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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

16.05.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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O apresentador nos tempos do programa.

Quem cresceu entre a década de 80 e a actualidade certamente conhece bem o nome de Herman José. Inicialmente revelado como humorista, nos anos 70 e 80, o luso-alemão viria, na década seguinte, a viver um 'novo fôlego' na carreira enquanto apresentador de concursos televisivos – posição na qual a sua popularidade rivalizava com a de nomes como Carlos Cruz, António Sala ou Júlio Isidro – antes de regressar à comédia com a lendária 'Herman Enciclopédia', que o viria a apresentar a toda uma nova geração, demasiado nova para ter visto o especial de Fim de Ano transmitido pela RTP no último dia de 1991, tido a 'Roda da Sorte' como ruído de fundo das noites da sua infância, ou se interessar pelo 'Parabéns'. Pelo meio, no entanto, o humorista tentou ainda outro 'desvio' na carreira, menos antológico e bem-sucedido, mas que viria ainda assim a abrir novas possibilidades para a sua carreira.

Falamos de 'Herman 98', estreado há quase exactos vinte e cinco anos, em Maio de 1998, e que trazia Herman à cabeça de um formato 'talk show' com música e muito humor à mistura, nos moldes de programas como o 'Tonight Show' ou 'Late Night' norte-americanos. A acompanhar o luso-alemão nesta aventura estavam todos os suspeitos do costume, dos argumentistas das Produções Fictícias a actores como Maria Rueff e Vítor de Sousa, que davam, com Herman, vida aos diferentes 'sketches' encenados por entre as entrevistas a convidados e os esporádicos números musicais; e se este formato parece familiar, é porque se trata, precisamente, do mesmo adoptado em 'Cá Por Casa', o mais recente programa do humorista, actualmente em exibição na RTP.

De facto, reside precisamente aí o grande mérito de 'Herman 98' e da sua sequela do ano seguinte – nomeadamente, o de ter dado confiança a Herman José como apresentador de um formato (ligeiramente) mais sério que o habitual – sem, com isso, perder a personalidade muito própria que qualquer programa de Herman apresenta – servindo, assim, como inspiração para projectos futuros do humorista, a começar pelo acima mencionado. E apesar de, à época, o programa ter talvez parecido um pouco aborrecido para quem estava habituado a ver Herman a 'debitar' ininterruptamente piadas e dichotes dirigidos a concorrentes ou assistentes de palco, a verdade é que, à distância de um quarto de século, as qualidades do formato (e da forma como o mesmo foi executado) se tornam bem evidentes, tornando 'Herman 98' merecedor de algumas linhas de homenagem por altura do trigésimo aniversário da sua estreia em televisão.

Quem se atrever, pode ver acima três horas de Herman José...

...ou, para quem tenha menos tempo e paciência, aqui fica a actuação dos então popularíssimos Excesso no programa em causa.

08.05.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

O genérico inicial é um dos mais importantes factores de qualquer série de ficção, independentemente do seu público-alvo, pelo seu papel fulcral como primeiro factor de atracção de potenciais espectadores; quando o conteúdo em causa é dirigido a um público infanto-juvenil (uma demografia conhecida pela volatilidade dos seus níveis de atracção e interesse) tal papel reveste-se de ainda maior preponderância, fazendo com que a maioria das séries deste tipo ponham especial esmero nas suas sequências de abertura.

No entanto, ainda que esta missão seja, regra geral, bem sucedida, apenas um número muito restrito de programas conseguem criar genéricos verdadeiramente memoráveis, daqueles que continuam a 'ressoar' nas cavidades cranianas de toda uma geração anos, ou mesmo décadas, depois de terem deixado de servir a sua função original. A série que abordamos hoje faz parte desse lote restrito, merecendo ombrear com programas como 'Pokémon', 'Artur', 'Power Rangers', 'Tartarugas Ninja', 'Dragon Ball' e 'Dragon Ball Z', 'Digimon', 'Onde Está o Wally?', 'Dartacão', 'As Aventuras do Bocas' ou 'As Novas Aventuras Disney' no panteão dos temas mais 'pegajosos' e memoráveis da televisão portuguesa.

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Falamos de 'Inspector Engenhocas', mais conhecida como 'Inspector Gadget', o desenho animado sobre um agente especial da Interpol com inúmeros recursos mecânicos secretos – as suas 'engenhocas' homónimas – escondidas no chapéu e casaco, às quais podia aceder a qualquer momento através da icónica frase-chave 'go, go, gadget', algo como 'activar engenhoca' em Português. A acompanhá-lo nas suas missões contra o malvado Dr. Claw – e, muitas vezes, a corrigir os frequentes erros resultantes da sua personalidade algo atrapalhada – estavam sempre a sua sobrinha, Sofia (ou Penny), e o cão desta última, Finório (ou Brain) uma daquelas criaturas dotadas de inteligência humana bem típicas dos desenhos animados desta época.

Apesar dos inúmeros factres memoráveis dos episódios em si, no entanto – de 'go, go, gadget' à inevitável proclamação do Dr. Claw de que venceria 'da próxima vez, Engenhocas...da próxima vez' – não há dúvida de que o verdadeiro elemento que rendeu à série 'morada' perpétua no cérebro de toda uma geração de crianças ao redor do Mundo foi o seu genérico, que consegue a proeza de não só se integrar perfeitamente no espírito e ambiente do programa, como também se recusar a alguma vez abandonar as sinapses de quem alguma vez a ouviu; de facto, a reacção mais normal de um ex-'puto' noventista ao ver sequer uma imagem dos personagens da série será a de começar imediatamente a trautear o icónico tema - se com ou sem letra, dependerá da versão com que cresceu...

As duas aberturas da série, de 1990 e 1994, respectivamente.

Ao contrário do que por vezes acontece, no entanto, no caso do 'Inspector Engenhocas' há 'vida' para lá do genérico, tendo a própria série qualidade suficiente para cativar não só quem a viu durante a primeira passagem na RTP, em 1990 (com inexplicável mas também icónica dobragem francesa) como quem a conheceu alguns anos mais tarde, já em versão portuguesa, por intermédio da SIC ou do Canal Panda, ou até quem apenas se inteirou da existência do personagem através das duas adaptações (fraquinhas) com actores de 'carne e osso' lançadas pela Disney em 1999 e 2003 -- que paulatinamente aqui terão a nossa atenção - ou mesmo do inevitável 'remake' em CGI lançado em 2015. Por agora, ficamo-nos pela recordação da muito mais icónica série animada produzida em parceria entre a França, EUA e Canadá, e que pôs toda uma geração a cantar 'du-dudu-dudu, Ins-pec-tor Gad-get...' até aos dias de hoje – prova cabal do impacto que um genérico de abertura verdadeiramente memorável pode ter na longevidade nostálgica de um programa de televisão.

02.05.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Qualquer conceito de sucesso – seja um produto ou, como neste caso, uma criação mediática – dará, inevitavelmente, azo a um sem-número de concorrentes e imitadores de índole muito semelhante, mas normalmente sem a qualidade e o factor originalidade que ajudavam a explicar o sucesso do pioneiro original. O Mundo da televisão não é excepção a esta regra - antes pelo contrário – sendo numerosos os exemplos de programas que tentam (com maior ou menor sucesso) replicar as ideias da concorrência, a fim de, idealmente, lhe retirarem uma parte do 'share' de audiências; assim, não é de todo surpreendente constatar que, em meados de 1995, a televisão estatal portuguesa tenha apostado precisamente nessa táctica para tentar 'roubar' espectadores à cada vez mais popular SIC, através de um programa praticamente 'tirado a papel químico' de um dos seus maiores êxitos.

Segundo genérico do programa.

Falamos de 'Sem Limites', um magazine apresentado por uma equipa de jovens entusiásticos, e que procurava divulgar eventos, nomes e técnicas ligados aos desportos radicais, de forma simples, entusiasmante e capaz de agradar ao público mais jovem, principal interessado nessas modalidades. E se este conceito soa estranhamente familiar, é porque o é, não sendo 'Sem Limites' mais do que a resposta da RTP ao mega-sucesso 'Portugal Radical' – embora o facto de, até hoje, muita gente confundir este programa com o 'rival' demonstre cabalmente quem ganhou essa 'batalha' em particular.

Ainda assim, e apesar de ter sido sempre o 'segundo classificado' nas 'competições radicais' dos Domingos de manhã, o 'Sem Limites' conseguiu, ainda assim, 'aguentar-se' no ar durante no mínimo quatro anos, tendo tido as primeiras emissões por volta de 1994 e permanecido na grelha da RTP até pelo menos a 1998, facto que demonstra que, apesar da forte concorrência 'privada', o programa não deixava, ainda assim, de encontrar a sua audiência – algo que, convenhamos, não era difícil naquela que foi a época de maior entusiasmo e interesse em torno dos desportos radicais.

No entanto, ao contrário do seu concorrente directo, o programa teve muito pouco impacto nostálgico na geração nascida e crescida nos anos 80 e 90, não tendo tido direito ao mesmo 'merchandising' oficial, revista e discos de banda sonora do concorrente, e a sua memória sobrevive, hoje em dia, sobretudo na secção de Arquivos do 'site' da RTP, onde se pode encontrar o equivalente a cerca de um ano e meio de episódios completos do programa; ainda assim, não deixa de ser de valor relembrar aquele que foi um dos exemplos mais 'descarados' e 'acabados' de cópia directa de um conceito na História da televisão portuguesa, numa 'jogada' que provou que a guerra das audiências dos anos 90 se desenrolava mesmo 'Sem Limites...'

Um segmento do programa, no caso, alusivo ao 'bodyboard'.

18.04.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Em edições passadas desta mesma rubrica, temos ao longo do tempo vindo a abordar concursos icónicos da televisão portuguesa de finais da década de 80 até ao dealbar do Novo Milénio; esta semana, chega a altura de juntar mais um programa a essa vasta lista de 'game shows' icónicos, e recordar outro saudoso concurso das noites daquela época; o 'Palavra Puxa Palavra'.

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Apresentado por António Sala – futuro sucessor de Carlos Cruz no 'Um, Dois, Três' e 'cara' da versão portuguesa de 'Você Decide', além de eterna 'voz' do 'Despertar' da Rádio Renascença – o concurso era, como a maioria dos seus congéneres da época, uma adaptação directa de um formato estrangeiro, no caso norte-americano, e propunha uma espécie de jogo de 'charadas', a pares, entre dois concorrentes e dois convidados especiais. A cada elemento do duo era, alternadamente, dada uma palavra, que o mesmo deveria tentar transmitir ao seu parceiro através de cinco pistas; no final, sobrava apenas um dos dois concorrentes, o qual se juntava ao convidado da sua escolha para tentar identificar dez palavras no espaço de um minuto. Pelo meio, havia também 'palavras-cheque', que davam direito a bónus, mas apenas se adivinhadas em três pistas ou menos, o que acentuava o seu carácter 'especial' e aumentava a dificuldade dos turnos em que surgiam. Um conceito original, relativamente fácil de 'vender' a um público-alvo habituado a jogar às 'Charadas', e que compreendia a tensão inerente a ter que descobrir a palavra correcta em poucos segundos, e com ajuda limitada. 

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Exemplo de um turno da primeira fase do programa.

Talvez estivesse aí um dos 'trunfos' por detrás do sucesso do programa, que conseguiu manter-se no ar durante honrosos quatro anos, de 1990 a 1994 – menos do que 'dinossauros' como 'O Preço Certo' ou o referido 'Um, Dois, Três, mas mais do que muitos dos seus contemporâneos – tendo durante três deles feito parte da grelha da RTP2 (então um pouco menos 'culta e adulta' do que hoje em dia) e no último do principal canal estatal, numa transição directa que não implicou quaisquer alterações ao formato ou sequer mudança de apresentador, pesassem embora os compromissos de Sala no 'Um, Dois, Três'.

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O carismático apresentador do programa.

À distância de trinta anos, a impressão que fica é a de um concurso que, apesar de não se encontrar ao mesmo nível dos grandes 'clássicos' da RTP neste campo, não deixava de ter todos os elementos necessários ao sucesso dentro do seu campo, do formato interessante ao apresentador carismático, e que conseguiu deixar pelo menos alguma 'marca' nostálgica na geração que passou as noites de semana no sofá, em família, a ver concorrentes 'esmifrarem-se' para ganhar prémios numa série de programas absolutamente icónicos – da qual este faz também, merecidamente, parte. Tanto assim que, findo o programa, o mesmo foi substituído por outro de formato quase exactamente idêntico, com o mesmo patrocinador e locutor, agora intitulado 'A Grande Pirâmide' – e dado que, como diz um ditado anglófono, 'a imitação é a mais sincera forma de homenagem', 'Palavra Puxa Palavra' deve, certamente, ter sido bem-sucedido naquilo a que se propunha...

10.04.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de as suas origens se encontrarem na banda desenhada britânica (é, aliás, piloto da Royal Air Force) o herói de guerra conhecido em Portugal como Major Alvega (de seu nome original Battler Britton, o que torna a sua nacionalidade ainda mais evidente) sempre gozou de enorme sucesso no nosso país, muito graças à sua publicação em revistas tão icónicas como 'Cavaleiro Andante' e 'O Falcão', além do seu título próprio; e apesar de a maioria das suas aventuras ter surgido no nosso país durante as décadas de 60 e 70, a última surgiu apenas em 1987, pelo que, uma década depois, o herói continuava a gozar de suficiente popularidade e memorabilidade entre a geração de jovens mais velhos para justificar a transição das páginas desenhadas para o grande ecrã, agora numa produção declaradamente nacional, sem qualquer envolvimento do seu suposto país de origem.

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Estreada há quase exactamente vinte e cinco anos (a 4 de Abril de 1998), 'Major Alvega' - a série - trazia Ricardo Carriço no papel do titular piloto da RAF, de seu nome completo Jaime Eduardo de Cook e Alvega, e contava no elenco secundário com alguns dos mais populares nomes da televisão, dos quais se destacavam Henrique Canto e Castro (conhecido dos jovens da época como a voz do Bocas) no papel do superior de Alvega, Sir Hugh Dowding, e nada mais nada menos do que o ícone jornalístico Fernando Pessa, no papel do narrador! Estes e outros nomes surgiam combinados com cenários animados, numa inovação técnica até então única na televisão portuguesa (àparte alguns usos muito simples e primitivos em 'sketches' humorísticos de Herman José, entre outros) e que ficou para a posteridade como principal ponto distintivo da série, que ficou, de outro modo, algo esquecida pela nostalgia dos portugueses da época.

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Exemplo da inusitada combinação de técnicas da série.

Ainda assim, por altura da sua exibição, o programa fez relativo sucesso - suficiente, pelo menos, para justificar uma segunda temporada, exibida já nos primeiros meses do Novo Milénio. E a verdade é que, apesar de não se tratar, de forma alguma, de um título de primeira linha no cômputo geral das séries televisivas de finais do século XX, esta adaptação televisiva de um idolatrado herói de décadas passadas merece, mesmo assim, a distinção de algumas linhas por alturas do seu vigésimo-quinto aniversário.

Montagem de cenas da primeira temporada da série.

28.03.23

NOTA: Este 'post' é correspondente a Segunda-feira, 27 de Março de 2023.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de ser a fonte de muita da iconografia mais apelativa para o público mais jovem, como flores e passarinhos, a Primavera encontra-se, ainda assim, sub-representada no campo da animação; apesar de muitos desenhos animados adoptarem a estética de campos verdejantes e paisagens idílicas, apenas um número muito reduzido se dá ao trabalho de localizar a acção especificamente nesta estação. No entanto, os anos 80 e a primeira metade da década seguinte viram, talvez, o maior influxo de produtividade neste capítulo em particular, pelo que – numa altura em que se celebra a chegada da estação das flores – nada melhor do que recordar algumas das mais marcantes.

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E nada mais certo do que começar por aquela que foi uma das séries mais acarinhadas por uma dada geração de portugueses, que a chegou a ver três vezes no espaço de uma década, tendo a mesma ido ao ar originalmente em 1985, na RTP1, e repetido depois em 1988, novamente na '1', e 1994, no bloco 'Um-Dó-Li-Tá', na RTP2. Falamos de 'Fábulas da Floresta Verde', um daqueles 'animes' da fase clássica da indústria (é, originalmente, de 1973) cujo nome não deixa grande lugar a dúvidas quanto ao seu tema; mais curioso é perceber que a série tem como base uma série de contos escritos pelo mesmo autor das populares histórias de 'Pedro Coelho' (Peter Rabbit), que chegaram a inspirar dois filmes de acção real, já no Novo Milénio.

Com temática e estilo semelhantes aos também mega-populares 'Bana e Flapi', trata-se, no entanto, de uma série distinta, que segue as aventuras de duas marmotas, Rocky e Polly, no seu dia-a-dia na Floresta do título, com tudo o que isso implica – incluindo ataques por parte de predadores bastante realistas, como raposas, doninhas e, claro, seres humanos. Com um genérico memorável e uma atitude despretensiosa, é fácil de perceber o porquê de esta série ter sido grande favorita entre as crianças da época.

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Outra série que focava especificamente a Primavera era 'As Ervilhinhas de Poddington', uma série britânica que seguia o então popular 'formato Estrumpfes' e o adaptava quase directamente a outro meio – neste caso, uma plantação de ervilhas, habitada por todos os habituais estereótipos, incluindo uma única personagem feminina (denominada Ervilha de Cheiro e que, claro, é loira, ao melhor estilo Estrumpfina.) Com apenas treze episódios, a série destacou-se, aquando da sua passagem por Portugal – em 1992, na RTP1 - sobretudo pelo contagiante genérico, sendo, de resto, apenas mais uma série infantil dentro da média da época em que foi criada.

O contagiante genérico da série

Por último, mas não menos merecedora de destaque, vem a série 'A Família Silvestre', transmitida pela RTP e baseada na linha de brinquedos do mesmo nome lançada pela Tomy em finais dos anos 80, e que, em Portugal, era distribuída pela inevitável Concentra. Curiosamente, o conceito do desenho animado pouco tinha a ver com a linha original, adoptando um formato mais próximo ao dos populares 'Ursinhos Carinhosos', em que a titular Família Silvestre e restantes habitantes da floresta mágica, que o ajudam a resolver o seu problema enquanto tentam derrotar os vilões de serviço. Pela sinopse, já deu para ver que se trata, apenas e tão-sómente, de 'mais uma' série destinada a promover uma linha de brinquedos, sem nada que a distinga de congéneres mais famosas como os referidos 'Ursinhos Carinhosos' ou ainda os Pequenos Póneis.

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É pena, pois, que a estação que tantas crianças fascinou e inspirou ao longo das gerações não tenha ainda tido um representante condigno no mundo da animação; ainda assim, vale a pena recordar os poucos exemplos de séries da 'era de Ouro' que faziam uso da estação nas suas tramas, ou simplesmente no Mundo que criavam.

21.03.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui em ocasiões passadas abordámos alguns dos principais concursos televisivos do Portugal de finais do século XX, tendo nessas ocasiões também mencionado que este tipo de conteúdos constituía um dos principais 'esteios' da programação dos quatro canais 'abertos' portugueses da época. No entanto, havia, até agora, uma lacuna de vulto na nossa cobertura de programas desse tipo, lacuna essa que procuramos agora preencher: chegou, finalmente, a altura de falar do Um, Dois, Três.

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Considerado por muitos como o expoente máximo dos 'game shows' portugueses da fase clássica – mais ainda do que 'O Preço Certo' – o programa em causa conseguiu permanecer no ar durante praticamente uma década e meia, com muito poucas alterações ao formato, e apenas uma mudança de apresentador durante todo esse período. Da sua estreia há quase exactamente trinta e nove anos (a 19 de Março de 1984) à última emissão em 1998, o concurso baseou-se quase sempre numa prova de 'endurance' mental em várias fases, subordinada a um tema específico que 'rodava' semanalmente, e disputada a pares por três casais. O objectivo final do casal vencedor – e, consequentemente, apurado para a segunda fase - passava por adivinhar, com base nas pistas dadas pelo apresentador e seus coadjuvantes, o grande prémio de cada episódio, o qual consistia quase sempre dos habituais automóveis e viagens, mas podia também tratar-se de algo cómico e insólito, à laia de partida – quase sempre uma réplica da mascote do programa, a carismática Bota Botilde. (Esta última ideia seria, aliás, adoptada com grande sucesso por Olga Cardoso para o seu 'A Amiga Olga', grande êxito dos primórdios da TVI.)

Além desta prova central, que ocupava a grande maioria do tempo de antena do programa, o 'Um, Dois, Três' contava ainda com as habituais apresentações musicais e cómicas, estas últimas a cargo de nomes tão conceituados do humor da época como Carlos Miguel (o 'Fininho'), Herman José, Raul Solnado ou Marina Mota, cujo papel era o de entreter não só o público presente nos estúdios da Tóbis, como também os espectadores a assistir ao programa em casa.

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O apresentador sinónimo com o programa.

Por entre todos estes nomes sonantes, no entanto (incluindo o de Botilde), havia um que se destacava, e que se tornou ao longo dos anos ainda mais sinónimo com o programa do que a própria bota: Carlos Cruz. O carismático apresentador, então em estado de graça e ainda longe do escãndalo Casa Pia, representava, à época, uma presença constante na sala de estar dos portugueses durante o serão, e o seu típico 'charme' era responsável por grande parte do sucesso do 'Um, Dois, Três' – tanto assim que, durante o seu tempo de vida, o concurso apenas teve dois outros apresentadores: o igualmente carismático António Sala, em 1994-95, e Teresa Guilherme, durante a breve 'ressurreição' do programa no século XXI. Os restantes treze anos tiveram sempre Carlos Cruz ao 'leme', tornando o concurso praticamente sinónimo com toda a carreira do apresentador.

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António Sala ao comando do programa.

Em suma, o 'Um, Dois, Três' foi uma daquelas adaptações de formatos estrangeiros (no caso, da vizinha Espanha) que acabam por gozar de enorme sucesso também em Portugal, sendo ainda hoje um dos programas mais carinhosamente lembrados pela geração que cresceu com Carlos Cruz a 'entrar-lhe pela sala dentro' todos os princípios de noite, e que, quiçá, tenha mesmo chegado a ter junto ao gira-discos o LP da Bota Botilde...

O icónico genérico do programa.

Emissão completa da era António Sala.

 

13.03.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A década de 80 foi a época dos grandes heróis de acção, capazes de resolver conflitos por si só, à força de murros, balas e explosões; dos ex-soldados normalmente interpretados por Schwarzenegger e Stallone (ainda longe da sua fase como actores de comédia) aos mercenários do Esquadrão Classe A ou artistas marciais como os vividos por Van Damme, eram muitos os ídolos musculados à disposição dos 'putos' daquela época. No entanto, a estes 'brutamontes' de bom coração, contrapunha-se uma outra vertente de herói, mais 'cerebral' e capaz de escapar de situações complicadas usando a inteligência e espírito de 'desenrasca', que tinha como símbolos máximos o James Bond de Timothy Dalton e mais tarde Pierce Brosnan, e o homem de que falamos esta semana, o lendário Angus MacGyver, protagonista da série com o mesmo nome.

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Surgido nos ecrãs portugueses no ocaso da década de 80 – mais concretamente a 24 de Setembro de 1989 – o lendário agente secreto vivido por Richard Dean Anderson rapidamente se destacou da 'concorrência' pela sua extraordinária capacidade de resolver qualquer situação apenas com recurso ao seu canivete suíço e a objectos presentes nas suas imediações, sendo o exemplo 'memético' normalmente utilizado o de abrir uma fechadura com um 'clipse'. E, enquanto 'solucionador de problemas' da agência governamental american Phoenix, a verdade é que não faltam oportunidades para MacGyver testar o seu engenho, e derrotar os diversos vilões que se atravessam no seu caminho sem nunca recorrer a armas de fogo, às quais tem aversão devido a uma tragédia pessoal.

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O carismático Richard Dean Anderson dava vida ao agente americano.

O resultado são cenas de acção e peripécias capazes de deixar os espectadores da época – sobretudo os mais novos – 'colados' ao sofá, a ver como as 'MacGyvaradas' do agente o vão ajudar a ultrapassar o obstáculo da semana. E apesar de a série, já na altura, não ser 'topo de gama' a nível da produção, a verdade é que as 'acrobacias' de Anderson, juntamente com uma actuação personalizada (e, claro, um DAQUELES genéricos absolutamente lendários) davam à série um charme que lhe valeu o estatuto de 'culto' em vários países, entre eles Portugal, por onde 'MacGyver' teve uma passagem curta, mas memorável – embora não bem-sucedida o suficiente para justificar a transmissão dos dois filmes televisivos alusivos ao agente, produzidos em 1994.

Facto curioso: quase nos esquecíamos de mencionar este clássico absoluto  dos genéricos televisivos neste post; felizmente, ainda nos lembrámos a tempo...

Ainda assim, foi com naturalidade que 'MacGyver' entrou, em décadas subsequentes, na rotação nostálgica de canais como a RTP Memória, onde a série repetiu, não uma, mas duas vezes, em 2010 e 2019. Falta de 'material' original para exibir por parte da emissora estatal, ou prova do carinho de que a série continua a gozar no nosso País? Que diga de sua justiça quem, nos anos formativos, se sentou em frente à televisão aos Domingos, pelas 19 horas, para ver um homem arrombar uma porta trancada com um 'clipse' e um bocado de pastilha elástica...

 

07.03.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Apesar de exacerbada na era digital, com a crescente preponderância dos conteúdos curtos e de impacto, o conceito de 'rir da desgraça alheia' (no fundo, rir DE alguém em vez de COM alguém) é um daqueles instintos ancestrais da espécie humana cuja génese se perde no tempo. Há algo de catártico em ver alguém que não o próprio falhar em toda a linha, ser enganado, ou simplesmente fazer algo de pouco avisado e sofrer as inevitáveis consequências – uma sensação hoje lucrativamente explorada por plataformas como o YouTube e o TikTok, mas que já em finais do século XX era aproveitada pelo meio audio-visual então vigente, a televisão. De facto, foram inúmeros os programas dedicados a exibir momentos embaraçosos da espécie humana a fazer furor ao redor do Mundo, fossem eles compilações de vídeos caseiros involuntariamente humorísticos, 'à la' 'Isto Só Vídeo', ou o outro formato extremamente popular neste campo, o dos eternos 'apanhados'.

De facto, ao contrário do que as gerações mais novas possam pensar, a ideia de 'partidas filmadas' levadas a cabo em público não foi inventada pelos 'influencers' do YouTube; antes pelo contrário, várias décadas antes de a plataforma sequer ser fundada, já as emissoras e produtoras televisivas de todo o Mundo desenvolviam esse conceito a nível profissional, criando um sem-número de programas de enorme sucesso, com destaque para o original 'Candid Camera', apresentado por Dom DeLuise (então um nome em alta) e que chegou a ser transmitido no nosso País em versão legendada.

No entanto, a chegada do anafado comediante às televisões lusas não foi, de todo, o primeiro contacto dos espectadores portugueses com o formato em causa; pelo contrário, em meados dos anos 90 haviam já sido quatro as tentativas de criar um 'Candid Camera' português. O primeiro a tentar, ainda em inícios da década de 80, foi Joaquim Letria, que baptizou o programa com o mesmo nome do jornal que então dirigia, o entretanto desaparecido Tal & Qual; nos anos subsequentes, surgiriam (e desapareceriam) mais três programas deste tipo, sempre com Joaquim Letria por detrás, o último dos quais comemora esta semana (a 8 de Março) os exactos trinta anos, não da primeira, mas da ÚLTIMA transmissão da sua série original – altura ideal, portanto, para nos debruçarmos sobre ele.

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Trata-se do singelamente intitulado 'Apanhados', estreado na RTP1 a 14 de Setembro de 1992, e que conquistou de imediato o seu público-alvo, com a sua enorme variedade de 'partidas', algumas bastante criativas, e que nunca deixavam de suscitar a quem nelas 'caía' reacções de embaraço, por vezes exagerado, que eram o principal motivo de interesse do programa, e o momento mais esperado por todos os que o viam. Algumas destas partidas tornaram-se mesmo icónicas para uma certa geração de portugueses, como a do manequim vivo que assustava os clientes de uma loja com o seu movimento repentino e inesperado. E apesar de as verdadeiras estrelas serem os incautos e anónimos transeuntes, não pode ainda deixar de ser referido o envolvimento de vários actores futuramente conhecidos, entre ele Guilherme Leite, que rapidamente se tornaria uma das grandes personalidades da televisão em Portugal.

Apesar do enorme sucesso, um desentendimento entre Joaquim Letria e o criador das partidas, Manolo Bello – bem como a irritação do primeiro por ser conotado, só e apenas, com este tipo de conteúdos, e por o mesmo estar a ofuscar a sua carreira como comunicador – ditaria o fim prematuro do mesmo, pelo menos na sua 'encarnação' de 1992-93; isto porque o programa voltaria para mais treze episódios pouco mais de dois anos depois, agora já sem o envolvimento de Letria e da responsabilidade única de Manolo Bello, e novamente com o envolvimento de actores em ascensão, que se tornariam nomes conhecidos em anos vindouros.

Curiosamente, com excepção do referido 'Candid Camera' de Dom DeLuise, a segunda série dos 'Apanhados' foi a última instância de conteúdos deste tipo na televisão portuguesa, que se encontrava, à época, em fase de fluxo. E a verdade é que, se um programa nestes moldes se encaixava perfeitamente na oferta televisiva de 1992, já fazia menos sentido em meados da década, e pareceria quase caricato na programação do virar do Milénio; assim, talvez tenha mesmo sido melhor para o programa sair 'em alta' da mente dos portugueses, permitindo-lhe ser, hoje, recordado com carinho e nostalgia pela mesma geração que, tivesse o mesmo continuado indefinidamente, talvez se tivesse rapidamente cansado dele...

NOTA: As duas séries dos 'Apanhados' estão disponíveis, na íntegra, nos Arquivos RTP. Abaixo fica, também, um dos episódios do programa, partilhado no YouTube em duas partes.

13.02.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Hoje em dia, a chamada 'ficção nacional' é parte integrante da grelha televisiva dos canais portugueses, seja sob a forma das famosas telenovelas ou no registo mais sério e dramático de séries como 'Conta-me Como Foi'; até inícios do Novo Milénio, no entanto, a situação era diametralmente oposta, centrando-se a maioria da ficção televisiva portuguesa no géneros do humor em 'sketch', com digressões infrequentes para os campos da reconstituição histórica ou para conteúdos infanto-juvenis. Há pouco mais de vinte e cinco anos (em Outubro de 1997) a RTP quis, no entanto, mudar esse paradigma, através de uma série que, ainda que pouco lembrada hoje em dia, acabou por dar o mote para várias tendências durante as mais de duas décadas de televisão nacional que se seguiram.

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Falamos de 'Riscos', um programa que, à época, se destacou por ser pioneira no ramo da ficção serializada nacional dirigida especificamente a um público jovem – um 'nicho' que, nos Estados Unidos, era já uma forma de arte, e que já havia rendido um mega-sucesso 'falado em português', no caso a telenovela brasileira 'Malhação'. A 'versão portuguesa' deste conceito inseria-se, precisamente, entre as da América do Norte e do Sul, apresentando uma espécie de cruzamento entre a referida 'Malhação' e algo como 'Beverly Hills 90210', com as devidas adaptações à realidade portuguesa.

De facto, o conceito-base da série era praticamente idêntico ao dos exemplos supracitados - bem como de outras séries internacionais, como a britãnica 'Grange Hill' - propondo ao espectador 'entrar' na vida quotidiana de um grupo de estudantes do ensino secundário, no caso de um colégio privado, e acompanhar em 'tempo real' os seus variados dramas, que iam das habituais complicações amorosas (aqui, do casal Bruno e Mariana) a temas mais sérios, como as drogas. E se este parece um conceito familiar, é porque o é: a proposta de 'Riscos' é exactamente a mesma que, poucos anos mais tarde, granjearia mais de uma década de sucesso a uma aposta da 'concorrente' TVI – uma pequena produção independente, de que talvez já tenham ouvido falar, chamada 'Morangos com Açúcar'...

(Sim, quando dissemos no início deste 'post' que 'Riscos' abrira um precedente importante na produção televisiva nacional, tratava-se de mais do que uma força de expressão...)

A diferença entre a série da RTP e a perene telenovela juvenil da TVI (esta, sim, uma localização directa de 'Malhação') é, sobretudo, o menor enfoque no dramatismo barato, em favor de uma abordagem mais séria a assuntos relevantes para a vida dos jovens, não só do Portugal daquela época, mas da sociedade ocidental em geral, os quais eram tratados de forma directa, frontal e sem grandes 'mariquices', com a preciosa ajuda de um elenco que misturava 'veteranos' como Alexandra Lencastre e Diogo Infante com jovens actores da idade dos seus personagens, entre os quais se destacava Paula Neves, também ela a poucos anos de atingir a imortalidade 'noveleira' do 'outro lado da estrada', em Queluz.

Assim, e embora não tenha passado de uma única temporada (ao contrário do que sucedeu com os seus sucessores directos) é fácil perceber porque é que 'Riscos' é, hoje em dia, considerado um marco na História da televisão portuguesa, e da ficção nacional em particular – e porque era premente que corrigíssemos a nossa desatenção de Outubro passado, e celebrássemos devidamente os vinte e cinco anos da sua estreia.

Genérico e excerto da série.

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