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