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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

07.10.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Na passada edição desta rubrica, falámos de 'Zás Trás', uma das muitas produções portuguesas da década de 90 a procurar emular o sucesso da icónica 'Rua Sésamo' com recurso a uma fórmula muito semelhante, centrada no 'edutenimento' veiculado através de segmentos que combinavam fantoches e marionetas com acção real. No entanto, de todas as referidas séries (e foram várias) apenas uma logrou aproximar-se da popularidade e notabilidade da original, ainda que ficando mesmo assim a uma certa distância: o 'Jardim da Celeste'.

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Surgida pela primeira vez nos ecrãs portugueses algures em 1997, no bloco infantil da RTP1, a série produzida, tal como a antecessora, pela RTP centrava-se na titular Celeste, interpretada por Ana Brito e Cunha, uma educadora que viajava por todo o País numa carrinha mágica (embora não a da série homónima) acompanhada pelo seu cão, Sócrates, e interagia tanto com os fantoches seus 'alunos' como com crianças reais, exactamente como sucedia com as personagens humanas de 'Rua Sésamo'. A demografia-alvo era, também, claramente a mesma – crianças em idade pré-escolar – embora esta série não tivesse o 'apelo universal' da antecessora, sendo pouco provável que tenha conquistado muitos fãs fora desse espectro etário. Por comparação com a antecessora, 'Jardim da Celeste' tão pouco deu origem ao mesmo volume de 'merchandising' e produtos relacionados ou complementares (não chegaria, por exemplo, a haver uma revista alusiva a esta série) embora tenha chegado a ser editada em vídeo ainda durante a sua transmissão original.

Ainda assim, para quem foi criança no momento certo para dela desfrutar, tratou-se de uma série de qualidade e que terá, sem dúvida, deixado tão boas memórias quanto 'Rua Sésamo' criara aos (ligeiramente) mais velhos, enquanto a sua frequente repetição nos diversos canais da RTP a terá, sem dúvida, ajudado a encontrar novos fãs desde então. Razões mais que suficientes para lhe dedicarmos um espaço próprio neste nosso 'blog' dedicado a tudo o que de melhor teve a década de 90.

23.09.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Uma análise, mesmo que superficial, à televisão infanto-juvenil portuguesa de inícios dos anos 90 revela uma 'era de ouro' não só no tocante à importação de materiais estrangeiros de grande qualidade (vários dos quais já aqui abordámos) mas mesmo à própria produção nacional, a qual se 'aventurava' com enorme sucesso por uma série de formatos, que iam de programas como 'A Hora do Lecas', 'Os Segredos do Mimix', 'Clube Disney' ou 'Oh! Hanna-Barbera' a concursos como 'Arca de Noé', 'Tal Pai, Tal Filho' e 'Vitaminas', vídeos musicais como os do Vitinho e, claro, séries, com a icónica 'Rua Sésamo' à cabeça. Poupas, Ferrão e companhia não eram, no entanto, os únicos personagens cem por cento nacionais a procurar conquistar o coração das crianças da época – a RTP da era pré-concorrência privada (ou seja, monopolista do tempo de antena) abria também espaço para conteúdos como 'A Maravilhosa Viagem Às Ilhas Encantadas', 'Histórias de Corpo Inteiro', ou a série que abordamos nesta Segunda, 'Zás Trás'.

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Da autoria de Isabel Cerqueira e Teresa Messias, e realizada por Alexandre Montenegro (nome bastante requisitado à época) 'Zás Trás' estreava na televisão estatal há quase exactos trinta e três anos (em Setembro de 1991) e desde logo se posicionava como 'alternativa' à hegemonia da incontornável 'Rua Sésamo', apresentando um formato muito semelhante - centrado em 'sketches' protagonizados por um núcleo central de personagens representados por marionetes em cenários reais – e até um tema de abertura capaz de rivalizar com o da referida série, e que é, sem dúvida, o seu elemento mais destacado e memorável.

No entanto, tal como a série sobre higiene oral acima referida (com a qual chegou a partilhar tempo de antena em finais de 1991), 'Zás Trás' nem sequer chegaria a fazer 'cócegas' aos habitantes da Rua mais famosa da televisão portuguesa, tendo a sua passagem pela RTP sido discreta, e – ao contrário da 'concorrente' - deixado poucas memórias ao público-alvo da época, com excepção do 'contagioso' tema título e de um personagem com papel proeminente que, embora aceitável na altura como caricatura animada, seria hoje considerado problemático e até ofensivo para a população asiática. Tal como os 'designs' algo 'uncanny' de 'Histórias de Corpo Inteiro', este aspecto talvez tenha tido influência no desempenho da série a longo-prazo – ou, talvez, 'Zás Trás' apenas não fosse tão memorável como 'Rua Sésamo', com ou sem caricaturas obsoletas entre o seu núcleo central.

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Um dos personagens centrais é...digamos, problemático.

Apesar de hoje algo Esquecido Pela Net (e por aquele que foi o seu público) 'Zás Trás', e o respectivo Especial de Natal (realizado em 1992) não deixaram de ser, já no Novo Milénio, 'repescados' para a grelha programática primeiro da RTP2 e, mais tarde, também para a da RTP Memória. As alterações na cultura popular e estrutura social do Mundo ocidental desde então fazem, no entanto, prever que essa tenha sido a última aparição de 'Zás Trás' nos écrãs portugueses, estando a série destinada a ser votada ao esquecimento a breve trecho. Quem quiser ajudar a evitar esse fado (ou simplesmente deseje recordar a série mais de três décadas depois) pode, no entanto, assistir a todos os episódios no Arquivo RTP. Para quem optar por o fazer, no entanto, fica a ressalva – o tema-título continua tão cativante como sempre, e capaz de ficar no cérebro durante semanas após uma única audição...

 

25.06.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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As transmissões de jogos de futebol têm, tradicionalmente e consistentemente, estado entre os segmentos com maior 'share' de audiências da televisão em sinal aberto em Portugal. Mesmo depois do advento da Sport TV (e, mais tarde, de redes como a Eleven Sports ou dos canais privados de cada clube) os jogos exibidos na RTP, SIC e TVI não deixam de atrair números invulgares de público para cada uma dessas estações, o que se afirma como natural num país com tanto gosto e apetência pelo desporto-rei como é o nosso. Ainda assim, situações em que a emissora depende activamente do futebol para sair de uma crise de audiências não deixam de constituir casos extremos, tanto em Portugal como um pouco por todo o Mundo; e, no entanto, era precisamente esse o contexto em que a RTP se encontrava nos primeiros meses da viragem do Milénio, e que levou a emissora estatal a empregar medidas drásticas nesse Verão, aquando da realização do Campeonato Europeu de Futebol.

Isto porque, como detentora de acções na Sport TV, a RTP dividiria, normalmente, o 'pacote' de direitos de transmissão dos jogos com a emissora privada, exibindo apenas partidas selectas em sinal aberto, numa práctica que se mantém até aos dias de hoje; no caso do Euro 2000, no entanto, tal partilha não teve lugar, tendo a RTP retido os direitos de todas as vinte e sete partidas - de um total de trinta e uma - que logrou conseguir transmitir (as restantes quatro viriam a ser exibidas no 'outro' canal de desporto da TV Cabo da época, o Eurosport, que mostraria também algumas das partidas da RTP em diferido, numa emissão que dedicava vinte e quatro horas diárias à competição), obrigando a Sport TV a transmitir apenas debates sobre os jogos da competição, nos horários em que normalmente os estaria a exibir. Tais acções deviam-se à crise de resultados que a emissora estatal atravessava por comparação às rivais privadas, sendo que apenas o futebol conseguia equiparar a estação da 5 de Outubro às de Carnaxide ou Queluz.

Quando somada a uma série de 'picardias' entre o canal público e o seu 'sócio' privado – com a Sport TV a negar à RTP direitos de transmissão em directo dos jogos do FC Porto na Liga dos Campeões do ano transacto (obrigando a que os mesmos fossem exibidos em diferido, com uma hora de atraso), e a emissora estatal a 'vingar-se' bloqueando, no último momento, o acesso do canal codificado ao particular Portugal-Itália – esta atitude tornou inviável qualquer colaboração futura entre os dois canais, tendo a Sport TV procurado associar-se à SIC no tocante à partilha de direitos televisivos de eventos de desporto, iniciada com a transmissão conjunta do Open do Estoril em Ténis. Já a RTP beneficiria mesmo do 'choque na veia' proporcionado por um dos melhores Euros de sempre, ao qual se seguiram, quase de imediato, os Jogos Olímpicos de Sydney, também cobertos na quase totalidade pela emissora estatal. Um Verão de sucesso para as 'duas' RTPs, portanto - muito por conta daquilo a que a imprensa da época chegou a chamar uma 'overdose' de desporto – mas que, ao mesmo tempo, mudaria para sempre o paradigma e estrutura de partilhas e alianças para a transmissão de eventos desportivos em Portugal, numa alteração cujos efeitos se continuam a fazer sentir até aos dias de hoje, e que parece dar razão à máxima que diz que 'nunca é apenas futebol'...

19.09.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há figuras tão peculiares ou carismáticas que são capazes, com a sua forma de ser ou estar, de transformar até o mais enfadonho dos assuntos em algo minimamente interessante – e a televisão portuguesa dos anos 90 esteve bem servida deles. De Carlos Cruz a Júlio Isidro, António Sala, Nicolau Breyner, Fernando Mendes, Jorge Gabriel, Olga Cardoso ou até 'pivots' como Artur Albarran, muitas foram as personalidades que ajudaram a 'animar' as tardes e noites dos portugueses de finais do século XX. Mas se a maioria destas figuras se movia no já de si apelativo mundo do entretenimento, uma havia que tinha pela frente missão mais 'espinhosa'; a de interessar o telespectador comum em assuntos de cultura geral, e mais concretamente ligados à História de Portugal. E a verdade é que tal tarefa não amedrontou a 'cara' em causa, que fez, durante os vinte anos de cada lado do Novo Milénio, diversas, e relativamente bem sucedidas, tentativas de educar as 'massas' portuguesas.

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Antes de Marcelo, era este o homem conhecido como 'o Professor' pela maioria dos portugueses...

Falamos, claro está, do professor José Hermano Saraiva, talvez mais conhecido das gerações 'X' e 'millennial' como um dos mais famosos e bem conseguidos 'bonecos' da 'Enciclopédia' de Herman José (outra das tais figuras cativantes e icónicas da televisão nacional da época), que captou e satirizou com mestria os icónicos e inconfundíveis trejeitos do velho historiador; no entanto, para quem gostava (ou tentava gostar) de História, o então professor universitário era um nome incontornável, que tinha o condão de tornar as normalmente aborrecidas sequências de eventos da História de Portugal em 'histórias' (com H pequeno) capazes de captar e cativar a atenção – uma característica que o mesmo tentava implementar em cada novo programa que levava ao ar. 'A Bruma da Memória', estreado há quase exactos trinta anos (a 17 de Setembro de 1993) não é excepção, apresentando todas as características que se podiam esperar de um programa de José Hermano Saraiva.

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Composto por treze episódios, que perfazem uma única 'temporada', o conceito (a que a Wikipédia chama 'série', mas que, na verdade, se assemelha bastante mais a um dos então frequentes programas documentais ou de reportagem de índole cultural) foi produzido por Teresa Guilherme (sim, essa mesma!) e integrou a grelha da RTP durante exactos três meses, ao ritmo de um episódio por semana, tendo o último, sobre Macau, sido transmitido a 17 de Dezembro daquele mesmo ano. Antes, o Professor havia já visitado localidades como Guimarães, Aveiro, Tomar, Mafra e Setúbal, onde se debruçara sobre alguns dos acontecimentos mais marcantes da nossa História, bem como sobre algumas das personalidades e obras de arte ligadas a cada uma das localidades, sempre no seu tom conversacional e com os famosos gestos de mãos a enfatizar a sua cadência declamatória e solene.

O resultado era um daqueles programas (e não séries...) que se podiam ver em família, depois do jantar e antes de ir para a cama, e que os pais com interesse em assuntos culturais e intelectuais mostravam aos filhos para os tentar interessar em assuntos adjacentes aos que os mesmos aprendiam na escola. E ainda que estas tentativas nem sempre fossem bem sucedidas, a verdade é que programas como o de José Hermano Saraiva desempenhavam um papel importante no contexto das mesmas, bem como nos esforços mais generalizados de fazer chegar cultura geral à população; quanto mais não seja por isso, programas como 'A Bruma da Memória' merecem ser lembrados pela geração que, apesar de talvez muito nova para os absorver na totalidade, terá uma vaga memória de os ver 'passar' na televisão lá de casa nos serões de finais de 1993. Para esses, aqui deixamos o link para a 'playlist' com todos os episódios, para que possam recordar aqueles tempos, há exactos trinta anos, em que a televisão pública ainda procurava ter conteúdos de teor cultural e didáctico...

 

02.05.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Qualquer conceito de sucesso – seja um produto ou, como neste caso, uma criação mediática – dará, inevitavelmente, azo a um sem-número de concorrentes e imitadores de índole muito semelhante, mas normalmente sem a qualidade e o factor originalidade que ajudavam a explicar o sucesso do pioneiro original. O Mundo da televisão não é excepção a esta regra - antes pelo contrário – sendo numerosos os exemplos de programas que tentam (com maior ou menor sucesso) replicar as ideias da concorrência, a fim de, idealmente, lhe retirarem uma parte do 'share' de audiências; assim, não é de todo surpreendente constatar que, em meados de 1995, a televisão estatal portuguesa tenha apostado precisamente nessa táctica para tentar 'roubar' espectadores à cada vez mais popular SIC, através de um programa praticamente 'tirado a papel químico' de um dos seus maiores êxitos.

Segundo genérico do programa.

Falamos de 'Sem Limites', um magazine apresentado por uma equipa de jovens entusiásticos, e que procurava divulgar eventos, nomes e técnicas ligados aos desportos radicais, de forma simples, entusiasmante e capaz de agradar ao público mais jovem, principal interessado nessas modalidades. E se este conceito soa estranhamente familiar, é porque o é, não sendo 'Sem Limites' mais do que a resposta da RTP ao mega-sucesso 'Portugal Radical' – embora o facto de, até hoje, muita gente confundir este programa com o 'rival' demonstre cabalmente quem ganhou essa 'batalha' em particular.

Ainda assim, e apesar de ter sido sempre o 'segundo classificado' nas 'competições radicais' dos Domingos de manhã, o 'Sem Limites' conseguiu, ainda assim, 'aguentar-se' no ar durante no mínimo quatro anos, tendo tido as primeiras emissões por volta de 1994 e permanecido na grelha da RTP até pelo menos a 1998, facto que demonstra que, apesar da forte concorrência 'privada', o programa não deixava, ainda assim, de encontrar a sua audiência – algo que, convenhamos, não era difícil naquela que foi a época de maior entusiasmo e interesse em torno dos desportos radicais.

No entanto, ao contrário do seu concorrente directo, o programa teve muito pouco impacto nostálgico na geração nascida e crescida nos anos 80 e 90, não tendo tido direito ao mesmo 'merchandising' oficial, revista e discos de banda sonora do concorrente, e a sua memória sobrevive, hoje em dia, sobretudo na secção de Arquivos do 'site' da RTP, onde se pode encontrar o equivalente a cerca de um ano e meio de episódios completos do programa; ainda assim, não deixa de ser de valor relembrar aquele que foi um dos exemplos mais 'descarados' e 'acabados' de cópia directa de um conceito na História da televisão portuguesa, numa 'jogada' que provou que a guerra das audiências dos anos 90 se desenrolava mesmo 'Sem Limites...'

Um segmento do programa, no caso, alusivo ao 'bodyboard'.

18.04.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Em edições passadas desta mesma rubrica, temos ao longo do tempo vindo a abordar concursos icónicos da televisão portuguesa de finais da década de 80 até ao dealbar do Novo Milénio; esta semana, chega a altura de juntar mais um programa a essa vasta lista de 'game shows' icónicos, e recordar outro saudoso concurso das noites daquela época; o 'Palavra Puxa Palavra'.

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Apresentado por António Sala – futuro sucessor de Carlos Cruz no 'Um, Dois, Três' e 'cara' da versão portuguesa de 'Você Decide', além de eterna 'voz' do 'Despertar' da Rádio Renascença – o concurso era, como a maioria dos seus congéneres da época, uma adaptação directa de um formato estrangeiro, no caso norte-americano, e propunha uma espécie de jogo de 'charadas', a pares, entre dois concorrentes e dois convidados especiais. A cada elemento do duo era, alternadamente, dada uma palavra, que o mesmo deveria tentar transmitir ao seu parceiro através de cinco pistas; no final, sobrava apenas um dos dois concorrentes, o qual se juntava ao convidado da sua escolha para tentar identificar dez palavras no espaço de um minuto. Pelo meio, havia também 'palavras-cheque', que davam direito a bónus, mas apenas se adivinhadas em três pistas ou menos, o que acentuava o seu carácter 'especial' e aumentava a dificuldade dos turnos em que surgiam. Um conceito original, relativamente fácil de 'vender' a um público-alvo habituado a jogar às 'Charadas', e que compreendia a tensão inerente a ter que descobrir a palavra correcta em poucos segundos, e com ajuda limitada. 

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Exemplo de um turno da primeira fase do programa.

Talvez estivesse aí um dos 'trunfos' por detrás do sucesso do programa, que conseguiu manter-se no ar durante honrosos quatro anos, de 1990 a 1994 – menos do que 'dinossauros' como 'O Preço Certo' ou o referido 'Um, Dois, Três, mas mais do que muitos dos seus contemporâneos – tendo durante três deles feito parte da grelha da RTP2 (então um pouco menos 'culta e adulta' do que hoje em dia) e no último do principal canal estatal, numa transição directa que não implicou quaisquer alterações ao formato ou sequer mudança de apresentador, pesassem embora os compromissos de Sala no 'Um, Dois, Três'.

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O carismático apresentador do programa.

À distância de trinta anos, a impressão que fica é a de um concurso que, apesar de não se encontrar ao mesmo nível dos grandes 'clássicos' da RTP neste campo, não deixava de ter todos os elementos necessários ao sucesso dentro do seu campo, do formato interessante ao apresentador carismático, e que conseguiu deixar pelo menos alguma 'marca' nostálgica na geração que passou as noites de semana no sofá, em família, a ver concorrentes 'esmifrarem-se' para ganhar prémios numa série de programas absolutamente icónicos – da qual este faz também, merecidamente, parte. Tanto assim que, findo o programa, o mesmo foi substituído por outro de formato quase exactamente idêntico, com o mesmo patrocinador e locutor, agora intitulado 'A Grande Pirâmide' – e dado que, como diz um ditado anglófono, 'a imitação é a mais sincera forma de homenagem', 'Palavra Puxa Palavra' deve, certamente, ter sido bem-sucedido naquilo a que se propunha...

28.03.23

NOTA: Este 'post' é correspondente a Segunda-feira, 27 de Março de 2023.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de ser a fonte de muita da iconografia mais apelativa para o público mais jovem, como flores e passarinhos, a Primavera encontra-se, ainda assim, sub-representada no campo da animação; apesar de muitos desenhos animados adoptarem a estética de campos verdejantes e paisagens idílicas, apenas um número muito reduzido se dá ao trabalho de localizar a acção especificamente nesta estação. No entanto, os anos 80 e a primeira metade da década seguinte viram, talvez, o maior influxo de produtividade neste capítulo em particular, pelo que – numa altura em que se celebra a chegada da estação das flores – nada melhor do que recordar algumas das mais marcantes.

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E nada mais certo do que começar por aquela que foi uma das séries mais acarinhadas por uma dada geração de portugueses, que a chegou a ver três vezes no espaço de uma década, tendo a mesma ido ao ar originalmente em 1985, na RTP1, e repetido depois em 1988, novamente na '1', e 1994, no bloco 'Um-Dó-Li-Tá', na RTP2. Falamos de 'Fábulas da Floresta Verde', um daqueles 'animes' da fase clássica da indústria (é, originalmente, de 1973) cujo nome não deixa grande lugar a dúvidas quanto ao seu tema; mais curioso é perceber que a série tem como base uma série de contos escritos pelo mesmo autor das populares histórias de 'Pedro Coelho' (Peter Rabbit), que chegaram a inspirar dois filmes de acção real, já no Novo Milénio.

Com temática e estilo semelhantes aos também mega-populares 'Bana e Flapi', trata-se, no entanto, de uma série distinta, que segue as aventuras de duas marmotas, Rocky e Polly, no seu dia-a-dia na Floresta do título, com tudo o que isso implica – incluindo ataques por parte de predadores bastante realistas, como raposas, doninhas e, claro, seres humanos. Com um genérico memorável e uma atitude despretensiosa, é fácil de perceber o porquê de esta série ter sido grande favorita entre as crianças da época.

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Outra série que focava especificamente a Primavera era 'As Ervilhinhas de Poddington', uma série britânica que seguia o então popular 'formato Estrumpfes' e o adaptava quase directamente a outro meio – neste caso, uma plantação de ervilhas, habitada por todos os habituais estereótipos, incluindo uma única personagem feminina (denominada Ervilha de Cheiro e que, claro, é loira, ao melhor estilo Estrumpfina.) Com apenas treze episódios, a série destacou-se, aquando da sua passagem por Portugal – em 1992, na RTP1 - sobretudo pelo contagiante genérico, sendo, de resto, apenas mais uma série infantil dentro da média da época em que foi criada.

O contagiante genérico da série

Por último, mas não menos merecedora de destaque, vem a série 'A Família Silvestre', transmitida pela RTP e baseada na linha de brinquedos do mesmo nome lançada pela Tomy em finais dos anos 80, e que, em Portugal, era distribuída pela inevitável Concentra. Curiosamente, o conceito do desenho animado pouco tinha a ver com a linha original, adoptando um formato mais próximo ao dos populares 'Ursinhos Carinhosos', em que a titular Família Silvestre e restantes habitantes da floresta mágica, que o ajudam a resolver o seu problema enquanto tentam derrotar os vilões de serviço. Pela sinopse, já deu para ver que se trata, apenas e tão-sómente, de 'mais uma' série destinada a promover uma linha de brinquedos, sem nada que a distinga de congéneres mais famosas como os referidos 'Ursinhos Carinhosos' ou ainda os Pequenos Póneis.

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É pena, pois, que a estação que tantas crianças fascinou e inspirou ao longo das gerações não tenha ainda tido um representante condigno no mundo da animação; ainda assim, vale a pena recordar os poucos exemplos de séries da 'era de Ouro' que faziam uso da estação nas suas tramas, ou simplesmente no Mundo que criavam.

24.01.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Os anos 90 constituíram uma verdadeira 'época áurea' no que tocou aos blocos de programação infantil em Portugal, tendo visto nascer alguns dos mais memoráveis exemplos deste formato da História da televisão portuguesa; do 'Buereré' da SIC à 'Casa do Tio Carlos' e, mais tarde, o 'Batatoon' e 'Mix Max' (todos na TVI) as crianças portuguesas daquela década tiveram muito por onde escolher no tocante a programas que intercalavam a exibição de desenhos animados e séries infantis com jogos, passatempos e interlúdios musicais, com animação a cargo de um ou mais apresentadores carismáticos e bem-dispostos.

No caso da RTP, o representante deste tipo de programa começou por ser 'A Hora do Lecas', passando depois a chamar-se 'Brinca Brincando' (termo que se aplicou a uma série de formatos, sendo o mais memorável 'Os Segredos do Mimix') até, em 1993, se fixar como 'Um-Dó-Li-Tá', nome pelo qual o bloco infantil da emissora estatal seria conhecido até praticamente ao final da década.

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Alternando, durante os seus cinco anos de vida, entre a RTP1 e a RTP2, o programa foi alvo de várias re-estuturações de formato, por vezes concomitantes com estas mudanças. A proposta inicial não andava longe da das concorrentes, consistindo em desenhos animados intercalados com segmentos moderados por dois apresentadores - no caso Francisco Barbosa e Vera Roquette, esta última já bem querida da 'pequenada' devido à sua associação com o 'Agora Escolha', programa onde revelara uma aptidão especial para comunicar com os mais novos.

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Vera Roquette foi a primeira apresentadora do programa. (Crédito da foto: Desenhos Animados Anos 90)

Mais tarde, em 1994, a 'apresentação' passaria a ficar a cargo de dois bonecos, o 'Umdó' e a 'Litá', duas molas com vida que, nos anos finais do programa, foram substituídos por outros dois bonecos, HumHum e Benzé, que ocupariam o 'cargo' até à extinção do formato, em 1998, num caso óbvio de discriminação contra humanos...

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As molas animadas Umdó e Litá substituiriam os apresentadores humanos a partir de 1994

O que não se alterou ao longo do tempo de vida do programa foram a duração, que se manteve nas duas horas, e a aposta em conteúdos nacionais, como 'Rua Sésamo', 'Os Amigos de Gaspar' ou 'No Tempo dos Afonsinhos', à mistura com as habituais séries estrangeiras. Um formato perfeitamente 'seguro', sem grandes inovações, e sem a agitação frenética dos concorrentes directos (aproximava-se mais do ambiente tranquilo de 'A Casa do Tio Carlos' do que do 'espalhafato' de Ana Malhoa ou Batatinha) mas perfeitamente capaz de lhes fazer frente, até por dispôr de alguns bons argumentos a nível de séries e programas – e, como tal, bem digno de homenagem num ano em que se comemoram, simultaneamente, os trinta anos da sua estreia e os vinte e cinco da sua última emissão...

Dois excertos de eras diferentes do programa.

 

13.12.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há pouco menos de um ano atrás, falámos num dos nossos 'posts' sobre a emoção que representava para uma criança dos anos 90 ir assistir, ao vivo, a um espectáculo de Circo de Natal, normalmente através da(s) empresa(s) dos pais ou em visita de estudo com a escola. No entanto, e apesar de os referidos circos se espalharem, durante a época natalícia por quase todo o território português, haveria ainda, certamente, quem não tivesse oportunidade de visitar em pessoa a tenda listrada – e, nessa instância, apenas restava uma alternativa a quem queria admirar feitos impossíveis, rir dos palhaços ou emocionar-se com os sempre controversos números com animais: a emissão do 'Circo de Natal' apresentada por quase todas as televisões portuguesas da época.

Um marco perene da programação de Natal de finais do século XX (tão inevitáveis e esperados nas grelhas de 24 ou 25 de Dezembro como a 'Benção Urbi et Orbi' no Dia de Páscoa) os programas de Circo da época dividiam-se em dois grandes tipos: por um lado, as simples filmagens do espectáculo apresentado nesse ano pelos Circos Chen ou Cardinali situados em Lisboa ou no Porto, e por outro as transmissões de espectáculos de circo estrangeiros, normalmente de uma companhia prestigiada como o Circo do Mónaco; e ainda que nenhuma das duas opções enchesse totalmente as medidas ou conseguisse capturar a experiência de ver aqueles números ao vivo – os programas com base em circos portugueses, em particular, faziam ter vontade de 'estar lá' – ambos constituíam uma boa maneira de passar algumas horas da manhã de feriado, depois de já ter aberto todos os presentes e antes de sair para o almoço de Natal em casa da avó.

Ao contrário do que acontece com muitos dos programas que aqui abordamos, o Circo de Natal mantém-se intacto na grelha natalícia das televisões portuguesas – de facto, quem ligar a televisão nas próximas semanas deparar-se-à, provavelmente, com um programa em tudo semelhante aos da sua infância, sendo a única diferença, talvez, a dupla de apresentadores famosos, prontos a comentar os feitos dos artistas da companhia; uma prova cabal de que nem tudo mudou na sociedade actual por comparação à daquela época e de que, mesmo com todas as controvérsias que hoje a rodeiam, esta forma de arte continua, para muitos portugueses de todas as idades, a ser parte integrante da tradição natalícia, e tão sinónima com a mesma como o era naqueles anos 90.

05.12.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de inspirar e servir de tema a inúmeros filmes e especiais televisivos, o Natal teve, ao longo dos anos, muitíssimo poucas séries completas a ele dedicadas; talvez pela dificuldade em manter o interesse das audiências nesta época muito específica do ano em meses menos festivos, escasseiam os exemplos de programas – sejam de acção real ou em desenho animado – com o Pólo Norte ou a época das festas como pano de fundo. Mesmo a época 'áurea' para este tipo de conteúdo a que este blog diz respeito apenas rendeu um exemplo totalmente tematizado no período natalino (de que falaremos na Segunda de Séries mais próxima da festa em si) e um outro que, sem ser dedicamente natalício, tinha o Pai Natal como personagem recorrente, e um antagonista que pretendia tomar o lugar do bom velhinho; é sobre esta última que nos debruçaremos esta semana.

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Trata-se de 'Bebés em Festa' (no original, 'Baby Folies') série animada francesa produzida em 1993 e transmitida nos dois canais da televisão estatal, em versão dobrada, a partir de 1996. Como o próprio nome indica, o programa debruça-se sobre as aventuras e desventuras dos habitantes de Vila Bebé, a localidade onde os bebés esperam pela cegonha que os levará aos futuros pais; no entrementes, os rebentos (que, apesar de ainda não terem tecnicamente nascido, já andam e falam, entre outras acções) desfrutam de uma sociedade totalmente funcional, com presidente da câmara, bares de 'leitinho', forças da lei, empresários, tecnocratas, detectives privados e até 'gangsters' ao estilo Al Capone, sem esquecer a 'menina' da praxe (a série segue, aliás, a 'fórmula Estrumpfe', sendo a Bebé Lauren uma das poucas personagens femininas, a par da Bebé Executiva.) E como se este conceito não fosse, já em si, suficientemente bizarro, os bebés têm, ainda, interacções frequentes com o Pai Natal (que surge mesmo 'fora de época') e com o malvado Scrogneugneu, um mago cujo objectivo máximo é tornar-se 'Pai Natal em vez do Pai Natal' - uma mistura algo aleatória de elementos que acaba, no entanto,por resultar.

Não que 'Bebés em Festa' seja uma série de particular destaque a nível técnico ou de enredos – pelo contrário, muitas das aventuras vividas pelos personagens (como a que apresentamos abaixo) poderiam perfeitamente ser transpostas para um contexto adulto sem que nada excepto alguns elementos superficiais se alterasse; nesse aspecto, o programa fica muito atrás do concorrente mais directo, 'Rugrats – Os Meninos de Coro', que tira o máximo proveito das potencialidades de um elenco composto por bebés (e a vontade de ver 'Rugrats' fica, ainda, exacerbada pela presença de algumas das vozes que davam vida a Tommy, Chucky e amigos em Portugal, aqui em papéis bem menos desafiantes, interessantes ou memoráveis.)

No entanto, para aquilo que é - entretenimento infantil descartável e sem pretensões à imortalidade nostálgica - 'Bebés em Festa' resulta, ainda que (como o excerto abaixo também demonstra) não seja tão inocente quanto à primeira vista parece, contendo elementos que apenas uma companhia europeia se atreveria a inserir num programa infantil – como se não bastasse o 'rebolado' da Bebé Lauren, o único excerto disponívell no YouTube mostra um enredo focado no vício do jogo (!) com personagens supostamente honestos a roubarem cofres (!!) e até uma cena que se pode interpretar como levemente racista para com o único bebé negro (!!!). Detalhes que terão, decerto, 'passado por cima da cabeça' do público-alvo da época, mas capazes de arrepiar qualquer produtor televisivo dos dias que correm.

Excerto de um episódio que apresenta alguns elementos surpreendentemente 'adultos'

Em última instância, no entanto, nem mesmo estes pormenores algo inesperados e chocantes chegam para tirar 'Bebés em Festa' da mediania, sendo o único elemento verdadeiramente longevo o tema de abertura, um daqueles que ainda se recordam literais décadas depois de o programa sair do ar; no restante, a série merece destaque apenas por ser uma das poucas que incorpora o Natal no seu conceito-base a tempo inteiro, ficando bastante aquém da maioria dos outros produtos nostálgicos de que aqui vimos falando desde o início deste 'blog' – bem como de outro, de conceito semelhante, que aqui paulatinamente abordaremos. Ainda assim, numa época que peca pela falta de foco ao nível das séries, esta produção francesa sempre vai sendo das poucas a 'dar o corpo à causa', fazendo assim por merecer estas breves linhas de destaque neste início de época festiva.

O contagiante genérico da série sobrevive mesmo a uma qualidade de som praticamente inexistente.

 

 

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