Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

03.03.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

No que toca a artigos de vestuário, os ténis Converse All-Star estão entre os mais icónicos e perenes, não só da moda jovem, como do panorama em geral. A simplicidade e versatilidade destas 'sapatilhas' (que 'dizem' bem com quase tudo e podem ser usadas em praticamente qualquer situação) fez delas favoritas de cidadãos ocidentais de todas as idades desde a sua criação em meados do século XX, tendo as mesmas conseguido atravessar inúmeras tendências e mudanças na moda, mantendo-se sempre presentes e quase sempre à 'tona da água'.

Os anos 90 não foram excepção nesse aspecto; pelo contrário, os Converse gozaram, durante essa década e a anterior, de um revitalizar da sua popularidade, ligado a movimentos como o do rock alternativo e o dos desportos radicais, que chegou inclusivamente a justificar a criação de imitações 'marca branca' do icónico formato (e não, não estamos a falar da igualmente icónica 'versão portuguesa' fabricada pela Sanjo.)

No entanto, ainda que os padrões 'lisos' sejam praticamente intemporais, cada 'fase' da existência dos ténis All-Star tem, também, os seus próprios modelos 'desse tempo', desenhados para se inserirem nas tendências vigentes à época do seu lançamento, e para agradarem ao público-alvo (ou seja, o juvenil) da altura; e se, hoje, esses modelos trazem motivos alusivos a videojogos como Super Mario ou séries como Stranger Things, nos anos 90, o padrão escolhido era tão simples quanto apelativo – a bandeira dos Estados Unidos da América.

download.jpg

Sim, os famosos Converse 'da bandeira', Santo Graal de qualquer criança ou jovem portuguesa (e não só, suspeitamos) de inícios da década de 90, pela sua ligação aos movimentos 'hard rock', 'heavy metal' e 'grunge' e à iconografia de artistas como Bruce Springsteen (cujo 'Born in the USA', lançado alguns anos antes, ainda fazia sucesso entre a demografia em causa). Apesar de menos versáteis do que os seus 'irmãos' monocromáticos, estes ténis adicionavam uma vertente 'vistosa' e 'radical' que compensava o facto de talvez não poderem ser usados em certas situações onde os seus congéneres seriam aceitáveis, e que os tornava objecto de desejo de grande parte da população jovem daquele tempo.

Tal como tantas outras tendências que aqui debatemos, no entanto, também o 'tempo' dos 'All-Star' 'de bandeira' acabou por passar, tendo os jovens transitado para outras estéticas (algumas também ligadas a bandeiras, como a do Reino Unido, que sucedeu à dos EUA mas não teve o mesmo sucesso); no entanto, quem, à época, se 'babou' por este modelo específico da clássica sapatilha terá, certamente, sentido uma enorme vaga de nostalgia ao ler este 'post', tendo-se potencialmente 'visto' a entrar na escola com estes ténis, ou a admirar sorrateiramente os de outro aluno...

07.10.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Desde o início desta rubrica, temos vindo a recordar artigos que marcaram época na moda infanto-juvenil e adolescente dos anos 90, das bolsinhas para trocos às 'sweats' da Gap, Quebramar, No Fear e Mad = Bad, camisas da Sacoor, fatos de treino de cores berrantes (ou daqueles com calças às riscas), blusões da Duffy, ou simples meias brancas com raquetes, entre muitos outros.; esta semana, chega a vez de abordar um item que, apesar de mais esquecido do que qualquer dos atrás mencionados (ou de outros aos quais chegaremos, como as calças Levi's) não deixou, ainda assim, de fazer sucesso entre o público feminino português (adolescente e não só) da primeira metade da década.

AngelsTee_White_Product.jpgFalamos da clássica t-shirt dos dois 'anjinhos', lançada pela, até então, pouco expressiva marca italiana Fiorucci, e que teve sem dúvida papel preponderante na popularização da mesma junto das portuguesas, ainda que apenas temporariamente, já que, por alturas de meados da década, já ninguém vestia ou se lembrava desta peça. Ainda assim, apesar de significativamente menos intemporal do que qualquer dos artigos citados no início deste texto, esta camisola, cuja estampa se limitava a apresentar duas anjinhas querubins, uma loira e uma morena, por cima do nome da marca, não deixou de ter um impacto e popularidade consideráveis durante os seus 'cinco minutos de fama' – tanto assim que é possível, hoje em dia, encontrar diversas variações e variantes sobre o tema, tanto de responsabilidade da própria Fiorucci como, presumivelmente, de índole menos oficial (como se assume ser o caso daquela variação que mostra as duas anjinhas de óculos escuros, como que a tentar demonstrar a atitude 'radical' com a qual a última década do século XX é, ainda hoje, conotada.

E apesar de não haver muito mais a dizer sobre esta simples t-shirt de algodão estampada, hoje algo esquecida no contexto da moda portuguesa dos anos 90 (apesar de ainda ser comercializada em larga escala pela própria Fiorucci, talvez para tentar capitalizar sobre a actual propensão social para a nostalgia), a verdade é que a mesma acabou mesmo por marcar época entre certo segmento da sociedade portuguesa, merecendo por isso as breves linhas que lhe acabam de ser dedicadas.

23.09.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

A sociedade adolescente da segunda metade dos anos 90 encontrava-se (mais ou menos) rigidamente dividida em 'tribos', identificadas e identificáveis, entre outros factores, pelas marcas de vestuário que favoreciam, entre as quais havia muito poucos 'cruzamentos'; existiam, sim, marcas universalmente populares, mas eram em número relativamente reduzido, dividindo-se o mercado nacional da época, em grande medida, entre marcas de 'betinhos', marcas de surf, marcas radicais, marcas alternativas, marcas 'dreads', muitas das quais ligadas ao movimento hip-hop, e, claro, as mais populares e omnipresentes de todas: as 'marcas' de contrafacção.

No entanto, e apesar de a maioria destas facções se manterem estritamente segmentadas, não deixava de haver uma pequena 'área cinzenta', povoada por marcas vestidas por quem não era um 'dread' legítimo, mas se queria ainda assim demarcar do epíteto de 'beto'. Com os seus 'designs' largueirões (como era apanágio da época) mas ainda assim lineares o suficiente para não 'assustar' os pais menos tolerantes, marcas como a Fubu, Counter Culture ou Fishbone tinham logrado expandir-se para lá do seu nicho inicial de fãs de 'hip-hop' e 'rap', e penetrar o mercado generalista, onde um público adolescente em processo de descoberta da identidade lhes dedicou uma calorosa recepção, não tardando a integrá-las no seu vestuário quotidiano, à laia de 'fashion statement'.

P0.jpg

Quem foi adolescente nos anos 90, teve, ou conheceu quem tivesse, uma sweatshirt praticamente igual a esta.

Claro que, como a maioria das outras peças de que aqui falamos, também este estilo de roupa acabou, inevitavelmente, por cair em desuso, após alguns anos de domínio de mercado; quem, no entanto, cresceu e foi adolescente nos anos da viragem do milénio certamente lembrará, com mais ou menos afecto, todas ou algumas destas marcas, quer por as mesmas terem adornado o seu corpo, quer o de colegas. E numa altura em que a tendência cíclica da moda começa a trazer as peças extra-largas de volta ao imaginário de estilo dos jovens (bem como muitas das marcas daquela época), não deixa de ser bem possível que se veja, em breve, um ressurgir destas marcas, que vão, ainda, sobrevivendo no seu nicho, à espera de outra 'hipótese' de penetrarem o mercado 'mainstream'...

29.07.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Num dos primeiros posts desta rubrica, abordámos as tão frequentes quanto gloriosas peças de vestuário de contrafacção que se podiam (e ainda podem) encontrar em bancas de feira e outros ambientes semelhantes, um pouco por esse Portugal afora. Aquando desse post, deixámos, no entanto, involuntariamente de fora um tipo específico de peça dessa categoria, erro que rectificamos esta semana, ao falarmos das míticas e memoráveis camisolas de malha da 'Burberry' e 'Ralph Lauren' com que todos convivemos naqueles anos de final do Segundo Milénio.

Capture1.PNG

Esta é autêntica, mas façam de conta...

Adquiríveis na mesma 'boutique' que as camisolas a imitar No Fear ou as calças de fato de treino a imitar Adidas ou Reebok – o chão da rua – estas camisolas constituíam contrafacções bem mais cuidadas do que os dois exemplos supra-mencionados, sendo o único sinal suspeito (além, claro está, do facto de serem vendidas na rua, por um preço relativamente acessível) a qualidade da malha, e as cores muitas vezes duvidosas, de que as marcas certamente não teriam aprovado para as respectivas colecções, como o azul-turquesa e o rosa-choque. De resto, estes produtos eram, em tudo, idênticos aos autenticamente comercializados pelas marcas à época, não sendo, portanto, de admirar que tenham 'enganado' muito boa gente na altura.

Tal como sucedeu com as outras peças mencionadas, também estes 'pullovers' se acabaram por tornar menos comuns à medida que a indústria da contrafacção se passou a centrar em outros estilos e marcas; no entanto, o seu carácter significativamente mais intemporal do que as outras imitações da altura faz que, de quando em vez, ainda se vá vendo uma destas camisolas surgir numa qualquer feira portuguesa, pronta a aliciar um comprador menos atento, exigente, ou a quem o símbolo da 'griffe' interesse mais do que a qualidade – adjectivos que descrevem, também, perfeitamente a maioria das pessoas que, à época, tinha no armário uma (ou mais) destas peças...

10.04.22

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 08 de Abril de 2022.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Já anteriormente aqui se discutiu o impacto que o movimento alternativo - quer na vertente 'rock', quer 'hip-hop' - teve sobre a juventude portuguesa de finais do segundo milénio; e um dos aspectos mais visíveis dessa mesma influência era a forma de vestir, um dos principais identificadores externos do 'estilo' a que se pertencia. E enquanto os 'betinhos' tinham as 'sweats' da Gap, as camisas Sacoor, os pólos de 'rugby', os sapatos de vela, os blusões da Duffy e as calças à boca de sino, os 'dreads' tinham os panamás às florzinhas (aos quais paulatinamente chegaremos), os bonés de equipas desportivas, os ténis Airwalk, as 'sweats' de marcas de surf e skate, e aquela que era literalmente a 'alternativa' às calças à boca de sino: as calças largas.

transferir (2).jpg

Sim, durante um período de dois ou três anos, no final do século XX, um dos items mais desejados pela maioria dos jovens de tendência mais 'alternativa' foram calças de corte propositalmente largo (as bases das pernas tapavam, idealmente, todo o topo dos ténis), cujos bolsos se estendiam quase até aos joelhos (ou à base do rabo, no caso dos bolsos de trás), acomodando sem problemas um 'walkman' ou 'discman', uma consola portátil, ou até algo como um livro, uma barra de chocolate ou uma sanduiche. Fosse na vertente ganga (sempre com as tradicionais costuras brancas, que não deveriam faltar num item deste tipo) fosse no ainda mais popular formato 'chino' (cinzento ou, preferencialmente, bege ou cor de creme), de corte masculino ou feminino, as calças deste tipo eram parte indispensável do vestuário tanto de quem era 'dread', como de quem queria ser; e quem não tinha (e não tinha dinheiro para comprar) um par, 'caçava com gato', isto é, comprava simplesmente um par de calças normal, vários tamanhos acima, e apertava-o na cintura para que servisse. O importante era que o efeito visual fosse o correcto...

Como tantas das peças de que aqui falamos (incluindo o seu indispensável complemento, os ténis de 'skate', e as 'rivais' boca de sino) as calças de formato largo acabaram, com o passar dos anos, por voltar ao seu reduto mais 'de nicho', tanto na sociedade portuguesa, como um pouco por todo o Mundo; quem 'lá esteve', no entanto, não esquece o impacto que essa vestimenta teve numa parte significativa da população jovem nacional da época, para quem era (mais um) elemento-chave de identificação e 'localização' social...

25.03.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Um dos principais aspectos da moda dos anos 90 – para além do seu gosto, muitas vezes, duvidoso – foi a sua compartimentalização, muitas vezes coincidente com o conceito de 'tribos urbanas' que continua, ainda hoje, a dividir a juventude ocidental. Em Portugal, concretamente, existiam as marcas 'de betinhos' - como a Lacoste, Polo Sport, Tommy, Gap, Sacoor, Quebramar ou Duffy, isto sem falar nos clássicos pólos de râguebi ou calças à boca de sino - as de surf, como a Billabong, Ocean Pacific, Body Glove, Scorpion Bay, Quiksilver, Hang Loose, Lightning Bolt ou O'Neill, as de desporto e moda casual (das muito imitadas Reebok, Adidas ou Puma às menos conhecidas Lotto, Umbro, Pony, Fila, Kappa, Sanjo ou Le Coq Sportif) e as alternativas ou 'radicais', normalmente (embora não exclusivamente) associadas ao movimento 'skater'. Dessas, já aqui abordámos, anteriormente, as 'sweats' da No Fear e marcas derivadas, e ainda os ténis Airwalk, acessório quase obrigatório para quem se considerasse (ou quisesse considerar) parte dessa 'tribo' nos anos finais da década; essas estavam, no entanto, longe de ser as únicas marcas que compunham essa sub-categoria da moda infanto-juvenil da época, pelo que, esta Sexta, falaremos de algumas das restantes.

e6fcbf686b56730e548b7480807e78de.jpg

A Dickies foi uma das muitas marcas a beneficiar da febre do 'skate' dos anos 90

E quem foi, quis ser, ou teve amigos que tenham sido, 'radicais' durante a referida década, bem como a seguinte, certamente já está a recitar uma litania de nomes que remetem directamente para o ensino preparatório e secundário – da Fishbone à Fubu, Etnies, Skechers ou Counter Culture, foram várias as marcas adoptadas pelos jovens de inclinação 'radical' durante essas duas épocas, muitas vezes como forma de emular os seus ídolos, que 'trajavam' de forma semelhante. Até mesmo marcas que não estavam directamente associadas à sub-cultura em causa – como a Dickies, cuja especialidade são roupas de trabalho para profissionais da área dos serviços – acabaram por beneficiar deste fenómeno, tendo gozado de alguns anos de grande popularidade entre o público jovem em geral, e entre os mais 'alternativos' em particular.

Como acontece com a maioria dos temas explorados nestas páginas, no entanto, também a moda dos desportos radicais evoluiu com o passar das décadas, voltando a assumir um carácter mais 'de nicho' do que tinha nos anos 90, em que qualquer mascote de desenho animado que se prezasse era vista em cima de um 'skate' pelo menos uma vez; por consequência, também as marcas associadas a este movimento (e outros igualmente alternativos) se tornaram presença menos comum na sociedade jovem nacional, acabando inevitavelmente por ser substituídas por uma 'nova geração' de logotipos, vestidos pela nova geração de 'skaters' e praticantes de BMX ou patins em linha. Quem fez parte dessa 'tribo' nos anos 90 e 2000, no entanto, terá sem dúvida disfrutado, nestes passados momentos, de uma agradável viagem nostálgica pelas marcas da sua infância e adolescência – e, quiçá, sentido sob os joelhos o atrito do asfalto da rua ou pátio da escola, indicativo de mais uma de muitas quedas...

11.03.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Hoje em dia, comprar roupa remotamente já não é nada de novo; pelo contrário, as lojas online de grandes retalhistas, pequenas lojas independentes em sites como o Etsy, ou até serviços de importação e expedição como a Shein e BooHoo vão-se cada vez mais tornando o método por excelência para adquirir novos artigos de vestuário a preços mais convidativos e com maior variedade do que as lojas tradicionais, e iguais facilidades de troca.

Muito antes de qualquer destes serviços sequer pensar em existir, no entanto, já uma outra companhia multi-nacional inovava e 'disrupcionava' o mundo do comércio de moda, com um esquema muito semelhante ao hoje seguido por estas lojas – com o benefício adicional de os clientes não terem de ir à procura do catálogo, que era automaticamente enviado para a sua caixa do correio duas a três vezes por ano.

download.jpg

Falamos, claro, da La Redoute, o primeiro contacto que muitos jovens portugueses dos anos 90 tiveram com o conceito de compras à distância. Com um historial cujo início se perde no tempo, a produtora têxtil francesa terá começado por ser uma fábrica de fiação tradicional – sedeada na rua que lhe dá o nome, em Roubaix, no Norte da França – até os elevados volumes de stock terem dado ao fundador Pierre-Joseph Pollet, um ex-agricultor transformado em magnata têxtil, a ideia de vender as suas peças por correspondência, primeiro através de anúncios num jornal local e, mais tarde, mediante a distribuição de um catálogo próprio. O sucesso desta iniciativa ultrapassou quaisquer metas que o fundador pudesse ter delineado, sendo que, quatro décadas depois de Poullet ter tido a sua revolucionária ideia, uma em cada cinco familias francesas comprava artigos La Redoute.

Com tais níveis de popularidade, o próximo passo era óbvio, e passava pela expansão internacional, sendo Portugal um dos países contemplados pela mesma. Surge assim, em 1987, a La Redoute Portugal, parte do grupo de venda à distância Europirâmide, e responsável pela criação e distribuição dquele catálogo que tantas crianças se habituaram a ver na pilha do correio ou mesa de cabeceira de casa, e a folhear para ver o que continha. Com 16 páginas e uma tiragem inicial de 60 mil exemplares, o catálogo foi um sucesso de tal modo retumbante que permitiu à La Redoute Portugal tornar-se sócia maioritária do grupo Europirâmide e, mais tarde, adquiri-lo por completo.

A década seguinte apenas veria exacerbar-se o sucesso da La Redoute Portugal, que lançaria um segundo catálogo especializado em tamanhos grandes e, já no ocaso da década, um cartão de fidelidade próprio, semelhante ao utilizado pela maioria dos supermercados e outras grandes superfícies. Pelo meio ficaria, ainda, uma distinção como melhor empresa comercial portuguesa, em 1993, bem como a retoma integral do catálogo francês (com excepção da secções de móveis e electrodomésticos) em 1997.

Este paradigma manteve-se até aos primeiros anos do novo milénio, sendo que os primeiros cinco viram surgir mais dois catálogos impressos, ao mesmo tempo que a empresa se expandia para as emergentes plataformas 'online'; subsequentemente, já na década de 2010, o clássico e tradicional catálogo seria finalmente extinto, afirmando-se a La Redoute exclusivamente como uma retalhista online, na linha do que vinham fazendo as suas concorrentes directas e indirectas.

Ainda assim, e apesar da sua extinção efectiva, o clássico catálogo da companhia francesa continua vivo nas memórias de toda uma geração de jovens, que o associam a todo um conjunto de memórias da sua infância e adolescência, prolongando assim, senão a sua vida útil, pelo menos a sua vida enquanto artefacto cultural de uma certa época da sociedade portuguesa.

04.02.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Todos as quisemos. Muitos as tivemos. Lisas, às riscas ou aos quadrados, com o 'boneco' bordado nas costas, em grande, ou apenas em pequeno à frente, lá estavam elas orgulhosamente penduradas em qualquer feira de finais dos anos 90 e inícios dos 2000 onde houvesse bancas de roupa – ou não fosse essa, precisamente, uma das épocas de ouro da contrafacção têxtil. As autênticas, essas, apenas estavam ao alcance de alguns, sendo um dos 'ex-libris' dos chamados 'betinhos', que – evidentemente – nunca seriam vistos com uma daquelas 'da feira'.

blusa-sacoor-10a_50c71bc5cfbfb.jpg

A dada altura dos 90, isto foi símbolo de status entre os adolescentes portugueses - e não só. (Crédito da foto: Ainda Sou do Tempo)

Falamos, é claro, das lendárias camisas da Sacoor, até hoje, o único item de vestuário associado à marca lisboeta (inicialmente conhecida como Modas Belize) por toda uma geração de ex-crianças e jovens portugueses. Isto porque, durante um determinado momento acima mencionado, as referidas camisas (autênticas ou bem copiadas o suficiente para 'colarem') foram uma das peças de roupa mais desejadas pela população jovem nacional, ao mesmo nível das camisolas da No Fear, alguns anos antes, ou das contemporâneas sweat-shirts da Gap, pólos de rugby, blusões da Duffy e t-shirts da Quebramar. Pura e simplesmente TODA a gente queria ter uma – isto, claro, se já não a tivesse no armário.

E a verdade é que o sucesso desta camisa (que baralhou Nuno Markl ao ponto de este lhe dedicar toda uma rubrica da sua Caderneta de Cromos) não é difícil de explicar, pelo menos entre o público mais jovem; para além do conhecido efeito 'toda-a-gente-tem' habitual entre esta faixa etária, as referidas camisas conseguiam um excelente balanço entre o 'estilo' que todos queríamos ter naquela idade e uma certa irreverência que muitos também procuravam nas suas roupas do dia-a-dia – aqui representada pelo ratinho 'cartoon', de expressão amalucada, que não podia deixar de parecer apelativo a um público que (por muito adulto que quisesse ser, ou parecer) ainda alguns anos antes seguia as aventuras de personagens como este nos desenhos animados televisivos.

Fosse qual fosse o motivo por detrás da popularidade desenfreada destas camisas durante os últimos anos do século XX e os primeiros do anterior, a mesma é inegável. Por muito distante que estivesse (e esteja) do restante catálogo da Sacoor Brothers, esta camisa (nas suas diversas variantes) continua a ser um dos maiores sucessos de sempre para a marca de Malik, Moez, Rahim e Salim Sacoor. E mesmo tendo o seu momento de glória sido efémero – como tende a acontecer com a maioria das modas relativas a vestuário, sobretudo as dirigidas aos mais jovens – a verdade é que o 'ratinho da Sacoor' se revelou icónico o suficiente para, ainda hoje, mais de duas décadas depois do seu auge, as camisas onde orgulhosamente corria e saltava continuarem a ser tema de conversa sempre que o assunto é a nostalgia pelos anos 90 e 2000. Nada mau para um ratinho anafado...

21.01.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

pony logo.jpg

A Pony é apenas uma das muitas marcas de roupa desportiva dos anos 90 que se encontram, hoje em dia, 'desaparecidas' da cultura popular

Sanjo. Pony. Fila. Le Coq Sportif. Kappa. Todos as conhecemos. Todos as vestimos. Marcas que, não sendo 'topo de gama' do vestuário casual-desportivo dos anos 90, não ficavam ainda assim mal vistas junto das mais conhecidas Adidas, Reebok, Nike ou Puma. Marcas que, infelizmente, se encontram hoje em dia extintas ou em extinção (pelo menos de uma perspectiva sócio-cultural), vivendo portanto, sobretudo, na memória de quem era menos 'mainstream' (ou tinha menos dinheiro) no tocante a comprar roupa de desporto em finais do século XX.

Numa altura em que a variedade dentro do mercado de vestuário pseudo-desportivo é tão pouca que se torna quase aborrecido entrar numa loja do género – porque sabemos que vamos ver Adidas, Nike, New Balance, com sorte ou um outro Converse, e pouco mais – pode parecer difícil acreditar que, há menos de uma geração atrás, as crianças e jovens (em Portugal e não só) tinham uma enorme gama de marcas por onde escolher no momento de adquirir ténis, t-shirts, bonés e outros artigos indispensáveis ao estilo casual-juvenil; e embora, como mencionámos anteriormente, nem todos estes nomes tivessem o mesmo peso, o mais importante era mesmo a marca ser reconhecível, e o artigo ser (ou, pelo menos, passar por) genuíno - ou não fossem os anos 90 a era de ouro do vestuário de contrafacção; reunidas estas condições, e salvo raras e honrosas excepções, a maioria das marcas seria bem aceite junto de um grupo de determinada idade.

No entanto, à medida que os anos avançavam, e o segundo milénio dava lugar ao terceiro, a maioria destas marcas foram, lentamente, desaparecendo da consciência popular, juntando-se a nomes de outros quadrantes, como a No Fear e a Quebramar, no grande e constantemente renovado cemitério das 'cenas da infância' - mesmo quando, como no caso da Pony, continuavam a constituir uma referência dentro de um determinado nicho (no caso, o basquetebol profissional.) Cabe, portanto, hoje a blogs como o nosso a missão de manter viva a memória destas marcas 'menores', mas que todos tínhamos no armário naqueles tempos já distantes...

24.12.21

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Assim que o frio começa a apertar - e normalmente, em Dezembro, já há muito que apertou - sabe bem ter um agasalho mais grosso e impermeável, dentro do qual se possam enfrentar as intempéries que o Inverno normalmente reserva. E, para a juventude da segunda metade dos anos 90, um agasalho deste tipo que não tivesse no peito um bordado redondo com um ganso em vôo praticamente 'não contava'.

transferir.jpg

Foi sensivelmente em meados da década que os famosos blusões de penas Duffy adentraram a consciência colectiva de toda uma demografia. Ao contrário de outras 'modas' de que aqui vimos falando, estas peças de roupa não têm, nem nunca tiveram, um ponto de origem definido; simplesmente 'passaram a existir', de um ano para o outro, e dentro de pouco tempo, toda a gente de uma certa idade parecia ter (ou querer ter) o seu.

Também ao contrário de alguns dos outros temas abordados nas páginas deste blog, não é difícil perceber por que razão os blusões da Duffy se tornaram tão populares, quando outros 'kispos' deste tipo eram muitas vezes vistos como sendo 'fatelas', especialmente a partir de uma certa idade; para além do óbvio factor 'todos-têm-também-quero', os artigos da marca do ganso apresentavam qualidade condicente com o seu preço (mesmo muito) elevado, tendendo um só blusão a chegar para várias épocas, tipicamente até deixar de servir ao dono ou dona. Os 'anoraks' Duffy eram, assim, dos poucos artigos de marcas populares a verdadeiramente justificarem o investimento.

Tal como ocorria com tudo o que ganhasse alguma popularidade entre os jovens, no entanto, nem todos os supostos blusões Duffy vistos nos pátios de escolas e clubes por esse Portugal fora eram verdadeiramente da marca; como era hábito à época (e hoje em dia, embora menos) proliferavam no mercado as imitações baratas, que passavam por autênticas à primeira vista, mas não resistiam a um escrutínio mais de perto. Como também era hábito, qualquer criança ou jovem cujo blusão fosse identificado como 'falso' era, de imediato, alvo do escárnio dos colegas - muitos deles, ironicamente, também provavelmente vestidos com blusões de imitação.

Hoje em dia, a Duffy ainda existe, tendo inclusivamente tentado reviver os seus icónicos blusões para os tempos modernos; no entanto, e apesar destes esforços, a iconografia do blusão de penas com 'patch' de um ganso a voar fica mesmo (pelo menos em Portugal) indelevelmente ligada aos anos 90, em que esta peça de roupa mais utilitária que 'estilosa' chegava a ter estatuto de presente desejado debaixo do sapatinho nesta época do ano...

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub