15.11.23
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.
Apesar de se irem gradualmente perdendo nos dias que correm, as lendas e tradições orais portuguesas estavam, ainda, bem presentes na sociedade de finais do século XX e, por conseguinte, no imaginário de muitas das crianças que a habitavam. De facto, a maioria dos jovens portugueses da época era capaz de descrever, mesmo por alto, pelo menos uma das histórias populares portuguesas, sendo uma das mais conhecidas aquela que explicava a razão para ser feriado, se saltarem fogueiras e se comerem castanhas no início da segunda semana de Novembro, e para o tempo ficar, invariavelmente, mais solarengo e outonal durante esse período.
A figura que deu origem à lenda.
Falamos, claro está, da lenda do S. Martinho, um personagem – como tantos outros de tantas outras lendas – baseado numa figura real, a de um cavaleiro gaulês do mesmo nome, que, no século IV (concretamente no ano de 337) pregava a fé cristã no Sul da Europa. A lenda em si reza que, ao viajar por uma qualquer estrada portuguesa durante uma tempestade, o mesmo terá encontrado um mendigo, a quem deixou a única coisa que tinha para dar: a capa que levava às costas, e que sabia poder ajudar o homem a proteger-se da tormenta – uma boa acção que, em conjunto com outras praticadas numa fase posterior da vida, lhe valeria o título de Santo por toda a Europa, e que faria do suposto dia do encontro (11 de Novembro) feriado nacional nos países Ibéricos, bem como em França, em Itália e na Alemanha (onde as celebrações não envolvem castanhas, mas sim fogueiras e procissões.)
E por falar em castanhas, as mesmas surgem aliadas à celebração, sobretudo, por o feriado calhar na época da sua apanha, não havendo qualquer significado simbólico para o ritual que, para muitas crianças dos anos 90 e 2000, era praticamente sinónimo com esse período do ano. Ainda assim, mesmo sem qualquer ligação esotérica à lenda, os frutos do castanheiro não tardaram a adquirir o estatuto de tradição, e ainda hoje se celebra o S. Martinho com os elementos de que fala o ditado popular, “castanhas e vinho” - uma combinação que, aliás, retém a popularidade pelo menos até ao Natal. Quanto à lenda em si, cabe à geração que a decorou, juntamente com tantas outras, assegurar que a mesma não se perde em meio aos ecrãs digitais da Geração Z, e que o dia 11 de Novembro constitui, para os mesmos, mais do que apenas mais um dia 'sem escola'...