22.09.23
Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.
Quando se fala em heróis de cinema de acção de finais do século XX, vêm imediatamente à memória uma série de nomes: Arnold Schwarzenegger (cuja fama fora adquirida na década de 80, e apenas aumentaria no início da seguinte, com filmes como 'Exterminador Implacável 2' e 'O Último Herói de Acção', não-obstante um 'desvio' para filmes de índole mais cómica), Sylvester Stallone, Bruce Willis, Steven Seagal e, claro, Jean-Claude Van Damme, o culturista e ginasta que se transformaria na principal estrela de filmes de artes marciais da época.
Revelado ao Mundo, como os restantes nomes da lista acima, em meados dos anos 80, o belga conhecido pela alcunha de 'Músculos de Bruxelas' tinha já o estatuto mais do que definido à entrada para a última década do Segundo Milénio; filmes como 'Força Destruidora', de 1988, 'Cyborg' e 'Kickboxer – Golpe de Vingança', ambos do ano seguinte, haviam cimentado a perícia do actor nas mais mirabolantes peripécias físicas, que suplantavam o seu forte sotaque e limitado talento dramático e o tornavam num dos grandes ídolos para as crianças e jovens daquele período.
Era, pois, já com o rótulo de 'mega-estrela', e um público totalmente rendido às suas capacidades, que o belga chegaria àquele que era o seu décimo filme como actor principal, e o oitavo em apenas três anos: 'Duplo Impacto', que celebra na próxima semana os trinta e dois anos sobre a sua estreia em Portugal, a 27 de Setembro de 1991, e que se destaca pela invulgar particularidade de ver Van Damme representar não um, mas dois papéis, encarnando ambas as metades de um par de irmãos gémeos.
O facto de permitir ao público-alvo experienciar Van Damme em 'dose dupla' foi, aliás, posicionado como o principal atractivo do filme à época – e o mínimo que se pode dizer é que resultou em cheio (pelo menos com o autor deste blog), O facto de os dois personagens interpretados pelo belga apenas se distinguirem por características superficiais e estereotipadas (um deles é mais recatado e usa óculos, o outro mais rebelde e vestido com o inevitável blusão de cabedal) e se tornarem homólogos a partir de meados do filme (quando o irmão 'choninhas' se revela tão capaz quanto o seu gémeo) pouco importava à demografia-alvo, demasiado ocupada a ponderar como teriam os realizadores conseguido fazer com que dois Jean-Claudes estivessem em cena ao mesmo tempo, e a conversar um com o outro – uma questão que apenas teria cabimento naquela era pré-DVD e reportagens de produção. O intuito declarado de Van Damme em fazer algo diferente do habitual e com maior âmbito dramático (à semelhança do que Arnie vinha fazendo, com sucesso, na mesma altura) ficava, assim, algo diluído, naquela que acaba por ser apenas mais uma película típica da filmografia do belga, ainda que com menor ênfase nas artes marciais e maior nos tiroteios e cenas de acção.
Ainda assim, 'mais do mesmo (mas em dobro)' era precisamente o que o público-alvo queria e esperava de um filme com esta premissa, e 'Duplo Impacto' saldou-se como mais um sucesso de bilheteira para a parceria entre Jean-Claude Van Damme, Sheldon Lettich (o homem que escrevera 'Força Destruidora' e realizara 'Coração de Leão', um dos filmes anteriores de Van Damme) e o lendário Bolo Yeung, amigo pessoal do belga desde 'Força Destruidora' e especialmente requisitado pelo mesmo para encarnar o 'mau da fita', tal como fizera naquele filme. E ainda que – à semelhança da maioria da restante filmografia do belga daquela época – o filme não tenha envelhecido, de todo, bem, vale ainda assim a pena recordar aquele que, para os 'millennials' mais novos, terá sido um dos primeiros contactos directos com os 'Músculos de Bruxelas', e talvez mesmo - como foi o caso com o autor deste blog - um dos primeiros filmes 'para crescidos' alguma vez vistos em 'primeira mão' numa sala de cinema.