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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

17.01.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Grande parte do humor é intemporal. Apesar de a definição do que tem ou não piada tender a divergir de geração para geração e de cultura para cultura, há coisas que nunca deixam de ter graça – um jovem dos dias de hoje pode, por exemplo, derivar tanto prazer de um episódio de Mr. Bean ou Tom e Jerry como os seus pais ou avós quando eram da mesma idade. Assim, não é de estranhar que, de quando em vez, alguém decida recuperar um destes conceitos perpetuamente divertidos e apresentá-lo a todo um novo público, na esperança de que o legado desse material se perpetue ainda por mais uma geração.

Foi precisamente isso que a RTP fez quando, há pouco mais de um quarto de século, no Verão de 1996, decidiu recuperar a obra humorística de José de Oliveira Cosme, criada e transmitida na rádio sessenta anos antes, e adaptá-la para a televisão estatal de meados da década de 90. O resultado foi uma série que ainda hoje faz sorrir quem era da idade certa para lhe achar piada na altura, e que merece certamente ombrear com a obra de Herman José no panteão de séries humorísticas nacionais de finais do século XX.

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De facto, e apesar de expandir consideravelmente sobre o conceito original, a versão 'anos 90' de 'As Lições do Tonecas' não perde a sua essência, continuando a centrar-se na relação entre um aluno da instrução primária cábula, gozão e de 'inteligência saloia', embora de bom coração – o titular Tonecas – e o seu agastado professor, a quem a simples missão de leccionar uma aula com Tonecas na sala deixa sempre à beira de um ataque de nervos. Uma premissa simples, mas que já rendeu dividendos em obras como 'O Menino Nicolau', de Sempé e Goscinny, e que o torna a fazer aqui – mesmo que, na adaptação para televisão, o aluno tenha uma idade algo avançada (em várias décadas...) para ainda andar na instrução primária (se bem que, tratando-se de Tonecas, é perfeitamente possível que tenha simplesmente reprovado uma quantidade infinita de vezes...)

E por falar no aluno, é na interpretação de Luís Aleluia – e, diga-se de passagem, do seu coadjuvante, o 'professor' Morais e Castro – que está um dos grandes trunfos do 'Tonecas' televisivo. O comediante está em grande forma, soltando com gosto as suas piadas de humor brejeiro e, por vees, físico (muitas delas tiradas dos textos originais de Cosme, embora obviamente não todas), e exibindo grande química com o seu parceiro 'straight-man', que leva a muitos momentos divertidos; e, quanto mais não seja, Aleluia tem mérito por conseguir que o seu Tonecas obviamente adulto (mas sempre vestido como um típico 'puto' da escola) não seja, em nenhum momento, estranho ou perturbante – como o Chaves sul-americano, este era um 'miúdo graúdo' que a própria faixa etária alvo aceitava sem reservas, facto que ajuda, em parte, a explicar o enorme sucesso do programa.

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As interacções entre o Tonecas de Luís Aleluia e o professor de Morais e Castro estavam na base do sucesso da série

É claro que, sendo uma produção da RTP na década áurea da publicidade e 'marketing', o 'Tonecas' moderno não se mostra averso à expansão para lá do material original, nomeadamente no que toca a conceitos como os convidados especiais. De facto, embora a maioria dos episódios se desenrolassem apenas com os personagens principais e alguns alunos coadjuvantes (estes, verdadeiramente com idade para ainda andarem no ensino básico) surgiam de vez em quando algumas presenças externas para perturbar ainda mais as aulas; alguns destes eram apenas novos personagens representados por actores convidados (como a 'tia' Pureza Bucelas, de Ana Bola), mas outros apareciam a interpretar-se a si mesmos, como naquele episódio em que, sem razão aparente e sem qualquer pré-aviso ou antecipação, os Excesso entram pela sala de Tonecas adentro e se preparam para assistir à aula!

Um daqueles segmentos que definem a expressão 'ver para crer'

É claro que estes 'crossovers' se destinavam, pura e simplesmente, a publicitar os artistas e convidados em causa – não fossem os Excesso a sensação do momento da música portuguesa em 1997-98 – mas o facto é que a ousadia em arriscar este tipo de manobras, numa série que se pretendia fiel à obra de humor clássico que lhe estava na base, pode também ter tido um papel importante na longevidade de 'Tonecas', que se manteria no ar até praticamente ao fim do milénio, tornando-se presença assídua e constante nos televisores das crianças e jovens portuguesas da época.

Todos os truques publicitários do Mundo são em vão, no entanto, se o produto que tentam promover não tiver qualidade; felizmente, mesmo sem estas 'artimanhas', 'Tonecas' revelava-se uma série bem escrita – dentro dos seus parâmetros de humor simples e directo – magnificamente interpretada, e que, no cômputo geral, ainda se aguenta bem nos dias de hoje, mesmo depois das significativas mudanças sociais e culturais que um período de um quarto de século inevitavelmente acarreta. Um bom exemplo, pois, do tal humor intemporal de que se falava no início deste texto, e que tende a ser tão difícil de executar...

20.12.21

NOTA: Este post é correspondente a Domingo, 19 de Dezembro de 2021.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Em dezanove de cada vinte épocas, o futebol português pauta-se pela previsibilidade. Longe de uma Premiership, onde as lutas se desenrolam, a maioria das vezes, a cinco ou a seis, no campeonato nacional da Primeira Divisão os tres primeiros lugares da tabela classificativa são, normalmente, cativos, restando apenas a dúvida sobre a ordem em que são ocupados, e mesmo os três seguintes acabam, regra geral, por ir para as mesmas duas ou três equipas, sendo que neste caso, apenas a identidade das mesmas muda consoante a década.

Por vezes, no entanto, dá-se uma surpresa que causa um pequeno 'abanão' no paradigma futebolístico nacional. O mais lembrado destes é, claro, o campeonato ganho pelo 'outsider' Boavista, mas existem pelo menos mais duas ocasiões de desfecho inesperado só na década de 90, curiosamente ambas relacionadas com participações de emblemas historicamente 'pequenos' na prova então conhecida como Taça UEFA; da vitória do Beira-Mar na Taça de Portugal, ao cair do pano  da década, já aqui falámos, pelo que chega a altura de falar da outra surpresa, perpetrada no extremo oposto da década por outro 'histórico' de meio da tabela, um nome tão ou mais surpreendente do que o do próprio Beira-Mar.

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A equipa que (quase) fez história na Taça UEFA.

Corria o Verão de 1991 quando, no final da primeiríssima época completa da nova década, um concorrente inesperado conquistava o quinto lugar da prova-mor do futebol nacional, carimbando assim o acesso à pré-eliminatória da Taça UEFA; tratava-se do Sport Comércio e Salgueiros, clássico das cadernetas de cromos da Panini que, em anos futuros, viria a albergar pelo menos uma estrela em ascensão, na pessoa de Deco. Em 1991, no entanto, o desaparecido clube portuense não era, ainda, mais do que uma daquelas equipas de futebol 'físico' e campo em modo 'batatal' que apareciam na televisão três vezes por época - quando recebiam os grandes - e passavam o resto do ano em confrontos campais com os seus semelhantes - uma situação que se viria, pelo menos temporariamente, a alterar aquando do feito historico a que este post alude.

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19 de Setembro de 1991 é a data que terá, indubitavelmente, ficado na memória de uma geração de adeptos salgueiristas, por ter marcado a estreia do seu clube nos grandes palcos europeus, num 'playoff' que os opunha aos franceses do AS Cannes; e a verdade é que a estreia não podia ter corrido melhor, sendo que o Salgueiros se viria a sagrar vencedor desse encontro, embora apenas pela margem mínima (1-0, golo de Jorge Plácido.) Sorte oposta esperaria, no entanto, os portuenses no encontro da segunda mão, em que sairiam derrotados pelo mesmo resultado (golo do suplente Omam-Biyik, já depois da expulsão do médio Pedrosa) atirando a decisão da eliminatória para as grandes penalidades, onde o sonho terminaria após um parcial de 4-2 a favor dos franceses. Uma passagem digna, mas previsivelmente fugaz pelos palcos europeus, que acabaria mesmo por se consolidar como um dos maiores momentos na História centenária do clube, senão mesmo o maior.

E a verdade é que, para quem entrava na competição como 'underdog' exacerbado, o Salgueiros não se vergou; antes pelo contrário, a equipa do não menos mítico Filipovic apresentou-se num 2-5-3, táctica hoje em dia impensável, especialmente numa prova europeia, e frente a uma equipa que contava com o internacional croata Alijosa Asanovic, e com um promissor médio-centro esquerdino de 19 anos chamado Zinedine Zidane...

Hoje, mais de trinta anos após a recepção aos franceses no 'emprestado' estádio do Bessa, o Salgueiros - tal como existiu naquela noite europeia - já não existe, e o clube que nasceu das suas cinzas não está nem perto das divisões de topo do futebol português, e muito menos europeu; ainda assim, aqueles vinte e poucos atletas que conquistaram um lugar histórico na Primeira Divisão portuguesa da virada dos anos 90, e quase faziam uma gracinha europeia na época subsequente, não têm senão motivos para se orgulhar - afinal, constam como um dos poucos clubes portugueses fora dos 'três grandes' - e, mais recentemente, do Sporting de Braga - a conseguir visibilidade (ainda que fugaz) na cena futebolística internacional...

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