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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

13.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 11 de Julho de 2024.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Enquanto competições máximas do futebol ao nível internacional (ou seja, de Selecções) é natural que tanto os Mundiais como os Campeonatos Europeus motivem publicações especiais por parte dos periódicos desportivos um pouco por todo o Mundo. E escusado será dizer que, num país tão fanático pelo desporto-rei como Portugal, essa naturalidade assume contornos de inevitabilidade, tendo os adeptos nacionais, ao longo dos anos, 'aprendido' a contar com múltiplos suplementos e destacáveis, ou até mesmo revistas individuais, com foco nos diversos certames. O primeiro Europeu do Novo Milénio não foi, de todo, excepção a essa regra, antes pelo contrário, tendo visto surgir nas bancas lusitanas não apenas uma, mas duas revistas especiais a ele dedicadas, ambas com o então Bola de Ouro Luís Figo como figura de capa, ele que era o 'porta-estandarte' da Selecção Nacional na era pré-Cristiano Ronaldo.

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A primeira destas duas, da responsabilidade do jornal 'Record', revestia-se de especial interesse por apresentar uma abordagem algo diferente do habitual: além das habituais 'fichas' de jogadores e factos sobre a competição, a publicação em causa trazia, à laia de 'biografias' dos elementos da Selecção Nacional da época, uma série de textos assinados por autores tão consagrados quanto Manuel Alegre ou Carlos Tê, além de outras figuras ligadas ao mundo das artes e letras, como os cineastas João Botelho e Joaquim Leitão. Já os 'distintos adversários' das outras selecções participantes no certame eram 'apresentados' por especialistas dos respectivos países, com natural destaque para nomes ligados ao jornalismo desportivo. A completar esta ambiciosa edição estavam oito 'guias turísticos' das principais cidades onde a competição se desenrolaria, elaborados 'in loco' por correspondentes do jornal. Uma publicação inovadora e ambiciosa, portanto (sobretudo para os parâmetros algo conservadores do jornalismo desportivo) que terá, certamente, justificado em pleno os quinhentos escudos do preço de capa, até mesmo para quem não era fã do desporto-rei.

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Sobre a 'outra' publicação alusiva ao Europeu de 2000 – fornecida como suplemento do jornal 'Expresso' – existe bastante menos informação; no entanto, a capa sugere que os conteúdos da mesma se insiram numa linha bastante mais típica e 'clássica' do que a seguida pela congénere de 'Record', com dados sobre os jogadores, estádios e países participantes, além de um guia TV com as datas e horas da exibição televisiva dos jogos, quase todos transmitidos em directo pela RTP. Um suplemento de valor inegável, mas que fica muito longe da ambiciosa e demarcada proposta do jornal de António Tadeia. Ainda assim, sem dúvida uma peça de coleccionador, a qual, tal como a revista de 'Record', valerá sem dúvida a pena adicionar à colecção de um adepto com interesse na História das publicações sobre futebol em Portugal, talvez ao lado das revistas dos Mundiais editadas por 'A Bola' e 'Record', e da publicação sobre a 'Geração de Ouro' sugerida pela primeira alguns anos depois...

07.07.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

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Goste-se mais ou menos dos jogadores convocados, o apoio à Selecção Nacional de futebol masculino sénior está entranhado no âmago de qualquer adepto português, teimando em surgir sempre que as Quinas surgem em mais um Mundial ou Europeu – algo que vem sendo recorrente de há três décadas a esta parte. No entanto, a maioria dos adeptos mais velhos será, também, rápida a admitir que a Selecção de hoje já não desperta a mesma paixão do grupo desse tempo, centrado em elementos da lendária Geração de Ouro e que apresentava o verdadeiro 'futebol champanhe', dando 'espectáculo' e entusiasmando os adeptos independentemente do resultado.

E esta última condicionante é mais importante do que parece, já que um dos principais elementos associados a 'essa' Selecção Nacional era o azar. De facto, jogasse melhor ou pior, Portugal parecia sempre soçobrar nos momentos-chave, fosse por falta de sorte, fosse por o adversário lhe ser legitimamente superior. O auge desta tendência (apenas desfeita, de forma inacreditável, em 2016) foi, claro, a derrota frente à massa adepta caseira, em pleno Estádio da Luz, na final do Euro 2004; no entanto, o problema já vinha, a essa data, mais 'de trás', tendo ambas as participações das Quinas em competições internacionais durante os anos 90 redundado em esperanças desfeitas quase 'à última hora'.

De facto, logo no seu regresso aos palcos internacionais, em 1996 (Europeu que iniciaria a referida tendência de apuramentos sucessivos que perdura até aos dias de hoje) Portugal logrou efectuar uma fase de grupos honrosa, até dominadora, e foi favorecido com um sorteio bastante razoável para os quartos-de-final, evitando os 'tubarões' e defrontando a República Checa, hoje Chéquia. O 'presente' revelar-se-ia, no entanto, 'envenenado', com um golo monumental do futuro benfiquista Karel Poborsky (então jogador do Manchester United) a ditar a eliminação da equipa fortemente favorita para esse jogo, e a lançar a 'outra' tendência de Portugal em Europeus, esta mais negativa que a anteriormente mencionada.

A 'maldição' continuaria (e de forma ainda mais dolorosa) quatro anos depois, quando uma das melhores selecções portuguesas de sempre realizaria uma fase de grupos irrepreensível (encabeçada por uma reviravolta histórica contra a Inglaterra) e 'dinamitaria' a Turquia nos quartos, garantindo o acesso a uma meia-final de má memória, em que levou a França campeã do Mundo dois anos antes a prolongamento, para depois ser 'atraiçoada' por uma mão de Abel Xavier em plena área, que Zidane converteria em corações partidos de Norte a Sul de Portugal.

Vistos isoladamente, cada um destes casos pode parecer apenas coincidência, ou azar; no entanto, todo o adepto português sabe que os mesmos marcaram o início de uma tendência que apenas seria contrariada duas décadas depois, no único jogo que Portugal talvez não merecesse ganhar. E numa altura em que a 'maldição' volta a 'atacar' em pleno (tendo Portugal acabado de soçobrar nos 'penalties' frente à França, nos quartos-de-final do Euro 2024) convém que não se perca a memória de onde tudo começou...

05.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 4 de Julho de 2024.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Desde a sua massificação em inícios do século XX, o futebol tem sido o desporto mais consensual e com maior base de fãs a nível mundial; Portugal não é, de todo, excepção a esta regra, como se pode facilmente verificar pela existência de nada menos do que três jornais diários dedicados apenas e tão-somente a notícias de cariz desportivo, com natural primazia para o futebol. Não é, pois, de estranhar que cada nova competição internacional, particularmente as disputadas entre selecções de jogadores de cada país, façam 'parar' grande parte do Mundo, e motivem um sem-número de companhias a efectuar promoções alusivas ao certame em causa.

O Euro '96, levado a cabo em Inglaterra, não foi, de forma alguma, excepção a esta regra, tendo vários produtos, companhias e entidades adoptado temporariamente as cores da bandeira do país em que eram comercializados, e oferecido brindes centrados nas equipas presentes no torneio. Em Portugal, uma dessas entidades era o jornal 'A Bola', que, não querendo deixar créditos por mãos alheias no que toca à sua área de especialização, veiculava esse Verão, em conjunto com o seu jornal, figuras em borracha dos jogadores da Selecção Portuguesa da altura.

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Algumas das figuras da colecção, e respectivos cartões de 'identidade'.

Inteligentemente chamados de Figuras da Bola (num trocadilho com o nome do jornal) estes bonecos constituíam, basicamente, caricaturas tridimensionais dos jogadores, cada um dos quais surgia com as feições exageradas daquele estilo de arte, e com cabeças muito maiores do que o 'esquelético' corpo em que assentavam. Ainda assim, e apesar da abordagem 'cartunesca', a maioria dos 'craques' da Geração de Ouro era, ainda, perfeitamente reconhecível, de Fernando Couto e Paulo Sousa com as suas 'melenas' à não menos farta cabeleira loira de Jorge Cadete, o enorme queixo de Sá Pinto ou a cabeça achatada de Luís Figo, entre outras características propositalmente ampliadas para máximo efeito cómico. Juntamente com cada uma das figuras vinha, ainda, um cartão, com uma caricatura do jogador em causa e alguns dados vitais do mesmo – um pormenor cujo valor era apenas aparente, já que o que verdadeiramente interessava era a figura, ideal para colocar na estante, mesa de cabeceira ou secretária (não confundir com Secretário, que também faz parte da colecção...!) e mostrar assim o apoio à Selecção.

Curiosamente, apesar da natureza obviamente atractiva desta promoção (mais próxima de um brinde dos ovos Kinder ou do Happy Meal do McDonald's do que algo oferecido por um jornal), não tornou a haver, em certames subsequentes, qualquer outra promoção deste tipo, deixando a 'Selecção' de Figuras da Bola como uma iniciativa única no panorama promocional português, quer do século XX quer do actual, e bem merecedora de lembrança nas páginas deste nosso blog.

25.06.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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As transmissões de jogos de futebol têm, tradicionalmente e consistentemente, estado entre os segmentos com maior 'share' de audiências da televisão em sinal aberto em Portugal. Mesmo depois do advento da Sport TV (e, mais tarde, de redes como a Eleven Sports ou dos canais privados de cada clube) os jogos exibidos na RTP, SIC e TVI não deixam de atrair números invulgares de público para cada uma dessas estações, o que se afirma como natural num país com tanto gosto e apetência pelo desporto-rei como é o nosso. Ainda assim, situações em que a emissora depende activamente do futebol para sair de uma crise de audiências não deixam de constituir casos extremos, tanto em Portugal como um pouco por todo o Mundo; e, no entanto, era precisamente esse o contexto em que a RTP se encontrava nos primeiros meses da viragem do Milénio, e que levou a emissora estatal a empregar medidas drásticas nesse Verão, aquando da realização do Campeonato Europeu de Futebol.

Isto porque, como detentora de acções na Sport TV, a RTP dividiria, normalmente, o 'pacote' de direitos de transmissão dos jogos com a emissora privada, exibindo apenas partidas selectas em sinal aberto, numa práctica que se mantém até aos dias de hoje; no caso do Euro 2000, no entanto, tal partilha não teve lugar, tendo a RTP retido os direitos de todas as vinte e sete partidas - de um total de trinta e uma - que logrou conseguir transmitir (as restantes quatro viriam a ser exibidas no 'outro' canal de desporto da TV Cabo da época, o Eurosport, que mostraria também algumas das partidas da RTP em diferido, numa emissão que dedicava vinte e quatro horas diárias à competição), obrigando a Sport TV a transmitir apenas debates sobre os jogos da competição, nos horários em que normalmente os estaria a exibir. Tais acções deviam-se à crise de resultados que a emissora estatal atravessava por comparação às rivais privadas, sendo que apenas o futebol conseguia equiparar a estação da 5 de Outubro às de Carnaxide ou Queluz.

Quando somada a uma série de 'picardias' entre o canal público e o seu 'sócio' privado – com a Sport TV a negar à RTP direitos de transmissão em directo dos jogos do FC Porto na Liga dos Campeões do ano transacto (obrigando a que os mesmos fossem exibidos em diferido, com uma hora de atraso), e a emissora estatal a 'vingar-se' bloqueando, no último momento, o acesso do canal codificado ao particular Portugal-Itália – esta atitude tornou inviável qualquer colaboração futura entre os dois canais, tendo a Sport TV procurado associar-se à SIC no tocante à partilha de direitos televisivos de eventos de desporto, iniciada com a transmissão conjunta do Open do Estoril em Ténis. Já a RTP beneficiria mesmo do 'choque na veia' proporcionado por um dos melhores Euros de sempre, ao qual se seguiram, quase de imediato, os Jogos Olímpicos de Sydney, também cobertos na quase totalidade pela emissora estatal. Um Verão de sucesso para as 'duas' RTPs, portanto - muito por conta daquilo a que a imprensa da época chegou a chamar uma 'overdose' de desporto – mas que, ao mesmo tempo, mudaria para sempre o paradigma e estrutura de partilhas e alianças para a transmissão de eventos desportivos em Portugal, numa alteração cujos efeitos se continuam a fazer sentir até aos dias de hoje, e que parece dar razão à máxima que diz que 'nunca é apenas futebol'...

07.04.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

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O jogador com a camisola que o celebrizou.

No futebol português dos anos 80, 90 e 2000 (ainda mais do que no actual) existiu um conjunto bem demarcado de jogadores que, sem atingirem o nível de fama ou os altos vôos de alguns dos seus contemporâneos (nomeadamente os da chamada 'Geração de Ouro') conseguiram, ainda assim, afirmar-se como ícones de um ou mais clubes e, pela sua presença constante nos campeonatos nacionais da época, atingir o estatuto de Lendas da Primeira Divisão. Um dos principais nomes desse grupo – onde se incluem ainda jogadores como Emílio Peixe, Rui Barros ou Folha – foi um médio que, após iniciar a carreira como Cara (Des)conhecida ainda na década de 80, acabou eventualmente por fazer também parte do selecto contingente de jogadores que representaram mais do que um 'grande' em Portugal durante a sua carreira; falamos de António Manuel Pacheco Domingos (vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro apelido), o 'histórico' do Benfica que chegou, também, a representar o Sporting, e que faleceu há cerca de duas semanas – a 20 de Março de 2024 – aos cinquenta e sete anos, em consequência de um ataque cardíaco. E porque, à data da sua morte, o 'blog' se encontrava em hiato temporário, fica agora, embora já com algum atraso, a nossa merecida homenagem a uma das muitas caras icónicas do futebol nacional de finais do século XX.

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Ainda jovem, no Torralta.

Nascido em Portimão, Algarve, no primeiro dia de Dezembro de 1966, António Pacheco iniciou carreira no modesto Torralta, clube em que realizara a maior parte da sua formação enquanto futebolista. Durante a única época em que representou o emblema, o médio fez pouco mais de três dezenas de jogos, contribuindo com oito golos, marca que se provaria suficiente para lhe garantir três presenças na Selecção Nacional Sub-18 despertar o interesse do outro clube por onde Pacheco passara enquanto jovem - o Portimonense, que representara na categoria de Iniciados. Assim, com apenas dezanove anos, e exactamente meia década após ter deixado o clube da sua terra natal, o atleta voltava a vestir de preto e branco, dando assim o considerável 'salto' das divisões distritais para o principal escalão nacional.

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O plantel do Portimonense para a época 1986-87; Pacheco está em baixo, à direita.

Este desafio não intimidou, no entanto, o médio, que partiria para nova época de destaque: sem ser titular indiscutível, Pacheco logrou registar vinte e três presenças ao serviço do Portimonense, bem como nove pela Selecção Nacional Sub-21, no decurso das quais demonstrou qualidade suficiente para alargar ainda mais os seus horizontes futebolísticos. Previsivelmente, não tardou a surgir na secretaria portimonense uma oferta pelos préstimos do promissor futebolista, oriunda da capital portuguesa, e de um dos principais emblemas dos campeonatos nacionais, o Sport Lisboa e Benfica.

Face a esta oferta nada menos do que irrecusável, o jovem Pacheco não teve outra escolha senão 'fazer as malas' e mudar-se de 'armas e bagagens' para Lisboa, no Verão de 1987, para equipar de vermelho e branco. E se muitos jogadores nas mesmas condições têm uma entrada mais gradual na equipa, por forma a habituá-los ao desafio, já no caso de Pacheco, o impacto foi imediato, tendo o médio logrado participar em mais de três dezenas e meia de partidas logo na sua primeira época, e contribuído com seis golos.

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Ao serviço da Selecção Nacional A.

Estava dado o mote para seis épocas a espalhar classe na zona intermédia benfiquista, sempre como peça-chave, durante as quais levantaria por duas vezes o troféu de Campeão Nacional (em 1988-89 e 1990-91), bem como uma Taça de Portugal e uma Supertaça, além de marcar presença em duas finais da então Taça dos Campeões Europeus (hoje Liga dos Campeões). Um autêntico 'conto de fadas', que estabeleceria Pacheco como um dos grandes ícones do clube encarnado, lhe carimbaria um lugar na Selecção Nacional A (que representaria seis vezes) e só viria a terminar no 'Verão quente' de 1993, fruto de um desentendimento com o então treinador do Benfica, Toni; pouco depois, os adeptos encarnados viam, com horror, Pacheco juntar-se ao colega de sector (e membro da 'Geração de Ouro') Paulo Sousa, e atravessar a Segunda Circular, ingressando no plantel do maior rival das 'águias', o Sporting.

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Com a 'listrada' do maior rival benfiquista.

Embora muito lembrado em Alvalade, no entanto, duraria apenas duas épocas a estadia de Pacheco no referido estádio, tendo o médio sido praticamente 'carta fora do baralho' na segunda (a de 1994-95), após ter estado ao seu nível na época anterior, em que foi um dos infelizes intervenientes num dos mais famosos 'derbies' da História do futebol português. Ainda assim, e apesar das 'desavenças' com o treinador Carlos Queiroz, as três presenças do médio na sua segunda temporada de leão ao peito chegariam para adicionar novo título ao seu palmarés pessoal, com a conquista da Taça de Portugal, um ano depois de ter visto o seu antigo clube voltar a sagrar-se campeão. Em Alvalade, Pacheco foi, ainda, colega de nomes tão ilustres no 'reino do leão' como Balakov, Oceano, Iordanov, Cherbakov, Stan Valckx, Juskowiak, Jorge Cadete, Emílio Peixe, Amunike, Ricardo Sá Pinto ou mesmo Luís Figo, além de uma futura Cara (Des)conhecida, um promissor jovem de nome Nuno Valente

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A homenagem do Belenenses, um dos vários clubes por que passou após deixar o Sporting.

Sem que ainda se soubesse, começava aí o declínio da carreira de Pacheco, que as épocas seguintes transformariam naquilo a que os britânicos chamam um 'journeyman' – um jogador que transita de clube em clube, sem nunca ter grande impacto em qualquer deles. Assim, foi decerto com tristeza que os fãs do médio viram um ex-internacional português ser peça 'periférica' dos plantéis de Belenenses, Santa Clara e Atlético, bem como da Reggiana, de Itália, que lhe proporcionou a primeira e única experiência 'fora de portas' – emblemas, note-se, que, pese embora o fugaz envolvimento com o jogador, não deixaram de lhe prestar homenagem aquando da notícia do seu falecimento.

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A única 'aventura' do médio fora de Portugal foi em Itália, ao serviço da Reggiana, que também lhe prestou homenagem aquando da nota de falecimento.

Seria, pois, necessário esperar até à ponta final do Segundo Milénio para ver a carreira de Pacheco ganhar um 'segundo fôlego': uma boa época ao serviço do Estoril garantiu alguma visibilidade ao então já veterano médio, que contribuiu para a campanha dos 'canarinhos' com quatro golos em cerca de duas dezenas e meia de presenças.

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Com a camisola do Estoril-Praia, na sua 'última salva' enquanto futebolista profissional.

Não foi, no entanto, suficiente para revitalizar o interesse no jogador, que saía pela 'porta pequena' logo na época seguinte, novamente ao serviço do Atlético, clube no qual faria a transição para cargos técnicos, assumindo a posição de treinador. Seguir-se-ia nova experiência como técnico, agora na sua 'casa-mãe', o Portimonense, antes de o ex-futebolista decidir enveredar por novos rumos, com a abertura de um bar em Lagos, estabelecimento que viria a gerir até ao seu prematuro falecimento em Março de 2024.

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No papel de treinador.

Para a história fica uma carreira honrosa, mas algo prejudicada pelo temperamento rebelde, sem o qual Pacheco talvez tivesse conseguido inscrever o seu nome junto dos de alguns dos seus mais ilustres contemporâneos – o que não invalida que o médio seja, por direito próprio, uma das Lendas da Primeira Divisão portuguesa noventista. Que descanse em paz.

11.02.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Uma das grandes 'verdades implícitas' do futebol afirma que o melhor jogador das camadas jovens nem sempre será necessariamente o detentor da melhor carreira sénior; pelo contrário, na maior parte dos casos, uma mistura de falta de sorte, falta de oportunidade, imaturidade e factores externos acaba por condenar estes jovens a uma carreira não mais que honrosa, ou até mesmo ao 'esquecimento', bastando atentar nos famosos comentários de Cristiano Ronaldo sobre o colega de formação Fábio Paim para ter uma prova 'acabada' deste mesmo fenómeno.

Outro famoso exemplo, este cerca de uma década mais 'antigo', é o do jogador que recordamos este Domingo, apenas três dias após, aos cinquenta e dois anos, ter perdido a batalha contra a leucemia: um médio ofensivo (ou 'número dez') de consumado e reconhecido talento, Campeão do Mundo de sub-20 como parte da famosa 'Geração de Ouro', mas cuja carreira nunca logrou atingir os mesmos patamares das dos seus colegas de equipa na Selecção de Carlos Queiroz, incluindo a de um seu homónimo e colega de Selecção. Falamos de João Manuel de Oliveira Pinto, normalmente conhecido pelos seus dois apelidos, para o distinguir de dois homónimos contemporâneos: o histórico defesa-central do Porto com quem partilhava os dois nomes próprios, e o referido colega de posição na Selecção sub-20 de Lisboa '91, e futura estrela de Benfica e Sporting, João Vieira Pinto.

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O jogador ao serviço da Selecção

Formado nas então já célebres escolas do Sporting - onde foi campeão nacional de Juvenis e partihou o campo com nomes como Abel Xavier ou o futuro colega de Selecção Luís Figo - João Oliveira Pinto logrou vestir a camisola dos 'leões' apenas em uma ocasião, num jogo contra o Estoril a contar para a Taça de Honra de 1991/92, em que entrou como suplente, já na segunda parte; este efémero concretizar do sonho chegou já depois de um empréstimo ao Atlético lisboeta, então satélite do clube de Alvalade, onde o médio logrou realizar meras treze partidas antes do regresso a 'casa'.

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O cromo da Panini dos tempos do Gil Vicente (crédito da foto: Cromo Sem Caderneta)

Treze seria, também, o número de encontros que João Oliveira Pinto disputaria na temporada seguinte, já desvinculado do seu clube formador e efectivo no Vitória de Guimarães 'europeu' de Pedro Barbosa, Paulo Bento, Dimas, Quim Berto e Nuno Espírito Santo – apenas o primeiro de uma longa lista de clubes pelos quais o médio passaria nas nove temporadas subsequentes. Logo na época seguinte à passagem por Guimarães, por exemplo, Pinto ingressava no mesmo Estoril Praia que defrontara no seu único jogo com a 'listada' verde e branca, marcando presença em trinta e um jogos, contribuindo ainda com um golo.

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Com a camisola do Sporting de Braga.

Por sua vez, as boas exibições pelos 'canarinhos' valer-lhe-iam a transferência para o Gil Vicente, onde apenas na segunda época se lograria afirmar, com vinte e um jogos contra os quatorze de 1994/95, o suficiente para despertar o interesse do Braga de Quim e Karoglan. E se a primeira época na 'Pedreira' correu de feição, com vinte e seis presenças na equipa principal e um golo marcado, já a segunda veria o médio perder lugar no seio do plantel, figurando em apenas oito partidas no total da época. Estava, pois, na altura de novo 'salto', que levaria João Oliveira Pinto de um extremo ao outro do País, para assinar pelo Farense. Nova época em bom plano, com trinta e duas presenças no 'onze' e três golos (um recorde de carreira) suscitariam nova 'viagem', desta feita rumo às ilhas, para representar o Marítimo.

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O médio no Farense.

Na Madeira, o médio passaria duas épocas como elemento de 'rotação' (contribuindo, ainda assim, com vinte e quatro partidas e três golos) antes de, no final da primeira época completa do Novo Milénio, rumar à Académica, da então chamada Segunda Divisão de Honra. Apesar da temporada em relativamente bom plano, seria o primeiro de sucessivos 'passos atrás' na carreira, que veriam o outrora promissor médio passar de peça importante em históricos do escalão máximo do futebol nacional para reforço parcamente utilizado de clubes de ligas secundárias ou mesmo distritais, como o Imortal, Sesimbra, Amora (último clube onde se logrou impôr, com trinta presenças e dois golos na época 2003/04) e Alfarim, onde terminaria a carreira, já perto dos quarenta anos.

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João Pinto era, actualmente, dirigente do Sindicato dos Jogadores e delegado da FPF.

Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, João Oliveira Pinto não assumiu, após pendurar as botas, a carreira de treinador, embora se tivesse mantido ligado à Federação Portuguesa e Sindicato dos Jogadores do desporto do qual, em tempos, fora tido como uma das grandes esperanças, mas onde, fosse por que razão fosse, nunca se conseguira afirmar ao nível desejado. Ainda assim, a imagem que fica após a sua 'partida' é a de um jogador tenaz, talentoso, e a quem apenas faltou uma 'pontinha' de sorte para chegar a ser mais do que aquilo a que os britânicos se referem como um 'journeyman'; um caso, portanto, semelhante ao dos inúmeros outros jovens de que falávamos no início deste texto, e que deveria ser 'caso de estudo' para os mesmos nas Academias deste País, como símbolo de perserverança, esforço e ética profissional em prol da manutenção da carreira. Que descanse em paz.

14.01.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Já aqui anteriormente aludimos a jogadores que atingiram o sucesso em dois ou mais dos chamados 'três grandes' portugueses. Apesar de a referida lista não ser, de modo algum, extensa, é ainda relativamente fácil, mesmo para o adepto mais 'distraído', recordar nomes como Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma, João Moutinho, Zlatko Zahovic ou – mais distanciados no tempo – João Vieira Pinto, Mário Jardel, Paulo Bento ou Sergei Yuran. O futebolista que abordamos este Domingo – por ocasião do seu quinquagésimo-segundo aniversário – alia a sua presença nessa lista a um estatuto de 'Grande dos Pequenos' que só lhe é negado, precisamente, pelo facto de ter jogado em ambos os lados da Segunda Circular lisboeta.

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Um jovem Rui Bento em início de carreira ao serviço do Benfica.

Isto porque Rui Fernando da Silva Calapez Patrício Bento – médio-defensivo algarvio integrante oficial da Geração de Ouro campeã de sub-20 em 1991 e da equipa Olímpica de Atlanta 1996, e um dos dois 'Bentos' a ganhar fama nessa posição durante a década de 90 – passou a grande maioria da sua carreira, não na Lisboa onde se formara para o futebol, mas na capital rival, onde envergou a 'malha' axadrezada do histórico Boavista, então em meio a uma das melhores fases da sua ilustre História.

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Bento com a camisola que o celebrizou

Contratado ao Benfica no início da época 1991/92após uma temporada em que foi elemento importante do plantel, e que de forma alguma faria prever tal transferência – o médio de 'trunfa' encaracolada apenas viria a deixar o Bessa exactas dez épocas depois, já com estatuto de lenda viva e histórico do clube, para ingressar no terceiro emblema da sua carreira (e segundo 'grande'), onde ainda chegaria a tempo de - ao lado do 'outro' Bento e dos referidos Ricardo Quaresma, Mário Jardel e João Vieira Pinto, além de colegas de Selecção como Dimas e Rui Jorge - ser peça-chave na conquista do segundo título de Campeão Nacional em três anos, ainda hoje o intervalo entre títulos mais curto para o Sporting da era moderna. Curiosamente, Bento chegava a Alvalade já com estatuto de campeão, tendo feito parte integrante do inédito e histórico triunfo do Boavista na época transacta.

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O médio no Sporting.

Seguir-se-iam mais duas épocas em Alvalade, ao longo das quais Rui Bento assistiria em 'primeira mão' ao despontar do maior talento de sempre no futebol português (o médio encontrava-se, aliás, em campo quando Cristiano fez o primeiro, e impressionante, golo da sua carreira sénior, frente ao Moreirense) antes de perder preponderância como consequência da idade, dando lugar a novos talentos na zona central. Para trás ficavam mais de uma dúzia de temporadas como jogador sénior, das quais apenas a primeira e a última não o tinham visto actuar como peça preponderante da equipa em que militava – um registo mais do que honroso para aquele que foi, simultaneamente, um dos principais nomes da Primeira Divisão portuguesa noventista, e um dos seus mais discretos.

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Ao serviço da Selecção Nacional.

Tal como tantos outros nomes que figuram nesta rubrica, também Rui Bento não deixou que o 'pendurar de botas' equivalesse ao seu 'fim' para o futebol, transitando para cargos técnicos após o final da carreira, nomeadamente para o de treinador. Académico de Viseu, Barreirense e Penafiel proporcionaram ao ex-médio defensivo as suas primeiras experiências profissionais nessa categoria, antes de o mesmo ser contactado pelo 'seu' Boavista, no início da época 2008-2009. Infelizmente, a passagem de Bento pelo Bonfim como treinador ficaria muito longe da que fizera enquanto jogador, durando apenas um ano, após o qual o ex-internacional português seria destacado pela Federação Portuguesa de Futebol para o cargo de Seleccionador Nacional sub-17; a estadia neste cargo seria, no entanto, novamente curta, tendo Rui Bento rapidamente regressado ao universo clubístico, para treinar o Beira-Mar.

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Bento na sua posição actual como treinador do Kuwait.

Em Aveiro, o ex-médio mal chegaria a aquecer o banco, antes de embarcar na primeira 'aventura' no estrangeiro de toda a sua vida, assumindo o comando do Bangkok United, do campeonato tailandês; mais uma vez, no entanto, a estadia de Bento na Ásia duraria apenas uma época, tendo o ex-internacional português regressado ao seu país-natal no Verão de 2015 para treinar o Tondela, antes de reassumir o cargo de seleccionador das camadas jovens, em 2016. Durante os seis anos seguintes, Bento trabalharia com todos os escalões entre sub-17 e sub-20, antes de ser promovido a seleccionador sénior...da Selecção do Kuwait, cargo que actualmente desempenha. Um posto algo aquém do que a sua carreira como jogador mereceria, talvez, mas que consegue ser, simultaneamente, discreto e essencial para o desempenho da equipa – precisamente como o era Rui Bento enquanto jogador de campo. Parabéns, e que conte ainda muitos.

10.12.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A História da Selecção Nacional Portuguesa, bem como dos três 'grandes' do País, está repleta de nomes sonantes, instantaneamente reconhecíveis para qualquer adepto nacional, e muitas vezes, também para os de fora de Portugal; no entanto, por 'detrás' dessas 'mega-estrelas', existe todo um contigente de outros jogadores que, sem terem tido carreiras ao nível dos seus compatriotas mais ilustres, não deixaram ainda assim de ter impacto no futebol português, tanto a nível interno como internacional. Uma dessas figuras é o homem de quem falamos este Domingo, por ocasião do seu quinquagésimo-quarto aniversário: um avançado suficientemente talentoso para ser opção principal para a linha frontal de um 'grande', mas cuja restante carreira se desenvolveu (quase) exclusivamente como Cara (Des)conhecida. Falamos de Paulo Lourenço Martins Alves, ou simplesmente Paulo Alves, o 'homem do Norte' que se viria a destacar um pouco mais a Sul, em meados dos anos 90.

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Com a camisola do clube ao qual o seu nome ficaria mais ligado, o Gil Vicente. (Crédito da foto: LastSticker.com)

Natural de Vila Real, região na qual iniciou a sua formação, Paulo Alves chegava à idade sénior como mais um dos inúmeros jovens das escolas de um 'grande' (no caso, o Futebol Clube do Porto) sem espaço no plantel principal, e, como tal, forçado a procurar opções alternativas para a sua carreira. Para o jovem Paulo, a solução encontrada foi o ingresso no Gil Vicente, histórico da região Norte onde o avançado principiaria a explanar o seu talento, conseguindo afirmar-se primeiro como opção válida e, mais tarde, como primeira escolha no plantel dos gilistas. O início da década de 90 assistiria, assim, à melhor das três épocas de Alves em Barcelos, com dez golos obtidos em trinta e oito partidas – isto já depois de ter sido Campeão do Mundo de sub-20, em 1989, ao lado de vários jogadores que se viriam a tornar históricos na Selecção Nacional AA ao longo das duas décadas seguintes, como parte da famosa 'Geração de Ouro'.

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Com a malha das Quinas.

Apenas na época de 1991/92 se assistiria, pois, a nova 'mudança de ares' por parte de Paulo Alves, que transitaria para outro histórico nortenho, o Tirsense, onde passaria uma época, jogando ao lado de outro ex-formando do FC Porto quase exactamente dois anos mais velho, Agostinho Caetano, que celebrou também este fim-de-semana o seu quinquagésimo-sexto aniversário. Em Santo Tirso, Alves conseguiria oito golos em trinta e três jogos, sendo sempre opção principal, e impressionando o suficiente para conseguir, na época seguinte, a transferência para o Marítimo, onde passaria a época e meia seguintes.

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Ao serviço dos insulares do Marítimo. (Crédito da foto: Cromo dos Cromos)

Num ambiente marcadamente diferente daquele a que estava habituado, Alves não deixaria, ainda assim, de se afirmar como escolha recorrente na equipa, tendo as suas exibições justificado nova transferência, há quase exactos trinta anos, no defeso de Inverno da temporada 1993/94. O avançado regressava, pois, ao 'seu' norte, para representar o Braga, mas seria 'sol de pouca dura', tendo Alves almejado apenas quatro presenças pelos arsenalistas antes de regressar ao Marítimo, onde faria a melhor época da sua carreira até então, conseguindo dezassete golos em pouco mais de quarenta exibições, e afirmando-se como peça fulcral dos verderrubros insulares.

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No Sporting, o maior clube que representou na sua carreira sénior.

Seria, precisamente, a sua impressionante prestação ao longo da época 1994/95 que valeria a Paulo Alves o primeiro grande 'salto' da carreira, ao ser contratado pelo Sporting. As três épocas seguintes veriam, pois, o avançado alinhar com a 'listada' verde e branca (com excepção de um breve empréstimo ao West Ham, de Inglaterra, que assinalaria a primeira experiência internacional do jogador) quase sempre como opção principal, e conseguindo médias bastante razoáveis de golos, tornando-se assim um dos nomes mais lembrados do ataque leonino da década de 90. As suas boas prestações ao serviço dos 'Leões' suscitariam, também, a sua convocatória para os Jogos Olímpicos de Atlanta '96, bem como o interesse de novo clube internacional – no caso o Bastia, de França, para o qual Paulo Alves se transferiria no início da época 1998/99.

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Durante a aventura em França.

Tal como a primeira 'aventura' internacional do jogador, no entanto, também esta teria curta duração, tendo o avançado regressado a Portugal ainda antes da viragem do Milénio, agora para um patamar bastante mais modesto, ao serviço de outro histórico nacional, o União de Leiria, onde passaria as duas épocas seguintes; o final de carreira, esse, viria a dar-se no mesmo sítio onde a trajectória de Alves havia começado – em Barcelos, onde surgia em 2001/02, com o estatuto de 'veterano famoso', e onde continuaria a 'dar cartas' durante as quatro épocas seguintes, até ao pendurar das botas, no final da temporada 2004/2005, quando contava já trinta e cinco anos.

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Durante um jogo do União de Leiria.

Foi também sem surpresas que os adeptos gilistas viram o seu 'ídolo' enveredar pela carreira de treinador dentro do próprio clube, onde passaria duas épocas antes de regressar à sua 'casa' anterior, o União de Leiria. Seguir-se-ia uma passagem pelo Vizela e uma fugaz nomeação como Seleccionador Nacional sub-20, antes de Alves voltar a Barcelos, para mais quatro épocas - o último período de estabilidade naquela que se viria a tornar uma carreira 'papa-léguas', que veria Alves passar por todos os escalões do futebol nacional e treinar clubes no Irão e Arábia Saudita, além de regressar mais uma vez ao Gil Vicente, para meia temporada, em 2017/2018. O mais recente projecto de Alves foi, no entanto, o Moreirense, que orientou na campanha transacta, na Liga Sagres, provando ter tanta qualidade enquanto treinador como teve dentro das quatro linhas, como Cara (Des)conhecida ou nome algo mais digno de nota. Parabéns, e que conte muitos.

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Na função de treinador.

23.11.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Em finais do século XX, a revista desportiva era já parte do panorama editorial de vários países de todo o Mundo, com publicações tão famosas e sonantes como a 'Sports Illustrated' norte-americana ou a 'France Football'; em Portugal, no entanto, o paradigma era um pouco diferente, com a imprensa desportiva (pelo menos a não-especializada) a ser dominada pelos três 'eternos' diários desportivos, que só em inícios do século XX deixariam espaço a revistas como a 'Futebolista'. Tal hegemonia não impediu, no entanto, que pelo menos uma publicação tentasse 'furar fileiras' e afirmar-se no espaço editorial desportivo português, tendo mesmo chegado a atingir um moderado grau de sucesso nesse desiderato.

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Exemplo dos dois tipos de grafismo da revista durante o seu tempo de vida (Crédito das fotos: OLX.)

Falamos da 'Mundial', uma revista que, apesar de se estender periodicamente a outros desportos, tinha como foco central (e perfeitamente natural) o futebol, que ocupou a maioria das capas da revista desde o seu lançamento, algures em meados dos anos 90, até ao seu desaparecimento das bancas, ainda antes do final do Novo Milénio. Infelizmente, não nos é possível precisar melhor o espectro temporal da publicação, dado esta ser – como a também noventista 'Basquetebol' – uma daqielas revistas das quais poucos vestígios restam para lá de uma série de anúncios da OLX e do ocasional 'post' nostálgico no Facebook – por outras palavras, uma Esquecida Pela Net.

Daquilo que as capas permitem averiguar, a 'Mundial' procurava ter cuidado em alternar o foco entre diversos clubes, bem como entre os principais jogadores de cada um deles, e até aos principais nomes internacionais da época – isto para além de uma marcada (e também bastante natural) vertente de apoio à Selecção Nacional, que vivia, à época, alguns dos seus melhores anos, com a Geração de Ouro a 'dar cartas'. De igual modo, a presença de artigos sobre outras modalidades e eventos - como o 'bodyboard', a Fórmula 1 ou até as Olimpíadas - vem da análise dessas mesmas capas, sendo praticamente impossível encontrar, hoje, dados sobre a editora, longevidade ou até número de páginas da revista – facto algo insólito, tendo em conta que outras publicações da mesma altura (1996-98, pelo menos) se encontram ainda bem documentadas na 'autoestrada da informação'! Ainda assim, é também possível observar uma mudança de grafismo na 'Mundial' entre 1996 e 98, presumivelmente para ajudar a dar um ar menos austero à revista, e mais condicente com o que o público jovem da época procurava de uma publicação deste tipo.

Tendo em conta o posterior sucesso da referida 'Futebolista' e outras publicações semelhantes, não deixa de ser bizarro que a 'Mundial' seja tão pouco lembrada entre os fãs de jornais e revistas de desporto nacionais. No entanto, uma das missões declaradas deste nosso blog é, precisamente, não deixar que tais artefactos de finais do século XX se percam para sempre, e, nesse aspecto, era nosso dever fazer a nossa parte para assegurar que esta 'Mundial' não era vetada ao esquecimento pela mesma geração que, em tempos, a comprou e leu religiosamente - uma missão que, esperamos, se venha a provar bem-sucedida.

12.11.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O caso de um jogador dispensado ou enviado para 'rodar' por um dos 'grandes' portugueses e que acaba a brilhar noutro não é, de todo, nova ou inédita, continuando a verificar-se com assustadora regularidade até aos dias de hoje. Nomes hoje tão famosos como Deco, Miguel Veloso ou Silvestre Varela foram, a dado ponto, considerados insuficientes para as ambições dos três principais clubes nacionais, aos quais viriam, mais tarde, a dar 'chapadas de luva branca'; o mesmo se passaria, também, com o jogador cuja carreira recordamos neste post, um dia depois de ter completado quarenta e seis anos. Falamos de Nuno Ricardo Oliveira Ribeiro, o médio lisboeta que atingiria fama internacional como esteio da equipa 'conquistadora' do Futebol Clube do Porto e da Selecção Nacional da fase pós-Geração de Ouro, sob a alcunha de Maniche.

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Maniche na Selecção.

Formado, juntamente com o irmão mais novo (e menos famoso), Jorge Ribeiro, nas escolas do Benfica, Maniche demonstrou talento suficiente para merecer a estreia pela equipa principal das Águias ainda com idade de júnior de primeiro ano, em Setembro de 1995, tendo sido lançado em dois jogos pelo treinador Mário Wilson. Apesar do sonho tornado realidade, no entanto, Maniche não mais voltaria a figurar pelos encarnados nessa época, tendo, no defeso seguinte, sido cedido ao Alverca, clube-satélite do Benfica, para o qual eram, à época, enviados as principais promessas dos 'encarnados'; seria ali, e novamente sob o comando de Wilson, que o médio viria, verdadeiramente, a estabelecer-se como valor seguro do futebol português.

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Um jovem Maniche com a camisola do Alverca.

Nas três épocas que passou no emblema ribatejano (duas na II Liga e uma no escalão principal), sempre como figura importante da equipa - ainda que sem ser titular indiscutível – Maniche destacou-se o suficiente para obter a primeira experiência internacional, ao serviço dos sub-21 portugueses, e tornou-se um jogador mais maduro e completo, pronto a agarrar a oportunidade na equipa principal das 'águias', à qual o médio regressava quatro anos após a sua fugaz estreia.

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No regresso à Luz

Apesar de ter sido presença frequente no 'onze' ao longo das duas épocas seguintes, no entanto, Maniche não conseguia, ainda assim, garantir a titularidade indiscutível, tendo mesmo sido 'despromovido' à equipa B durante os seus últimos meses no clube, em 2002. Ainda assim, foi com considerável surpresa que os adeptos benfiquistas viram aquele que parecia um valor seguro da sua formação assinar por um eterno 'rival' logo no Verão seguinte, com Maniche a trocar uma capital por outra, e a rumar ao Norte, para representar o Futebol Clube do Porto, então treinado por outro ex-Benfica, José Mourinho. E a verdade é que, juntos, ambos os homens viriam a demonstrar o enorme erro das 'águias' em os dispensar, ganhando tudo o que havia para ganhar, tanto a nível interno como Europeu, ao longo das três épocas seguintes; em todas elas, Maniche figuraria como um dos pilares do meio-campo portista, normalmente ao lado de Costinha, com quem também formava, à época, a dupla de 'pivots' da Selecção Nacional portuguesa.

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Com a camisola que o celebrizou.

Desse ponto em diante, a carreira do médio é sobejamente conhecida: as boas exibições na 'montra' da Europa suscitam o interesse dos principais 'tubarões' europeus, e Maniche não tarda a dar o 'salto' para o estrangeiro, assinando contrato com o Dínamo de Moscovo no início da época 2005/2006, juntamente com os colegas de equipas Seitaridis e (inevitavelmente) Costinha, e já depois de Derlei ali ter rumado no defeso de Inverno anterior.

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Maniche participa no 'derby' de Moscovo.

A experiência russa não seria, no entanto, agradável para nenhum dos jogadores em causa, e passar-se-iam menos de seis meses até Maniche 'mudar de ares' e rumar a Londres, para representar, por empréstimo, o Chelsea, então em plena fase hegemónica; num meio-campo recheado de talento, no entanto, o médio teria oportunidade limitada para se mostrar, não sendo as apenas onze presenças que efectuou, sequer, suficientes para Maniche adicionar o título de campeão inglês ao seu palmarés.

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O médio com a camisola do Chelsea.

Ainda assim, nem tudo seria mau naquela temporada de 2005/2006, tendo Maniche conseguido, já no mercado de Verão, assegurar uma transferência que lhe permitiria relançar a sua carreira, no caso para o Atlético de Madrid, onde passaria duas épocas e meia, apenas interrompidas por um breve empréstimo ao Inter de Milão, em 2008, e onde voltaria a reencontrar o eterno parceiro de meio-campo, Costinha.

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No Atlético, clube onde relançaria a carreira.

Ali, e após o 'desastre' da época anterior, a dupla teria a oportunidade de voltar a mostrar toda a sua classe e de se afirmar como esteio da equipa – pelo menos até Maniche se desentender, primeiro, com o treinador Javier Aguirre (o que motivou o empréstimo ao Inter) e, mais tarde, com o seu substituto, Abel Resino. Assim, pouco menos de dois meses antes de o seu contrato com os 'Colchoneros' expirar – e tendo já rejeitado nova oferta – o médio era oficialmente dispensado pelo clube madrileno, terminando a época novamente desempregado.

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Durante a breve passagem pelo Inter, em 2008

Para um jogador da sua classe, no entanto, nunca seria excessivamente complicado encontrar nova colocação, e a época seguinte vê Maniche ingressar na sua terceira grande liga europeia, ao assinar pelos alemães do Colónia, onde militava o ex-colega do Benfica, Petit. A época subsequente correria de feição ao médio,que se afirmaria como figura importante da equipa, pelo que foi com alguma surpresa que os adeptos alemães viram Maniche sair, após apenas uma época, para regressar à sua cidade-natal, embora, agora, do 'outro lado' da via rápida que o vira nascer para o futebol, e com uma camisola listada de verde e branco.

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Maniche no Colónia.

Sim, seria mesmo o Sporting a ter a honra de acolher o fim de carreira de Maniche, e apenas dezassete presenças foram suficientes para inscrever o jogador no limitado lote de jogadores a representar todos os três 'grandes' portugueses, ao lado de Romeu, Eurico Gomes, Carlos Alhinho, Paulo Futre, Fernando Mendes, Emílio Peixe e do ex-colega portista Derlei - apenas mais uma marca bonita numa carreira que terminava como começara – com Maniche como opção de 'rotação' num 'grande' português – mas que, pelo meio, vira o médio atingir as mais altas glórias nacionais, europeias e até internacionais.

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Ao serviço do Sporting, na última época como profissional.

Ao contrário de muitos dos nomes que aqui abordamos, Maniche não enveredou, após o final da carreira, por uma carreira técnica; apesar de ter chegado a ser treinador-adjunto de Paços de Ferreira e Académica, o ex-internacional português encontra-se, desde 2016, totalmente afastado do Mundo do futebol, preferindo ser lembrado pelas suas contribuições dentro de campo; e a verdade é que as mesmas mais do que justificam esta homenagem retrospectiva, no fim-de-semana em que completa quarenta e seis anos de idade. Parabéns, Maniche, e que contes ainda muitos!

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