10.11.22
Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.
No próximo dia 14 de Novembro, celebra-se o feriado de São Martinho, uma data que, derivado da lenda que a inspira, fica indelevelmente ligada a um alimento em particular: as castanhas assadas. No entanto, a referida festa está longe de ser a ÚNICA ocasião em que se consomem os deliciosos frutos secos – pelo contrário, qualquer cidadão português que se preze aproveita qualquer desculpa para comer mais uma dose das mesmas.
Em décadas transactas, um sem-número de vendedores ambulantes compreenderam isto mesmo, e investiram numa profissão que, apesar de apenas ser lucrativa uma vez por ano, não deixava de render dividendos no período entre o regresso às aulas e o Natal. Com os seus carrinhos munidos de forno a carvão, prontos a produzir mais uma fornada de 'quentes e boas' em matéria de poucos minutos, os saudosos 'senhores das castanhas' foram, em tempos não muito distantes, presença frequente em qualquer esquina urbana do País, para gáudio da clientela de todas as idades. E a verdade é que a experiência de combater o frio da rua com uma dose de castanhas tão quente que quase queimava as mãos, servida no tradicional cone de jornal (normalmente composto de uma parte da secção de Classificados) terá, sem qualquer dúvida, marcado a infância e juventude de milhares de jovens portugueses, não só em finais do século XX como também em décadas anteriores.
Uma visão em tempos comum nas ruas portuguesas, e hoje praticamente desaparecida
Com o passar dos anos e o dealbar do novo Milénio, no entanto, deu-se um fenómeno algo entristecedor: os vendedores de castanhas começaram, gradualmente, a desaparecer das ruas do País. Se tal teve a ver com o aumento de preço da matéria-prima (da última vez que foram vistos, estes carrinhos cobravam uns exorbitantes dois euros por dose) ou com regras de higiene respeitantes à confecção das castanhas ou aos embrulhos feitos de páginas de jornal (motivo que também 'matou' esta prática no contexto do tradicional 'fish and chips', no Reino Unido) é um enigma ainda hoje por desvendar: seja qual fôr a razão, no entanto, a verdade é que os carrinhos que em tempos popularam as ruas das cidades portuguesas no início do Inverno se encontram, hoje, totalmente extintos, não havendo já sequer um 'Astérix' que resista ainda e sempre à adversidade (em Lisboa havia um, na Praça de Londres, mas mesmo ele acabou por 'aposentar' o carrinho há já alguns anos). Uma pena, dada a presença que estes vendedores tradicionalmente tiveram na 'vida de rua' portuguesa, e um fenómeno algo surpreendente, dado o pendor turístico de cidades como Lisboa e o Porto, que privam assim não só os locais, como os turistas de uma experiência tradicional e autêntica do Inverno português. Resta, pois, às gerações que ainda compraram castanhas a estes senhores preservar a memória dessa figura icónica, e assegurar-lhe o lugar que bem merece na História da vida quotidiana contemporânea portuguesa.