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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

11.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 9 de Setembro de 2024.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Uma das principais características da maioria dos produtos audio-visuais dirigidos ao público jovem é a sua natureza cíclica, muitas vezes dependente de 'modas' ou 'febres' sobre as quais capitalizar como forma de garantir audiências, pelo menos a curto-prazo, antes de desaparecerem da consciência popular para sempre - ou, pelo menos, até serem 'repescados' por uma geração futura, como é agora o caso com 'Dragon Ball Z'. Em meio a esta ainda prevalente tendência, no entanto (e como contraponto à mesma) existem, igualmente, uma série de programas que, sem qualquer 'afiliação' específica e sem fazer uso de grandes 'alaridos', conseguem ainda assim assumir um carácter semi-perene, atravessando gerações com um grau de sucesso semelhante ou muito aproximado. Na televisão portuguesa dos anos 90, existiam vários exemplos flagrantes disso mesmo, com destaque para a imortal 'Rua Sésamo' (que, no seu curto tempo de vida, conseguiu marcar indelevelmente toda uma geração de crianças lusitanas), para as várias séries de 'Noddy' (que ainda hoje continua a ser alvo de novas adaptações televisivas) e para o programa que abordamos neste 'post', que poderia praticamente ser a ilustração do tipo de série em causa.

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Surgido pela primeira vez nas páginas de um livro publicado em 1931, Babar, o Rei dos Elefantes, tem desde então sido uma daquelas personagens infantis que, sem ser a favorita de ninguém, não deixa ainda assim de ser instantaneamente reconhecível para qualquer criança ou jovem, graças à sua extensa série de livros de histórias e às várias adaptações televisivas de que foi alvo a partir de finais dos anos 60. E se essa primeira série nunca chegou a passar em Portugal, o mesmo não se pode dizer da segunda (e mais conhecida) tentativa de adaptar Babar ao pequeno ecrã, produzida em 1989 e estreada em terras lusas logo no ano seguinte, no dealbar dos anos 90.

Adaptando um formato muito semelhante ao dos livros originais, com cada episódio a ser conduzido por um narrador, a segunda série televisiva de Babar mantém-se por demais fiel à estética estabelecida nos mesmos, parecendo consistir de ilustrações em movimento e apresentando os tradicionais tons pastel para cenários e personagens. Os argumentos seguiam também na linha das aventuras originais idealizadas por Michel e Laurent de Brunhoff, centrando-se sobre situações do quotidiano do titular elefante e respectiva família, e demarcando-se do teor mais voltado para a acção da maioria das outras séries infanto-juvenis. Até mesmo o genérico seguia esta toada, com as suas suaves notas de piano e imagens de tranquilidade e conforto em família.

Aliada à estética de livro de histórias, esta escolha fazia com que a série fosse, sobretudo, popular entre o público de menor idade, tendendo os 'mais crescidos' a gravitar para séries mais dinâmicas, coloridas e movimentadas. Para os mais pequenos, no entanto, poucos programas havia na televisão daquela época com tanta qualidade e cuidado na execução como Babar, que se apresentava como uma das melhores opções da altura para a demografia em causa, a par das séries acima referidas ou de algo como o 'Urso Teddy', com quem Babar partilha algumas semelhanças.

Dado o sucesso inicial da série, tão-pouco é de espantar que a mesma tenha, poucos anos depois, sido 'repescada' pela SIC, que a exibia entre 1993 e 1994 e, mais tarde, alvo de nova dobragem, aquando do seu regresso à televisão estatal nacional, já no Novo Milénio, concretamente em 2007. Pelo meio ficava, ainda, uma nova série, exibida novamente pela 'Três' no ano 2000, e que trazia uma dobragem diferente de quaisquer das adoptadas para a sua antecessora. Para o 'registo' ficam, também, dois filmes, produzidos com dez anos de diferença e lançados no mercado de vídeo e DVD, tendo o primeiro (de 1989) chegado também a ser transmitido pela SIC. Prova cabal, como se tal fosse necessário, da popularidade de que o então septuagenário elefante ainda gozava entre o seu público-alvo.

Nos anos subsequentes, no entanto, a popularidade de Babar sofreu um significativo abalo, tendo o simpático rei dos elefantes sido ultrapassado por novos 'ídolos' animados, como Ruca, Dora a Exploradora ou a Patrulha Pata. Não seria de espantar, no entanto, se, num futuro próximo – quiçá por alturas do centenário da sua criação – o personagem criado em França regressasse com uma nova série, filme ou colecção de livros, pronto a conquistar os corações de ainda mais uma geração...

15.04.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Já aqui numa ocasião passada falámos de 'Arrepios', a série de contos de terror para crianças que pôs grande parte dos 'millennials' portugueses a ler quando 'aterrou' no nosso País em meados da década de 90. Naturalmente, esta popularidade quase instantânea motivou a importação para Portugal de outros elementos ligados à franquia – nomeadamente, a série de televisão em acção real baseada nos primeiros livros da colecção, a qual recebia o habitual tratamento de dobragem típico dos programas infantis da época e tinha honras de estreia no 'Super Buereré' da SIC - à época o programa infantil por excelência da televisão portuguesa – há quase exactos vinte e sete anos, a 20 de Abril de 1997.

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Produzida originalmente em 1995, no Canadá (então, como hoje, opção 'em conta' para a filmagem de conteúdos norte-americanos, pelas parecenças entre as suas paisagens e as dos EUA) a série adaptava para o formato televisivo, de forma extremamente fiel, alguns dos mais conhecidos e populares contos da colecção 'Arrepios', de 'Máscara de Monstro' à famosa trilogia d''A Noite do Boneco Vivo', passando pela duologia inicial de 'Bem-Vindos à Casa da Morte' e 'A Cave do Terror'. No total, eram dezoito os volumes de 'Arrepios' a receber este tratamento, divididos entre duas temporadas – as quais, é claro, passaram juntas em Portugal, onde a série chegava já um par de anos depois da transmissão nos EUA. Quem era fã da série recebia assim, pois, um 'prato cheio', podendo revisitar as suas histórias favoritas neste novo formato, ou até ficar a conhecer contos de volumes que não constassem ainda da sua colecção – atractivo suficiente para sintonizar a SIC aos fins-de-semana de manhã e acompanhar cada novo episódio da série.

Apesar do relativo sucesso (ao qual também ajudava o seu posicionamento próximo a algumas das mais populares séries infantis de sempre em Portugal) a série 'Arrepios' não deixava, no entanto, de ser um produto do seu tempo, pelo que se afigurou natural que, após o fim do período áureo da popularidade dos livros, a adaptação televisiva não mais voltasse a passar em Portugal, nem mesmo numa SIC Sempre Gold ou RTP Memória. A inesperada popularidade da adaptação cinematográfica de 'Arrepios', com Jack Black no papel principal, pode, no entanto, vir a mudar esse paradigma, já que despertou em toda uma nova geração o interessa na franquia, despoletando mesmo planos para um inevitável 'remake', a cargo da Netflix; é, pois, perfeitamente possível que ainda venhamos a ver a série que tantos 'Arrepios' causou aos 'millennials' portugueses voltar ao ar, agora pronta a fazer gelar o coração dos membros da 'geração Z'...

02.01.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A transição de conteúdos literários para o ecrã (seja grande ou pequeno) raramente é bem conseguida, e ainda menos em casos em que a popularidade do material original dependia de uma qualquer particularidade difícil de reproduzir em formato audio-visual. Com isto em mente, e tendo em conta a esmagadora quantidade de adaptações de livros para cinema e televisão que falharam redondamente ao longo dos anos, não deixa de ser de admirar que uma das mais bem-sucedidas transições deste tipo tenha sido feita, precisamente, por uma série de livros que não podia nem devia resultar num formato baseado em imagens em movimento.

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Falamos de 'Onde Está o Wally?', a bem-sucedida adaptação para televisão dos não menos bem-sucedidos livros infantis do inglês Martin Handford, cuja premissa implicava precisamente o que o título indiciava, cabendo ao leitor encontrar o personagem homónimo (e, mais tarde, também a sua restante 'entourage') ao longo de uma série de quadros super-povoados, e repletos de 'armadilhas' e 'distracções' visuais destinadas a dificultar a missão em causa. Com base nesta descrição, não é difícil perceber o porquê de 'Wally' (ou 'Waldo', como é conhecido nos Estados Unidos) requerer, forçosamente, um meio visual de carácter estático - e, no entanto, a versão animada do explorador de 'pullover' às riscas e seus amigos é, ainda hoje, tida como uma das melhores adaptações animadas da sua época.

Talvez esse sucesso tivesse estado ligado à qualidade da série, que se posiciona firmemente na parte superior da lista de produções animadas da época, apresentando animação fluida e personagens (se não tanto argumentos) memoráveis para quem com eles tenha convivido. O próprio Wally era um protagonista por demais simpático, muito bem coadjuvado pelo sábio Barba Branca (que o envia em diferentes missões), pela namorada Wenda, pelo cão Woof e, sobretudo, pelo memorável vilão Estranho-À-Lei, uma espécie de 'versão maléfica' do nosso herói (o seu nome original, Odlaw, é, aliás, apenas o nome 'completo' do protagonista escrito ao contrário), com a obrigatória roupa semelhante, mas com o esquema de cores 'trocado', como era apanágio da época.

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O vilão Estranho-À-Lei, talvez o personagem mais memorável do programa.

Juntos, este 'bando' envolvia-se numa série de aventuras vagamente baseada nos cenários do livro (que iam de cenas contemporâneas a locais históricos ou até astrais) em que o 'Onde' do título deixava de dizer tanto respeito à localização do personagem na cena, e passava a referir-se sobretudo ao próprio local onde a aventura se desenrolava. O resultado foi uma série que, sem entrar nos 'Tops' de desenhos animados de ninguém que tivesse a idade certa à época, tão-pouco era ignorado pelo seu público-alvo, que fazia mesmo o esforço de estar frente à televisão à hora certa para ver cada novo episódio - uma marca inegável de sucesso para uma propriedade deste tipo, como o foi o inevitável lançamento dos episódios na habitual série de VHS, pela não menos inevitável Prisvídeo, logo no ano seguinte à exibição do programa na RTP. E, como não podia deixar de ser, ter um daqueles genéricos tão 'trauteáveis' que se 'entranham' no cérebro também não deixava de ajudar com este desiderato, antes pelo contrário...

O inesquecível genérico português da série, talvez o seu elemento mais memorável

Tanto foi o sucesso, de facto, que 'Wally' teve mesmo direito a uma segunda adaptação, em 2017 - agora já com os esperados recursos ao 'Flash' para a animação, e com o casal de personagens transformado em crianças. Quem tenha filhos fãs desta nova série e acesso a episódios do original tem, no entanto, o dever de a apresentar aos mais pequenos, já que (quase exactos trinta anos após a sua estreia em Portugal) a mesma se continua a afirmar como um bom produto de animação infanto-juvenil, bem menos 'datado' do que se possa pensar, e (como tal) bem capaz de entreter toda uma nova geração do seu público-alvo.

02.11.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Quando se fala de literatura infanto-juvenil feita em Portugal – como, aliás, já aqui fizemos – um nome afirma-se como incontornável, tendo já entretido múltiplas gerações de crianças desde a sua criação: o da colecção Uma Aventura.

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O logotipo da série é tão icónico quanto os seus restantes elementos.

Para a geração nascida entre as décadas de 70 e 90, em particular, as aventuras dos cinco jovens criados por Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada representaram aquilo que as séries juvenis de Enid Blyton (que, aliás superaram em vendas) tinham sido para os seus pais, e que a saga de Harry Potter viria a ser para a geração seguinte: um dos primeiros, senão mesmo O primeiro, exemplo de literatura 'a sério' a chegar-lhes às mãos, e companhia continuada no processo de crescimento e adolescência. Mesmo quem não gostava de ler, fazia uma excepção para as 'Aventuras', cujos enredos entusiasmantes e vocabulário relativamente simples (embora não tanto quanto o de certas outras séries) serviam como 'chamariz' para estes leitores mais renitentes. E porque a icónica colecção completa, este ano, uns espantosos quarenta anos de publicação ininterrupta – e sem dar sinais de abrandar! - nada melhor do que dedicarmos algumas linhas a uma retrospectiva da mesma, como, aliás, já fizemos para a sua série-irmã, 'Viagens no Tempo.'

De facto, corria o já longínquo e quase 'perdido' ano de 1982 quando o primeiro volume da série idealizada por Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada – duas professoras do segundo ciclo frustradas com a falta de alternativas de leitura para os seus alunos – 'aterrava' nas bancas portuguesas, após aturadas rondas de 'testes' conduzidas entre os próprios alunos das autoras. Tratava-se de 'Uma Aventura na Cidade', tomo que apresentava aos jovens leitores o icónico grupo e alunos do segundo e terceiro ciclo, e respectivas mascotes; as gémeas Teresa e Luísa e o seu caniche 'Caracol', os 'melhores inimigos' Pedro e Chico – o primeiro o típico 'marrão', o segundo um 'bully' em potência – e o 'minorca' João, dono do pastor-alemão 'Faial', todos devidamente representados e identificados na contracapa, nos icónicos traços de Arlindo Fagundes, ainda hoje responsável pelas capas e ilustrações interiores dos livros da série.

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O já histórico primeiro volume da série, lançado há quase exactos quarenta anos (em cima) e os icónicos 'retratos' dos protagonistas presentes em todas as contra-capas (em baixo)

A proposta, essa, era simples – uma 'versão portuguesa' das aventuras dos Cinco e dos Sete, com enredos talvez menos rebuscados, mas a mesma premissa de um grupo de jovens com diferentes características que se envolvia na resolução dos mais variados crimes e mistérios, fazendo uso dos seus talentos para capturar os vilões antes que os adultos à sua volta sequer se apercebessem do que se passava. Uma premissa intemporal, e que funcionou tão bem para a dupla portuguesa como já o havia feito para Blyton – senão mesmo melhor, dado nenhuma das icónicas séries da escritora britânica ter alguma vez chegado aos 65 volumes ou quatro décadas de publicação!

De facto, a essa primeira aventura, seguiram-se outras sessenta e quatro, que viram o quinteto viajar de Norte a Sul de Portugal e até para o estrangeiro, vivendo experiências que iam de 'Alarmantes' (num volume legitimamente traumatizante) a 'Petigosas', 'Fantásticas', 'Secretas', 'Musicais' e até 'Voadoras' – grande parte das quais foi, além dos livros, também imortalizada em formato televisivo, já no novo milénio, através de uma também super-popular série transmitida pela SIC, (também responsável pela adaptação em filme de longa-metragem de 'Uma Aventura na Casa Assombrada', de 2009) e que ajudou a apresentar os personagens a todo um novo segmento de potenciais fãs.

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Os elencos do filme de 2009 (em cima) e de uma das séries televisivas (em baixo), ambas produções da SIC

Mais espantoso do que a longevidade em si ou do que os sucessos passados, no entanto – ou talvez não – é o facto de, durante esse período que engloba, pelo menos, duas gerações, as 'Aventuras' não terem jamais perdido o seu atractivo nem descido de popularidade entre o público alvo – pelo contrário, a 'geração iPad' continua a gostar tanto destes livros como os seus irmãos mais velhos e pais o haviam feito, justificando a continuada criação de novos imbróglios a serem resolvidos pelos cinco jovens e seus dois cães, agora um pouco mais velhos do que há quarenta anos, mas ainda assim parados naquela 'eterna adolescência' que sempre caracterizou os heróis de séries infanto-juvenis. Numa altura em que tantas das referências das duas gerações anteriores se começam a perder entre jogos casuais, vídeos hiperactivos de YouTube e experiências de realidade virtual, é nada menos do que reconfortante depararmo-nos com uma propriedade intelectual (ainda para mais literária) que não só se mantém 'viva e de saúde', como também continua a ser conhecida, sobretudo, na sua forma original, por oposição a uma qualquer adaptação audio-visual, como é o caso com 'Harry Potter', por exemplo. Parabéns, 'Uma Aventura' – e que contes muitos mais anos como a série favorita da juventude portuguesa!

07.04.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

…como é o caso da literatura juvenil.

Não, não estamos a falar de banda desenhada; neste post, falamos de livros ‘à séria’, daqueles com capítulos e enredos, só que especificamente criados para agradar a um público infanto-juvenil - aquilo a que nos EUA se chama ‘middle-grade literature’. E os anos 90 foram, sem dúvida, pródigos em exemplos deste tipo de livro, muitos deles orgulhosamente ‘made in Portugal’, e cuja leitura nenhuma criança com alguma propensão para a palavra escrita dispensava.  É precisamente dessas séries de produção inteiramente nacional que este post vai tratar, ficando a próxima Quarta de Quase Tudo reservada para os representantes estrangeiros e traduzidos do género.

No que toca a séries infanto-juvenis concebidas e escritas por autores portugueses, destacam-se de imediato duas, ambas dirigidas ao tal público ‘middle-grade’ (compreendido, sensivelmente, entre o final da escolaridade primária e o final do 3º ciclo do ensino básico) e que fizeram, em maior ou menor grau, parte da infância de qualquer ‘puto’ com queda para a leitura.

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Alguns dos títulos da colecção Uma Aventura

Começando pelos produtos nacionais, não poderíamos escrever um post sobre literatura infanto-juvenil em Portugal e deixar de fora o seu expoente máximo. Concebida e iniciada ainda em inícios dos anos 80, a colecção Uma Aventura continua a ser publicada até aos dias de hoje, contando já com 62 volumes (estando o 63º previsto para sair neste ano de 2021) e prestes a completar quarenta anos de presença constante nos escaparates – e nas estantes das crianças portuguesas. E isto sem nunca ter sido redesenhada a nível do grafismo, ou cedido a quaisquer modismos desse género!

A razão do sucesso de Uma Aventura – que já foi adaptada para televisão e cinema, sempre com boa recepção – não é difícil de perceber. Tal como todas as melhores obras infanto-juvenis, a prosa trata os leitores como seres inteligentes, e perfeitamente capazes de perceber e apreciar livros escritos em linguagem simples, mas não simplista, e com enredos bem pensados e adaptados à sua realidade. Junte-se a isso um ‘cast’ de personagens memorável (incluindo os dois cães) e ilustrações cuidadas e com um estilo distinto e imediatamente reconhecível (da autoria de Arlindo Fagundes, colaborador das autoras desde o primeiro volume da colecção), e está concebida uma série intemporal, e pronta a agradar a gerações de crianças – como, aliás, vem sendo o caso.

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O elenco de uma das adaptações televisivas da série

A receita aparentemente simples desta colecção – basicamente ‘Os Cinco’ adaptados à realidade portuguesa de finais do século XX – continua a revelar-se surpreendentemente versátil e ‘elástica’, e é de imaginar que enquanto a dupla de autoras Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada tiver inspiração e público-alvo, a colecção não deixe de somar números. Qualquer que seja o seu futuro, no entanto, a verdade é que Uma Aventura já faz parte da malha cultural portuguesa, e que os anos 90 foram responsáveis por uma boa parcela do seu sucesso.

Ao mesmo tempo que Pedro, Chico, João e as Gémeas defrontavam malfeitores nos mais diversos lugares, um outro grupo de personagens disputava com eles o coração dos leitores entre os 7 e os 14 anos. Tratava-se do Clube das Chaves, uma série mais voltada para o mistério em detrimento da aventura, mas que partilhava com a sua principal ‘concorrente’ a escrita sofisticada, os enredos inteligentes e envolventes, e as ilustrações apelativas.

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As capas originais d''O Clube das Chaves', com as excelentes ilustrações de Luís Anglin

De facto, as ilustrações de Luís Anglin eram tão sinónimas com a série como as de Arlindo Fagundes com Uma Aventura, e se possível, ainda melhores que as da série da Caminho, com um estilo arredondado e ‘cartoony’ que traduziria muito bem para um formato de BD ou animado. Infelizmente, a série nunca fez sucesso que justificasse qualquer destes veículos, embora, como Uma Aventura, tivesse sido adaptada para TV, cinco anos após a publicação do último livro da série.

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O elenco da adaptação televisiva d''O Clube das Chaves', de 2005

A principal diferença da série de Maria Teresa Maia Gonzalez e Maria do Rosário Pedreira em relação a Uma Aventura, além do tom menos aventuroso e mais detectivesco, foi o facto de a mesma ter tido uma conclusão definida e, tudo indica, planeada. No total, a colecção teve 21 volumes, espalhados ao longo de exatos dez anos, o último dos quais fechou com ‘chave de ouro’ – passe o trocadilho – a epopeia dos irmãos Pedro e Anica, dos seus primos Guida, André e Vasco e do amigo Frederico para decifrar os mistérios das chaves do avô Cosme. No final da série - e um pouco ao contrário dos personagens algo ‘parados no tempo’ da série rival - todos os jovens eram fisicamente mais velhos, e por consequência mais maduros e com personalidades mais moldadas, oferecendo assim uma perspetiva muito realista do processo de crescimento e da adolescência.

Além destas duas séries, que constituíam leituras ‘por prazer’ para muitos jovens portugueses dos anos 90, destaque ainda para uma autora algo mais ‘mal-amada’ por aquele setor, sobretudo pelo facto de lhes ser ‘impingida’ na escola. Falamos, é claro, de Sophia de Mello Breyner Andresen, cujas obras ‘A Menina do Mar’ e ‘O Cavaleiro da Dinamarca’ foram parte inescapável da disciplina de Língua Portuguesa para muitas crianças do 3º ciclo durante aqueles anos (e, muito provavelmente, ainda hoje.)

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Uma capa memorável para a maioria das crianças portuguesas dos anos 90 - pelas melhores ou piores razões...

Embora seja inegavelmente uma das grandes escritoras portuguesas contemporâneas, e a sua morte tenha significado uma perda considerável para a literatura nacional, Sophia é (ou era) bem menos consensual entre as crianças do 7º, 8º e 9º anos naquela década de 90. Apesar de praticar um estilo simples, as suas histórias apresentavam-se algo ‘pesadas’, não captando o interesse da maioria dos alunos forçados a passar um par de horas com elas, duas a três vezes por semana. Ainda assim, seria uma omissão de monta falar em literatura infantil nacional nos anos 90 sem mencionar estas obras, que – uns anos depois, e em retrospectiva – se afiguravam bem escritas e até algo envolventes.

Antes de darmos este post como concluído, espaço, ainda, para recordar outras séries de algum sucesso entre o público infanto-juvenil da época, como o Detective Maravilhas (de Maria do Rosário Pedreira, co-autora do Clube das Chaves, e com ilustrações novamente a cargo de Luís Anglin) ou O Bando dos Quatro, de João Aguiar, e baseada numa série televisiva. Embora nenhuma destas colecções tenha tido o sucesso de Uma Aventura ou O Clube das Chaves, ambas forneceram às crianças portuguesas de finais da década de 90 bom material de leitura, justificando a sua inclusão neste artigo.

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As séries 'Detective Maravilhas' e 'O Clube dos Quatro'

Como mencionado no início do post, em termos de Parte I, ficamos por aqui; a segunda parte deste tema será publicada daqui a 15 dias. Até lá, a sala é vossa – liam estas séries, ou outras? Qual a vossa favorita? Faltou-nos falar de alguma? Deixem as vossas opiniões nos comentários!

 

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