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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

07.12.21

NOTA: Este post diz respeito a Segunda-feira, 06 de Dezembro de 2021.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

O Natal não é, exactamente, um tema comum no que toca a colectâneas de música alternativa; normalmente, as compilações deste tipo centram-se sobretudo nos clássicos intemporais (e de domínio público) que a maioria dos comuns mortais transforma em banda-sonora para esta época do ano,

Em 1995, no entanto, a editora independente portuguesa Dínamo Discos resolveu explorar precisamente esse conceito, juntando num mesmo disco alguns dos maiores e mais conhecidos artistas da música portuguesa e fomentando uma série de colaborações, as quais viriam mais tarde a fazer parte do disco. E o mínimo que se pode dizer é que, apesar do sucesso comercial não ter sido por aí além significativo, em termos qualitativos, a empreitada valeu bem a pena.

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Intitulado 'Espanta-Espìritos' e lançado em Novembro (com uma capa que remete mais ao Halloween do que propriamente ao Natal), o disco apresenta doze músicas bem eclécticas e diversificadas, com as sonoridades alternativas e a temática natalícia como únicos denominadores comuns – uma característica proposital, e que assegura que a colectânea oferece algo para os fãs de todos os géneros da música alternativa, com a notória excepção do hard rock e metal, talvez por serem géneros demasiado 'de nicho' ou pouco agradáveis ao ouvido do melómano médio português.

De resto, há para todos os gostos, do pop-rock de 'Final do Ano (Zero a Zero)' (interpretado por Xana dos Rádio Macau ao lado de Jorge Palma) ao fado de 'Minha Alma de Amor Sedenta', de Alcindo Carvalho, passando pelo funk Jamiroquai-esco de '+ 1 Comboio' (novamente com Jorge Palma em dueto com um elemento dos Rádio Macau, no caso o guitarrista Flak), o rock sarcástico-cómico de 'Família Virtual' (uma inesperada colaboração entre o fadista Carvalho e os anarco-ska-punks Despe & Siga) e 'Natal dos Pequeninos' - dueto de João Aguardela, dos Sitiados, com duas crianças - ou mesmo o hip-hop de 'Apenas Um Irmão', faixa que consegue a proeza dupla de inserir, à sorrelfa, uma palavra menos própria na letra (por sinal, bem rebelde e contestatária, como era apanágio do hip-hop português da época) e de pôr Sérgio Godinho a fazer rap ao lado dos mestres Pacman (hoje Carlão) e Boss AC – e quem nunca ouviu Sérgio Godinho numa música de rap, não sabe o que anda a perder...

Ouçam por vocês mesmos...

As restantes músicas são mais tradicionais deste tipo de empreitada, e desenvolvem-se num ritmo mais calmo e baladesco – o que não significa que tenham menos qualidade. 'A Rocha Negra', em particular, é um tema assombroso, em todos os sentidos, alicerçado numa grande prestação vocal, quase 'a capella' de Tim (ainda em fase de estado de graça com os seus Xutos) e Andreia (dos desconhecidos Valium Electric), enquanto 'São Nicolau' é um bonito tema em toada pop-rock, cantado por Viviane, dos Entre Aspas. Em suma, são poucos os temas mais fracos deste registo, e mesmo esses nunca passam o limiar do aceitável-para-bom.

Não deixa, pois, de ser surpreendente que o principal contributo de 'Espanta Espíritos' para a mùsica portuguesa tenha sido a inclusão de alguns dos seus temas em álbuns 'verdadeiros' de alguns dos participantes; como colectânea, e apesar de ter sido considerado um dos vinte melhores discos de Natal lançados em Portugal pela Time Out (uma daquelas distinções tão de nicho, que acaba por fazer pouco ou nenhum sentido) o álbum esteve longe de ser um sucesso, e encontra-se largamente esquecido nos dias que correm. Uma pena, visto que – como qualquer pessoa que tenha o álbum certamente afirmará – este se trata de um projecto que merecia bastante melhor do que apenas um estatuto de culto...

30.08.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Nos últimos posts desta mesma rubrica, temos vindo a falar de bandas que partem da tradição musical tanto portuguesa como internacional e a misturam com sons mais contemporâneos, como o rock. Hoje, damos uma espécie de ‘passo atrás’ nessa temática para falar de um grupo – ou melhor, um colectivo – de música popular portuguesa, no sentido mais estrito da palavra. Um grupo que, apesar de contar com nomes sonantes da área do pop rock feito em português, escolheu enveredar por um tipo de som bem mais tradicional, e conseguiu, ainda assim, obter considerável sucesso ‘mainstream’.

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Tratava-se do colectivo Rio Grande, um super-grupo ‘à portuguesa’ que juntava num mesmo espaço músicos do calibre de Jorge Palma, Vitorino, João Gil, Rui Veloso e Tim, este último o elo de ligação ao mundo do rock, e que decerto terá servido como ‘chamariz’ para muitos jovens em relação ao projecto.

O resto ficava por conta do grande ‘single’ de avanço ao único álbum do colectivo, e uma das músicas mais ‘cantaroladas’ nos pátios de recreio em 1996 – a mítica ‘Postal dos Correios’. (Se não estão a situar o título, é aquela que começa com ‘Querida Mãe, querido Pai, então que tal…’ )

...esta.

E o mínimo que se pode dizer é que os Rio Grande merecem todo o crédito por porem uma geração inteira a ouvir e cantar uma música que aborda temas com os quais eles próprios nunca tiveram contacto, pelo menos directo (no caso, a emigração, sobretudo dos meios rurais.)

Mas apesar de ter sido o grande sucesso do álbum – e, sejamos sinceros, também do colectivo – ‘Postal dos Correios’ não era a única música boa que os Rio Grande tinham para oferecer; pelo contrário, era mesmo das mais ‘fraquinhas’ de um disco que merece bem a escuta atenta a todos os seus temas, a começar por ‘A Fisga’ e ‘O Caçador da Adiça’ (o duo de abertura), e continuando com ‘Fui Às Sortes e Safei-Me’, ‘O Dia do Nó’, ‘O Sobescrito’, ‘Dia de Passeio’, entre outras, sempre com o elo em comum da temática popular e rural e do som baseado em guitarras acústicas, instrumentos tradicionais e harmonias vocais. Com uma personalidade bem vincada e temas, como já se referiu, de enorme qualidade e apuro musical e poético, não é, pois, de admirar que o disco tenha atingido quádrupla platina no seu ano de lançamento – uma marca invulgar a nível global, quanto mais em Portugal!

Infelizmente, o único outro sinal de vida dos Rio Grande viria na forma de um disco ao vivo, explicitamente intitulado ‘Dia de Concerto’ e lançado dois anos depois da estreia, e sem chegar sequer perto do mesmo nível de sucesso. Alguns anos depois, já no novo milénio, o grupo deixaria de contar com os préstimos de Vitorino, mudaria de nome para Cabeças no Ar, e lançaria outro excelente CD, repleto de ‘malhas’ algures entre o folclore dos Rio Grande e uma maior costela pop-rock.

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A capa do único CD dos Cabeças no Ar, grupo sucessor dos Rio Grande

Do grupo original, no entanto, restaria na memória colectiva da época (e das décadas seguintes) a imagem de Tim e companhia a tocar guitarra num autocarro em movimento, enquanto perguntavam pela saúde de diversos membros da família – o que, convenhamos, não é nem de longe a pior ‘herança’ deixada por um grupo musical português, especialmente durante os anos 90…

24.05.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E dado que desde o início desta rubrica temos vindo a falar sobretudo de movimentos e estilos musicais – quer nacionais, como o ‘pimba’, quer importados, no caso do europop ou do rock alternativo – nada mais justo do que abordarmos, esta semana, um movimento que teve um enorme ‘boom’ em território nacional precisamente nos anos 90.

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Falamos, é claro, do pop-rock, estilo que viu alguns dos seus principais representantes nacionais de décadas anteriores entrar em fases de declínio de carreira durante a última década do século XX (casos dos Xutos & Pontapés, GNR, Rui Veloso ou UHF, entre outros) mas assistiu ao nascimento e consolidação de popularidade de outros tantos artistas e colectivos, alguns dos quais relevantes ainda hoje, quase trinta anos após o seu aparecimento. Os anos 90 foram, por exemplo, a década dos Sitiados, Silence 4, Mão Morta, Ornatos Violeta, Pólo Norte, Rádio Macau, Três Tristes Tigres, Quinta do Bill, Pedro Abrunhosa, Clã ou The Gift, entre muitos outros - isto, claro, sem esquecer bandas que transitavam da década anterior ainda no auge da sua forma, como era o caso dos Delfins ou Madredeus. Um verdadeiro panteão de nomes sonantes da música portuguesa, que fazia as delícias de qualquer melómano adepto das vertentes mais melódicas da música ‘de guitarras’.

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Alguns dos muitos artistas pop-rock portugueses de finais do século XX

Um dado curioso é que muitos destes grupos contavam com vocalizações femininas, fossem principais ou secundárias. Clã, Três Tristes Tigres, Rádio Macau, Entre Aspas, The Gift e Madredeus contavam todos com vocalistas femininas, algumas delas figuras bem populares e influentes da cena musical da época, como Xana e Viviane; dos restantes, os Silence 4 também contavam com vozes de apoio femininas (numa dinâmica muito semelhante à dos Pixies, com as devidas distâncias) e os Sitiados tinham em Sandra Baptista a sua segunda figura central, embora esta última não cantasse. Isto sem esquecer, é claro, as duas finalistas do Festival da Canção mais famosas da era pré-Salvador Sobral: Sara Tavares e Anabela (a sério, conseguem nomear o finalista de algum ano sem ser 1993 e 1994?) Enfim, uma excelente representatividade para o sexo feminino, que conseguia tão ou mais sucesso que os grupos e artistas masculinos.

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Quem se lembra?

No cômputo geral, pois, os anos 90 não podem saldar-se como nada menos do que uma década fantástica para a música pop e rock portuguesa – quer em termos comerciais, quer criativos. Bebendo das bases cimentadas na década anterior, os artistas que entraram em voga durante os 90s viriam, eles próprios, a erigir muitas das fundações que informariam a música portuguesa na década seguinte, e um pouco até aos dias de hoje, tornando a última década do século XX uma das melhores de sempre para se ser fã de música em Portugal.

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