Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

16.03.25

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O mundo do futebol profissional tende a dividir-se em dois tipos de jogador: os talentos natos, que se tornam estrelas e centram em si todas as atenções, e os mais utilitários, mas tão ou mais necessários para o bom funcionamento de uma equipa – os chamados jogadores de 'fato-macaco'. É de um dos mais famosos representantes nacionais deste segundo tipo – ainda hoje conhecido em 'praça pública' - que falaremos neste 'post', no fim-de-semana em que celebra cinquenta e três anos de idade.

images (3).jpeg

O jogador com algumas das camisolas que representou na carreira.

Filho 'do meio' de um quinteto de irmãos futebolistas (de um total de treze crianças!), José Luís da Cruz Vidigal viria mesmo a ter a carreira mais honrosa de entre os três, conseguindo elevar o seu futebol a um patamar que nem os dois irmãos mais velhos, Beto e Lito, nem os dois mais novos, Toni e Jorge, alguma vez viriam a almejar. Antes dos habituais 'saltos' que marcam o percurso de qualquer jogador promissor – primeiro para um 'grande' e, depois, para o estrangeiro – a trajectória do futuro internacional português, companheiro de Selecção dos membros da 'Geração de Ouro' no Euro 2000, desenrolava-se de forma exactamente análoga à dos irmãos, tendo tido início no modesto mas histórico O Elvas (do qual foi elemento-chave entre a estreia em 1992 e a saída em 1994, tendo realizado sessenta jogos) e continuado na periferia de Lisboa, novamente de amarelo e azul, embora desta feita num patamar mais alto, ao serviço do Estoril-Praia.

A estadia na Amoreira - sobre a qual se comemoram esta temporada exactas três décadas - duraria apenas uma época, mas daria ao jovem de vinte e um anos tempo mais que suficiente para explanar as suas qualidades, tendo deixado apontamentos suficientes ao longo dos vinte e sete jogos que realizou para justificar a chamada às Selecções Sub-21 e Sub-23 e suscitar o interesse de um dos 'grandes' da vizinha capital. No caso, seria o Sporting, recém-sagrado vencedor da Taça de Portugal, quem asseguraria a contratação do médio defensivo no Verão de 1995, no caso como elemento de 'apoio' a um plantel onde a sua posição estava assegurada por nada menos do que Emílio Peixe, Oceano e Carlos Xavier. E se esta concorrência 'de peso' poderia fazer crer que a estadia de Vidigal nos 'Leões' de Lisboa seria curta e inexpressiva, a verdade é que o jogador desafiou todas as expectativas, fazendo cinco épocas de leão ao peito e conseguindo mesmo afirmar-se como elemento importante dos plantéis por onde passou, numa fase que culminaria com a titularidade absoluta na época de 1999/2000, em que foi peça-chave na quebra do 'jejum' de dezoito anos do clube de Alvalade, com a conquista do Campeonato Nacional – proeza que, curiosamente, seria repetida pelo seu irmão mais novo dois anos depois!

Montagem dos melhores momentos de Vidigal no Sporting.

Como é evidente, o alto rendimento do jogador nessa época agudizou o interesse no seu perfil por parte de clubes estrangeiros, algo a que a participação na excelente campanha portuguesa no Euro 2000 veio ainda acrescer. Assim, foi sem surpresas que, nos primeiros meses do Novo Milénio, os adeptos leoninos viram o seu destruidor de jogo rumar a paragens mais apetecíveis, nomeadamente a Itália, país onde passaria os oito anos seguintes – representando sobretudo as cores do Nápoles e do Livorno, excepção feita a uma breve passagem pela Udinese - e onde acabaria mesmo por jogar durante mais um ano do que em Portugal, país ao qual só regressaria já em final de carreira, mas ainda a tempo de fazer dezassete jogos no escalão principal, com a camisola do Estrela da Amadora, fechando de forma honrosa uma bonita carreira.

Ao contrário de tantos outros jogadores já aqui abordados, no entanto – e do próprio irmão mais velho – Luís Vidigal escolheu não fazer a transição para cargos técnicos após o fim de carreira; ao invés, o antigo médio-defensivo viria a manter-se relevante na opinião pública enquanto analista desportivo, cargo que ainda hoje desempenha, podendo ser ouvido semanalmente nas transmissões televisivas de jogos do campeonato e não só, tendo o legado futebolístico do seu clã sido deixado a cargo do sobrinho, André, filho do malogrado Beto. Uma nova etapa na carreira de um nome menos fulgurante, mas não menos importante, do que outros da sua geração, e bem merecedor deste destaque no seu fim-de-semana de aniversário. Parabéns, e que conte muitos.

16.02.25

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Quando se fala na Geração de Ouro do futebol nacional, a memória tende a relembrar fantasistas como Luís Figo, Rui Costa ou João Vieira Pinto, ou esteios defensivos como Paulo Sousa ou a dupla Fernando Couto e Jorge Costa: no entanto, como qualquer outra equipa, a referida Selecção contava também com uma série de 'coadjuvantes', cujo papel era mais discreto, mas não menos importante nas dinâmicas e organização da equipa. É, precisamente, a um desses jogadores – dono de uma carreira mais do que honrosa, mas significativamente menos lembrado que os seus colegas - que dedicaremos este Domingo Desportivo, no dia em que completa cinquenta e seis anos de idade.

776082_med__20210424162209_dimas.jpg

O jogador ao serviço de Portugal no Euro 2000.

Nascido em Joanesburgo, na África do Sul, Dimas Manuel Marques Teixeira – vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro nome próprio – voltaria ainda criança a Portugal, onde viria a explorar mais a fundo a sua apetência por futebol. E a verdade é que, apesar de um começo relativamente tardio – tinha já dezasseis anos quando iniciou a formação – o futuro internacional português foi ainda mais do que a tempo de transformar esse gosto numa carreira internacional, vivendo o sonho de muitos jovens ao estrear-se, aos dezoito anos, pela histórica Académica de Coimbra, onde fizera os seus dois únicos anos de formação. Curiosamente (ou talvez não) a tenra idade não impediu que Dimas se afirmasse como peça-chave do plantel dos Estudantes durante as três épocas que ali passou, sendo que apenas na última realizaria menos de trinta jogos, compensando este facto com um recorde de golos que vigoraria durante toda a sua carreira, marcando sete. Ao serviço da histórica agremiação, o defesa conseguiria ainda as primeiras internacionalizações jovens, representando a selecção Sub-21 por duas vezes e a Sub-23 por três.

Esta preponderância, aliada às boas exibições tanto no primeiro escalão como no secundário, após descida, não poderia deixar de atrair o interesse de outros emblemas, e, no início da época de 1990/91, Dimas faria a primeira de muitas transferências na sua carreira, mudando-se para os arredores de Lisboa para representar o Estrela da Amadora, finalista derrotado da Taça de Portugal poucas semanas antes. Ali, continuou a confirmar as boas indicações que deixara no seu clube de origem, com duas épocas em grande nível, sendo 'totalista' na primeira, com trinta e oito presenças, e peça importante na segunda, em que almejou vinte e oito. Sete golos no total das duas épocas (apenas menos um do que marcara em três épocas em Coimbra) punham o corolário nesta fase da carreira do jogador, que rapidamente se viu a rumar a ainda mais um histórico do futebol português, desta feita localizado mais a Norte.

1 - 92 93 Vitoria.jpg

Com a camisola do Vitória SC.

De facto, a época de 1992/93 via Dimas surgir como nova adição ao plantel do Vitória de Guimarães, responsável por revelar para o futebol muitos e bons executantes, e onde o lateral-esquerdo somaria e seguiria na sua carreira, realizando mais duas épocas como titular quase indiscutível no flanco esquerdo, embora agora com menor veia goleadora, almejando apenas um golo no decurso dos dois anos que passou na Cidade-Berço. Ainda assim, nesta fase da carreira, e com apenas vinte e quatro anos, Dimas era já, mais do que uma promessa, uma certeza do futebol nacional da época, pelo que o 'salto' para um grande era já mais do que expectável – salto esse que viria a acontecer há pouco mais de trinta anos, no início da época de 1994, quando Dimas regressava a Lisboa, desta vez para equipar de vermelho, ao serviço do Benfica.

33 - 95 96 a.jpg

No primeiro dos dois rivais da Segunda Circular que representou...

Em termos de notoriedade, o lateral-esquerdo atingiu aqui o ponto alto da sua carreira, sendo pedra basilar da equipa durante as duas temporadas e meia que ali passou (como, aliás, já vinha sendo seu apanágio) e completando quase uma centena de partidas de águia ao peito, durante as quais almejou cinco golos. Terá sido nesta fase do percurso de Dimas que o adepto 'comum', menos atento a equipas que não os três 'grandes', terá tomado conhecimento do lateral-esquerdo, não só pelas suas prestações no Campeonato Nacional da I Divisão como também pela presença na Selecção Nacional AA, com a qual disputou tanto a fase de apuramento para o Euro '96 como o próprio certame, sendo primeira opção para o 'seu' lado da defesa durante todo o torneio. Não é, pois, de admirar que, na temporada seguinte, o lateral tenha sido alvo de interesse internacional, e dado com naturalidade o segundo 'salto' do percurso de qualquer futebolista; o destino era Itália, onde Dimas iria representar o mais lendário clube da sua carreira – a Juventus.

E se a 'aventura' internacional tende a não correr bem a muitos futebolistas, tal não foi o caso com Dimas, que, apesar de nunca conseguir a titularidade absoluta como sucedera nos seus outros clubes, conseguiu ainda assim realizar mais de quatro dezenas de jogos com a camisola listrada da 'Vecchia Signora' antes de rumar à Turquia, para representar o Fenerbahce, enquanto jogador do qual voltaria a representar Portugal no seu segundo torneio internacional, o memorável Euro 2000, onde seria novamente titular na esquerda. Um ano e meio e menos de três dezenas de jogos depois, o lateral rumaria à Bélgica, onde jogaria durante seis meses, contabilizando treze aparições pelo Standard de Liège, antes de rumar novamente a Portugal, e a Lisboa, desta vez para jogar do outro lado da Segunda Circular, no grande rival do seu antigo clube.

120px-Dimas.jpg

...e no segundo.

Se Dimas esperava relançar a carreira no Sporting recém-coroado Campeão Nacional após jejum de quase duas décadas, no entanto, tal plano saiu gorado após o defesa contrair uma lesão no joelho, que o levaria a perder definitivamente a luta pela ala esquerda com o colega de Selecção Rui Jorge. Ainda assim, duas partidas na sua segunda época (antes de rumar por empréstimo ao Marselha, onde realizaria apenas mais quatro) foram suficientes para dar a Dimas o título de campeão nacional, apesar do papel irrisório que desempenhara nessa conquista. Seria com essa conquista quase 'oferecida' que, no final da época de 2001/2002, Dimas encerraria uma carreira honrosa, que inscrevia o seu nome na lista dos maiores jogadores portugueses de sempre a nível interno.

5492.jpg

No breve período como treinador-adjunto.

Tal como muitos outro nomes que relembramos nestas páginas, no entanto, não terminava aí a carreira do agora ex-lateral no Mundo do futebol, já que Dimas tentaria uma transição para a carreira de adjunto, ao lado de José Morais. No entanto, a mesma não duraria mais do que uma época no Barnsley (que terminou com o duo despedido após despromoção) e dois períodos de poucos meses nos ucranianos do Karpaty Lviv e no Jeonbuk, da Coreia do Sul. Assim, é sobretudo pela sua capacidade física, disponibilidade e ritmo de jogo enquanto jogador de campo que o ex-internacional continua a ser lembrado, e é pela sua preponderância nessa capacidade que merece esta homenagem aquando do seu aniversário. Parabéns, e que conte ainda muitos.

13.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quinta-feira, 11 de Julho de 2024.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Enquanto competições máximas do futebol ao nível internacional (ou seja, de Selecções) é natural que tanto os Mundiais como os Campeonatos Europeus motivem publicações especiais por parte dos periódicos desportivos um pouco por todo o Mundo. E escusado será dizer que, num país tão fanático pelo desporto-rei como Portugal, essa naturalidade assume contornos de inevitabilidade, tendo os adeptos nacionais, ao longo dos anos, 'aprendido' a contar com múltiplos suplementos e destacáveis, ou até mesmo revistas individuais, com foco nos diversos certames. O primeiro Europeu do Novo Milénio não foi, de todo, excepção a essa regra, antes pelo contrário, tendo visto surgir nas bancas lusitanas não apenas uma, mas duas revistas especiais a ele dedicadas, ambas com o então Bola de Ouro Luís Figo como figura de capa, ele que era o 'porta-estandarte' da Selecção Nacional na era pré-Cristiano Ronaldo.

download.jfif

A primeira destas duas, da responsabilidade do jornal 'Record', revestia-se de especial interesse por apresentar uma abordagem algo diferente do habitual: além das habituais 'fichas' de jogadores e factos sobre a competição, a publicação em causa trazia, à laia de 'biografias' dos elementos da Selecção Nacional da época, uma série de textos assinados por autores tão consagrados quanto Manuel Alegre ou Carlos Tê, além de outras figuras ligadas ao mundo das artes e letras, como os cineastas João Botelho e Joaquim Leitão. Já os 'distintos adversários' das outras selecções participantes no certame eram 'apresentados' por especialistas dos respectivos países, com natural destaque para nomes ligados ao jornalismo desportivo. A completar esta ambiciosa edição estavam oito 'guias turísticos' das principais cidades onde a competição se desenrolaria, elaborados 'in loco' por correspondentes do jornal. Uma publicação inovadora e ambiciosa, portanto (sobretudo para os parâmetros algo conservadores do jornalismo desportivo) que terá, certamente, justificado em pleno os quinhentos escudos do preço de capa, até mesmo para quem não era fã do desporto-rei.

image.webp

Sobre a 'outra' publicação alusiva ao Europeu de 2000 – fornecida como suplemento do jornal 'Expresso' – existe bastante menos informação; no entanto, a capa sugere que os conteúdos da mesma se insiram numa linha bastante mais típica e 'clássica' do que a seguida pela congénere de 'Record', com dados sobre os jogadores, estádios e países participantes, além de um guia TV com as datas e horas da exibição televisiva dos jogos, quase todos transmitidos em directo pela RTP. Um suplemento de valor inegável, mas que fica muito longe da ambiciosa e demarcada proposta do jornal de António Tadeia. Ainda assim, sem dúvida uma peça de coleccionador, a qual, tal como a revista de 'Record', valerá sem dúvida a pena adicionar à colecção de um adepto com interesse na História das publicações sobre futebol em Portugal, talvez ao lado das revistas dos Mundiais editadas por 'A Bola' e 'Record', e da publicação sobre a 'Geração de Ouro' sugerida pela primeira alguns anos depois...

07.07.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

download.png

Goste-se mais ou menos dos jogadores convocados, o apoio à Selecção Nacional de futebol masculino sénior está entranhado no âmago de qualquer adepto português, teimando em surgir sempre que as Quinas surgem em mais um Mundial ou Europeu – algo que vem sendo recorrente de há três décadas a esta parte. No entanto, a maioria dos adeptos mais velhos será, também, rápida a admitir que a Selecção de hoje já não desperta a mesma paixão do grupo desse tempo, centrado em elementos da lendária Geração de Ouro e que apresentava o verdadeiro 'futebol champanhe', dando 'espectáculo' e entusiasmando os adeptos independentemente do resultado.

E esta última condicionante é mais importante do que parece, já que um dos principais elementos associados a 'essa' Selecção Nacional era o azar. De facto, jogasse melhor ou pior, Portugal parecia sempre soçobrar nos momentos-chave, fosse por falta de sorte, fosse por o adversário lhe ser legitimamente superior. O auge desta tendência (apenas desfeita, de forma inacreditável, em 2016) foi, claro, a derrota frente à massa adepta caseira, em pleno Estádio da Luz, na final do Euro 2004; no entanto, o problema já vinha, a essa data, mais 'de trás', tendo ambas as participações das Quinas em competições internacionais durante os anos 90 redundado em esperanças desfeitas quase 'à última hora'.

De facto, logo no seu regresso aos palcos internacionais, em 1996 (Europeu que iniciaria a referida tendência de apuramentos sucessivos que perdura até aos dias de hoje) Portugal logrou efectuar uma fase de grupos honrosa, até dominadora, e foi favorecido com um sorteio bastante razoável para os quartos-de-final, evitando os 'tubarões' e defrontando a República Checa, hoje Chéquia. O 'presente' revelar-se-ia, no entanto, 'envenenado', com um golo monumental do futuro benfiquista Karel Poborsky (então jogador do Manchester United) a ditar a eliminação da equipa fortemente favorita para esse jogo, e a lançar a 'outra' tendência de Portugal em Europeus, esta mais negativa que a anteriormente mencionada.

A 'maldição' continuaria (e de forma ainda mais dolorosa) quatro anos depois, quando uma das melhores selecções portuguesas de sempre realizaria uma fase de grupos irrepreensível (encabeçada por uma reviravolta histórica contra a Inglaterra) e 'dinamitaria' a Turquia nos quartos, garantindo o acesso a uma meia-final de má memória, em que levou a França campeã do Mundo dois anos antes a prolongamento, para depois ser 'atraiçoada' por uma mão de Abel Xavier em plena área, que Zidane converteria em corações partidos de Norte a Sul de Portugal.

Vistos isoladamente, cada um destes casos pode parecer apenas coincidência, ou azar; no entanto, todo o adepto português sabe que os mesmos marcaram o início de uma tendência que apenas seria contrariada duas décadas depois, no único jogo que Portugal talvez não merecesse ganhar. E numa altura em que a 'maldição' volta a 'atacar' em pleno (tendo Portugal acabado de soçobrar nos 'penalties' frente à França, nos quartos-de-final do Euro 2024) convém que não se perca a memória de onde tudo começou...

05.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 4 de Julho de 2024.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Desde a sua massificação em inícios do século XX, o futebol tem sido o desporto mais consensual e com maior base de fãs a nível mundial; Portugal não é, de todo, excepção a esta regra, como se pode facilmente verificar pela existência de nada menos do que três jornais diários dedicados apenas e tão-somente a notícias de cariz desportivo, com natural primazia para o futebol. Não é, pois, de estranhar que cada nova competição internacional, particularmente as disputadas entre selecções de jogadores de cada país, façam 'parar' grande parte do Mundo, e motivem um sem-número de companhias a efectuar promoções alusivas ao certame em causa.

O Euro '96, levado a cabo em Inglaterra, não foi, de forma alguma, excepção a esta regra, tendo vários produtos, companhias e entidades adoptado temporariamente as cores da bandeira do país em que eram comercializados, e oferecido brindes centrados nas equipas presentes no torneio. Em Portugal, uma dessas entidades era o jornal 'A Bola', que, não querendo deixar créditos por mãos alheias no que toca à sua área de especialização, veiculava esse Verão, em conjunto com o seu jornal, figuras em borracha dos jogadores da Selecção Portuguesa da altura.

image (2).webp

Algumas das figuras da colecção, e respectivos cartões de 'identidade'.

Inteligentemente chamados de Figuras da Bola (num trocadilho com o nome do jornal) estes bonecos constituíam, basicamente, caricaturas tridimensionais dos jogadores, cada um dos quais surgia com as feições exageradas daquele estilo de arte, e com cabeças muito maiores do que o 'esquelético' corpo em que assentavam. Ainda assim, e apesar da abordagem 'cartunesca', a maioria dos 'craques' da Geração de Ouro era, ainda, perfeitamente reconhecível, de Fernando Couto e Paulo Sousa com as suas 'melenas' à não menos farta cabeleira loira de Jorge Cadete, o enorme queixo de Sá Pinto ou a cabeça achatada de Luís Figo, entre outras características propositalmente ampliadas para máximo efeito cómico. Juntamente com cada uma das figuras vinha, ainda, um cartão, com uma caricatura do jogador em causa e alguns dados vitais do mesmo – um pormenor cujo valor era apenas aparente, já que o que verdadeiramente interessava era a figura, ideal para colocar na estante, mesa de cabeceira ou secretária (não confundir com Secretário, que também faz parte da colecção...!) e mostrar assim o apoio à Selecção.

Curiosamente, apesar da natureza obviamente atractiva desta promoção (mais próxima de um brinde dos ovos Kinder ou do Happy Meal do McDonald's do que algo oferecido por um jornal), não tornou a haver, em certames subsequentes, qualquer outra promoção deste tipo, deixando a 'Selecção' de Figuras da Bola como uma iniciativa única no panorama promocional português, quer do século XX quer do actual, e bem merecedora de lembrança nas páginas deste nosso blog.

25.06.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

download.jfif

As transmissões de jogos de futebol têm, tradicionalmente e consistentemente, estado entre os segmentos com maior 'share' de audiências da televisão em sinal aberto em Portugal. Mesmo depois do advento da Sport TV (e, mais tarde, de redes como a Eleven Sports ou dos canais privados de cada clube) os jogos exibidos na RTP, SIC e TVI não deixam de atrair números invulgares de público para cada uma dessas estações, o que se afirma como natural num país com tanto gosto e apetência pelo desporto-rei como é o nosso. Ainda assim, situações em que a emissora depende activamente do futebol para sair de uma crise de audiências não deixam de constituir casos extremos, tanto em Portugal como um pouco por todo o Mundo; e, no entanto, era precisamente esse o contexto em que a RTP se encontrava nos primeiros meses da viragem do Milénio, e que levou a emissora estatal a empregar medidas drásticas nesse Verão, aquando da realização do Campeonato Europeu de Futebol.

Isto porque, como detentora de acções na Sport TV, a RTP dividiria, normalmente, o 'pacote' de direitos de transmissão dos jogos com a emissora privada, exibindo apenas partidas selectas em sinal aberto, numa práctica que se mantém até aos dias de hoje; no caso do Euro 2000, no entanto, tal partilha não teve lugar, tendo a RTP retido os direitos de todas as vinte e sete partidas - de um total de trinta e uma - que logrou conseguir transmitir (as restantes quatro viriam a ser exibidas no 'outro' canal de desporto da TV Cabo da época, o Eurosport, que mostraria também algumas das partidas da RTP em diferido, numa emissão que dedicava vinte e quatro horas diárias à competição), obrigando a Sport TV a transmitir apenas debates sobre os jogos da competição, nos horários em que normalmente os estaria a exibir. Tais acções deviam-se à crise de resultados que a emissora estatal atravessava por comparação às rivais privadas, sendo que apenas o futebol conseguia equiparar a estação da 5 de Outubro às de Carnaxide ou Queluz.

Quando somada a uma série de 'picardias' entre o canal público e o seu 'sócio' privado – com a Sport TV a negar à RTP direitos de transmissão em directo dos jogos do FC Porto na Liga dos Campeões do ano transacto (obrigando a que os mesmos fossem exibidos em diferido, com uma hora de atraso), e a emissora estatal a 'vingar-se' bloqueando, no último momento, o acesso do canal codificado ao particular Portugal-Itália – esta atitude tornou inviável qualquer colaboração futura entre os dois canais, tendo a Sport TV procurado associar-se à SIC no tocante à partilha de direitos televisivos de eventos de desporto, iniciada com a transmissão conjunta do Open do Estoril em Ténis. Já a RTP beneficiria mesmo do 'choque na veia' proporcionado por um dos melhores Euros de sempre, ao qual se seguiram, quase de imediato, os Jogos Olímpicos de Sydney, também cobertos na quase totalidade pela emissora estatal. Um Verão de sucesso para as 'duas' RTPs, portanto - muito por conta daquilo a que a imprensa da época chegou a chamar uma 'overdose' de desporto – mas que, ao mesmo tempo, mudaria para sempre o paradigma e estrutura de partilhas e alianças para a transmissão de eventos desportivos em Portugal, numa alteração cujos efeitos se continuam a fazer sentir até aos dias de hoje, e que parece dar razão à máxima que diz que 'nunca é apenas futebol'...

07.04.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

1048105_med__20230924103144_pacheco.jpg

O jogador com a camisola que o celebrizou.

No futebol português dos anos 80, 90 e 2000 (ainda mais do que no actual) existiu um conjunto bem demarcado de jogadores que, sem atingirem o nível de fama ou os altos vôos de alguns dos seus contemporâneos (nomeadamente os da chamada 'Geração de Ouro') conseguiram, ainda assim, afirmar-se como ícones de um ou mais clubes e, pela sua presença constante nos campeonatos nacionais da época, atingir o estatuto de Lendas da Primeira Divisão. Um dos principais nomes desse grupo – onde se incluem ainda jogadores como Emílio Peixe, Rui Barros ou Folha – foi um médio que, após iniciar a carreira como Cara (Des)conhecida ainda na década de 80, acabou eventualmente por fazer também parte do selecto contingente de jogadores que representaram mais do que um 'grande' em Portugal durante a sua carreira; falamos de António Manuel Pacheco Domingos (vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro apelido), o 'histórico' do Benfica que chegou, também, a representar o Sporting, e que faleceu há cerca de duas semanas – a 20 de Março de 2024 – aos cinquenta e sete anos, em consequência de um ataque cardíaco. E porque, à data da sua morte, o 'blog' se encontrava em hiato temporário, fica agora, embora já com algum atraso, a nossa merecida homenagem a uma das muitas caras icónicas do futebol nacional de finais do século XX.

mw-680.webp

Ainda jovem, no Torralta.

Nascido em Portimão, Algarve, no primeiro dia de Dezembro de 1966, António Pacheco iniciou carreira no modesto Torralta, clube em que realizara a maior parte da sua formação enquanto futebolista. Durante a única época em que representou o emblema, o médio fez pouco mais de três dezenas de jogos, contribuindo com oito golos, marca que se provaria suficiente para lhe garantir três presenças na Selecção Nacional Sub-18 despertar o interesse do outro clube por onde Pacheco passara enquanto jovem - o Portimonense, que representara na categoria de Iniciados. Assim, com apenas dezanove anos, e exactamente meia década após ter deixado o clube da sua terra natal, o atleta voltava a vestir de preto e branco, dando assim o considerável 'salto' das divisões distritais para o principal escalão nacional.

mw-680 (1).webp

O plantel do Portimonense para a época 1986-87; Pacheco está em baixo, à direita.

Este desafio não intimidou, no entanto, o médio, que partiria para nova época de destaque: sem ser titular indiscutível, Pacheco logrou registar vinte e três presenças ao serviço do Portimonense, bem como nove pela Selecção Nacional Sub-21, no decurso das quais demonstrou qualidade suficiente para alargar ainda mais os seus horizontes futebolísticos. Previsivelmente, não tardou a surgir na secretaria portimonense uma oferta pelos préstimos do promissor futebolista, oriunda da capital portuguesa, e de um dos principais emblemas dos campeonatos nacionais, o Sport Lisboa e Benfica.

Face a esta oferta nada menos do que irrecusável, o jovem Pacheco não teve outra escolha senão 'fazer as malas' e mudar-se de 'armas e bagagens' para Lisboa, no Verão de 1987, para equipar de vermelho e branco. E se muitos jogadores nas mesmas condições têm uma entrada mais gradual na equipa, por forma a habituá-los ao desafio, já no caso de Pacheco, o impacto foi imediato, tendo o médio logrado participar em mais de três dezenas e meia de partidas logo na sua primeira época, e contribuído com seis golos.

3405047-8821332577-FPFImageHandler.ashx.jpg

Ao serviço da Selecção Nacional A.

Estava dado o mote para seis épocas a espalhar classe na zona intermédia benfiquista, sempre como peça-chave, durante as quais levantaria por duas vezes o troféu de Campeão Nacional (em 1988-89 e 1990-91), bem como uma Taça de Portugal e uma Supertaça, além de marcar presença em duas finais da então Taça dos Campeões Europeus (hoje Liga dos Campeões). Um autêntico 'conto de fadas', que estabeleceria Pacheco como um dos grandes ícones do clube encarnado, lhe carimbaria um lugar na Selecção Nacional A (que representaria seis vezes) e só viria a terminar no 'Verão quente' de 1993, fruto de um desentendimento com o então treinador do Benfica, Toni; pouco depois, os adeptos encarnados viam, com horror, Pacheco juntar-se ao colega de sector (e membro da 'Geração de Ouro') Paulo Sousa, e atravessar a Segunda Circular, ingressando no plantel do maior rival das 'águias', o Sporting.

images.jpg

Com a 'listrada' do maior rival benfiquista.

Embora muito lembrado em Alvalade, no entanto, duraria apenas duas épocas a estadia de Pacheco no referido estádio, tendo o médio sido praticamente 'carta fora do baralho' na segunda (a de 1994-95), após ter estado ao seu nível na época anterior, em que foi um dos infelizes intervenientes num dos mais famosos 'derbies' da História do futebol português. Ainda assim, e apesar das 'desavenças' com o treinador Carlos Queiroz, as três presenças do médio na sua segunda temporada de leão ao peito chegariam para adicionar novo título ao seu palmarés pessoal, com a conquista da Taça de Portugal, um ano depois de ter visto o seu antigo clube voltar a sagrar-se campeão. Em Alvalade, Pacheco foi, ainda, colega de nomes tão ilustres no 'reino do leão' como Balakov, Oceano, Iordanov, Cherbakov, Stan Valckx, Juskowiak, Jorge Cadete, Emílio Peixe, Amunike, Ricardo Sá Pinto ou mesmo Luís Figo, além de uma futura Cara (Des)conhecida, um promissor jovem de nome Nuno Valente

GJJhsJlWIAAPHDA.jpg

A homenagem do Belenenses, um dos vários clubes por que passou após deixar o Sporting.

Sem que ainda se soubesse, começava aí o declínio da carreira de Pacheco, que as épocas seguintes transformariam naquilo a que os britânicos chamam um 'journeyman' – um jogador que transita de clube em clube, sem nunca ter grande impacto em qualquer deles. Assim, foi decerto com tristeza que os fãs do médio viram um ex-internacional português ser peça 'periférica' dos plantéis de Belenenses, Santa Clara e Atlético, bem como da Reggiana, de Itália, que lhe proporcionou a primeira e única experiência 'fora de portas' – emblemas, note-se, que, pese embora o fugaz envolvimento com o jogador, não deixaram de lhe prestar homenagem aquando da notícia do seu falecimento.

mw-320.webp

A única 'aventura' do médio fora de Portugal foi em Itália, ao serviço da Reggiana, que também lhe prestou homenagem aquando da nota de falecimento.

Seria, pois, necessário esperar até à ponta final do Segundo Milénio para ver a carreira de Pacheco ganhar um 'segundo fôlego': uma boa época ao serviço do Estoril garantiu alguma visibilidade ao então já veterano médio, que contribuiu para a campanha dos 'canarinhos' com quatro golos em cerca de duas dezenas e meia de presenças.

mw-680 (2).webp

Com a camisola do Estoril-Praia, na sua 'última salva' enquanto futebolista profissional.

Não foi, no entanto, suficiente para revitalizar o interesse no jogador, que saía pela 'porta pequena' logo na época seguinte, novamente ao serviço do Atlético, clube no qual faria a transição para cargos técnicos, assumindo a posição de treinador. Seguir-se-ia nova experiência como técnico, agora na sua 'casa-mãe', o Portimonense, antes de o ex-futebolista decidir enveredar por novos rumos, com a abertura de um bar em Lagos, estabelecimento que viria a gerir até ao seu prematuro falecimento em Março de 2024.

Design-sem-nome.png

No papel de treinador.

Para a história fica uma carreira honrosa, mas algo prejudicada pelo temperamento rebelde, sem o qual Pacheco talvez tivesse conseguido inscrever o seu nome junto dos de alguns dos seus mais ilustres contemporâneos – o que não invalida que o médio seja, por direito próprio, uma das Lendas da Primeira Divisão portuguesa noventista. Que descanse em paz.

11.02.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Uma das grandes 'verdades implícitas' do futebol afirma que o melhor jogador das camadas jovens nem sempre será necessariamente o detentor da melhor carreira sénior; pelo contrário, na maior parte dos casos, uma mistura de falta de sorte, falta de oportunidade, imaturidade e factores externos acaba por condenar estes jovens a uma carreira não mais que honrosa, ou até mesmo ao 'esquecimento', bastando atentar nos famosos comentários de Cristiano Ronaldo sobre o colega de formação Fábio Paim para ter uma prova 'acabada' deste mesmo fenómeno.

Outro famoso exemplo, este cerca de uma década mais 'antigo', é o do jogador que recordamos este Domingo, apenas três dias após, aos cinquenta e dois anos, ter perdido a batalha contra a leucemia: um médio ofensivo (ou 'número dez') de consumado e reconhecido talento, Campeão do Mundo de sub-20 como parte da famosa 'Geração de Ouro', mas cuja carreira nunca logrou atingir os mesmos patamares das dos seus colegas de equipa na Selecção de Carlos Queiroz, incluindo a de um seu homónimo e colega de Selecção. Falamos de João Manuel de Oliveira Pinto, normalmente conhecido pelos seus dois apelidos, para o distinguir de dois homónimos contemporâneos: o histórico defesa-central do Porto com quem partilhava os dois nomes próprios, e o referido colega de posição na Selecção sub-20 de Lisboa '91, e futura estrela de Benfica e Sporting, João Vieira Pinto.

original.webp

O jogador ao serviço da Selecção

Formado nas então já célebres escolas do Sporting - onde foi campeão nacional de Juvenis e partihou o campo com nomes como Abel Xavier ou o futuro colega de Selecção Luís Figo - João Oliveira Pinto logrou vestir a camisola dos 'leões' apenas em uma ocasião, num jogo contra o Estoril a contar para a Taça de Honra de 1991/92, em que entrou como suplente, já na segunda parte; este efémero concretizar do sonho chegou já depois de um empréstimo ao Atlético lisboeta, então satélite do clube de Alvalade, onde o médio logrou realizar meras treze partidas antes do regresso a 'casa'.

664 - João Oliveira Pinto.jpg

O cromo da Panini dos tempos do Gil Vicente (crédito da foto: Cromo Sem Caderneta)

Treze seria, também, o número de encontros que João Oliveira Pinto disputaria na temporada seguinte, já desvinculado do seu clube formador e efectivo no Vitória de Guimarães 'europeu' de Pedro Barbosa, Paulo Bento, Dimas, Quim Berto e Nuno Espírito Santo – apenas o primeiro de uma longa lista de clubes pelos quais o médio passaria nas nove temporadas subsequentes. Logo na época seguinte à passagem por Guimarães, por exemplo, Pinto ingressava no mesmo Estoril Praia que defrontara no seu único jogo com a 'listada' verde e branca, marcando presença em trinta e um jogos, contribuindo ainda com um golo.

qpoi85fxnrzp.jpg

Com a camisola do Sporting de Braga.

Por sua vez, as boas exibições pelos 'canarinhos' valer-lhe-iam a transferência para o Gil Vicente, onde apenas na segunda época se lograria afirmar, com vinte e um jogos contra os quatorze de 1994/95, o suficiente para despertar o interesse do Braga de Quim e Karoglan. E se a primeira época na 'Pedreira' correu de feição, com vinte e seis presenças na equipa principal e um golo marcado, já a segunda veria o médio perder lugar no seio do plantel, figurando em apenas oito partidas no total da época. Estava, pois, na altura de novo 'salto', que levaria João Oliveira Pinto de um extremo ao outro do País, para assinar pelo Farense. Nova época em bom plano, com trinta e duas presenças no 'onze' e três golos (um recorde de carreira) suscitariam nova 'viagem', desta feita rumo às ilhas, para representar o Marítimo.

Joao-Oliveira-Pinto-860x484.jpg

O médio no Farense.

Na Madeira, o médio passaria duas épocas como elemento de 'rotação' (contribuindo, ainda assim, com vinte e quatro partidas e três golos) antes de, no final da primeira época completa do Novo Milénio, rumar à Académica, da então chamada Segunda Divisão de Honra. Apesar da temporada em relativamente bom plano, seria o primeiro de sucessivos 'passos atrás' na carreira, que veriam o outrora promissor médio passar de peça importante em históricos do escalão máximo do futebol nacional para reforço parcamente utilizado de clubes de ligas secundárias ou mesmo distritais, como o Imortal, Sesimbra, Amora (último clube onde se logrou impôr, com trinta presenças e dois golos na época 2003/04) e Alfarim, onde terminaria a carreira, já perto dos quarenta anos.

original (1).webp

João Pinto era, actualmente, dirigente do Sindicato dos Jogadores e delegado da FPF.

Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, João Oliveira Pinto não assumiu, após pendurar as botas, a carreira de treinador, embora se tivesse mantido ligado à Federação Portuguesa e Sindicato dos Jogadores do desporto do qual, em tempos, fora tido como uma das grandes esperanças, mas onde, fosse por que razão fosse, nunca se conseguira afirmar ao nível desejado. Ainda assim, a imagem que fica após a sua 'partida' é a de um jogador tenaz, talentoso, e a quem apenas faltou uma 'pontinha' de sorte para chegar a ser mais do que aquilo a que os britânicos se referem como um 'journeyman'; um caso, portanto, semelhante ao dos inúmeros outros jovens de que falávamos no início deste texto, e que deveria ser 'caso de estudo' para os mesmos nas Academias deste País, como símbolo de perserverança, esforço e ética profissional em prol da manutenção da carreira. Que descanse em paz.

28.01.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de ser o elemento que menos participa num jogo de futebol, o guarda-redes não deixa de ser uma figura tão ou mais digna de nota do que os seus companheiros de campo, não só por ser sua a responsabilidade directa de não deixar entrar golos na sua baliza, como também por constituir, muitas vezes, uma voz de comando dentro das quatro linhas, função para a qual é necessária uma personalidade muito particular; os melhores guarda-redes tendem, pois, a ser figuras carismáticas e até um pouco excêntricas, às quais seria impossível passar despercebidas em campo.

Os anos 90 não foram, de todo, excepção neste particular, antes pelo contrário; até o adepto mais 'distraído' seria capaz de nomear pelo menos uma dúzia de guardiães memoráveis do futebol da época, tanto a nível interno como internacional. De Bento, Baía, William e Preud'Homme a Schmeichel, Chilavert, Rogério Ceni, Taffarel, Barthez, Songo'o ou Peruzzi – para citar apenas alguns dos nomes mais destacados – é longa a lista de 'figurões' responsáveis pela defesa das balizas das maiores equipas da época.

A esta lista há, também, que juntar o nome de um cabo-verdiano naturalizado português, o qual – não fosse a morte prematura, a poucos meses de completar sessenta anos – teria celebrado este fim-de-semana o seu aniversário, talvez fomentando a sua 'segunda paixão' através de uma sessão de 'karaoke'.Falamos de Adelino Augusto da Graça Barbosa Barros, mais conhecido na cultura popular portuguesa pelo apelido de Neno, o lendário guardião das balizas de Benfica e Vitória de Guimarães durante as épocas de 80 e 90 que era tão conhecido pelo seu sorriso 'de gaiato' como pela sua apetência para o canto, que lhe valia as alcunhas de 'guarda-redes cantor' e 'Julio Iglesias português', tendo-lhe mesmo valido uma presença em palco ao lado desse seu ídolo.

download.jpg

No clube que o notabilizou.

Nascido em Cabo Verde, mas formado nas escolas do histórico Barreirense, Neno passaria os seus três primeiros anos de sénior com as cores do conjunto alvirrubro, afirmando-se como guardião titular na sua segunda época completa, ainda antes de completar vinte anos. As boas exibições durante as duas temporadas seguintes valer-lhe-iam o interesse de um outro clube alvirrubro, este de maior dimensão, e a subsequente transferência no início da época 1983/84.

Neno nem chegaria, no entanto, a 'aquecer o banco' do Benfica antes de regressar ao Barreiro, agora por empréstimo, para ali realizar mais uma época. A temporada seguinte veria o guardião ser novamente emprestado, desta feita ao Vitória de Setúbal, onde se voltou a impôr, realizando vinte e cinco partidas. Seria o último empréstimo da carreira do guardião, que, na época 1985/86, seria reintegrado no plantel das 'Águias', embora apenas como opção de banco ao titularíssimo Manuel Bento. Passar-se-iam assim duas temporadas, após as quais Neno decidiu dar novo rumo à sua carreira, e aceitar a proposta do Vitória de Guimarães.

89263.jpg

Com a camisola do Guimarães.

E o mínimo que se pode dizer é que essa foi uma opção acertada, já que – após uma primeira época com pouco espaço – Neno viria a tornar-se num 'histórico' dos alvinegros, cujas cores defenderia durante o resto da década de 80 e nos primeiros meses da de 90, sempre como titular. Esta boa fase da carreira valer-lhe-ia o 'regresso a casa' em inícios da temporada de 1990/91, desta vez como figura bastante mais destacada dentro do plantel, contestando a posição de primeira escolha para a baliza encarnada com Silvino, e sendo mesmo o titular indiscutível durante a época de 1993/94, que viu o Benfica sagrar-se campeão nacional.

Infelizmente para Neno, a chegada à Luz, em 1994, de outra figura incontornável da História das 'Águias', o lendário Michel Preud'Homme, viu o cabo-verdiano ser novamente relegado para uma posição secundária e de 'banco'. Face a este retrocesso na carreira, o guardião não hesitaria em fazer 'ouvidos moucos' ao provérbio popular e regressar ao lugar onde já fora feliz, voltando a assinar pelo Vitória de Guimarães no Verão de 1995, exactos cinco anos após ter deixado o Estádio D. Afonso Henriques. Seguir-se-iam mais duas épocas como titular indiscutível da baliza vimaranense antes de, já com idade avançada, o cabo-verdiano se ver forçado a aceitar nova posição como 'segunda escolha', a qual ocuparia durante as quatro últimas épocas da sua carreira – duas delas passadas na equipa de Veteranos do clube – antes de 'pendurar' oficialmente as chuteiras, já no Novo Milénio, aos trinta e nove anos de idade.

Esta seria, normalmente, a fase da carreira de um futebolista moderno em que o mesmo enveredaria por um cargo técnico, potencialmente num dos clubes 'do coração'; em inícios do Novo Milénio, no entanto, tal opção não era, ainda, tão comum, e como tal, Neno contentar-se-ia com uma vida pacata na zona da Polvoreira, em Guimarães, cidade que o conquistara a ponto de ali se estabelecer durante as duas últimas épocas da sua vida, até a doença o 'levar' prematuramente no Verão de 2021. Como legado, o luso-caboverdiano deixava duas décadas como um dos melhores e mais reconhecidos guarda-redes dos campeonatos nacionais da Primeira Divisão (tendo, inclusivamente, sido escalonado por nove vezes para defender as cores da Selecção Nacional, entre 1989 e 1996), e uma reputação como cantor que lhe valera, inclusivamente, a gravação de um álbum musical, em 1999. Que descanse em paz.

14.01.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Já aqui anteriormente aludimos a jogadores que atingiram o sucesso em dois ou mais dos chamados 'três grandes' portugueses. Apesar de a referida lista não ser, de modo algum, extensa, é ainda relativamente fácil, mesmo para o adepto mais 'distraído', recordar nomes como Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma, João Moutinho, Zlatko Zahovic ou – mais distanciados no tempo – João Vieira Pinto, Mário Jardel, Paulo Bento ou Sergei Yuran. O futebolista que abordamos este Domingo – por ocasião do seu quinquagésimo-segundo aniversário – alia a sua presença nessa lista a um estatuto de 'Grande dos Pequenos' que só lhe é negado, precisamente, pelo facto de ter jogado em ambos os lados da Segunda Circular lisboeta.

15711_med_rui_bento.jpg

Um jovem Rui Bento em início de carreira ao serviço do Benfica.

Isto porque Rui Fernando da Silva Calapez Patrício Bento – médio-defensivo algarvio integrante oficial da Geração de Ouro campeã de sub-20 em 1991 e da equipa Olímpica de Atlanta 1996, e um dos dois 'Bentos' a ganhar fama nessa posição durante a década de 90 – passou a grande maioria da sua carreira, não na Lisboa onde se formara para o futebol, mas na capital rival, onde envergou a 'malha' axadrezada do histórico Boavista, então em meio a uma das melhores fases da sua ilustre História.

c7561225-c701-496e-917c-217c2242b6c9_508x515.jpg

Bento com a camisola que o celebrizou

Contratado ao Benfica no início da época 1991/92após uma temporada em que foi elemento importante do plantel, e que de forma alguma faria prever tal transferência – o médio de 'trunfa' encaracolada apenas viria a deixar o Bessa exactas dez épocas depois, já com estatuto de lenda viva e histórico do clube, para ingressar no terceiro emblema da sua carreira (e segundo 'grande'), onde ainda chegaria a tempo de - ao lado do 'outro' Bento e dos referidos Ricardo Quaresma, Mário Jardel e João Vieira Pinto, além de colegas de Selecção como Dimas e Rui Jorge - ser peça-chave na conquista do segundo título de Campeão Nacional em três anos, ainda hoje o intervalo entre títulos mais curto para o Sporting da era moderna. Curiosamente, Bento chegava a Alvalade já com estatuto de campeão, tendo feito parte integrante do inédito e histórico triunfo do Boavista na época transacta.

300px-Ruibento4.jpg

O médio no Sporting.

Seguir-se-iam mais duas épocas em Alvalade, ao longo das quais Rui Bento assistiria em 'primeira mão' ao despontar do maior talento de sempre no futebol português (o médio encontrava-se, aliás, em campo quando Cristiano fez o primeiro, e impressionante, golo da sua carreira sénior, frente ao Moreirense) antes de perder preponderância como consequência da idade, dando lugar a novos talentos na zona central. Para trás ficavam mais de uma dúzia de temporadas como jogador sénior, das quais apenas a primeira e a última não o tinham visto actuar como peça preponderante da equipa em que militava – um registo mais do que honroso para aquele que foi, simultaneamente, um dos principais nomes da Primeira Divisão portuguesa noventista, e um dos seus mais discretos.

FPFImageHandler.png

Ao serviço da Selecção Nacional.

Tal como tantos outros nomes que figuram nesta rubrica, também Rui Bento não deixou que o 'pendurar de botas' equivalesse ao seu 'fim' para o futebol, transitando para cargos técnicos após o final da carreira, nomeadamente para o de treinador. Académico de Viseu, Barreirense e Penafiel proporcionaram ao ex-médio defensivo as suas primeiras experiências profissionais nessa categoria, antes de o mesmo ser contactado pelo 'seu' Boavista, no início da época 2008-2009. Infelizmente, a passagem de Bento pelo Bonfim como treinador ficaria muito longe da que fizera enquanto jogador, durando apenas um ano, após o qual o ex-internacional português seria destacado pela Federação Portuguesa de Futebol para o cargo de Seleccionador Nacional sub-17; a estadia neste cargo seria, no entanto, novamente curta, tendo Rui Bento rapidamente regressado ao universo clubístico, para treinar o Beira-Mar.

1687353174.jpg

Bento na sua posição actual como treinador do Kuwait.

Em Aveiro, o ex-médio mal chegaria a aquecer o banco, antes de embarcar na primeira 'aventura' no estrangeiro de toda a sua vida, assumindo o comando do Bangkok United, do campeonato tailandês; mais uma vez, no entanto, a estadia de Bento na Ásia duraria apenas uma época, tendo o ex-internacional português regressado ao seu país-natal no Verão de 2015 para treinar o Tondela, antes de reassumir o cargo de seleccionador das camadas jovens, em 2016. Durante os seis anos seguintes, Bento trabalharia com todos os escalões entre sub-17 e sub-20, antes de ser promovido a seleccionador sénior...da Selecção do Kuwait, cargo que actualmente desempenha. Um posto algo aquém do que a sua carreira como jogador mereceria, talvez, mas que consegue ser, simultaneamente, discreto e essencial para o desempenho da equipa – precisamente como o era Rui Bento enquanto jogador de campo. Parabéns, e que conte ainda muitos.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub