01.03.23
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.
E numa altura em que se assinala (infelizmente) um ano sobre o início da guerra na Ucrânia, faz sentido relembrar outro conflito que marcou os anos noventa, e cujo término se deu há quase exactamente trinta e dois anos. Falamos da Guerra do Golfo, o segundo conflito a envolver o Iraque no espaço de poucos anos, depois da escaramuça com o Irão que devassara o país durante a maior parte da década anterior. Esta segunda ofensiva tinha, no entanto, um adversário diferente (o outro país vizinho do Iraque, o Kuwait) e acabou por se revelar bem mais curta, durando, no total, pouco mais de seis meses – tempo ainda assim suficiente para deixar o conflito marcado na memória colectiva das três gerações que a viveram directamente, mesmo da que era demasiado nova para ter a percepção exacta do que se passava naquela terra distante.
Montagem de momentos da guerra.
Iniciada a 2 de Agosto de 1990 – data em que o Iraque invadiu e conquistou o Kuwait – esta ofensiva teria, de imediato, a intervenção da ONU, que impôs as habituais sanções económicas ao país governado por Saddam Hussein, ao mesmo tempo que o Reino Unido e os EUA enviavam tropas para o Médio Oriente a fim de auxiliar o exército kuwaitiano. E apesar de a esmagadora maioria dos soldados que formaram a chamada 'coalisão' terem mesmo sido norte-americanos, mais de trinta países seguiram o exemplo de George Bush pai, destacando-se de entre estes a França, a Arábia Saudita (também grande financiadora das tropas 'aliadas'), o Egipto e, sim, também Portugal. O financiamento do próprio governo kuwaitiano, bem como do Saudita, permitiu ainda a aquisição de novas tecnologias que viriam a alterar o rumo do conflito, como aviões 'camuflados', bombas inteligentes, e outras armas até então exclusivamente do domínio dos videojogos de ficção científica futurista.
Estes revolucionários recursos, bem como a estrondosa mobilização de homens para a frente de combate, permitiram à 'Coalisão' obter uma vitória rápida e avassaladora sobre as forças de Saddam Hussein, tendo o conflito em si durado apenas cinco semanas - entre 17 de Janeiro e 24 de Fevereiro de 1991 - com apenas um total de cem horas de ofensiva terrestre, tendo a restante guerra sido travada sobretudo pelo ar. Nem mesmo a tentativa de envolver Israel – jogando com as tensões entre aquele país e a maioria das nações que constituía a força aliada – conseguiu evitar a derrota do exército Iraquiano, tendo os objectivos militares da 'coalisão' sido declarados como atingidos no último dia de Fevereiro daquele ano – há quase exactamente trinta e dois anos atrás.
Apesar de curta, no entanto, esta guerra foi alvo de extensa cobertura mediática (como, aliás, sempre acontece neste tipo de situações) e grande parte dos portugueses hoje na casa dos trinta e muitos a cinquenta e poucos anos terão, certamente, memórias mais ou menos difusas de verem na televisão, durante o Telejornal, cenas e reportagens sobre o conflito, narradas pelo icónico Artur Albarran, o que torna quase obrigatório este pequeno resumo do mesmo por alturas do 'aniversário' do seu término.
Artur Albarran, o jornalista que ficaria associado à Guerra do Golfo na mente dos portugueses.
Infelizmente, as guerras que se seguiriam não teriam, nem de longe, um desfecho tão célere nem um final tão 'feliz' – mas isso já são outras histórias; por agora, fica a recordação de um dos primeiros conflitos de que a geração de finais dos 70 e inícios dos 80 terá memória.