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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

22.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 22 de Fevereiro de 2025.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Ainda hoje existem, agora num contexto mais técnico e desportivo, ligado à prática da caminhada e outras actividades de exterior; foi, no entanto, nos anos 80 e 90 que se popularizaram, então como um elemento de vestuário eminentemente prático, perfeito para 'enfiar' na carteira, mochila ou mala de férias em caso de chuva imprevista. Falamos, claro está, dos impermeáveis dobráveis em saco, parte integrante da infância e adolescência de duas gerações de portugueses, os quais, quiçá, agora os introduzam também às demografias mais jovens.

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Exemplo moderno do produto em casa.

Conceito tão genial como intemporal, estes impermeáveis nada mais eram do que plásticos finos, ao estilo 'tapa-vento', que, quando não a uso, podiam ser enrolados e colocados num 'saco' com alça, o qual, ao vestir, se transformava num bolso de practicidade algo prejudicada pela fita elástica no seu interior. Quando devidamente dobrados, no entanto, esta alça transformava-se de estorvo em elemento essencial, permitindo carregar o impermeável na mão ou até ao ombro ou à volta do pescoço à laia de carteira ou bolsa, reduzindo assim as probabilidades de o mesmo se perder – algo que as mães e pais da época não terão deixado de apreciar, especialmente aqueles cujos filhos tendiam a ser mais distraídos e deixar os mais diversos objectos para trás nos mais diversos locais, como era o caso do autor deste 'blog'.

Tal como referimos no início deste texto, os impermeáveis com elástico ainda existem, ainda mais pequenos e compactos (após dobrados) do que o eram em finais do século XX, e hoje com uma conotação mais 'séria' e adulta. Restam poucas dúvidas, no entanto, de que existam em Portugal (e não só) grande quantidade de crianças e jovens que continuam a 'encontrar' esta peça de vestuário nos respectivos 'carregos' da escola ou treino desportivo sempre que o tempo está ameno, mas a 'ameaçar' chuva...

11.01.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Sexta-feira, 10 de Janeiro de 2025.

NOTA: Por razões temáticas, este Sábado será de Saídas.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

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Como o jovem médio de finais do século XX se sentia ao regressar às aulas após o Natal, a estrear a roupa nova...

Os primeiros dias do mês de Janeiro marcam, tradicionalmente, o regresso às aulas para o segundo período lectivo, após a paragem, em Dezembro, para o Natal e Ano Novo. E, mais do que assegurar que a matéria está estudada ou os materiais em ordem, o mais importante para qualquer jovem neste recomeço é entrar 'com o pé direito' no novo ano – de preferência, tendo vestido no mesmo o ténis 'da moda' que recebeu no Natal.

Sim, o regresso às aulas após as férias de Inverno sempre foi, e continua a ser, a época por excelência para ser 'vaidoso', e 'exibir' as prendas de vestuário que se receberam no dia 25, fazendo um esforço para combinar, na primeira semana lectiva após a pausa, absolutamente TODAS as roupas novas, por mais 'estrambólicos' que fiquem os conjuntos. Para os jovens dos anos 90 e 2000, era hora de mostrar aos colegas, amigos e até rivais o blusão da Duffy, a 'camisinha' da Sacoor, o 'sweat' da Gap, Gant, Amarras, No Fear ou Quebramar, as calças de ganga da Levi's, Lois ou Charro, os ténis Converse, Redley, Airwalk ou Skechers, as botas Doc Martens, Panama Jack ou Timberland, o boné com a equipa de desporto americana 'da moda', a mochila da Monte Campo, ou mesmo acessórios como brincos, pulseiras, gargantilhas, relógios ou carteiras, artigos que nunca deixavam de causar uma reacção (fosse ela positiva ou negativa) entre os pares em causa.

Ao contrário da maioria das vivências que recordamos neste 'blog', esta continua a verificar-se até aos dias de hoje, mudando apenas as marcas e artigos cobiçados ou exibidos; assim, quem tiver filhos em idade escolar certamente estará por estes dias a viver novamente, através dos seus olhos, uma situação tão familiar quanto intemporal, que eles próprios experienciaram quando tinham a mesma idade...

27.12.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

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Um presente de Natal ainda bem típico nos dias que correm...

Eram e são uma inevitabilidade do Natal, tanto dos anos 90 como dos dias que correm: entre presentes maiores e mais caros, lá surgia um agasalho, um par de luvas ou de meias, ou qualquer outra prenda menos 'impressionante' e de cariz mais prático. E se o 'cliché' da cultura popular dita que este tipo de oferta vem, inevitavelmente, de um parente mais distante ou idoso, a verdade é que haverá decerto muitas crianças e jovens de finais do século XX (bem como da geração actual) a recebê-la da parte dos pais ou irmãos.

A recepção, essa, tendia a ser mista: se havia crianças e jovens que compreendiam o pensamento por detrás do presente e o apreciavam como parte do 'todo' natalício, outras existiam para quem era difícil mostrar entusiasmo por um gorro ou um par de meias, em meio às consolas, jogos de tabuleiro, livros, discos e brinquedos que compunham o resto das prendas. Ainda assim, até mesmo esses terão aprendido a apreciar e até gostar dos seus agasalhos de Natal quando, num dia mais frio, os mesmos se tiverem provado eficazes na sua função de retenção de calor.

Fosse qual fosse a opinião de quem os recebia, no entanto, uma coisa era, e é, certa: enquanto houver parentes distantes, pais preocupados ou irmãos com pouco dinheiro para prendas, continuarão a surgir meias, cachecóis, luvas ou gorros no 'sapatinho' ou debaixo da árvore de Natal das gerações vindouras, tal como aconteceu no tempo dos seus pais e até avós...

03.11.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 01 de Novembro de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Os anos 90 e 2000 em Portugal ficaram, mais do que qualquer das décadas precedentes, marcada pela divisão e estratificação da juventude em 'tribos urbanas', de forma semelhante ao que ia acontecendo um pouco por todo o Mundo. E de entre as muitas sub-culturas juvenis a surgirem no nosso País nesse período, um grupo em particular (ou classe social, pois era disso que se tratava) dividia opiniões entre os restantes 'mortais', havendo tanto quem os desprezasse como quem quisesse ser como eles: os chamados 'betos', denominação ainda hoje aplicada a jovens bem apresentados, de classe média-alta e provenientes de famílias endinheiradas. E se, hoje, este grupo se vai cada vez mais 'assimilando' em termos de estilo e postura, nos anos da viragem de milénio, passava-se precisamente o oposto, havendo um esforço concertado por parte dos 'betos' para se destacaram da restante 'maralha', sobretudo no tocante ao vestuário, onde prevaleciam camisas de marcas como Sacoor e Amarras (artigo genuíno, ao contrário do que sucedia com a maioria dos restantes jovens, que as adquiriam na feira), t-shirts Quebramar, 'sweats' da Gap ou Gant, 'pullovers' em tons pastel e, claro, os icónicos sapatos eternamente associados com esta demografia – os 'velas'.

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De facto, apesar de não serem propriedade exclusiva dos 'betos' (muitos jovens do sexo masculino tinham na gaveta um par, para ocasiões que exigissem algum apuro adicional no vestuário) era mesmo com estes que o referido calçado era mais vezes conotado, por fazer parte integrante da indumentária-padrão de um membro do grupo em causa, normalmente combinado com uns calções e pólo, e vestido sem meias. Já quem não fosse 'betinho', mas quisesse ou precisasse de vestir uns sapatos deste tipo, combiná-los-ia com umas calças de ganga de bom corte (ou calças semi-formais, embora não de fato) e um pólo ou camisa – o tipo de indumentária utilizado para eventos familiares, por exemplo. E se, tal como sucede com a maioria das peças em análise nesta secção, também os 'velas' acabaram por dar lugar a outras variantes do mesmo tipo de calçado – nomeadamente os 'moccassins' – é também inegável que, para toda uma geração de portugueses, os mesmos se afirmaram como parte icónica do processo de auto-descoberta típico da juventude, mais do que justificando a sua presença nesta secção.

18.10.24

NOTA: Por motivos de relevância, este Sábado será novamente de Saída. Os Saltos voltarão nas duas semanas seguintes.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Tal como acontece com qualquer geração em qualquer parte do Mundo, também os jovens portugueses de finais do século XX tiveram as 'suas' marcas e lojas icónicas, algumas delas já abordadas nestas páginas. E se a maioria destas se incluía na categoria mais tarde conhecida como 'fast fashion' – que ainda hoje engloba lojas como a Zara/Pull & Bear, H&M, Mango, Bershka, Springfield ou Stradivarius, entre outras – havia, ainda assim, certas lojas especializadas numa só marca que capturavam a imaginação dos 'millennials' nacionais pela sua combinação de popularidade e 'designs' apelativos. Era o caso da Benetton, da Gant, da Timberland, da Gap, das incontornáveis Sacoor e Quebramar, ou ainda da loja que abordamos neste post aglutinador de Sexta com Style e Saída ao Sábado, a qual completa neste mês de Outubro vinte e oito anos de existência.

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Popularizada sobretudo pela sua ligação declarada ao movimento e cultura 'surfista', muito em voga durante toda a década de 90, a Ericeira Surf Shop não tardou a disseminar-se bem para além da sua 'base' e demografia-alvo, e a invadir os pátios de escola, sobretudo os frequentados por alunos de classes sociais mais abastadas, os chamados 'betinhos'. Assim, por alturas da viragem do Milénio, ser visto com roupas da loja em causa dava já tanto crédito social como usar qualquer das marcas acima descritas, com o bónus acrescido de as mesmas não serem facilmente encontradas numa qualquer feira, obrigando a um considerável investimento. Por outro lado, como sucedia com algumas das outras marcas populares da época, este factor tirava a Ericeira Surf Shop das possibilidades financeiras de grande parte dos jovens, reforçando a natureza algo elitista da loja e respectivos artigos e criando um sentimento de inferioridade a quem não tinha 'cachet' para os mesmos – o que, bem vistas as coisas, talvez fosse precisamente o objectivo da sua clientela, embora não necessariamente da loja em si.

Tal como a maioria das marcas e lojas que aqui abordamos, no entanto, também a Ericeira Surf Shop acabou por 'passar de moda' entre a população jovem em geral, e regressar ao seu 'reduto' mais especializado, onde permanece até hoje, agora com o nome de Ericeira Surf & Skate e um espectro mais alargado de especializações, onde se inclui também o 'snowboard'. Os portugueses de uma certa idade, no entanto, recordarão para sempre a marca pelo seu nome anterior, que tanta inveja causava ao ser lido num saco de compras ou peça de roupa de um amigo ou colega de escola. Parabéns, e que conte ainda muitos.

05.10.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 4 de Outubro de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Uma das muitas marcas populares e relevantes nos anos finais do século XX mas 'esquecidas' com o advento do Novo Milénio foi a Kappa, marca alemã de equipamentos e vestuário que em tempos marcara presença frequente nas prateleiras de lojas de desporto e secções de desporto de hipermercados ou lojas especializadas. No entanto, ao contrário de algumas outras que temos vindo a abordar nestas páginas, a mesma nunca chegou a desaparecer totalmente, tendo simplesmente perdido preponderância no seio da sociedade 'mainstream', portuguesa e não só. Prova disso é o facto de, no Verão de 2024, a Kappa se ter aliado à mais famosa cadeia de 'fast fashion' da actualidade – a incontornável Primark – para uma colaboração que poderá ajudar a outrora popular marca a recuperar o 'fôlego', e penetrar uma vez mais na consciência popular ocidental.

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No entanto, nem tudo deverá ser assim tão simples, já que a etiqueta alemã conta, em certos países, com um estigma semelhante ao da Burberrys, sendo frequentemente associada a estratos sociais mais baixos e indesejáveis – tal como, aliás, sucede também com o próprio Primark. Resta, pois, saber se esta será uma colaboração mutuamente benéfica ou se, pelo contrário, a mesma apenas interessará à demografia acima delineada, em nada alterando a reputação de qualquer das partes junto do público em geral. Entretanto, quem estiver interessado em reviver uma das marcas da sua infância e juventude poderá, desde há cerca de seis semanas, adquirir toda uma gama de itens com o logotipo da mesma em qualquer loja Primark, ou mediante compra 'online' no 'site' da mesma. Fica a 'dica' para os mais saudosistas...

21.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 20 de Setembro de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Embora o sector juvenil continue a ser o que mais activamente procura logotipos e marcas, dada a necessidade de 'parecer bem' junto dos colegas, os pais de crianças pequenas ficam, talvez, logo atrás dos adolescentes no que a este particular diz respeito. Isto porque, para a maioria das mães e pais, é importante que a roupa envergada pelos filhos seja duradoura e tenha alguma qualidade – atributos normalmente reunidos pelas peças 'de marca'. E apesar de, hoje em dia, o preço proibitivo da maioria das marcas ter direccionado a maioria dos portugueses para as lojas de 'fast fashion', no anos 80 e 90 – quando tal conceito era ainda inexistente a nível mundial – havia certas lojas que chamavam, decididamente, a atenção dos progenitores lusitanos no momento de comprar vestuário para os filhos. Uma dessas marcas, nascida em Lisboa mas popular em todo o País em finais dos 80 e inícios da década seguinte, levava o nome de um vegetal, e propunha roupas coloridas e intemporais para crianças em idade pré-adolescente.

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Falamos, claro está, da Cenoura, uma 'etiqueta' que, sem ser para todos (os seus artigos não eram especialmente baratos, antes pelo contrário) chegou a vestir uma boa parcela de crianças portuguesas do período em causa - entre as quais se incluía o autor deste 'blog', em cujo bairro de infância existia uma loja da marca. Nascida em Lisboa nas últimas semanas do ano de 1972, começou por ser um empreendimento modesto de três amigas na casa dos vinte anos, que fabricavam e decoravam as suas próprias roupas e utilizavam os seus próprios filhos e sobrinhos, ou os de amigos próximos, como 'caras' dos catálogos; as décadas seguintes viram, no entanto, a marca expandir-se e tornar-se uma referência no mercado nacional de vestuário infantil, pela grande qualidade das suas peças e pela tendência para comercializar conjuntos completos. Apesar de ainda presente sobretudo na zona de Lisboa, antes de completar dez anos de existência, a Cenoura recebia já pedidos e encomendas de todo o País, o que a levou a inaugurar um serviço de venda postal em meados dos anos 80; foi, pois, com naturalidade que se verificou, em anos subsequentes, a expansão do raio de acção da marca, que ainda hoje tem lojas em todo o País (embora, infelizmente, não aquela que faz parte das memórias do autor deste texto, a qual fechou ainda muito antes do centro comercial de bairro que a albergava.)

Tal como sucede com tantas outras marcas de que aqui falamos, no entanto, também o 'momento' da Cenoura passou, e se, a dada altura da História portuguesa, vestir peças com essa etiqueta era sinal de estatuto económico e social, a mesma acabou, eventualmente, por ser suplantada po outras 'grifes' e lojas mais 'na moda'. Para quem tem hoje uma certa idade, no entanto (sobretudo os 'millennials' mais velhos ou os nascidos nos últimos anos da geração dita 'X') esta marca e as suas apelativas lojas farão, certamente, parte das memórias e do imaginário infantil, merecendo bem a menção nesta nossa rubrica dedicada a peças de vestuário que marcaram décadas passadas.

27.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 26 de Julho de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

A natureza cíclica da moda tende a ser apercebida, sobretudo, de um contexto mais técnico, centrado em aspectos ligados à manufactura, como estilos, padrões, cortes e têxteis; no entanto, uma outra vertente deste paradigma prende-se com as marcas em si, as quais podem, no espaço de poucos anos, ir dos píncaros da popularidade ao quase total esquecimento, seja por falta de visibilidade ou, simplesmente, por as suas peças darem lugar, nas prateleiras e expositores das lojas, a artigos das suas 'sucessoras'. A marca de que falamos neste 'post' foi vítima de ambas essas situações, e, embora nunca tenha desaparecido totalmente do mercado, é hoje associada sobretudo com épocas passadas, nomeadamente com os últimos vinte anos do século XX. Falamos da Amarras, a marca pan-ibérica (as peças são criadas em Espanha mas fabricadas em Portugal) que, a partir do início dos anos 80, trouxe o mundo dos desportos náuticos para o domínio popular, através, principalmente, da sua icónica linha de 'sweat-shirts', as quais, para determinadas demografias, estão ao mesmo nível das camisas da Sacoor, das t-shirts da Quebramar ou das 'sweats' da No Fear.

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Fundada em 1978, no Bairro de Salamanca, em Madrid, Espanha (onde ainda hoje possui a sua loja principal) a Amarras logrou, durante os vinte anos seguintes, espalhar o seu símbolo por países tão distintos como o México, os EUA e, claro, Portugal, onde a concessão da manufactura das peças ajudava a facilitar a entrada e dispersão no mercado. E se a ligação à vela e ao remo conotava, de imediato, a marca com a infame sub-classe dos 'betinhos', a verdade é que nem por isso as peças da Amarras deixavam de ser desejáveis e cobiçadas de forma transversal pelas demografias jovens das gerações 'X' e 'millennial', para quem o símbolo da marca detinha alguma atractividade, ainda que sem chegar ao patamar das concorrentes acima citadas.

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A icónica 'sweatshirt' da marca, imutável até aos dias de hoje.

Nada dura para sempre, no entanto, e foi com naturalidade que o 'ciclo' da Amarras enquanto marca notável e popular se encerrou, dando lugar, ao longo dos primeiros anos do Novo Milénio, a novas 'grifes' prontas a conquistar tanto o mercado ibérico quanto o mundial. Para uma certa parcela da sociedade portuguesa, no entanto, aquelas cordas entrançadas com as letras em Arial Bold por baixo ficarão, para sempre, ligadas a 'sweat-shirts' propositalmente largas envergadas durante encontros com amigos ao fim de um dia de praia – o tipo de memória que nenhum ciclo de popularidade poderá, jamais, apagar, e que garante a esta e outras marcas um lugar permanente no coração dos 'trintões' e 'quarentões' portugueses dos dias que correm.

26.04.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Numa edição passada desta mesma rubrica, dedicámos algumas linhas aos ténis Airwalk, talvez a mais conhecida e cobiçada marca de ténis de skate entre a juventude dos anos 90 e inícios de 2000. No entanto, havia uma outra marca quase equiparante à supramencionada, e cujos sapatos constituiam uma excelente alternativa ou 'segunda opção' aos da mesma; é dessa 'concorrente que peso' que falaremos nesta Sexta com Style.

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Um dos icónicos modelos da marca na década de 90.

Fundada na Califórnia em 1992, a Skechers nascia das cinzas da LA Gear, marca de alguma expressão entre as demografias jovens americanas da década anterior, e visava precisamente o mesmo tipo de público-alvo, pelo menos no tocante à faixa etária. Isto porque, enquanto a LA Gear se havia afirmado como uma marca mais generalista, a Skechers visava, nessa primeira fase, sectores mais especializados da faixa jovem, nomeadamente os praticantes de 'skate', ao mesmo tempo que tentava rivalizar e competir com marcas como a Dr. Martens no mercado das botas. O foco rapidamente se alargaria, no entanto, e a marca não tardaria a conseguir o seu primeiro grande sucesso com a linha D'Lites, precursora dos ténis de sola grossa, quase plataforma, que povoariam o vestuário juvenil nas décadas seguintes. Se esse foi o grande 'cartão de visita' da marca nos seus EUA natais, no entanto (tendo, inclusivamente, dado à marca estatuto suficiente para permitur colaborações com mega-estrelas 'pop' e celebridades como Kim Kardashian) já em Portugal, foram mesmo os ténis de 'skate' que se tornaram sinónimos com o nome Skechers, e que foram activamente procurados e cobiçados pela juventude da época, tendo inclusivamente servido de 'inspiração' e modelo para um sem-número de inevitáveis imitações, algumas delas, inclusivamente, lançadas por marcas concorrentes, algumas já bem estabelecidas no mercado.

Tal como aconteceu com a Airwalk, no entanto, também a Skechers acabou, inevitavelmente, por ceder caminho a outras marcas 'da moda', como a Vans e a New Balance. À medida que o Novo Milénio avançava, e a juventude 'millennial' dava, progressivamente, lugar à 'Z', a fabricante californiana foi, progressivamente, perdendo expressão dentro do seu próprio mercado, a ponto de, um quarto de século volvido sobre o auge da sua popularidade, ser considerada, em certas partes do Mundo, uma marca de índole quase ortopédica, e favorecida pelo público idoso – uma ideia, no mínimo, causadora de dissonância cognitiva para quem, em adolescente, teve (ou sonhou ter) um par de ténis Skechers para combinar com as calças largas e t-shirt de 'skate'...

16.02.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Ao longo do tempo de vida deste 'blog', e desta rubrica em particular, temos vindo a recordar os mais diversos estilos de calçado, não sendo as botas excepção a esta regra – até por, no Portugal dos anos 90, este ter estado entre os tipo de calçado que mais frequentemente 'entrou' e 'saiu' de moda. Das Panama Jack às botas texanas, passando pelas 'famosas' Timberland ou Doc Martens, foram muitos (e muito saudosos) os tipos e modelos de bota a adornar os pés das crianças e adolescentes (bem como de muitos adultos) durante a última década do século XX. E enquanto que alguns destes formatos estavam associados aos chamados 'betinhos', e outros a estilos mais 'alternativos', apenas um conseguia conferir, quase imediatamente, ao seu dono o estatuto de 'mauzão': as botas de biqueira de aço.

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De facto, para muitos 'millennials' nacionais, a mera menção deste termo conjurará imagens do 'metaleiro' lá da escola, ou daquele indivíduo que todos receavam, pela sua propensão para brigas e outras actividades menos do que desejáveis. Isto porque, durante o breve período em que deixaram de ser instrumentos de trabalho para passarem a moda adolescente, as botas de biqueira de aço tendiam a ser compradas e utilizadas pelo sector da 'sociedade' escolar que procurava projectar uma imagem vagamente 'perigosa', fosse a mesma puramente estética ou baseada em aspectos da sua personalidade. Talvez por isso este modelo de calçado fosse tão cobiçado por aqueles que, por uma razão ou outra, eram incapazes de se 'impôr' – talvez na esperança que, como os sapatinhos vermelhos de Dorothy ou os ténis de 'Like Mike', as mesmas lhes conferissem 'poderes' especiais de auto-confiança uma vez envergadas. O preço proibitivo das mesmas – bem como o aspecto algo austero e pouco condicente com indumentárias 'normais' – mantinha, no entanto, essa ambição no plano do simples desejo, restringindo o uso destas botas ao tal sector mais 'feio, porco e mau' da população escolar.

Mais de vinte anos depois, as botas de biqueira de aço parecem ter regressado ao nicho do calçado de trabalho, sendo raros os modelos puramente estético deste tipo de sapato, pelo menos para quem não se insere nos meandros do movimento 'metaleiro'; para qualquer 'millennial' que tenha andado no ensino secundário em finais dos anos 90 e inícios do Novo Milénio, no entanto, as mesmas continuarão, sem dúvida, a simbolizar uma certa estética e forma de estar tão invejada quanto temida nos pátios de recreio do País de então...

 

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