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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.04.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Os 'jeans' são, tradicionalmente, um dos elementos mais marcantes e definidores de qualquer estilo ou moda, e os anos 90 não foram excepção a esta regra; antes pelo contrário, a última década do século XX (bem como a primeira do Novo Milénio) viram as calças (de ganga ou de qualquer outro material) servir de elemento identificativo para as diferentes 'tribos' urbanas. Das calças à boca de sino das 'betinhas' às calças largas do movimento alternativo, passando pelas jardineiras, pelos camuflados típicos dos fãs de música pesada ou pelas calças de fato de treino da 'malta' mais 'dread', a parte inferior do vestuário era uma das formas mais fáceis de identificar a que grupo pertencia uma determinada pessoa; e, nos últimos anos da década em causa, um dos principais codificadores do 'pessoal' alternativo eram as imediatamente reconhecíveis calças da extinta marca Resina.

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Um 'design' bem típico da marca.

'Rainhas' entre os 'jeans' deste tipo (apesar de terem competição aguerrida por parte de outras marcas 'radicais' como a Fubu) as calças da Resina tinham como principais elementos distintivos o seu formato (invariavelmente 'largueirão', bem ao gosto dos praticantes de 'skate' ou dos entusiastas do hip-hop) e a 'mascote' de visual bem 'cool' que marcava presença em todas as suas peças, ao estilo do que sucedia, na mesma altura, com o ratinho da Sacoor ou os rapazinhos carrancudos da Mad+Bad e Street Boy. Ambos estes elementos, especialmente quando combinados, ajudavam a dar aos 'jeans' da marca um aspecto e 'design' absolutamente irresistíveis para a demografia-alvo, tornando estas calças num dos artigos de vestuário mais cobiçados pelos jovens portugueses durante um bom par de anos – uma daquelas peças que quem não tinha, queria ter, e quem tinha, raramente tireva do corpo.

À semelhança de muitas das peças e marcas acima citadas, no entanto, também a Resina viu o seu momento de glória no mercado português terminar, à medida que a marcha inexorável da moda ditava outras tendências e estilos para os jovens lusitanos, que levariam à eventual extinção da marca; ainda assim, o icónico visual das calças da marca marcou definitivamente época, fazendo parte integrante e inegável da lista de peças de vestuário imediatamente reconhecíveis por qualquer membro daquela geração da 'viragem do Milénio', e que suscitam exclamações de nostalgia sempre que são recordados ou mencionados – mesmo quando, ao contrário de alguns dos supramencionados, não fazem parte da 'linha da frente' de memórias daquela época.

17.03.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Mesmo sendo um dos artigos de vestuário mais intemporais e universais alguma vez criados, as calças de ganga não são, ainda assim, imunes a flutuações e variações derivadas da moda – antes pelo contrário. Para além dos cortes, que mudam consoante as tendências da estação, também o próprio formato das calças 'entra e sai' de moda, sendo relativamente fácil identificar a era temporal de um par de 'jeans' apenas com base neste mesmo elemento. E se os finais da década de 90 e inícios da seguinte foram a era por excelência das calças largas e à boca de sino, os anos anteriores viram surgir e popularizar-se um outro tipo de 'jeans': as icónicas jardineiras.

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Ainda hoje utilizadas pelas suas demografias original (as crianças pequenas, os trabalhadores manuais e as mulheres grávidas) as jardineiras tornaram-se, nos anos 90, parte do 'estilo' de um outro sector da sociedade – nomeadamente, a das adolescentes do sexo feminino, que as incorporaram nos seus 'looks' mais casuais e desportivos, e fizeram delas um dos mais icónicos símbolos da moda dos anos 90, sendo que quem foi da idade certa durante a última década do século XX e primeiros anos do Novo Milénio certamente se lembrará de ter usado (ou visto as familiares ou colegas de turma usar) calças deste tipo, normalmente com uma das alças (ou até ambas) desabotoadas e a pender pelas costas abaixo, e combinadas com ténis All-Star, Airwalk ou até socas plataforma.

O atractivo deste tipo de calças era, aliás, óbvio, já que as mesmas aliavam a versatilidade à practicidade e conforto (visto muitos dos modelos serem 'largueirões', eliminando a principal razão de queixa de muitos relativamente às gangas), podendo ser usadas numa grande variedade de situações informais ou semi-informais sem nunca parecerem deslocadas ou de alguma forma impróprias – desde que o artigo em causa fosse de bom corte e estivesse bem tratado, bem entendido.

Tal como a maioria das outras modas que abordámos em edições passadas desta rubrica, também as jardineiras tiveram a sua época, sendo hoje codificadas como elemento de um estilo declaradamente 'vintage', e especificamente associado aos anos 90. A tendência cíclica da moda dita, no entanto, que estas icónicas calças de ganga venham, num futuro muito próximo, a estar novamente 'na moda', e a conquistar o coração de toda uma nova vaga de adolescentes; até lá, o espírito das jardineiras continuará a ser perpetuado pelos públicos para que foram originalmente concebidas...

03.03.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

No que toca a artigos de vestuário, os ténis Converse All-Star estão entre os mais icónicos e perenes, não só da moda jovem, como do panorama em geral. A simplicidade e versatilidade destas 'sapatilhas' (que 'dizem' bem com quase tudo e podem ser usadas em praticamente qualquer situação) fez delas favoritas de cidadãos ocidentais de todas as idades desde a sua criação em meados do século XX, tendo as mesmas conseguido atravessar inúmeras tendências e mudanças na moda, mantendo-se sempre presentes e quase sempre à 'tona da água'.

Os anos 90 não foram excepção nesse aspecto; pelo contrário, os Converse gozaram, durante essa década e a anterior, de um revitalizar da sua popularidade, ligado a movimentos como o do rock alternativo e o dos desportos radicais, que chegou inclusivamente a justificar a criação de imitações 'marca branca' do icónico formato (e não, não estamos a falar da igualmente icónica 'versão portuguesa' fabricada pela Sanjo.)

No entanto, ainda que os padrões 'lisos' sejam praticamente intemporais, cada 'fase' da existência dos ténis All-Star tem, também, os seus próprios modelos 'desse tempo', desenhados para se inserirem nas tendências vigentes à época do seu lançamento, e para agradarem ao público-alvo (ou seja, o juvenil) da altura; e se, hoje, esses modelos trazem motivos alusivos a videojogos como Super Mario ou séries como Stranger Things, nos anos 90, o padrão escolhido era tão simples quanto apelativo – a bandeira dos Estados Unidos da América.

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Sim, os famosos Converse 'da bandeira', Santo Graal de qualquer criança ou jovem portuguesa (e não só, suspeitamos) de inícios da década de 90, pela sua ligação aos movimentos 'hard rock', 'heavy metal' e 'grunge' e à iconografia de artistas como Bruce Springsteen (cujo 'Born in the USA', lançado alguns anos antes, ainda fazia sucesso entre a demografia em causa). Apesar de menos versáteis do que os seus 'irmãos' monocromáticos, estes ténis adicionavam uma vertente 'vistosa' e 'radical' que compensava o facto de talvez não poderem ser usados em certas situações onde os seus congéneres seriam aceitáveis, e que os tornava objecto de desejo de grande parte da população jovem daquele tempo.

Tal como tantas outras tendências que aqui debatemos, no entanto, também o 'tempo' dos 'All-Star' 'de bandeira' acabou por passar, tendo os jovens transitado para outras estéticas (algumas também ligadas a bandeiras, como a do Reino Unido, que sucedeu à dos EUA mas não teve o mesmo sucesso); no entanto, quem, à época, se 'babou' por este modelo específico da clássica sapatilha terá, certamente, sentido uma enorme vaga de nostalgia ao ler este 'post', tendo-se potencialmente 'visto' a entrar na escola com estes ténis, ou a admirar sorrateiramente os de outro aluno...

23.09.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

A sociedade adolescente da segunda metade dos anos 90 encontrava-se (mais ou menos) rigidamente dividida em 'tribos', identificadas e identificáveis, entre outros factores, pelas marcas de vestuário que favoreciam, entre as quais havia muito poucos 'cruzamentos'; existiam, sim, marcas universalmente populares, mas eram em número relativamente reduzido, dividindo-se o mercado nacional da época, em grande medida, entre marcas de 'betinhos', marcas de surf, marcas radicais, marcas alternativas, marcas 'dreads', muitas das quais ligadas ao movimento hip-hop, e, claro, as mais populares e omnipresentes de todas: as 'marcas' de contrafacção.

No entanto, e apesar de a maioria destas facções se manterem estritamente segmentadas, não deixava de haver uma pequena 'área cinzenta', povoada por marcas vestidas por quem não era um 'dread' legítimo, mas se queria ainda assim demarcar do epíteto de 'beto'. Com os seus 'designs' largueirões (como era apanágio da época) mas ainda assim lineares o suficiente para não 'assustar' os pais menos tolerantes, marcas como a Fubu, Counter Culture ou Fishbone tinham logrado expandir-se para lá do seu nicho inicial de fãs de 'hip-hop' e 'rap', e penetrar o mercado generalista, onde um público adolescente em processo de descoberta da identidade lhes dedicou uma calorosa recepção, não tardando a integrá-las no seu vestuário quotidiano, à laia de 'fashion statement'.

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Quem foi adolescente nos anos 90, teve, ou conheceu quem tivesse, uma sweatshirt praticamente igual a esta.

Claro que, como a maioria das outras peças de que aqui falamos, também este estilo de roupa acabou, inevitavelmente, por cair em desuso, após alguns anos de domínio de mercado; quem, no entanto, cresceu e foi adolescente nos anos da viragem do milénio certamente lembrará, com mais ou menos afecto, todas ou algumas destas marcas, quer por as mesmas terem adornado o seu corpo, quer o de colegas. E numa altura em que a tendência cíclica da moda começa a trazer as peças extra-largas de volta ao imaginário de estilo dos jovens (bem como muitas das marcas daquela época), não deixa de ser bem possível que se veja, em breve, um ressurgir destas marcas, que vão, ainda, sobrevivendo no seu nicho, à espera de outra 'hipótese' de penetrarem o mercado 'mainstream'...

02.09.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Não há ex-adolescente de finais dos anos 90 e inícios de 2000 que não se lembre delas. Juntamente com as calças boca de sino (ou as chamadas 'pata de elefante') e as 'sweats' (com ou sem capuz) ou 'pullovers' de malha formavam parte integrante da indumentária da grande maioria das raparigas do ensino secundário da altura, que não hesitavam em as exibir numa variedade de cores, apesar de as mais comuns serem os habituais branco-sujo, azul, preto e vermelho (o chamado 'esquema de cores Converse'.)

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Falamos das solas de plataforma, uma moda transversal às duas décadas acima referidas, primeiro aplicada a ténis (durante os anos 90) e, mais tarde, às famosas 'socas', que dominaram o calçado adolescente feminino durante a primeira década do novo milénio. E a verdade é que, de um ponto de vista prático (ou, se preferirem, adulto e meio 'chato') não é difícil perceber a razão do sucesso destes sapatos, já que, além das considerações puramente estéticas, os mesmos ofereciam uma série de vantagens. Senão, veja-se: além de ficarem 'a matar' com os modelos de calças acima referidos, também impediam que as mesmas roçassem pelo chão, danificando assim a base das pernas das mesmas, algo com que os rapazes da época se debatiam frequentemente em relação aos seus próprios modelos de calças largas; além disso, este tipo de calçado permitia, ainda, adicionar uns centímetros consideráveis à altura, um efeito explorado em pleno pelas bandas de 'hard rock' dos anos 80 e 90, e que não deixava de constituir também um ponto a favor para raparigas mais baixas, ou mais envergonhadas em relação à sua altura – ainda que, para as suas colegas mais altas, o efeito fosse o oposto.

Em suma, um sapato tão versátil quanto estético (quanto ao conforto, infelizmente, não nos podemos pronunciar...), que ganhou definitivamente o coração de toda uma geração de adolescentes em finais do século XX e inícios do XXI, e que - como tantas outras modas daquela época - está a ser alvo de uma reemergência no mercado, sendo bem possível que, em anos vindouros, venhamos novamente a ver adolescentes do sexo feminino a equilibrarem-se em cima deste tipo de calçado a caminho da escola...

15.07.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Quando se fala em peças de roupa 'intemporais', um dos primeiros exemplos que vem à cabeça de qualquer ex-jovem dos anos 90 são os inevitáveis ténis Converse All-Star. Apesar de, à época, gozarem já de várias décadas de popularidade (a qual, aliás, continua até aos dias de hoje) é mesmo com os anos 80 e 90 que este tipo de calçado tende a ser associado, até por ter sido quando gozou o seu auge de popularidade.

Tanto assim foi que quem entrasse numa das lojas generalistas 'barateiras' tão típicas dessa era da História social portuguesa encontraria a prova acabada dessa mesma popularidade - nomeadamente, imitações mais ou menos bem-feitas do artigo original. Poder-se-à, claro, argumentar que ainda hoje é possível encontrar ténis de lona a emular o estilo clássico concebido por Chuck Taylor em lojas como a Primark; a diferença reside, no entanto, no facto de essas sapatilhas copiarem o modelo 'raso' dos All-Star (isto é, sem cano) ao passo que as imitações dos 90s optavam, invariavelmente, pela variante de cano alto, a mais popular à época.

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Um exemplo contemporâneo, neste caso para bebé

E a verdade é que, à primeira vista, estes ténis mais 'genéricos' até passavam bem por All-Star genuínos – pelo menos até serem escrutinados mais a fundo. Isto porque a principal diferença entre os modelos autênticos da marca e as cópias em causa estava nos detalhes, saindo as opções mais baratas, obviamente, a perder. Por exemplo, onde os All-Star tinham uma estampa aplicada na zona do tornozelo, estes ténis tendiam a ter pedaços de borracha - muitas vezes com um desenho de uma estrela, mas em casos menos cuidados, lisos – ou até a deixar essa área vazia; de igual modo, enquanto que os All-Star têm sempre uma risca a dividir a lateral da sola ao meio, certas cópias anónimas tendiam a omiti-la, deixando a lateral da sola lisa, num modelo mais próximo da não menos icónica versão nacional dos All-Star, os Sanjo. Detalhes pequenos, mas que ajudavam a que o artigo genuíno se distinguisse das imitações baratas, servindo para informar o consumidor no momento da compra.

Ainda assim – e talvez surpreendentemente, tendo em conta a mentalidade vigente à época – havia muita gente que sabia 'ao que ia', e não se importava grandemente; isto porque, ao contrário da maioria dos artigos declaradamente de contrafacção, estas imitações de Converse All-Star tendiam a ser socialmente bem aceites entre os mais jovens, vá-se lá saber porquê. E apesar de, hoje em dia, estarem praticamente extintos (até porque os ténis populares passaram a ser de marcas como a Adidas ou a New Balance), a verdade é que quem cresceu em Portugal em finais dos anos 90 e inícios de 2000, e não dispunha de 'fundos ilimitados' para reposição de guarda-roupa, certamente se terá cruzado, pelo menos uma vez na vida, com um par de ténis destes – por aqui, por exemplo, existiram pelo menos dois duarante os anos de adolescência - e ostentado orgulhosamente o mesmo para a escola, talvez combinado com um par das não menos inevitáveis meias brancas de raquetes...

10.04.22

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 08 de Abril de 2022.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Já anteriormente aqui se discutiu o impacto que o movimento alternativo - quer na vertente 'rock', quer 'hip-hop' - teve sobre a juventude portuguesa de finais do segundo milénio; e um dos aspectos mais visíveis dessa mesma influência era a forma de vestir, um dos principais identificadores externos do 'estilo' a que se pertencia. E enquanto os 'betinhos' tinham as 'sweats' da Gap, as camisas Sacoor, os pólos de 'rugby', os sapatos de vela, os blusões da Duffy e as calças à boca de sino, os 'dreads' tinham os panamás às florzinhas (aos quais paulatinamente chegaremos), os bonés de equipas desportivas, os ténis Airwalk, as 'sweats' de marcas de surf e skate, e aquela que era literalmente a 'alternativa' às calças à boca de sino: as calças largas.

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Sim, durante um período de dois ou três anos, no final do século XX, um dos items mais desejados pela maioria dos jovens de tendência mais 'alternativa' foram calças de corte propositalmente largo (as bases das pernas tapavam, idealmente, todo o topo dos ténis), cujos bolsos se estendiam quase até aos joelhos (ou à base do rabo, no caso dos bolsos de trás), acomodando sem problemas um 'walkman' ou 'discman', uma consola portátil, ou até algo como um livro, uma barra de chocolate ou uma sanduiche. Fosse na vertente ganga (sempre com as tradicionais costuras brancas, que não deveriam faltar num item deste tipo) fosse no ainda mais popular formato 'chino' (cinzento ou, preferencialmente, bege ou cor de creme), de corte masculino ou feminino, as calças deste tipo eram parte indispensável do vestuário tanto de quem era 'dread', como de quem queria ser; e quem não tinha (e não tinha dinheiro para comprar) um par, 'caçava com gato', isto é, comprava simplesmente um par de calças normal, vários tamanhos acima, e apertava-o na cintura para que servisse. O importante era que o efeito visual fosse o correcto...

Como tantas das peças de que aqui falamos (incluindo o seu indispensável complemento, os ténis de 'skate', e as 'rivais' boca de sino) as calças de formato largo acabaram, com o passar dos anos, por voltar ao seu reduto mais 'de nicho', tanto na sociedade portuguesa, como um pouco por todo o Mundo; quem 'lá esteve', no entanto, não esquece o impacto que essa vestimenta teve numa parte significativa da população jovem nacional da época, para quem era (mais um) elemento-chave de identificação e 'localização' social...

18.02.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

As décadas de 90 e 2000 são bem conhecidas como a era em que os desportos radicais, e a respectiva estética, transpuseram o seu estatuto de 'nicho' e encontraram o seu lugar na cultura popular. Do skate ao surf, passando pela BMX – termo que deixou de ser sinónimo com 'bicicletas para miúdos' para passar a designar algo bem mais desejável – foram várias as modalidades pelas quais uma geração inteira de jovens se interessou a ponto de justificar programas de televisão sobre os mesmos.

E porque um movimento nada é sem a respectiva 'farda' oficial, estas duas décadas representaram, também, o auge das vendas 'mainstream' para as marcas associadas aos diferentes desportos, da Dickies, Vans e Airwalk típicas dos 'skaters' ao tema do post de hoje – as várias grifes de 'surfwear' que fizeram furor no mercado português durante esse período.

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Algumas das mais populares marcas de surf dos anos 90 e 2000

Quem cresceu, e especialmente quem foi adolescente, naquele tempo decerto que se lembra deles, e provavelmente vestiu um ou outro artigo de uma ou até de várias; Quiksilver, Rip Curl, O'Neill, Ocean Pacific, Scorpion Bay, Lightning Bolt, Body Glove ou Hang Loose (embora estas últimas em menor escala) eram nomes que qualquer jovem conhecia, sobretudo por as ver na montra de inúmeras lojas de desporto – quer as pequenas de bairro, quer as maiores situadas em 'shoppings' – e lojas especializadas em surf, como as que existiam (e ainda existem) em muitas localidades costeiras portuguesas. Esta omnipresença (que levava a que os artigos das referidas marcas se tornassem visão comum no dia-a-dia) aliada à mística e apelo do surf para a referida geração, tornava estes artigos desejáveis, e uma sweatshirt da Quiksilver ou O'Neill passou a ter praticamente o mesmo valor de uma da Gap ou No Fear na 'bolsa de valores social' existente em qualquer escola do país.

Mais – apesar de terem, entretanto, sido substituídas por outros e novos nomes do mundo da moda jovem, as marcas de surf continuam a ter uma presença (mais ou menos) considerável entre os jovens. Hoje em dia, é a Billabong quem, de todas, leva vantagem, mas uma pesquisa mais apurada não deixará, certamente, de revelar vários produtos de alguns dos outros nomes elencados acima ainda em circulação entre as crianças e jovens. Ainda assim, é inegável que as marcas de surf já não têm, hoje em dia, a expressividade que tiveram junto da geração anterior de jovens, para quem representaram, mais do que simples roupas, símbolos de um modo de vida a que muitos aspiravam, mas poucos conseguiam, verdadeiramente, ter...

 

21.01.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

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A Pony é apenas uma das muitas marcas de roupa desportiva dos anos 90 que se encontram, hoje em dia, 'desaparecidas' da cultura popular

Sanjo. Pony. Fila. Le Coq Sportif. Kappa. Todos as conhecemos. Todos as vestimos. Marcas que, não sendo 'topo de gama' do vestuário casual-desportivo dos anos 90, não ficavam ainda assim mal vistas junto das mais conhecidas Adidas, Reebok, Nike ou Puma. Marcas que, infelizmente, se encontram hoje em dia extintas ou em extinção (pelo menos de uma perspectiva sócio-cultural), vivendo portanto, sobretudo, na memória de quem era menos 'mainstream' (ou tinha menos dinheiro) no tocante a comprar roupa de desporto em finais do século XX.

Numa altura em que a variedade dentro do mercado de vestuário pseudo-desportivo é tão pouca que se torna quase aborrecido entrar numa loja do género – porque sabemos que vamos ver Adidas, Nike, New Balance, com sorte ou um outro Converse, e pouco mais – pode parecer difícil acreditar que, há menos de uma geração atrás, as crianças e jovens (em Portugal e não só) tinham uma enorme gama de marcas por onde escolher no momento de adquirir ténis, t-shirts, bonés e outros artigos indispensáveis ao estilo casual-juvenil; e embora, como mencionámos anteriormente, nem todos estes nomes tivessem o mesmo peso, o mais importante era mesmo a marca ser reconhecível, e o artigo ser (ou, pelo menos, passar por) genuíno - ou não fossem os anos 90 a era de ouro do vestuário de contrafacção; reunidas estas condições, e salvo raras e honrosas excepções, a maioria das marcas seria bem aceite junto de um grupo de determinada idade.

No entanto, à medida que os anos avançavam, e o segundo milénio dava lugar ao terceiro, a maioria destas marcas foram, lentamente, desaparecendo da consciência popular, juntando-se a nomes de outros quadrantes, como a No Fear e a Quebramar, no grande e constantemente renovado cemitério das 'cenas da infância' - mesmo quando, como no caso da Pony, continuavam a constituir uma referência dentro de um determinado nicho (no caso, o basquetebol profissional.) Cabe, portanto, hoje a blogs como o nosso a missão de manter viva a memória destas marcas 'menores', mas que todos tínhamos no armário naqueles tempos já distantes...

24.12.21

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Assim que o frio começa a apertar - e normalmente, em Dezembro, já há muito que apertou - sabe bem ter um agasalho mais grosso e impermeável, dentro do qual se possam enfrentar as intempéries que o Inverno normalmente reserva. E, para a juventude da segunda metade dos anos 90, um agasalho deste tipo que não tivesse no peito um bordado redondo com um ganso em vôo praticamente 'não contava'.

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Foi sensivelmente em meados da década que os famosos blusões de penas Duffy adentraram a consciência colectiva de toda uma demografia. Ao contrário de outras 'modas' de que aqui vimos falando, estas peças de roupa não têm, nem nunca tiveram, um ponto de origem definido; simplesmente 'passaram a existir', de um ano para o outro, e dentro de pouco tempo, toda a gente de uma certa idade parecia ter (ou querer ter) o seu.

Também ao contrário de alguns dos outros temas abordados nas páginas deste blog, não é difícil perceber por que razão os blusões da Duffy se tornaram tão populares, quando outros 'kispos' deste tipo eram muitas vezes vistos como sendo 'fatelas', especialmente a partir de uma certa idade; para além do óbvio factor 'todos-têm-também-quero', os artigos da marca do ganso apresentavam qualidade condicente com o seu preço (mesmo muito) elevado, tendendo um só blusão a chegar para várias épocas, tipicamente até deixar de servir ao dono ou dona. Os 'anoraks' Duffy eram, assim, dos poucos artigos de marcas populares a verdadeiramente justificarem o investimento.

Tal como ocorria com tudo o que ganhasse alguma popularidade entre os jovens, no entanto, nem todos os supostos blusões Duffy vistos nos pátios de escolas e clubes por esse Portugal fora eram verdadeiramente da marca; como era hábito à época (e hoje em dia, embora menos) proliferavam no mercado as imitações baratas, que passavam por autênticas à primeira vista, mas não resistiam a um escrutínio mais de perto. Como também era hábito, qualquer criança ou jovem cujo blusão fosse identificado como 'falso' era, de imediato, alvo do escárnio dos colegas - muitos deles, ironicamente, também provavelmente vestidos com blusões de imitação.

Hoje em dia, a Duffy ainda existe, tendo inclusivamente tentado reviver os seus icónicos blusões para os tempos modernos; no entanto, e apesar destes esforços, a iconografia do blusão de penas com 'patch' de um ganso a voar fica mesmo (pelo menos em Portugal) indelevelmente ligada aos anos 90, em que esta peça de roupa mais utilitária que 'estilosa' chegava a ter estatuto de presente desejado debaixo do sapatinho nesta época do ano...

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