Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

03.11.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 01 de Novembro de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Os anos 90 e 2000 em Portugal ficaram, mais do que qualquer das décadas precedentes, marcada pela divisão e estratificação da juventude em 'tribos urbanas', de forma semelhante ao que ia acontecendo um pouco por todo o Mundo. E de entre as muitas sub-culturas juvenis a surgirem no nosso País nesse período, um grupo em particular (ou classe social, pois era disso que se tratava) dividia opiniões entre os restantes 'mortais', havendo tanto quem os desprezasse como quem quisesse ser como eles: os chamados 'betos', denominação ainda hoje aplicada a jovens bem apresentados, de classe média-alta e provenientes de famílias endinheiradas. E se, hoje, este grupo se vai cada vez mais 'assimilando' em termos de estilo e postura, nos anos da viragem de milénio, passava-se precisamente o oposto, havendo um esforço concertado por parte dos 'betos' para se destacaram da restante 'maralha', sobretudo no tocante ao vestuário, onde prevaleciam camisas de marcas como Sacoor e Amarras (artigo genuíno, ao contrário do que sucedia com a maioria dos restantes jovens, que as adquiriam na feira), t-shirts Quebramar, 'sweats' da Gap ou Gant, 'pullovers' em tons pastel e, claro, os icónicos sapatos eternamente associados com esta demografia – os 'velas'.

P_753711931D2.webp

De facto, apesar de não serem propriedade exclusiva dos 'betos' (muitos jovens do sexo masculino tinham na gaveta um par, para ocasiões que exigissem algum apuro adicional no vestuário) era mesmo com estes que o referido calçado era mais vezes conotado, por fazer parte integrante da indumentária-padrão de um membro do grupo em causa, normalmente combinado com uns calções e pólo, e vestido sem meias. Já quem não fosse 'betinho', mas quisesse ou precisasse de vestir uns sapatos deste tipo, combiná-los-ia com umas calças de ganga de bom corte (ou calças semi-formais, embora não de fato) e um pólo ou camisa – o tipo de indumentária utilizado para eventos familiares, por exemplo. E se, tal como sucede com a maioria das peças em análise nesta secção, também os 'velas' acabaram por dar lugar a outras variantes do mesmo tipo de calçado – nomeadamente os 'moccassins' – é também inegável que, para toda uma geração de portugueses, os mesmos se afirmaram como parte icónica do processo de auto-descoberta típico da juventude, mais do que justificando a sua presença nesta secção.

18.10.24

NOTA: Por motivos de relevância, este Sábado será novamente de Saída. Os Saltos voltarão nas duas semanas seguintes.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Tal como acontece com qualquer geração em qualquer parte do Mundo, também os jovens portugueses de finais do século XX tiveram as 'suas' marcas e lojas icónicas, algumas delas já abordadas nestas páginas. E se a maioria destas se incluía na categoria mais tarde conhecida como 'fast fashion' – que ainda hoje engloba lojas como a Zara/Pull & Bear, H&M, Mango, Bershka, Springfield ou Stradivarius, entre outras – havia, ainda assim, certas lojas especializadas numa só marca que capturavam a imaginação dos 'millennials' nacionais pela sua combinação de popularidade e 'designs' apelativos. Era o caso da Benetton, da Gant, da Timberland, da Gap, das incontornáveis Sacoor e Quebramar, ou ainda da loja que abordamos neste post aglutinador de Sexta com Style e Saída ao Sábado, a qual completa neste mês de Outubro vinte e oito anos de existência.

images.jpeg

Popularizada sobretudo pela sua ligação declarada ao movimento e cultura 'surfista', muito em voga durante toda a década de 90, a Ericeira Surf Shop não tardou a disseminar-se bem para além da sua 'base' e demografia-alvo, e a invadir os pátios de escola, sobretudo os frequentados por alunos de classes sociais mais abastadas, os chamados 'betinhos'. Assim, por alturas da viragem do Milénio, ser visto com roupas da loja em causa dava já tanto crédito social como usar qualquer das marcas acima descritas, com o bónus acrescido de as mesmas não serem facilmente encontradas numa qualquer feira, obrigando a um considerável investimento. Por outro lado, como sucedia com algumas das outras marcas populares da época, este factor tirava a Ericeira Surf Shop das possibilidades financeiras de grande parte dos jovens, reforçando a natureza algo elitista da loja e respectivos artigos e criando um sentimento de inferioridade a quem não tinha 'cachet' para os mesmos – o que, bem vistas as coisas, talvez fosse precisamente o objectivo da sua clientela, embora não necessariamente da loja em si.

Tal como a maioria das marcas e lojas que aqui abordamos, no entanto, também a Ericeira Surf Shop acabou por 'passar de moda' entre a população jovem em geral, e regressar ao seu 'reduto' mais especializado, onde permanece até hoje, agora com o nome de Ericeira Surf & Skate e um espectro mais alargado de especializações, onde se inclui também o 'snowboard'. Os portugueses de uma certa idade, no entanto, recordarão para sempre a marca pelo seu nome anterior, que tanta inveja causava ao ser lido num saco de compras ou peça de roupa de um amigo ou colega de escola. Parabéns, e que conte ainda muitos.

21.09.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 20 de Setembro de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Embora o sector juvenil continue a ser o que mais activamente procura logotipos e marcas, dada a necessidade de 'parecer bem' junto dos colegas, os pais de crianças pequenas ficam, talvez, logo atrás dos adolescentes no que a este particular diz respeito. Isto porque, para a maioria das mães e pais, é importante que a roupa envergada pelos filhos seja duradoura e tenha alguma qualidade – atributos normalmente reunidos pelas peças 'de marca'. E apesar de, hoje em dia, o preço proibitivo da maioria das marcas ter direccionado a maioria dos portugueses para as lojas de 'fast fashion', no anos 80 e 90 – quando tal conceito era ainda inexistente a nível mundial – havia certas lojas que chamavam, decididamente, a atenção dos progenitores lusitanos no momento de comprar vestuário para os filhos. Uma dessas marcas, nascida em Lisboa mas popular em todo o País em finais dos 80 e inícios da década seguinte, levava o nome de um vegetal, e propunha roupas coloridas e intemporais para crianças em idade pré-adolescente.

download.png

Falamos, claro está, da Cenoura, uma 'etiqueta' que, sem ser para todos (os seus artigos não eram especialmente baratos, antes pelo contrário) chegou a vestir uma boa parcela de crianças portuguesas do período em causa - entre as quais se incluía o autor deste 'blog', em cujo bairro de infância existia uma loja da marca. Nascida em Lisboa nas últimas semanas do ano de 1972, começou por ser um empreendimento modesto de três amigas na casa dos vinte anos, que fabricavam e decoravam as suas próprias roupas e utilizavam os seus próprios filhos e sobrinhos, ou os de amigos próximos, como 'caras' dos catálogos; as décadas seguintes viram, no entanto, a marca expandir-se e tornar-se uma referência no mercado nacional de vestuário infantil, pela grande qualidade das suas peças e pela tendência para comercializar conjuntos completos. Apesar de ainda presente sobretudo na zona de Lisboa, antes de completar dez anos de existência, a Cenoura recebia já pedidos e encomendas de todo o País, o que a levou a inaugurar um serviço de venda postal em meados dos anos 80; foi, pois, com naturalidade que se verificou, em anos subsequentes, a expansão do raio de acção da marca, que ainda hoje tem lojas em todo o País (embora, infelizmente, não aquela que faz parte das memórias do autor deste texto, a qual fechou ainda muito antes do centro comercial de bairro que a albergava.)

Tal como sucede com tantas outras marcas de que aqui falamos, no entanto, também o 'momento' da Cenoura passou, e se, a dada altura da História portuguesa, vestir peças com essa etiqueta era sinal de estatuto económico e social, a mesma acabou, eventualmente, por ser suplantada po outras 'grifes' e lojas mais 'na moda'. Para quem tem hoje uma certa idade, no entanto (sobretudo os 'millennials' mais velhos ou os nascidos nos últimos anos da geração dita 'X') esta marca e as suas apelativas lojas farão, certamente, parte das memórias e do imaginário infantil, merecendo bem a menção nesta nossa rubrica dedicada a peças de vestuário que marcaram décadas passadas.

27.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 26 de Julho de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

A natureza cíclica da moda tende a ser apercebida, sobretudo, de um contexto mais técnico, centrado em aspectos ligados à manufactura, como estilos, padrões, cortes e têxteis; no entanto, uma outra vertente deste paradigma prende-se com as marcas em si, as quais podem, no espaço de poucos anos, ir dos píncaros da popularidade ao quase total esquecimento, seja por falta de visibilidade ou, simplesmente, por as suas peças darem lugar, nas prateleiras e expositores das lojas, a artigos das suas 'sucessoras'. A marca de que falamos neste 'post' foi vítima de ambas essas situações, e, embora nunca tenha desaparecido totalmente do mercado, é hoje associada sobretudo com épocas passadas, nomeadamente com os últimos vinte anos do século XX. Falamos da Amarras, a marca pan-ibérica (as peças são criadas em Espanha mas fabricadas em Portugal) que, a partir do início dos anos 80, trouxe o mundo dos desportos náuticos para o domínio popular, através, principalmente, da sua icónica linha de 'sweat-shirts', as quais, para determinadas demografias, estão ao mesmo nível das camisas da Sacoor, das t-shirts da Quebramar ou das 'sweats' da No Fear.

amarras.png

Fundada em 1978, no Bairro de Salamanca, em Madrid, Espanha (onde ainda hoje possui a sua loja principal) a Amarras logrou, durante os vinte anos seguintes, espalhar o seu símbolo por países tão distintos como o México, os EUA e, claro, Portugal, onde a concessão da manufactura das peças ajudava a facilitar a entrada e dispersão no mercado. E se a ligação à vela e ao remo conotava, de imediato, a marca com a infame sub-classe dos 'betinhos', a verdade é que nem por isso as peças da Amarras deixavam de ser desejáveis e cobiçadas de forma transversal pelas demografias jovens das gerações 'X' e 'millennial', para quem o símbolo da marca detinha alguma atractividade, ainda que sem chegar ao patamar das concorrentes acima citadas.

61Og4jDi73L._AC_UY1000_.jpg

A icónica 'sweatshirt' da marca, imutável até aos dias de hoje.

Nada dura para sempre, no entanto, e foi com naturalidade que o 'ciclo' da Amarras enquanto marca notável e popular se encerrou, dando lugar, ao longo dos primeiros anos do Novo Milénio, a novas 'grifes' prontas a conquistar tanto o mercado ibérico quanto o mundial. Para uma certa parcela da sociedade portuguesa, no entanto, aquelas cordas entrançadas com as letras em Arial Bold por baixo ficarão, para sempre, ligadas a 'sweat-shirts' propositalmente largas envergadas durante encontros com amigos ao fim de um dia de praia – o tipo de memória que nenhum ciclo de popularidade poderá, jamais, apagar, e que garante a esta e outras marcas um lugar permanente no coração dos 'trintões' e 'quarentões' portugueses dos dias que correm.

01.03.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Hoje em dia, numa era em que tudo fica 'registado' por meio digital, é mais fácil traçar uma 'moda' ou 'febre' infantil ou adolescente até à sua origem – normalmente, uma qualquer celebridade ou 'influencer' do TikTok ou Instagram; nos anos 90, no entanto (quando o mais próximo desse paradigma eram os programas de televisão ou os filmes americanos) as referidas modas e estilos pareciam surgir do mesmo 'nada' para onde desapareciam no fim do seu 'ciclo de vida', alguns meses ou um par de anos depois – a menos, claro, que fizessem parte da nova colecção de qualquer das lojas de 'fast fashion' onde as referidas demografias adquiriam grande parte do seu guarda-roupa. O artigo de vestuário que abordamos esta Sexta insere-se nesse grupo, tendo gozado de efémera popularidade entre a juventude do dealbar do Terceiro Milénio, antes de desaparecer sem quase deixar rasto, ou mesmo grande memória em quem não chegou a ter tal artigo.

s-l1600.jpg

Falamos dos casacos da marca 'Paul's Boutique', uma espécie de híbrido entre casaco 'de dar estilo' e 'quase-parka' que capturou a imaginação das adolescentes portuguesas por alturas da viragem do Milénio. Sem serem, ao contrário do que se poderia pensar, uma referência ao disco lançado pelos Beastie Boys alguns anos antes (que, por sua vez, também não se refere a esta Paul's Boutique, que era inglesa, e sim a uma outra, na Nova Iorque natal do grupo) estes casacos não deixavam, ainda assim, de proclamar alto e bom som a sua marca, bordada em garrafais letras maiúsculas nas costas da peça, criando aquele tipo de estética que quase faz parecer que a pessoa que a veste trabalha na própria loja. Nada que fizesse muita 'espécie' ao público-alvo, que envergava orgulhosamente para a escola o seu casaco 'de marca' (invariavelmente azul com letras rosa, embora aparentemente existissem outras cores) para melhor fazer inveja às amigas e chamar a atenção dos rapazes – pelo menos até ao dia em que deixaram de o fazer.

Sim, conforme já referimos acima – e à semelhança de tantas outras peças de que já aqui falámos – também estes casacos se 'desvaneceram no éter' ao fim de alguns anos, tendo praticamente deixado de se ver a partir de meados dos anos 2000, e desaparecido por completo à entrada para os 2010. Ainda assim, para uma certa faixa da população portuguesa da geração 'millennial', esta peça não terá deixado de criar memórias – talvez não tão vivas ou imediatas como as referentes às camisas da Sacoor ou blusões da Duffy, por exemplo, mas ainda assim nítidas o suficiente para serem activadas pela leitura de um artigo como este...

24.11.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Já aqui, em diversas ocasiões, falámos de peças de calçado relevantes ou cobiçadas pela juventude portuguesa de finais do século XX, dos ténis Airwalk, Converse ou Redley às socas de plataforma, passando pelas botas Texanas, da Timberland ou Doc Martens, No entanto, existe ainda uma lacuna nesse elenco de sapatos e sapatilhas, o qual pretendemos, nesta edição da Sexta com Style, rectificar: chegou a altura de falar das botas Panama Jack.

PANAMA-03-C1-NAPA-VINTAGE-001DT20201210095901_fill

Exemplo moderno do modelo clássico da marca.

Tão populares e desejadas, em inícios dos anos 90, como qualquer dos calçados acima mencionados, as botas em causa afirmaram-se como uma espécie de antecessoras das posteriores Timberland e CAT, apresentando o mesmo tipo de 'design', algures entre uma bota 'de passeio' e um modelo mais 'todo-o-terreno'. Fabricadas, até aos dias de hoje, exclusivamente em Espanha (concretamente, na região de Albacete) não foi de todo de espantar que um dos primeiros países a acolher e popularizar estas botas (poucos anos após o seu aparecimento, ainda em finais da década de 80) tenha sido, precisamente, o 'outro' país ibérico, onde surgiam normalmente combinadas com calças de ganga da Levi's e camisas aos quadrados, sendo sobretudo associadas aos sectores mais 'bem-comportados' da juventude da época – ou seja, os chamados 'betinhos'. Ainda assim, a posse de umas botas desta marca não deixava de ser um sinal de estatuto entre esse grupo, tanto quanto outras peças de calçado o eram para as demais 'tribos urbanas'.

timeline-2-mobile.jpg

O tradicional símbolo bordado da marca.

Tendo em conta essa popularidade, não deixa de ser surpreendente que as botas Panama Jack tenham, praticamente, desaparecido do panorama juvenil português no espaço de apenas alguns anos, a ponto de, por alturas do final da década, terem já sido totalmente suplantados pelas supracitadas sucessoras. Apesar dessa perda de preponderância, no entanto, a marca subsiste até aos dias de hoje, agora com um público mais 'de nicho', mas com 'designs' e qualidade sensivelmente iguais aos de outrora, permitindo a quem queira 'reviver' a sua juventude, pelo menos parcialmente, voltar a adquirir um par das botas que fizeram a sua felicidade em tempos idos de há três décadas atrás...

07.07.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Apesar de, regra geral, uma década tender a ser referenciada como um todo (veja-se o título deste blog, por exemplo) a verdade é que um período de dez anos é mais do que suficiente para tornar o modo de vida quotidiano de uma sociedade praticamente irreconhecível. E se, em décadas transactas, essas mudanças foram mais graduais e, talvez, menos perceptíveis, os anos 90 foram, talvez, o período em que mais se verificou o oposto, ao ponto de um jovem adolescente de 1991 pouco ter a ver com um seu congénere de 1999, quer em termos de gostos mediáticos, quer de estilo de vida ou até no aspecto estético.

Um bom exemplo disto mesmo foi o calçado jovem dos anos 90. Se houve peças que atravessaram toda a década, nomeadamente os ténis 'pisa-e-brilha' ou os Converse e respectivos sucedâneos, o restante mercado sofreu profundas alterações, com constante renovação em termos de marcas, modelos e até cores populares; no espaço de apenas dez anos, os pés dos jovens portugueses passaram de envergar sapatilhas Sanjo às Redley, Skechers e Airwalk, de sandálias de plástico e chinelos 'dos trezentos' a Havaianas e das botas Doc Martens (hoje de novo em voga e que aqui terão o seu espaço) às Texanas 'em bico', Panama Jack e, acima de tudo, Timberland.

150073_1200_A.jpg

Uma imagem que ainda faz 'babar' toda uma geração...

De facto, a recta final dos anos 90 e início da década seguinte marca a explosão em popularidade da marca americana, e sobretudo do modelo cor de crème, que – quase de um dia para o outro – passou a surgir nos pés de uma enorme parcela da juventude portuguesa, e a ser objecto de cobiça e símbolo de 'status' para a restante percentagem. Caracterizadas por terem constituído uma moda transversal a ambos os sexos – embora, entre o sexo feminino, tendessem a ser adoptada sobretudo por raparigas com um estilo mais práctico, as chamadas 'maria-rapaz' – estas botas tinham, para muitos 'putos' e adolescentes da época, o mesmo entrave de sempre: o preço proibitivo, que fazia delas item de luxo e suscitava o aparecimento no mercado 'alternativo' de um sem número de imitações e contrafacções mais ou menos convincentes, que ajudavam a 'safar' quem não tinha fundos para comprar o artigo genuíno.

O mais curioso é que, à altura da sua popularização em Portugal, esta bota já existia há várias décadas (como era, aliás, o caso também com as Doc Martens) tendo a sua demografia original sido a mesma das Martens e das não menos famosas 'biqueiras de aço': trabalhadores em profissões de índole física ou adeptos da caminhada, que precisavam de botas resistentes e duradouras. Ambas as marcas não tardaram, no entanto, a 'cair no gosto' da juventude, e por alturas da viragem do Milénio, ambas as marcas se encontravam já muito distantes do seu objectivo e público iniciais, tendo-se transformado em artigos puramente estéticos e 'da moda' – posição que, aliás, ocupam até hoje.

Mas se as Doc Martens vivem, actualmente, uma segunda vaga de popularidade, o mesmo não se pode dizer das botas 'amarelas' da Timberland, que sofreram o destino tipico de peças que se tornam demasiado populares e sofrem de sobre-exposição – ou seja, o regresso à semi-obscuridade social. Quem foi de uma certa idade entre finais dos anos 90 e meados da década seguinte, no entanto, certamente recordará a cobiça desmedida que esse artigo de calçado provocava, e a decepção ao deparar-se com o seu preço, mesmo em promoção – que, por sua vez, motivava uma visita à feira mais próxima em busca de algo que pudesse 'fazer as vezes' por um décimo do preço. Outros tempos...

28.04.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

O calçado é, regra geral, uma das melhores formas de 'datar' uma determinada moda ou estilo, sendo ainda hoje um dos principais factores a ter em contar ao tentar emular um 'look' nostálgico; a simples visão de umas socas com sola de plataforma num 'look' feminino, por exemplo, já coloca o 'outfit' algures entre finais dos anos 90 e inícios do Novo Milénio, enquanto que uns Vans aos quadrados já remetem aos últimos anos da década de 2000. Portugal não foi excepção a esta regra, tendo a moda juvenil dos últimos anos do século XX e primeiros do seguinte ficado marcados por toda uma panóplia de artigos de calçado, dos mais visualmente distintos (como os ténis All-Star com a bandeira americana ou inglesa) aos mais discretos, mas nem por isso menos cobiçados, como era o caso dos ténis da Redley.

download.jpg

Oriunda do Brasil, a marca surgia em Portugal ligada ao sempre popular movimento 'surf' e 'bodyboard', associação essa que ajudava a elevar consideravelmente a reputação daquilo que eram, de outro modo, umas 'sapatilhas' de lona rasas, com sola branca e normalmente de cor única, e sem nada que as distinguisse de outros sapatos semelhantes; um daqueles casos, portanto, em que a marca, e respectivo posicionamento de mercado, 'falavam mais alto' do que a estética ou os factores distintivos do artigo em si – uma situação que continua, até hoje, a ser quase paradigmática entre as demografias mais jovens.

Fosse qual fosse o seu atractivo, a verdade é que os ténis e sapatilhas da Redley, fossem com os tradicionais atacadores ou simplesmente de enfiar no pé, rapidamente se tornaram quase 'obrigatórios' entre certos sectores da juventude portuguesa de fim de século, que as ostentava orgulhosamente para inveja dos familiares, colegas e amigos. Escusado será, também, dizer que este era um daqueles casos em que sapatos em tudo semelhantes, mas de marca genérica, e ainda imitações da marca, proliferavam no mercado, sem no entanto suscitarem grande interesse – já que, neste particular, a etiqueta era mesmo o único ponto de 'interesse',

Tal como tantas outras peças e marcas de que aqui falamos, também a Redley pareceu, de um dia para o outro, desaparecer do 'radar' dos jovens portugueses, levada na constante enxurrada das tendências de moda. Para quem, um dia, cobiçou um simples sapato de pano só porque o mesmo tinha a característica etiqueta vermelha, no entanto, este post terá decerto reavivado memórias nostálgicas de tempos que já lá vão – e, como tal, cumprido a sua missão de não deixar cair no esquecimento alguns dos mais marcantes factores da vida infanto-juvenil de finais do século XX.

02.09.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Não há ex-adolescente de finais dos anos 90 e inícios de 2000 que não se lembre delas. Juntamente com as calças boca de sino (ou as chamadas 'pata de elefante') e as 'sweats' (com ou sem capuz) ou 'pullovers' de malha formavam parte integrante da indumentária da grande maioria das raparigas do ensino secundário da altura, que não hesitavam em as exibir numa variedade de cores, apesar de as mais comuns serem os habituais branco-sujo, azul, preto e vermelho (o chamado 'esquema de cores Converse'.)

Jil-Sander-Navy-shoes-Leather-Lace-Up-Platform-549

Falamos das solas de plataforma, uma moda transversal às duas décadas acima referidas, primeiro aplicada a ténis (durante os anos 90) e, mais tarde, às famosas 'socas', que dominaram o calçado adolescente feminino durante a primeira década do novo milénio. E a verdade é que, de um ponto de vista prático (ou, se preferirem, adulto e meio 'chato') não é difícil perceber a razão do sucesso destes sapatos, já que, além das considerações puramente estéticas, os mesmos ofereciam uma série de vantagens. Senão, veja-se: além de ficarem 'a matar' com os modelos de calças acima referidos, também impediam que as mesmas roçassem pelo chão, danificando assim a base das pernas das mesmas, algo com que os rapazes da época se debatiam frequentemente em relação aos seus próprios modelos de calças largas; além disso, este tipo de calçado permitia, ainda, adicionar uns centímetros consideráveis à altura, um efeito explorado em pleno pelas bandas de 'hard rock' dos anos 80 e 90, e que não deixava de constituir também um ponto a favor para raparigas mais baixas, ou mais envergonhadas em relação à sua altura – ainda que, para as suas colegas mais altas, o efeito fosse o oposto.

Em suma, um sapato tão versátil quanto estético (quanto ao conforto, infelizmente, não nos podemos pronunciar...), que ganhou definitivamente o coração de toda uma geração de adolescentes em finais do século XX e inícios do XXI, e que - como tantas outras modas daquela época - está a ser alvo de uma reemergência no mercado, sendo bem possível que, em anos vindouros, venhamos novamente a ver adolescentes do sexo feminino a equilibrarem-se em cima deste tipo de calçado a caminho da escola...

29.07.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Num dos primeiros posts desta rubrica, abordámos as tão frequentes quanto gloriosas peças de vestuário de contrafacção que se podiam (e ainda podem) encontrar em bancas de feira e outros ambientes semelhantes, um pouco por esse Portugal afora. Aquando desse post, deixámos, no entanto, involuntariamente de fora um tipo específico de peça dessa categoria, erro que rectificamos esta semana, ao falarmos das míticas e memoráveis camisolas de malha da 'Burberry' e 'Ralph Lauren' com que todos convivemos naqueles anos de final do Segundo Milénio.

Capture1.PNG

Esta é autêntica, mas façam de conta...

Adquiríveis na mesma 'boutique' que as camisolas a imitar No Fear ou as calças de fato de treino a imitar Adidas ou Reebok – o chão da rua – estas camisolas constituíam contrafacções bem mais cuidadas do que os dois exemplos supra-mencionados, sendo o único sinal suspeito (além, claro está, do facto de serem vendidas na rua, por um preço relativamente acessível) a qualidade da malha, e as cores muitas vezes duvidosas, de que as marcas certamente não teriam aprovado para as respectivas colecções, como o azul-turquesa e o rosa-choque. De resto, estes produtos eram, em tudo, idênticos aos autenticamente comercializados pelas marcas à época, não sendo, portanto, de admirar que tenham 'enganado' muito boa gente na altura.

Tal como sucedeu com as outras peças mencionadas, também estes 'pullovers' se acabaram por tornar menos comuns à medida que a indústria da contrafacção se passou a centrar em outros estilos e marcas; no entanto, o seu carácter significativamente mais intemporal do que as outras imitações da altura faz que, de quando em vez, ainda se vá vendo uma destas camisolas surgir numa qualquer feira portuguesa, pronta a aliciar um comprador menos atento, exigente, ou a quem o símbolo da 'griffe' interesse mais do que a qualidade – adjectivos que descrevem, também, perfeitamente a maioria das pessoas que, à época, tinha no armário uma (ou mais) destas peças...

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub