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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

27.05.23

NOTA: Por motivos de relevância temática, este Sábado será de Saídas, e não de Saltos.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Apesar da sua rica História de descobertas e desbravamento de Mundos, Portugal não se tem, em épocas mais recentes, notabilizado pela 'exportação' de talentos (à excepção de nomes óbvios como Cristiano Ronaldo ou Salvador Sobral) nem por quaisquer feitos particularmente notáveis no campo da inovação ou internacionalização. Uma das poucas excepções a este paradigma – senão mesmo a única – teve lugar há quase exactamente vinte e cinco anos, e conseguiu, durante três meses e meio entre o final da Primavera e o início do Verão, colocar os olhos do Mundo em Portugal – e também, naturalmente, atrair visitantes de todos os cantos do Mundo.

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Falamos, é claro, da Expo '98, que já há um ano aqui abordámos, aquando dos vinte e quatro anos da sua abertura, mas cujo vigésimo-quinto aniversário também não podíamos deixar de assinalar, até por se tratar de um daqueles números que, sem serem 'redondos', não deixam ainda assim de ser marcantes.

Inaugurada a 22 de Maio de 1998 – tendo, portanto, atingido o referido marco na passada Segunda-feira – a última exposição mundial do século gozou de enorme sucesso entre o público, não só dentro de portas como internacionalmente, tendo sido consensualmente considerado um certame bem organizado, e capaz de lidar com as inevitáveis filas que se formavam, diariamente, à saída de pavilhões como o de Macau (com a sua recriação de um jardim chinês), de Portugal, da Realidade Virtual (onde só os mais 'valentes', pacientes ou sortudos conseguiam entrar, tal era o tempo de espera) ou do Conhecimento, alojado na infra-estrutura mais tarde conhecida como Pavilhão Atlântico, MEO Arena, e (actualmente) Altice Arena.

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O Pavilhão da Realidade Virtual atraía as maiores filas, devido ao seu bem conseguido espectáculo audio-visual.

Estava aí, aliás, um dos grandes trunfos da Expo '98, nomeadamente em relação à sua antecessora, organizada pelo país vizinho seis anos antes – enquanto que a área delimitada para a exposição de Sevilha '92 se encontrava ainda, à época, ao abandono, a Expo portuguesa viria, após o encerramento do certame, a contribuir com inúmeras infra-estruturas para a malha urbana portuguesa, a esmagadora maioria das quais se encontra, ainda hoje, activa e a uso: além da Altice Arena, locais como a Gare do Oriente (e respectiva estação de Metro), o 'shopping' Vasco da Gama, o Oceanário ou o próprio espaço da exposição em si – hoje chamado Parque das Nações – fazem parte do quotidiano de qualquer lisboeta, num exemplo admirável (e raro) de integração urbana.

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A Gare do Oriente, um dos vários contributos da exposição para a malha urbana lisboeta.

Esse está, no entanto, longe de ter sido o único triunfo da Expo '98 - embora se afirme como o principal legado da mesma; a par da Fundação Gil e da respectiva Casa, situada no bairro de Alvalade, em Lisboa - a exposição em si oferecia muito que ver aos visitantes (ainda que a preços algo 'inflacionados') com atractivos que iam bem além dos cinco ou seis pavilhões 'da moda', e se estendiam a restaurantes tematizados aos diversos países (como o lendário restaurante americano, com as suas fatias de 'pizza' do comprimento de um antebraço) e a periódicos eventos, normalmente com lugar na Praça Sony, com o seu ecrã gigante (que servia, também, como um excelente ponto de referência a quem se procurasse orientar durante as visitas); de concertos à exibição de jogos do Mundial de França, foram muitos, e bem marcantes, os tipos de evento de que os visitantes da Expo puderam disfrutar, caso se encontrassem no recinto à data e hora certa, claro está.

No cômputo geral, foi um Verão inteiro de grande animação, em que o certame foi local de visita praticamente obrigatória, fosse com a família ou com a escola, e em que o tema dos oceanos e dos Descobrimentos foi utilizado para, sob o auspício do simpático Gil, mascote da exposição, e da namorada Docas (duas ondas antropomórficas cujos nomes evocam, precisamente, as viagens maritimas da época Renascentista portuguesa) promover a multi-culturalidade, a interacção com outras culturas, e ainda conceitos como a ecologia e a protecção dos recursos naturais.

A vinte e cinco anos de distância, além das memórias, fica a certeza de um momento áureo na História moderna portuguesa, que afirmou este País de brandos costumes à beira-mar plantado como tão bom organizador de eventos (ou melhor) que muitos dos seus congéneres de maior projecção internacional – uma fama que o País viria, aliás, a cimentar meia-dúzia de anos depois, já no Novo Milénio, aquando do Campeonato Europeu de Futebol de 2004, um evento para o qual talvez não tivesse sido considerado não fosse o estrondoso sucesso do certame que ora completa um quarto de século. Por essas e outras razões, vale bem a pena recordar o evento que demorou a 'sair do chão', foi alvo de muitas piadas e chacota à época, mas conseguiu calar todas as dúvidas, e afirmar-se como um dos mais importantes momentos da História portuguesa contemporânea.

 

20.05.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

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Em finais do século XX e inícios do seguinte – e ainda, até certo ponto, hoje em dia - a chegada do bom tempo, e fim (quase) definitivo da época das chuvas primaveris em Portugal era o mote para o aparecimento, tanto nas cidades e vilas como em localidades mais recônditas, de feiras de diversões itinerantes, as quais – tal como acontecia com os circos nos meses invernais – 'assentavam arraiais' durante um período de algumas semanas (ou, por vezes, até apenas de alguns dias) antes de seguirem caminho rumo ao seu próximo destino. Escusado será dizer que, para quem não morava em Lisboa e não tinha, portanto, acesso a uma Feira Popular durante a maior parte do ano, este tipo de estrutura constituía um verdadeiro 'acontecimento', atraindo inevitavelmente a população jovem da área onde surgia – e, por vezes, até alguns visitantes mais 'crescidos', aliciados pelas diversões mais 'de risco' oferecidas por este tipo de feiras.

A razão para este sucesso era evidente, e traduzia-se numa combinação de oferta e 'timing', Muitas vezes montadas para coincidir com as Festas da localidade a que chegavam (embora nem sempre fosse esse o caso) estas feiras ofereciam à juventude da área diversões de feira a que a mesma dificilmente teria, de outro modo, acesso, como o barco pirata oscilante, os carrinhos de choque, as cadeiras voadoras, o comboio-fantasma, e pelo menos uma atracção que implicasse subir a grande altura e cair abruptamente até ao solo, fosse qual fosse a sua configuração; as companhias mais endinheiradas ou elaboradas poderiam, mesmo, dispôr de uma roda gigante ou montanha-russa, tornando a perspectiva de uma Saída de Sábado à noite ainda mais atractiva para o público-alvo.

Infelizmente, tal como sucede com muitas das outras excursões e atracções de que aqui falamos, as crescentes preocupações com a segurança e a criação de novos regulamentos relativos às diversões de feira vieram restringir significativamente tanto o alcance como a frequência deste tipo de companhias itinerantes, que se vêem hoje muito reduzidas tanto em número como na variedade de atracções de que podem dispôr; naqueles tempos mais simples de finais do Segundo Milénio, no entanto, este tipo de feira de diversões temporária veio alegrar o final do ano lectivo e início de férias de muitas crianças e jovens, fornecendo-lhes uma Saída de Sábado diferenciada e bem demarcada da rotina quotidiana, e que, como tal, terá certamente criado memórias nostálgicas indeléveis na geração que com elas conviveu.

06.05.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Apesar de fazer parte da cultura de países como os Estados Unidos desde há quase três-quartos de século, o conceito de 'fast food' – estabelecimentos alimentares especializados em pratos com alto teor calórico e pouco valor nutritivo, mas que podem ser adquiridos e consumidos em meros minutos – demorou várias décadas a expandir-se até ao Sul da Europa, e a Portugal em concreto; de facto, seria apenas no início dos anos 90 que a juventude lusitana teria ensejo de descobrir todo um rol de estabelecimentos que os seus contemporâneos do outro lado do Atlântico tomavam já como garantidos, e que, apesar do 'atraso' na travessia do referido oceano, rapidamente viriam também a 'cair no gosto' dos jovens ibéricos.

Como não podia deixar de ser, esta 'investida' foi liderada por aquela que talvez continue a ser a maior (e, decerto, mais conhecida) de todas as cadeias de 'fast food', que 'desbravaria' caminho para a chegada posterior de todas as suas congéneres. A primeira 'experiência' teve lugar em Cascais, nos arredores de Lisboa, naquele que era, à época, o maior 'shopping' em Portugal, o CascaiShopping; seria aí que, logo no primeiro ano da última década do século XX, o 'infame' McDonald's viria a abrir o seu primeito estabelecimento em território nacional, despertando de imediato o interesse de toda uma geração de jovens, para quem as 'casas de hambúrgeres' 'à americana' eram, até então, conceitos existentes apenas no cinema oriundo daquele continente.

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O primeiro McDonald's a abrir em Portugal surgiu na região de Cascais

O sucesso deste primeiro restaurante (pese embora a sua localização algo específica) foi suficiente para encorajar outras cadeias a seguir o exemplo da cadeia de Ronald McDonald, sendo que, ainda no mesmo ano, a zona das Picoas, no centro de Lisboa, veria 'aterrar' o primeiro estabelecimento de outra famosa companhia do ramo, a Pizza Hut – o qual, aliás, se mantém aberto, na mesma localização, até aos dias de hoje. No ano seguinte, seria a vez de o próprio McDonald's expandir a sua base de operações com um segundo restaurante, agora também na zona nevrálgica da capital – e, curiosamente, a curta distância do da concorrente Pizza Hut. Em 1992, a espanhola Telepizza 'alargar-se-ia' tambem ao país vizinho, destacando-se de imediato pelo diferencial significativo de preços em relação à Pizza Hut, e a partir daí, estava dado o mote para a entrada, durante os dez a quinze anos seguintes, de inúmeras outras cadeias internacionais, como a KFC (chegada a Portugal em 1996), bem como para o aparecimento de cadeias de 'fast-food' de origem nacional, como o a famosa Pans Co, mais conhecida por Companhia das Sandes.

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Foto contemporânea da primeira Pizza Hut a abrir em Portugal, ainda hoje situada na mesma localização.

À entrada para o século XXI, os jovens portugueses tinham, assim, já muito por onde escolher neste campo, com a maioria das grandes cadeias a marcarem presença nas principais localidades nacionais, com principal ênfase nos diversos 'shoppings' surgidos de uma assentada nos últimos anos da década de 90; a 'investida' dos 'fast-foods' estava, no entanto, longe de estar concluída, tendo as duas primeiras décadas do Novo Milénio visto chegar a Portugal companhias como a Starbucks e a Taco Bell, prontas a satisfazer não só os locais como os cada vez mais estrangeiros radicados ou de visita ao país. Mais – esta tendência não mostra sinais de abrandar, deixando a certeza de que, aconteça o que acontecer e mude o mundo como mudar, as gerações presentes e vindouras não deixarão, certamente, de poder contar com restaurantes de logotipo, menus, mesas e cadeiras coloridos, especialistas em 'dispensar' quantidades inacreditáveis de 'comida de plástico' por hora, para deleite dos seus jovens clientes...

22.04.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

A segunda quinzena do mês de Abril, depois das férias da Páscoa, marca não só a entrada para o terceiro e último período do ano lectivo português (pelo menos em anos não-pandémicos) como também a altura em que os alunos do décimo-segundo ano ou aqueles no último ano do curso universitário começam a planear a sempre antecipada viagem de finalistas. Os anos 90 não eram excepção – antes pelo contrário, as viagens de finalistas eram eventos de ainda maior monta do que o são hoje em dia.

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Exemplo moderno, mas bem típico, de um cartaz informativo sobre a viagem de finalistas.

Isto porque, como já aqui mencionámos anteriormente, o acto de viajar para o estrangeiro era consideravelmente mais moroso e dispendioso naquela época do que o é hoje em dia, pelo que a viagem de finalistas representava, para muitos jovens, a principal e melhor ocasião para conhecer locais diferentes e ter experiências de férias distintas das habituais; assim, não é de admirar que a maioria dos adolescentes e universitários portugueses investisse considerável interesse no referido evento, e que este se afirmasse como um marco dos dois anos lectivos em que decorria.

Tal era a ânsia de embarcar nessa 'aventura', aliás, que havia até quem antecipasse a mesma para as férias da Páscoa, normalmente com o fim de organizar uma ida 'à neve' antes da chegada declarada da Primavera; regra geral, no entanto, os destinos escolhidos eram consideravelmente mais solarengos, com o Sul de Espanha, o Brasil, e localidades então muito em voga, como Cancún, a surgirem normalmente à cabeça das listas elaboradas pela Associação de Estudantes. Isto porque, além do óbvio atractivo de passar uma ou duas semanas numa praia tropical, este tipo de viagens tendia, também, a facilitar os 'excessos' típicos da juventude, alguns dos quais acabavam mesmo mal para as turmas envolvidas, prejudicando mesmo, por vezes, a reputação da própria escola.

Este tipo de incidente era, no entanto, definitivamente a excepção à regra; a maioria das viagens de finalistas tendiam a decorrer sem incidentes de maior, e a cumprir o seu objectivo de deixar memórias indeléveis aos jovens que nelas tomavam parte. E apesar de os trinta anos seguintes terem tornado as viagens ao estrangeiro tão fáceis que quase se podem considerar triviais, é de crer que este continue a ser um evento causador de tanto entusiasmo e antecipação junto da chamada 'Geração Z' como o foi para a dos seus pais...

08.04.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Há trinta anos atrás, quando a geração que lê este blog era criança ou adolescente, o fim-de-semana que ora se assinala marcava, para eles, não só a festa da Páscoa como também um evento quase tão importante: o ponto médio das férias de Primavera, as quais levavam normalmente o mesmo nome do feriado religioso. Era altura de expôr, na escola, os desenhos primorosamente pintados de ovinhos e coelhinhos (e aquele do aluno criativo - ou espertinho - que dava o seu próprio toque à ilustração com um esquema de cores rocambolesco) e de deixar as aulas durante duas semanas (mesmo tempo das férias do Natal, mais uma semana que as anteriores, do Carnaval) para ir 'encher a barriga' de ovos de chocolate junto da família, fosse em casa ou num qualquer destino de férias.

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De facto, apesar de ocorrer com menos frequência do que nas férias do Verão (ou 'férias grandes') ou mesmo do que no Natal, havia quem não deixasse de aproveitar a Páscoa para rumar a outro destino que não apenas a casa de todos os dias, ou o lar de familiares próximos, sendo os locais escolhidos os do costume naqueles idos de finais do século XX, desde a casa dos primos no campo até locais de maior destaque, como estâncias de férias ou pontos turísticos no estrangeiro. Fosse qual fosse o destino, no entanto, algumas coisas nunca mudavam: havia sempre chocolates quase à discrição (fossem ovos, amêndoas ou qualquer outro dos doces tradicionais da época) e quem era crente não deixava de ir à missa, mesmo que esta tivesse de ser ouvida em Francês.

Ao contrário da maioria dos assuntos que abordamos neste nosso blog, este período do ano sofreu muito poucas alterações desde aqueles tempos; os destinos turísticos hoje são outros, e é possível falar com familiares sem necessariamente ter que os visitar (graças aos telemóveis e a plataformas como o Zoom e Skype), mas os aspectos-base das férias da Páscoa dos jovens de hoje em dia são, de um modo geral, os mesmos que fizeram os seus pais ansiar por esta época do ano, e sentir-lhe a falta quando ela terminava, e que farão, decerto, a próxima geração sentir-se da mesma maneira sempre que o calendário chega a finais de Março ou inícios de Abril...

25.03.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Na última Saída de Sábado, abordámos a chegada a Portugal da FNAC, uma das poucas cadeias de venda de artigos tecnológicos e multimédia ainda resistentes no País. No próprio dia em que dedicávamos algumas linhas à cadeia francesa, no entanto, faltavam menos de vinte e quatro horas para se celebrar o aniversário de uma outra loja muito semelhante, também ela ainda hoje presente nas grandes superfícies nacionais e que, de facto, é praticamente dois anos mais velha do que a FNAC Portugal; assim, seria omisso da nossa parte não dedicar algumas linhas à grande 'concorrente' da cadeia francesa em solo português, a Worten.

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Inaugurada a 12 de Março de 1996, como subsidiária do poderoso grupo Sonae (hoje Sonae Continente) a Worten pode ser considerada a cadeia-irmã do popular hipermercado, de enfoque menos generalista e mais centrado na electrónica e multimédia (daí as comparações com a FNAC). Ainda que sem a facilidade em obter livros importados da concorrente, a cadeia compensava esta 'falha' oferecendo preços ainda mais competitivos que os da companhia francesa (ou outros concorrentes da época, como as lojas Singer, de que também aqui em tempo falaremos), tornando-se assim, rapidamente, o local de aquisição de electrodomésticos por excelência do consumidor nacional.

Curiosamente, e ao contrário do que aconteceu com a concorrente (cuja primeira loja abriu num 'shopping' em plena Lisboa) a Worten expandir-se-ia, não a partir das grandes capitais portuguesas, mas da vila de Chaves, tendo só depois 'rumado' a Sul, rumo à capital. Uma vez iniciada, no entanto, essa expansão deu-se de forma por demais célere – apenas alguns anos após a sua fundação, por alturas da viragem do Milénio, a Worten era já parte do 'cenário' em centros comercials e lojas Modelo e Continente de Norte a Sul do País, paradigma que se mantém até hoje.

A forte presença em território nacional incentivou, aliás, Belmiro de Azevedo a expandir a área abrangente do seu negócio até ao país vizinho, tendo a Worten adquirido não uma, mas duas cadeias comerciais espanholas, num total de cerca de meia centena de lojas. Ao contrário do sucedido em Portugal, no entanto, esta 'aventura' não se saldou pelo sucesso, tendo a estadia da Worten como grande cadeia em Espanha durado pouco mais de uma década, e saldando-se a presença actual da loja de Belmiro de Azevedo no outro país ibérico em pouco mais de uma dezena e meia de lojas, a esmagadora maioria das quais situada nas Ilhas Canárias, último grande 'reduto' da rede Sonae em Espanha; curiosamente, grande parte das restantes lojas da franquia foram vendidas a outro grupo comercial bem conhecido dos portugueses, no caso o MediaMarkt.

Em Portugal, no entanto, a Worten continua a somar e seguir, até por o seu nicho de especialização ser um dos poucos em que a procura é constante, e a avaliação física do produto particularmente importante; enquanto este paradigma se mantiver (e enquanto o grupo MC Sonae Continente mativer a sua pujança no panorama comercial português) é de esperar que muitas crianças e jovens portugueses continuem a desfrutar de Saídas de Sábado periódicas à 'loja de electrodomésticos do Continente'.

11.03.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Em inícios da década de 90, o comércio em Portugal era, ainda, de índole sobretudo local; as primeiras grandes superfícies apenas viriam a surgir já em meados da década, e os 'shoppings' perto do final da mesma, sendo a maioria das lojas (excepção feita aos supermercados, claro) ainda especializada e dedicada a apenas uma vertente - fosse ela a venda de discos, livros, brinquedos e artigos do dia-a-dia ou até algo como o aluguer de filmes - e localizada na rua ou em pequenas galerias comerciais de bairro.

No entanto, à medida que os referidos espaços de maiores dimensões iam capturando cada vez mais o coração dos portugueses, algumas destas empresas mais especializadas começaram, também, a vislumbrar uma oportunidade de expandir o seu negócio, não tanto através da diversificação da sua oferta, mas sobretudo mediante a abertura de lojas maiores, muitas das quais situadas nesses mesmos espaços comerciais. A pioneira, neste aspecto, foi a multinacional Virgin, cuja icónica Megastore, localizada em Lisboa, será paulatinamente alvo de 'post' próprio e cujos passos foram, alguns anos depois, seguidos pela Valentim de Carvalho, espécie de 'versão nacional' da companhia inglesa. No entanto, ambas estas companhias operavam em espaços próprios; a primeira a verdadeiramente aproveitar e explorar as potencialidades da localização em 'shoppings' ou hipermercados foi uma empresa francesa, sobre cuja presença em Portugal se celebrou há pouco mais de uma semana e meia um quarto de século.

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Falamos, é claro, da FNAC, cuja primeira loja em território nacional abria com pompa e circunstância (e filas de 'quilómetros' à porta) no Centro Comercial Colombo, onde, aliás, ainda hoje se mantém. A proposta era simples, e não muito distante da da Virgin e Valentim, embora mais abrangente, sendo que aos tradicionais CDs e DVDs musicais vendidos pela concorrência, a 'novata' juntava ainda livros (em edição nacional e estrangeira), jogos de computador e consola, e até algum material tecnológico, sobretudo centrado nas áreas da música e da fotografia. Mais tarde, esta oferta viria a tornar-se ainda mais alargada, sendo que, além dos artigos supracitados, a FNAC oferece hoje em dia também 'merchandise' alusivo a filmes e artistas musicais, e ainda os famigerados bonecos de vinil Funko, afirmando-se como um verdadeiro espaço agregador de produtos da vertente multimédia e voltados à cultura pop.

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A primeira loja nacional da marca abriu no Centro Comercial Colombo, em Lisboa.

Nos idos de 1998 e anos subsequentes, no entanto, a reputação da companhia francesa era algo diferente, tornando-se a mesma local de romaria para clientes mais 'intelectuais', pela facilidade em encontrar ou encomendar nas suas lojas artigos raros ou importados, de outra forma inacessíveis aos consumidores nacionais; haverá decerto, entre os nossos leitores, quem tenha tirado partido desta característica para conseguir 'aquele' disco, livro ou filme que não havia em mais lado nenhum...

Este não era, no entanto, o único atractivo da FNAC, que oferecia ainda empregados extremamente versados nas áreas de especialização da loja (muitos deles com carreiras musicais), preços competitivos, promoções ainda melhores que as das concorrentes (sendo possível encontrar discos a cinquenta cêntimos ou um euro, caso os mesmos fossem para 'escoar') e uma estrutura extremamente organizada e fácil de navegar, com secções claramente delimitadas que facilitavam a procura direccionada e reduziam o tempo passado a 'andar às voltas' na loja. Assim, não foi de estranhar que a loja gozasse de sucesso imediato em Portugal, não tardando a surgir em outras localizações um pouco por todo o País, com especial incidência nas grandes cidades.

Hoje em dia, a FNAC tem o mérito de ser a 'última resistente' das lojas de multimédia, resistindo ainda e sempre ao invasor, à boa maneira do seu compatriota Astérix, o Gaulês; no entanto, até mesmo esta cadeia tem vindo a sofrer com a rápida obsolescência dos suportes multimédia fixos, tendo muitas das suas lojas adoptado um modelo menos expansivo e mais contido, por oposição aos verdadeiros repositórios de multimédia que eram nos seus tempos áureos. Quem viveu esse mesmo período, no entanto, recordará sempre a FNAC pelo que ela foi, pela 'pedrada no charco' que representou no sector das vendas de multimédia, e pela experiência única que ir a uma das suas lojas proporcionava. Parabéns atrasados, FNAC, e obrigado por tudo.

25.02.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Qualquer criança ou jovem dos anos 90 apreciava uma boa ida às compras, fosse com familiares ou, quando mais velho, com os amigos. O aparecimento, durante a referida década, de estruturas como os 'shoppings' e os hipermercados ajudava a tornar essa experiência ainda mais entusiasmante, oferecendo uma alternativa aos supermercados, drogarias, centros comerciais de bairro e lojas tradicionais de brinquedos, desporto, roupa ou discos e vídeos que formavam o 'itinerário' da maioria destes passeios. No entanto, qualquer que fosse o destino, havia sempre o problema de o dinheiro – da mesada, semanada, economias, ou simplesmente oferecido pelos pais no próprio dia – raramente chegar para o que se queria comprar; os mais pequenos, em especial, ficavam inevitavelmente 'reféns' das possibilidades e disposição dos pais no que tocava a levar para casa um 'presente' simbólico para recordar a viagem.

Ainda na primeira metade da década de 90, no entanto (bem antes do advento das grandes superfícies) um novo tipo de loja veio ajudar a resolver esse problema, oferecendo uma enorme variedade de produtos a um preço fixo e – mais importante – acessível aos bolsos e carteiras infantis – a princípio, cem ou duzentos escudos, que mais tarde viriam a subir para o valor que 'baptizou' oficialmente este tipo de estabelecimento, os famosos trezentos.

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Configuração típica de um estabelecimento deste tipo. (Crédito da foto: Ainda Sou do Tempo.)

Escusado será dizer que este conceito, por essa altura já presente em países como os EUA ou o Reino Unido, se afirmou absolutamente revolucionário em Portugal, onde o consumidor médio – sobretudo jovem – estava pouco habituado a tal variedade de produtos por tão baixos preços. Isto porque as 'lojas dos trezentos' vendiam desde as previsíveis 'quinquilharias' sem grande serventia até utensílios de cozinha, artigos de casa, livros (normalmente os famosos volumes da editora Europa-América, praticamente monopolista neste sector) e até artigos de vestuário ou plantas decorativas! E se é evidente que a qualidade destes produtos deixava muito a desejar – inclusivé no que toca às traduções dos livros – também não deixa de ser verdade que poder entrar numa loja com a semanada no bolso e sair de lá com QUALQUER produto em exposição era (e provavelmente continua a ser) o sonho de qualquer menor de idade. Assim, não é de estranhar que estas lojas tenham tido enorme adesão aquando do seu aparecimento, multiplicando-se rapidamente e espalhando-se por todo o País no espaço de poucos anos.

Mas como cantava George Harrison, 'tudo deve terminar', e também o 'ciclo' das 'lojas dos trezentos' acabou, eventualmente, por chegar ao fim – embora de forma muito mais lenta do que outros estabelecimentos de que aqui falámos em rubricas passadas, tendo o formato sobrevivido durante tempo suficiente para o nome 'loja dos trezentos' se transformar em 'loja do Euro'. Por essa altura, no entanto, já este tipo de loja enfrentava o adversário que o viria a destronar – a famosa 'loja dos chineses', que 'tomou de assalto' o sector comercial das 'lojas dos trezentos' e, mesmo sem a vantagem do preço fixo, as conseguiu paulatinamente eliminar do léxico dos portugueses. De facto, hoje em dia vai-se 'aos chineses' da mesma forma que, dez ou vinte anos antes, se ia 'aos trezentos', tendo o novo tipo de loja conseguido suplantar o estigma que lhe foi inicialmente associado – exactamente como aconteceu com os 'trezentos' no seu tempo. Para quem viu nascer e florescer esse tipo de loja, no entanto, a memória de um local onde tudo custava pouco mais de uma semanada permanecerá, sem dúvida, bem viva até aos dias de hoje, e remeterá inevitavelmente àqueles anos em que o conceito veio 'agitar' o comércio quotidiano e de bairro em Portugal...

11.02.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Já aqui por várias vezes fizemos referência aos centros comerciais tradicionais, 'residência' habitual de espaços hoje tão ultrapassados como videoclubes, lojas de discos independentes ou pequenas discotecas; estava, no entanto, ainda a faltar um artigo sobre estes espaços em si – falha que procuraremos, hoje, corrigir dedicando algumas linhas àquilo que passava por uma 'grande superfície' antes do advento dos 'shoppings' e hipermercados.

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O Apolo 70, em Lisboa, um dos mais icónicos estabelecimentos deste tipo

Presentes em quase todas as localidades ou povoações de algum tamanho em Portugal (e, ainda hoje, existentes em algumas delas, embora sob uma forma marcadamente mais 'esquelética' do que naqueles tempos) os centros comerciais tradicionais dividiam-se, grosso modo, em dois tipos: as chamadas galerias, que reuniam num mesmo espaço vários tipos de pequenos retalhistas, e aqueles que serviam, principalmente, de apoio a um supermercado. Ambos os tipos eram bastante comuns, não se podendo dizer que qualquer deles se superiorizasse ao outro, e ambos tendiam a oferecer algumas das 'necessidades básicas' do consumidor de bairro: boutiques, tabacarias, pequenos snack-bars, livrarias ou lojas de impressão, brinquedos ou informática (além dos espaços supramencionados) eram apenas alguns dos tipos de estabelecimento mais comummente encontrados em espaços deste tipo.

A ideia era, portanto, que um consumidor conseguisse encontrar num só edifício tudo aquilo de que necessitava, independentemente da sua natureza – daí o nome 'centro comercial'. Um conceito que, mais tarde, seria 'apropriado' e expandido pelas grandes superfícies, fazendo, ironicamente, com que os inovadores originais parecessem ultrapassados e pitorescos por comparação aos novos mega-espaços.

Ainda assim, a persistência do 'comércio de bairro' em muitas localidades portuguesas permitiu à maioria dos centros comerciais 'clássicos' protelar a sua extinção – ainda que, muitas vezes, a mesma se tenha apenas traduzido num modelo de 'morte lenta' tão deprimente quanto prejudicial às companhias que ocupavam o espaço. Na maioria dos casos, era o fecho do supermercado ou de uma das lojas principais (ou ainda a extinção da sala de cinema, outro apanágio deste tipo de espaços) que ditava o fim da galeria, sendo que muitas arriscavam, ainda, numa tentativa de renovação, invariavelmente (e infelizmente) malograda.

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O estado e aparência actual da maioria dos centros comerciais tradicionais portugueses.

Ainda assim, os habitantes das principais cidades do País (bem como de muitas vilas mais pequenas) terão ainda, potencialmente, contacto diário com este tipo de espaço, quanto mais não seja por lhes passarem à porta a caminho de casa, do emprego ou de qualquer outra actividade; e, nessas alturas, é de crer que a mente lhes 'voe' para outros tempos, em que percorriam com regularidade aqueles mesmos corredores, em busca das lojas favoritas e dos 'tesouros' que as mesmas escondiam.

28.01.23

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

A infância e adolescência das crianças e jovens portugueses nascidos até ao início da década de 90, inclusivé, ficou marcada pela existência de uma série de espaços com os quais a geração pós-Milénio já não teve a oportunidade de conviver. E se, hoje em dia, conceitos como o de uma loja dedicada exclusivamente ao aluguer de vídeos, de uma salinha fumarenta apinhada de máquinas de jogos, ou de um espaço esconso e escuro repleto de lojas e até salas de cinema parecem perfeitamente mirabolante para quem tem menos de vinte e cinco anos, a ideia de um espaço comercial dedicado, única e exclusivamente, à venda de artigos 'das antigas' não fica muito atrás no que toca ao fantasismo. A única diferença é mesmo que estes espaços continuam, em certos pontos do País, a resistir ainda e sempre ao invasor (no caso, as grandes superfícies) afirmando-se como um dos últimos bastiões do verdadeiro comércio tradicional.

Falamos das drogarias – aquelas lojinhas que, via de regra, se 'apertavam' numa frente-loja de área bastante limitada, e onde se podia adquirir de tudo um pouco, desde os expectáveis perfumes e materiais de limpeza até pequenos electrodomésticos, jogos, brinquedos, bolas, equipas de Subbuteo ou mesmo figuras para o Presépio; em suma, autênticos 'supermercados' em ponto pequeno, invariavelmente chefiados por um comerciante sorridente, atencioso e tão 'à moda antiga' quanto os seus produtos, que oferecia garantias de qualidade e fazia valer a (por vezes considerável) diferença de preços em relação ao supermercado.

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Uma drogaria de configuração bem típica.

Para uma criança daquela época – para quem uma visita ao referido supermercado, ou ao café do bairro, constituía por si só toda uma experiência – estas drogarias surtiam o mesmo efeito que as lojas de brinquedos tradicionais, parecendo autênticas 'caixinhas de surpresas' que dava vontade de explorar – mesmo que o único 'tesouro' encontrado fosse uma barra de sabão azul-e-branco. E apesar de ser muito pouco provável que a nova geração se entusiasme com algo tão singelo e mundano, a verdade é que - conforme referimos no início deste post - as drogarias tradicionais continuam a existir em diversos pontos do nosso País, prontos a servir os mesmos clientes que, as visitam com regularidade desde há várias décadas, e constituindo um dos últimos verdadeiros 'elos de ligação' ao Portugal de antigamente ainda existentes nos dias de hoje.

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