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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

15.09.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Os acessórios e adereços pessoais formam, tradicionalmente, uma parte tão ou mais importante da moda juvenil (e não só) como as próprias peças de roupa envergadas, e cada década tende a ver mais um 'lote' de exemplos desta tendência serem adicionados à consciência popular. Escusado será dizer que os anos 90 não foram excepção, 'apresentando' os jovens portugueses (e não só) a conceitos como as gargantilhas e os tererés, além de verem ter lugar um significativo acréscimo da penetração dos 'piercings' e tatuagens na sociedade 'mainstream' nacional. A juntar a estes adereços e tendências, há, ainda, dois outros, ainda hoje bastante comuns, sobretudo na época estival que ora finda: os anéis para os dedos dos pés e as chamadas tornozeleiras, ou simplesmente 'pulseiras para os tornozelos', ambos os quais tiveram a sua origem na última década do século XX.

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De facto, foi durante estes anos que se começou a ver cada vez mais jovens, sobretudo raparigas, com correntes em volta dos tornozelos – fossem de metais preciosos ou simplesmente de pano ou couro – e com os dedos dos pés adornados da mesma forma que os das mãos, com o mindinho e o segundo e terceiro dedos a serem os que mais frequentemente alojavam anéis, normalmente de metal simples, ou apenas com um friso, não sendo frequente ver anéis de brilhantes nesta zona do corpo.

As duas modas – que atingiam o seu esplendor máximo na época das saias, calções e chinelos – tiveram início, como tantas outras, entre as camadas mais altas da sociedade nacional (as chamadas 'betinhas') e sobretudo entre a demografia ligada ao 'surf', vindo depois a espalhar-se de forma mais generalizada; por alturas da viragem do milénio, não havia já loja de acessórios que não disponibilizasse estes dois tipos de produto a preços relativamente acessíveis. Curiosamente, esta é uma tendência que se mantém até aos dias de hoje, com a geração originadora da mesma a manter o gosto pelos adereços para os pés, e a transmitir esta mesma afinidade à sua sucessora, fazendo com que a mesma se possa já considerar praticamente intemporal – o que torna estas breves linhas sobre a sua origem perfeitamente pertinentes, até porque o calor continua a apertar em Portugal, convidando ao uso destes acessórios durante mais algumas semanas...

01.09.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

O mês de Setembro sempre marcou, no calendário português, o fim do Verão; apesar de o regresso às aulas ainda ser, em grande medida, feito 'em t-shirt', não deixa também de ser verdade que a maioria dos jovens portugueses levava já para a escola um casaco, a fim de enfrentar as tardes mais frias. A chuva, essa, só costumava chegar mais para o final do mês, ou até em Outubro; este ano, no entanto, o Outono decidiu antecipar-se em algumas semanas, levando à situação algo caricata de, depois de uma Sexta com Style em que falámos das sandálias de praia, sob calor de quase quarenta graus, nos encontrarmos, duas semanas depois, a recordar uma peça de calçado diametralmente oposta, e indispensável nos dias de maior chuva.

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Falamos, é claro, das clássicas galochas – as botas de borracha que protegiam os pés das poças e 'rios' de água nos passeios em igual medida do que aliciavam aos saltos para dentro das mesmas – uma daquelas brincadeiras intemporais dos dias de chuva e que, seja em que altura da História fôr, dá azo à mesma reacção irritada por parte dos pais. No entanto, a verdade é que – com os pés e barrigas das pernas bem protegidos por uma ou mais camadas de borracha grossa – era mesmo bastante difícil resistir ao apelo daquelas superfícies lisas, mesmo a pedir para serem 'desfeitas'; o pior era quando a água subia demais e penetrava nas botas, contrariando assim o propósito de ter vestido as mesmas...

'Chapões' à parte, não haverá, decerto, um único 'nativo' dos anos 90 que não se recorde de ter vestido, a cada chegada do Outono, um par de sapatos deste tipo – muitas vezes a contragosto, já que os mesmos estavam longe de ser estéticos ou vistos como estando 'na moda', o que tendia a causar algum constrangimento em crianças mais velhas e, sobretudo, adolescentes. Curiosamente, esta vertente foi, em décadas subsequentes, devidamente suprida, com o aparecimento de galochas com padrões apelativos, bolas, riscas, e outros 'truques' para as deixar um pouco menos 'chatas' e incentivar ao seu uso.

Esses 'truques' não foram, no entanto, suficientes para fazer perdurar o apelo das galochas como calçado 'de cidade', sendo as mesmas, hoje em dia, mais frequentemente vistas em trabalhadores manuais cujos trabalhos envolvem o contacto com terra ou outras substâncias húmidas e desagradáveis, ou em crianças muito pequenas, tendo as demografias mais velhas encontrado outras soluções para fazer frente a chuvas mais fortes; para toda uma geração, no entanto, o calçado outonal por excelência serão, para sempre, aquelas botas inestéticas e meio desengonçadas, muitas vezes usadas 'à força', mas que, ao mesmo tempo, estarão sem dúvida associadas a um sem-número de bons momentos passados em brincadeiras à chuva...

18.08.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Os Verões dos anos 80, 90 e 2000 eram, normalmente, sinónimos com uma série de elementos, dos gelados da Olá às visitas a parques aquáticos ou férias no Algarve. O mundo da moda tão-pouco ficava imune a este tipo de iconografia, e a cada nova época estival podia esperar ver-se nos pés dos portugueses um sapato de formato, configuração e propósito muito específicos: a clássica sandália de tiras em plástico.

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Clássico para muitos, trauma de infância para outros tantos, e símbolo do Verão de toda uma geração.

À época tão ou mais difundidas do que os chinelos em plástico, e ainda hoje sobreviventes em muitas lojas de praia, em quase todas as cores possíveis e imagináveis, estas sandálias serviam, sobretudo, o propósito de proteger os pés de impurezas e outros perigos que supostamente espreitavam tanto na areia da praia como à beira-mar, sendo, nomeadamente, recomendadas como 'escudo' contra as picadas do temível peixe-aranha. Para muitos pais de finais do século XX, no entanto, o propósito deste tipo de calçado era, sobretudo, prático, já que o mesmo era totalmente lavável e, como tal, fácil de limpar após cada ida à praia, bastando colocar o pé debaixo de qualquer chuveiro, fonte ou mangueira para lhe tirar a areia. Já muitas crianças tendiam a achar estas sandálias desconfortáveis, sobretudo devido às tiras em plástico - que queimavam e se colavam ao pé em tempo muito quente ou quando molhadas - e à fivela ajustável que, muitas vezes, deixava o sapato ou demasiado largo ou demasiado apertado, a ponto de deixar marca na pele.

Para quem conseguia ultrapassar estas pequenas inconveniências, no entanto - ou tinha a sorte de ter um pé a que o sapato coubesse sem grandes 'celeumas' - este tipo de calçado será, ainda hoje, um ícone do período de infância, talvez mesmo comprado para os respectivos filhos; para os restantes, constituirá algo mais próximo de um trauma. Seja qual for o caso, no entanto, poucos portugueses da geração 'millennial' negarão que as sandálias em causa constituem um ícone da moda estival do século XX, bem merecedor de figurar nesta nossa rubrica.

04.08.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Talvez a principal característica dos atacadores de qualquer criança – quer tenham sido atados pela própria ou por um adulto mais experiente – é desatarem-se de forma incrivelmente frequente. A tendência dos 'putos' para se deslocarem em corrida, juntamente com o atrito advindo da maioria das suas brincadeiras, faz com que até o nó mais cuidadosamente dado acabe, inevitavelmente, por ficar lasso, deixando um par de atacadores a arrastar no chão, não só adquirindo poeira e terra como também representando um perigo iminente de queda e mazelas físicas. Assim, não é de admirar que os anos 90 tenham procurado responder a esta inevitabilidade com uma inovação tão simples quanto genial e eficaz, e que merecia ter sido mais popular entre a demografia-alvo.

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Exemplo moderno do objecto em causa.

Falamos dos protectores de atacadores, pequenas 'molas' plásticas que se colocavam por cima da zona do nó de qualquer par de atacadores, com a função de prevenir que os mesmos se desatassem com tanta facilidade como antes – um objectivo que, ainda que nem sempre totalmente conseguido, se podia considerar, grosso modo, ser atingido. E para tornar estes objectos perfeitamente utilitários um pouco menos aborrecidos e um pouco mais apelativos para o público-alvo a que almejavam, as companhias fabricantes tiveram outra ideia genial: a de moldar os mesmos em forma de animais, objectos, ou mesmo heróis da televisão ou banda desenhada (lá por casa, por exemplo, havia um das Tartarugas Ninja) tornando assim um apetrecho necessário e até algo 'totó' numa declaração de estilo e auto-actualização!

E se, hoje em dia, os protectores de atacadores já não gozam da popularidade que outrora tiveram (actualmente, este tipo de produto encontra-se sobretudo em plataformas de pequenos artistas independentes, como a Etsy) muitos terão, sem dúvida, sido os leitores deste blog que, antes de saírem para a escola ou para um Sábado aos Saltos com os amigos, puseram em cima do laço dos sapatos um animal fofinho ou a cara do seu herói favorito...

 

14.07.23

NOTA: Por motivos de relevância temporal, falaremos de cinema nas próximas duas Sextas-feiras; hoje, falaremos novamente de moda.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

O fenómeno de um produto normalmente associado com uma cultura de 'nicho' – seja a nível estético ou ideológico – se transpôr para o chamado 'mainstream' não é, de todo, inédito; pelo contrário, são incontáveis as apropriações e assimilações deste tipo feitas pela cultura ocidental nos últimos cinquenta anos, de forma transversal a todos os aspectos da sociedade. O vestuário e o calçado não são excepção, tendo várias peças originalmente destinadas ao trabalho manual ou envergadas como forma de posicionamento contra-cultural passado a ser uma mera opção estética igual a tantas outras.

Tão-pouco foram os anos 90 excepção a esta regra; a última década do século XX viu entrarem no guarda-roupa do comum dos jovens as botas texanas, os blusões de penas, e as botas de caminhada ou de biqueira de aço, que se juntavam aos casacos de cabedal e ganga no rol de artigos entretanto desprovidos da sua função original e adoptados como simples adereços de moda. A este grupo há, ainda, que juntar um artigo de calçado que, nos seus então quarenta anos de História (hoje setenta) nunca havia deixado de ser conotada com movimentos rebeldes, contra-culturais, ou, no mínimo, artísticos: as botas Dr. Martens, mais conhecidas como 'Docs'.

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De facto, apesar de serem, ainda, largamente conotadas com o vestuário dos 'freaks' (nome dado, à época, aos adeptos do movimento alternativo) a verdade é que estas botas viveram, durante a referida década, um dos seus 'estados de graça', muito por conta do referido movimento alternativo e de 'cenas' musicais e culturais como o gótico ou o 'grunge'. Com os seus tradicionais pespontos amarelos e uma gama de cores fora do comum (além das clássicas pretas ou castanhas, era comum ver nos pés da juventude modelos vermelhos, amarelos ou verdes) estas botas não podiam deixar de agradar a 'tribos' urbanas cuja filosofia estética era, precisamente, a de se destacar das 'massas' através de escolhas estilísticas inusitadas e chamativas. Junte-se a isto a sua versatilidade e a durabilidade típica de artigos de qualidade da época, e está explicado o sucesso das 'Docs' junto do público alternativo da viragem do Milénio.

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O ainda popular modelo vermelho.

O único entrave à ainda maior massificação destas botas entre os jovens lusitanos era, pois, o mesmo de sempre: o preço, que se afirmava como proibitivo para a maioria das 'carteiras' da classe média, mesmo no contexto de presentes de aniversário ou Natal; assim, para cada jovem que envergava orgulhosamente um par de Dr. Martens nos pés, haveria certamente vários outros que se viam forçados a ficar-se pelo 'sonho', e a admirar com cobiça os pares dos colegas e amigos.

A história das botas Docs na sociedade portuguesa (e mundial) tem, ainda, outra reviravolta, já que a democratização da moda, aliada à sua natureza cíclica, fez com que as mesmas regressassem à consciência colectiva de uma geração, entretanto, já capaz de suportar os custos aliados à compra de um par – bem como da seguinte, que as assimilou e integrou no seu próprio livro de estilo, e as associou aos seus próprios movimentos sócio-culturais. Um breve passeio pelas ruas de uma qualquer cidade portuguesa permite, assim, avistar novamente os icónicos pespontos amarelos nos pés de góticos, 'punks' e intelectuais, mas também das chamadas 'betinhas', provando que as septuagenárias botas mantêm o mesmo apelo transversal que as fez objecto de cobiça da maioria dos jovens portugueses há perto de três décadas.

07.07.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Apesar de, regra geral, uma década tender a ser referenciada como um todo (veja-se o título deste blog, por exemplo) a verdade é que um período de dez anos é mais do que suficiente para tornar o modo de vida quotidiano de uma sociedade praticamente irreconhecível. E se, em décadas transactas, essas mudanças foram mais graduais e, talvez, menos perceptíveis, os anos 90 foram, talvez, o período em que mais se verificou o oposto, ao ponto de um jovem adolescente de 1991 pouco ter a ver com um seu congénere de 1999, quer em termos de gostos mediáticos, quer de estilo de vida ou até no aspecto estético.

Um bom exemplo disto mesmo foi o calçado jovem dos anos 90. Se houve peças que atravessaram toda a década, nomeadamente os ténis 'pisa-e-brilha' ou os Converse e respectivos sucedâneos, o restante mercado sofreu profundas alterações, com constante renovação em termos de marcas, modelos e até cores populares; no espaço de apenas dez anos, os pés dos jovens portugueses passaram de envergar sapatilhas Sanjo às Redley, Skechers e Airwalk, de sandálias de plástico e chinelos 'dos trezentos' a Havaianas e das botas Doc Martens (hoje de novo em voga e que aqui terão o seu espaço) às Texanas 'em bico', Panama Jack e, acima de tudo, Timberland.

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Uma imagem que ainda faz 'babar' toda uma geração...

De facto, a recta final dos anos 90 e início da década seguinte marca a explosão em popularidade da marca americana, e sobretudo do modelo cor de crème, que – quase de um dia para o outro – passou a surgir nos pés de uma enorme parcela da juventude portuguesa, e a ser objecto de cobiça e símbolo de 'status' para a restante percentagem. Caracterizadas por terem constituído uma moda transversal a ambos os sexos – embora, entre o sexo feminino, tendessem a ser adoptada sobretudo por raparigas com um estilo mais práctico, as chamadas 'maria-rapaz' – estas botas tinham, para muitos 'putos' e adolescentes da época, o mesmo entrave de sempre: o preço proibitivo, que fazia delas item de luxo e suscitava o aparecimento no mercado 'alternativo' de um sem número de imitações e contrafacções mais ou menos convincentes, que ajudavam a 'safar' quem não tinha fundos para comprar o artigo genuíno.

O mais curioso é que, à altura da sua popularização em Portugal, esta bota já existia há várias décadas (como era, aliás, o caso também com as Doc Martens) tendo a sua demografia original sido a mesma das Martens e das não menos famosas 'biqueiras de aço': trabalhadores em profissões de índole física ou adeptos da caminhada, que precisavam de botas resistentes e duradouras. Ambas as marcas não tardaram, no entanto, a 'cair no gosto' da juventude, e por alturas da viragem do Milénio, ambas as marcas se encontravam já muito distantes do seu objectivo e público iniciais, tendo-se transformado em artigos puramente estéticos e 'da moda' – posição que, aliás, ocupam até hoje.

Mas se as Doc Martens vivem, actualmente, uma segunda vaga de popularidade, o mesmo não se pode dizer das botas 'amarelas' da Timberland, que sofreram o destino tipico de peças que se tornam demasiado populares e sofrem de sobre-exposição – ou seja, o regresso à semi-obscuridade social. Quem foi de uma certa idade entre finais dos anos 90 e meados da década seguinte, no entanto, certamente recordará a cobiça desmedida que esse artigo de calçado provocava, e a decepção ao deparar-se com o seu preço, mesmo em promoção – que, por sua vez, motivava uma visita à feira mais próxima em busca de algo que pudesse 'fazer as vezes' por um décimo do preço. Outros tempos...

23.06.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Já aqui, em edições passadas, falámos de sacolas e mochilas escolares e de campismo, bem como dos peluches que certo sector da demografia infanto-juvenil noventista tendia a pendurar dos fechos das mesmas; nada mais justo, portanto, que completarmos este 'ciclo' da forma mais natural – abordando as mochilas que eram, elas próprias, peluches.

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Um exemplo bem típico do tipo de produto em causa.

Populares não só entre o público infantil como também entre a demografia feminina um pouco mais velha, estas mochilas surgiam, normalmente, numa de duas configurações: a de um animal genérico estilizado (normalmente um macaco, urso, cão ou até vaca) ou uma 'aproximação livre' a um personagem licenciado, como o cão dos Peanuts, Snoopy, ou a sempre popular versão Disney do Ursinho Puff. Escusado será dizer que, nestes últimos casos, o material nem sempre era oficial – aliás, havia maiores probabilidades de ser pirata do que reconhecido pela detentora dos direitos do personagem. Nada, claro, que parasse as crianças desejosas de levar às costas o seu personagem favorito, ainda que apenas 'mais ou menos' bem recriado...

Em termos da utilização em si, há que destacar que estas mochilas não o eram verdadeiramente, pelo menos não no sentido estrito; eram, antes, versões infanto-juvenis das carteiras-mochila (à época muito populares entre as mulheres mais adultas) mais passíveis de serem utilizadas para guardar Quinquilharias numa Saída de Sábado, ida de férias ou acampamento de Verão do que no regresso às aulas. Aliás, a própria configuração destas bolsas admitia esse propósito, oferecendo normalmente apenas uma bolsa central e uma outra com fecho-éclair, por oposição às 'milhentas' sub-divisões normalmente encontradas numa mochila escolar.

Ao contrário do que acontece com a maioria dos artigos que aqui abordamos, as 'mochilas de peluche' não desapareceram verdadeiramente, embora tenham, sim, decrescido de popularidade e assumido contornos visuais um pouco diferentes dos que possuíam na altura; ainda assim, é inegável que a maioria das crianças de hoje em dia prefere usar uma mochila ou mini-carteira 'declarada', relegando cada vez mais estes híbridos para o campo da memória nostálgica da geração que os viu nascer, e que ainda se recorda de ser da idade deles e adorar levar às costas o seu cão dálmata ou Ursinho Puff, com as suas bugigangas dentro...

09.06.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Apesar de os artigos de vestuário e acessórios lisos, ou de padrões mais discretos e menos declarados, serem universalmente considerados intemporais, tal nem sempre é verdade, já que o padrão está longe de ser o único factor que dita se uma peça está ou não 'na moda'; de facto, há também que considerar aspectos como o corte e o próprio 'design' da peça, que, como tudo o que respeita a moda, são cíclicos - as calças à boca de sino, por exemplo, estão neste momento a gozar de um regresso à 'berra', vinte a vinte e cinco anos depois de terem sido o supra-sumos da moda adolescente feminina.

Serve este ponto prévio para justificar a presença nestas páginas de um tipo de peça que muitos verão, certamente, como intemporal, mas que quem foi jovem (concretamente, adolescente) por alturas da viragem do Milénio certamente associará com aqueles anos de escola e auto-descoberta, seja por uma ter constado do seu próprio guarda-roupa, ou por a ter visto ser usada pelas colegas de turma ou de escola.

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Falamos do casaco de malha tricotada, comprido (no mínimo, até aos joelhos) e, normalmente, de uma cor escura, como verde, castanho ou antracite, com um ligeiro jaspeado aqui e ali, peça fulcral e fundamental do estilo quotidiano de uma certa demografia mais virada para o chamado movimento 'alternativo', mas que encontrava também alguma tracção entre as chamadas 'betinhas', embora nesse caso, normalmente, em tons mais claros.

Ou seja, uma peça agregadora no que toca a 'tribos' urbanas jovens, mas não necessariamente intemporal, apesar de se terem visto vários regressos da mesma ao longo das duas décadas subsequentes. E apesar de, actualmente, a mesma se encontrar na fase negativa do ciclo (por outras palavras, 'fora de moda') não será, de todo, de admirar que essa situação mude nos anos ou até meses mais próximos – afinal, o ciclo da moda tem a duração média de duas décadas, o que coloca esta peça (entre outras) na 'linha da frente' para um triunfal regresso entre as demografias mais jovens. Até lá, no entanto, é mesmo a geração que os usou originalmente que vai mantendo 'vivos' estes casacos tão em voga no tempo em que a mesma andava na escola.

 

02.06.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

De entre os muitos elementos de moda que marcavam a diferença entre 'tribos urbanas' e ditavam níveis de popularidade e 'fixeza' entre a juventude portuguesa dos anos 90, e que entretanto se tornaram excessivamente padronizados, as mochilas estão, muitas vezes, entre os mais esquecidos. De facto, e apesar de não serem tão marcantes e memoráveis como uma t-shirt, um par de ténis, ou mesmo um boné, as 'pastas' da escola foram, para a geração hoje na casa dos trinta a quarenta anos, um adereço de moda como qualquer outro, tão merecedor de atenção e selecção aturada como qualquer peça de vestuário ou bijuteria, e tão capaz de marcar a diferença entre a admiração e o 'gozo' por parte dos colegas como qualquer deles. E ainda que tenham sido muitas as marcas a merecer a confiança da juventude durante aquela década – da Slazenger à Jansport e Eastpak – apenas uma se afirmou, verdadeiramente, como 'A' mochila de finais do século XX.

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Instantaneamente reconhecíveis pelo seu 'design' típico e diferenciado – ainda mais que o das marcas supramencionadas – as mochilas Monte Campo destinavam-se, originalmente, a ser utilizadas no contexto do campismo e caminhadas; no entanto, algures no início dos anos 90, essa trajectória sofreu um desvio, à medida que mais e mais crianças adoptavam os produtos da marca como 'pastas' para uso escolar, a ponto de, no final da década, o propósito principal da gama se encontrar já praticamente esquecido. Quanto ao factor exacto que tornava estas pastas relativamente sóbrias num produto oficialmente considerado 'fixe', talvez o mesmo se prendesse com os invulgares esquemas de cores da maioria dos modelos da marca, que tendiam a combinar uma cor mais forte com o tradicional preto, azul ou cinzento, e que iam, assim, exactamente ao encontro dos gostos estéticos da maioria dos jovens noventistas.

Fosse qual fosse o motivo, no entanto, a verdade é que as 'pastas' Monte Campo gozaram, mesmo, de um longo período de graça, que se estendeu até pelo menos a meados da primeira década do século XXI, e durante o qual não foram, claro está, imunes a imitações, com as lojas de bairro e barracas de feiras de Norte a Sul do País a exibirem orgulhosamente os seus modelos 'Monte Carlo' e 'Monte Branco' ao lado das calças de treino Abadas, dos chinelos Pamu e das t-shirts da Reeclock. Curiosamente, talvez pelo preço algo proibitivo dos originais, estas imitações tendiam a não ser alvo de tanto escárnio como as de outros produtos 'da moda' – o importante, muitas vezes, era mesmo ter uma mochila com aquele tipo de modelo, independentemente da marca.

Como acontece com qualquer outro adereço de moda, também as mochilas Monte Campo e respectivas imitadoras acabaram, inevitavelmente, por sair de moda (embora continuem a existir), no caso, sensivelmente ao mesmo tempo que os modelos da Jansport (a Eastpak, além de mais tardia, soube reinventar-se, e segue firme no mercado dos materiais escolares até aos dias que correm.) No entanto, para quem foi criança e adolescente entre as décadas de 80 e 2000, aquele emblema amarelado com o desenho de uma montanha continuará, para sempre, a ser o símbolo máximo de uma mochila 'estilosa' e duradoura.

12.05.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Ter 'estilo' e parecer 'fixe' – seja junto dos amigos ou perante um potencial par romântico – sempre foi, e há de continuar a ser, um dos principais objectivos de qualquer criança ou jovem, independentemente da geração em que tenha crescido; a necessidade de afirmação e aceitação é parte integrante da conquista da identidade própria, e o aspecto fisico tem, quer se queira ou não, um papel preponderante nessa mesma jornada. E se, hoje em dia, as gerações mais jovens são bastante mais abertas à diferença e à procura de um estilo individual, a sua congénere dos anos 80, 90 e 2000 almejava precisamente ao oposto, procurando o máximo de padronização possível em termos de vestuário, calçado e apresentação em geral.

O resultado inevitável desta tendência foi uma sucessão de 'febres' ligadas a peças de roupa, cada uma mais cobiçada que a anterior pela então nova geração, das camisas da Sacoor às sweat-shirts da No Fear, Quebramar, Mad+Bad e GAP, passando pelas calças da Resinablusões da Duffy ou t-shirts da Fiorucci. Como um dos principais elementos identificadores de qualquer estilo, o calçado não ficou, de todo, imune a este fenómeno, tendo sido também inúmeros os exemplos de sapatos altamente cobiçados por grande parte da juventude portuguesa, dos ténis pisa-e-brilha aos Airwalk, Redley e Converse, passando pelos botins, socas de plataforma, botas de biqueira de aço, e pelo tema desta Sexta com Style, as botas Texanas.

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Exemplo moderno deste tipo de peça.

Como o próprio nome dá a indicar, estas botas pretendiam emular o peculiar e emblemático estilo de calçado que continua, desde os tempos do lendário Velho Oeste, a ser utilizado pelos rancheiros da região do Texas, nos Estados Unidos: aquele tipo de bota de cano bem alto e biqueira pontiaguda, normalmente feita de pele de um qualquer animal, muitas vezes uma cobra ou crocodilo. Uma peça que, longe de ser 'para todos os gostos', tem alguns evidentes atractivos que a ajudaram a popularizar entre a juventude dos anos 90, pese embora o proibitivo preço as tornasse – para quem tinha a sorte de ter um par, claro – peças estritamente 'de festa', apenas utilizadas em ocasiões especiais, como uma ida à discoteca, e longe de se adequarem ao 'rame-rame' quotidiano da escola e dos encontros com amigos no café ou no jardim.

Tal como a maioria dos artigos que acima elencámos, também as botas Texanas acabaram, inevitavelmente, por ser 'levadas' na constante 'enxurrada' das tendências de moda, sendo já totalmente alheias à geração nascida em meados de 80, e que entrou na adolescência no final da década seguinte; os seus congéneres ligeiramente mais velhos, no entanto, certamente terão bastas memórias de tirar do armário e polir as suas Texanas, para poder 'fazer estilo' numa qualquer festa entre pares...

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