07.08.22
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidades do desporto da década.
Há duas semanas, falámos aqui de Aloísio, lenda do Futebol Clube do Porto; pois bem, o brasileiro teve participação activa num evento que, por lapso, acabámos por não abordar no final da época futebolística passada, mas que, pelo seu carácter histórico, merece que esse erro seja rectificado – o inédito (e ainda hoje recordista) pentacampeonato conquistado pelo Futebol Clube do Porto há pouco mais de vinte e três anos, no final da última época completa do século XX.
Corolário da fase hegemónica que o clube do Norte vivera durante a década de 90 (embora anos vindouros viessem a revelar que tal domínio se devia a mais que apenas qualidade dentro das quatro linhas) o 'penta' do Porto veio, conforme acima referimos, estabelecer um novo recorde de conquistas de campeonatos, destronando o tetracampeonato conquistado pelo Sporting durante os anos 50, e que se mantivera intacto durante quase cinco décadas; curiosamente, seria também o Sporting a impedir o Porto de expandir ainda mais este recorde, com a conquista do seu primeiro campeonato em dezoito anos, logo na década seguinte. Nada que minimize ou trivialize o recorde do Porto, o qual se mantém vigente até aos dias de hoje.
Orientada pelo hoje Seleccionador Nacional e ainda 'engenheiro do penta', Fernando Santos, a equipa pentacampeã pelo Futebol Clube do Porto centrava-se (como, aliás, as quatro anteriores) numa das figuras maiores do desporto-rei em Portugal – Mário Jardel, avançado famosamente prolífico e que, nesta época, estabeleceria o primeiro de três recordes pessoais de golos por época, o último dos quais (42 golos, pelo Sporting, na época 2001/2002) ainda hoje vigente; no caso da época do 'penta', seriam 36 os golos na conta pessoal do avançado, cujo prodigioso e mortífero jogo aéreo chegou, à época, a inspirar estribilhos de Rui Veloso e Carlos Tê.
Como qualquer adepto certamente saberá, no entanto, mesmo o melhor jogador, sozinho, dificilmente faz milagres, pelo que não chegava ao Porto ter um Jardel na frente – era necessário construir uma equipa forte de uma ponta à outra; felizmente para os nortenhos, Fernando Santos tinha matéria-prima de primeira qualidade à disposição, contando 'aquela' equipa do Porto com o com nomes instantaneamente reconhecíveis para qualquer adepto da altura, muitos já com largos anos de 'casa' e parte integrante da chamada Geração de Ouro do futebol português - casos de Vítor Baía (ainda a alguns anos de dar hipóteses a qualquer concorrente), Jorge Costa, Paulinho Santos, Secretário, Peixe ou Capucho - que dividiam espaço no balneário com os não menos marcantes Chippo, João Manuel Pinto, Doriva, Deco, Panduru, Rui Barros, Folha, Fehér (ainda longe da tragédia que acabaria com a sua promissora carreira) e Mielcarski, além da eterna dupla Zahovic/Drulovic, do referido Aloísio e de um jovem central de 21 anos, com enorme margem de progressão, chamado Ricardo Carvalho.
É claro que até as melhores equipas não podem deixar de ter aqueles jogadores que se podem considerar – no mínimo – estar no sítio certo no momento certo, e este Porto não era excepção, com elementos como Quinzinho, Chaínho (uma daquelas contratações aos 'pequenos' que acabam por não se afirmar) Butorovic ou o lendário Esquerdinha a serem bafejados pela sorte; no entanto, estas acabavam por ser excepções à norma numa equipa com um nível médio impressionante, cuja vantagem de seis pontos sobre o segundo classificado, o então 'quarto grande' Boavista, indica que, mesmo sem os hoje famosos 'jogos de bastidores', os nortenhos teriam sido perfeitamente capazes de revalidar o título por mais um ano.
A parte mais negativa da época? Este 'magnífico' equipamento alternativo...
Mesmo com os factos que viriam à luz em épocas subsequentes, no entanto, o pentacampeonato do Futebol Clube do Porto não deixa de ser uma marca bonita e honrosa, que ajudou o clube a fechar em grande não só a década de 90, como o século XX e o Segundo Milénio, e serviu de trampolim para futuras aventuras hegemónicas na Europa, sob o comando de José Mourinho – motivos mais que suficientes para que façamos dela o tema de mais um Domingo Desportivo.