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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

27.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 26 de Julho de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

A natureza cíclica da moda tende a ser apercebida, sobretudo, de um contexto mais técnico, centrado em aspectos ligados à manufactura, como estilos, padrões, cortes e têxteis; no entanto, uma outra vertente deste paradigma prende-se com as marcas em si, as quais podem, no espaço de poucos anos, ir dos píncaros da popularidade ao quase total esquecimento, seja por falta de visibilidade ou, simplesmente, por as suas peças darem lugar, nas prateleiras e expositores das lojas, a artigos das suas 'sucessoras'. A marca de que falamos neste 'post' foi vítima de ambas essas situações, e, embora nunca tenha desaparecido totalmente do mercado, é hoje associada sobretudo com épocas passadas, nomeadamente com os últimos vinte anos do século XX. Falamos da Amarras, a marca pan-ibérica (as peças são criadas em Espanha mas fabricadas em Portugal) que, a partir do início dos anos 80, trouxe o mundo dos desportos náuticos para o domínio popular, através, principalmente, da sua icónica linha de 'sweat-shirts', as quais, para determinadas demografias, estão ao mesmo nível das camisas da Sacoor, das t-shirts da Quebramar ou das 'sweats' da No Fear.

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Fundada em 1978, no Bairro de Salamanca, em Madrid, Espanha (onde ainda hoje possui a sua loja principal) a Amarras logrou, durante os vinte anos seguintes, espalhar o seu símbolo por países tão distintos como o México, os EUA e, claro, Portugal, onde a concessão da manufactura das peças ajudava a facilitar a entrada e dispersão no mercado. E se a ligação à vela e ao remo conotava, de imediato, a marca com a infame sub-classe dos 'betinhos', a verdade é que nem por isso as peças da Amarras deixavam de ser desejáveis e cobiçadas de forma transversal pelas demografias jovens das gerações 'X' e 'millennial', para quem o símbolo da marca detinha alguma atractividade, ainda que sem chegar ao patamar das concorrentes acima citadas.

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A icónica 'sweatshirt' da marca, imutável até aos dias de hoje.

Nada dura para sempre, no entanto, e foi com naturalidade que o 'ciclo' da Amarras enquanto marca notável e popular se encerrou, dando lugar, ao longo dos primeiros anos do Novo Milénio, a novas 'grifes' prontas a conquistar tanto o mercado ibérico quanto o mundial. Para uma certa parcela da sociedade portuguesa, no entanto, aquelas cordas entrançadas com as letras em Arial Bold por baixo ficarão, para sempre, ligadas a 'sweat-shirts' propositalmente largas envergadas durante encontros com amigos ao fim de um dia de praia – o tipo de memória que nenhum ciclo de popularidade poderá, jamais, apagar, e que garante a esta e outras marcas um lugar permanente no coração dos 'trintões' e 'quarentões' portugueses dos dias que correm.

13.07.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 12 de Julho de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

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A irreverência e necessidade de expressar a sua individualidade estão entre os factores mais importantes da fase jovem do desenvolvimento humano – e a roupa é, a par da música e da arte, um dos principais meios utilizados pelos adolescentes ocidentais para atingir esse objectivo. Não é, pois, de espantar que o mundo da moda tenha, nos últimos anos do Segundo Milénio e primeiros do seguinte, procurado ir ao encontro dessa necessidade do público juvenil, dando origem a um estilo de 't-shirt' ainda hoje muito popular entre a faixa etária em causa, baseado em 'slogans' e dichotes algures entre o humorístico e o ligeiramente 'mal-educado'.

Sucessoras espirituais das camisolas da No Fear ou Street Boy de inícios dos anos 90, estas camisolas utilizavam não só frases variavelmente irreverentes como também, muitas vezes, gráficos arrojados, inspirados na estética 'graffitti' ou em outras formas de arte 'radicais' apreciadas pelos jovens da época, e que eram utilizadas para veicular ou apenas complementar as mensagens. Já estas, por sua vez, iam de desafios à autoridade parental ou cívica até simples mostras de sentido de humor, muitas com piadas baseadas em referências que apenas uma certa 'tribo' ou sector da sociedade compreenderia, fomentando assim o sentido de pertença e individualidade do 'dono' da camisola.

Escusado será dizer que esta combinação de rebeldia com estética apelativa fez enorme e imediato sucesso entre os jovens da época, dando origem a clássicos ainda hoje vistos nas ruas de Portugal, embora já muito menos do que há vinte anos ou um quarto de século. De facto, hoje em dia, as lojas antes especializadas neste tipo de camisola têm, gradualmente, vindo a focar-se em mensagens cada vez mais neutras, e mesmo de cariz puramente turístico, promovendo as localidades onde se situam; uma pena, já que – como qualquer 'millennial' português atestará – a 'piada' destas t-shirts estava mesmo nas frases e conceitos 'bem esgalhados' e fora do comum que apresentavam, e que as ajudaram a tornar numa das primeiras grandes 'modas' juvenis do Portugal do século XXI.

15.06.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 14 de Junho de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

O paradigma português de finais dos anos 80 e inícios da década seguinte – em que as importações eram ainda caras e difíceis de levar a cabo, e o mercado era consequentemente voltado, sobretudo, para o interior – criou condições ideais para o surgimento e rápida expansão de 'alternativas nacionais' aos mais populares produtos internacionais; e apesar de algum do sucesso de que estas companhias gozaram se dever, precisamente, à falta de alternativas, a verdade é que marcas como a Sanjo, a Parfois ou a Monte Campo se destacavam, também, por exibirem os elevados padrões de qualidade por que a manufactura portuguesa era (e continua a ser) conhecida, os quais lhes viriam a garantir o sucesso a longo prazo.

O mesmo se passava com a marca de que falamos neste 'post', a qual – tal como as duas congéneres e contemporâneas acima referidas – logrou manter-se activa e relevante, em maior ou menor medida, desde a sua criação até aos dias de hoje, e tornar-se nome de referência no sub-sector em que se insere. Falamos da Salsa, o grande nome português no mercado das gangas, sobre cuja criação se celebram este ano exactas três décadas, ao longo das quais a marca soube não só manter a sua posição no seio do mercado nacional como também levar a cabo um processo de expansão internacional que a viu penetrar em cerca de três dezenas e meia de países um pouco por todo o Mundo.

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Fundada no Norte do País, concretamente em Vila Nova de Famalicão, algures em 1994, a Salsa nasce a partir da iniciativa de três irmãos, António, Filipe e Beatriz Vila Nova, então donos de um negócio de tinturaria e limpeza a seco bastante reputado a nível local. Não contentes em limitar-se a esse nicho de mercado, os três familiares procuraram expandir o seu raio de acção ao campo da manufactura e distribuição de vestuário, concretamente calças de ganga. Pouco tempo depois, surgia pela primeira vez no mercado português o nome que rapidamente se tornaria quase tão popular quanto concorrentes internacionais como a Charro e a Guess, perfilando-se numa 'segunda linha' apenas atrás de grandes marcas como a Levi's ou Wrangler. A este rápido aumento de popularidade não terão estado alheios os preços algo mais acessíveis e atractivos dos 'jeans' da Salsa relativamente aos das suas principais concorrentes, em grande parte possibilitados pela manufactura local, por oposição ao 'outsourcing' levado a cabo pelas marcas internacionais.

Face a este franco e célere crescimento, não é de surpreender que, poucos anos após o seu aparecimento, a Salsa tivesse já direito a loja própria, no caso na zona do País de onde era oriunda (o Grande Porto), concretamente no NorteShopping, principal centro comercial daquela região. Não demoraria mais do que alguns meses, no entanto, até o número de lojas da marca em Portugal triplicar, com a Salsa a chegar aos outros dois grandes centros urbanos nacionais, Lisboa (com uma loja no então ainda recente 'shopping' Vasco da Gama, construído e inaugurado no âmbito da Expo '98, no ano anterior) e Braga (com abertura no Braga Parque).

A relativa popularidade destes três primeiros pontos de venda serviria, aliás, como mote para uma declarada tentativa de expansão nos primeiros anos do Terceiro Milénio, que veria a Salsa penetrar em mercados não só europeus (da inevitável Espanha à Irlanda, Bélgica, Luxemburgo, Croácia ou Malta) como também internacionais, incluindo alguns, à época, ainda emergentes, como o Qatar ou os Emiratos Árabes Unidos. O sucesso desta empreitada despertaria, por sua vez, o interesse do ubíquo Grupo Sonae, que, já na segunda década do século XXI, se tornaria dono de metade do capital da marca (então já da propriedade quase exclusiva de Filipe Vila Nova, detentor de 85% da empresa que fundara com os irmãos), avançando eventualmente para a aquisição total da mesma, já em 2020 – um sinal inequívoco de que, apesar de já não ter a expressão de que gozou outrora, a marca nacional por excelência no mercado das calças de ganga se mantém firme tanto dentro do mesmo como a nível internacional, onde continua a personificar a máxima de que 'o que é nacional é bom'...

24.05.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

De entre as actividades extra-curriculares disponíveis no Portugal de finais do século XX, a ginástica infantil ocupava, para grande parte da população, lugar de destaque. Ainda mais do que o 'ballet', equitação, natação, futebol ou artes marciais, era esta actividade unissexo e de claros benefícios tanto físicos como sociais que atraía muitos pais, e que rapidamente se tornava parte do quotidiano de inúmeras crianças pré-adolescentes. E quem, na infância, tenha frequentado mais do que uma única aula de ginástica, certamente se lembrará vivamente de se deslocar à loja de desporto mais próxima para adquirir as indispensáveis sapatilhas brancas ou pretas.

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De aspecto e 'design' algures entre as alpercatas, os sapatos de 'ballet' e os futuros 'best-sellers' da Vans, estas peças de calçado ofereciam muito pouco no tocante a moda ou 'style' – não se pondo sequer a hipótese de serem usadas para lá das quatro paredes do estúdio ou ginásio – mas, desde que compradas no tamanho certo (o que nem sempre era adquirido) ofereciam o conforto e mobilidade necessária para os pinos, rodas e cambalhotas da ginástica, ao mesmo tempo que ofereciam alguma protecção – embora não muita, como sem dúvida asseverará qualquer pessoa que tenha colocado mal um pé com elas vestidas.

Quando aliadas ao facto de estas peças de calçado serem infinitamente resistentes, recusando-se a 'morrer' mesmo após meses ou anos de uso semi-intensivo, estas qualidades faziam com que as sapatilhas de ginástica valessem bem o seu dinheiro – e continuem a valer, já que este tipo de sapato está longe de ter desaparecido do Portugal contemporâneo, ainda que a sua presença no mesmo seja significativamente mais reduzida do que outrora, devido à queda de popularidade da ginástica infantil em relação a outras modalidades. Ainda assim, quem tenha filhos com apetência para os saltos e cambalhotas certamente já terá dado por si a comprar pelo menos um par de sapatos deste tipo e, quiçá, a recordar um tempo em que os 'papéis' eram invertidos, e as sapatilhas eram para si...

10.05.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Já aqui, numa edição passada, falámos das icónicas colecções de t-shirts licenciadas da Zara de finais dos anos 90 e inícios de 2000, com temas que iam dos desenhos animados aos logotipos de bandas, e que 'vestiram' toda uma geração durante vários anos consecutivos. No entanto, ainda antes de a marca espanhola se estabelecer como a principal influenciadora da moda infanto-juvenil no tocante a camisolas de manga curta, já uma outra companhia estrangeira recém-chegada a Portugal se havia aventurado em algo semelhante, com considerável sucesso.

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Uma das mais icónicas t-shirts da linha em causa trazia os populares personagens da MTV, Beavis e Butt-Head.

Falamos do hipermercado Carrefour, o qual, em meados da década de 90, apresentou uma colecção de t-shirts para crianças e jovens capaz de cativar o seu público-alvo de forma semelhante ao que aconteceria com as da Zara, anos depois. Em comum com estas, a colecção do Carrefour tinha as licenças, entre as quais se contavam a marca de motocicletas Yamaha e o então mega-popular duo de bonecos 'metaleiros' da MTV, Beavis e Butt-Head, que 'davam a cara' numa das mais icónicas e memoráveis camisolas da linha. Ao contrário do que seria de esperar, no entanto, esta colecção não se alicerçava apenas nas licenças – pelo contrário, outra das mais bem-conseguidas t-shirts da gama trazia um tubarão estilo 'cartoon', que não destoaria numa camisola da No Fear ou Maui and Sons, mas que não pertencia a nenhuma das duas.

Estes 'designs' cuidados, aliados ao preço bastante mais convidativo do que o de uma t-shirt equivalente com logotipo de uma marca, tornaram natural o sucesso da linha do Carrefour entre o público-alvo, e até entre os 'mais crescidos', sendo bastante frequente ver miúdos e graúdos vestidos com camisolas da colecção por volta de 1995-96. Assim, e apesar de menos lembradas que as suas congéneres da Zara, estas camisolas não deixam, ainda assim, de merecer a nossa homenagem, já que, durante o seu breve apogeu, permitiram a muitos jovens portugueses iniciarem o fim-de-semana em grande Style...

26.04.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Numa edição passada desta mesma rubrica, dedicámos algumas linhas aos ténis Airwalk, talvez a mais conhecida e cobiçada marca de ténis de skate entre a juventude dos anos 90 e inícios de 2000. No entanto, havia uma outra marca quase equiparante à supramencionada, e cujos sapatos constituiam uma excelente alternativa ou 'segunda opção' aos da mesma; é dessa 'concorrente que peso' que falaremos nesta Sexta com Style.

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Um dos icónicos modelos da marca na década de 90.

Fundada na Califórnia em 1992, a Skechers nascia das cinzas da LA Gear, marca de alguma expressão entre as demografias jovens americanas da década anterior, e visava precisamente o mesmo tipo de público-alvo, pelo menos no tocante à faixa etária. Isto porque, enquanto a LA Gear se havia afirmado como uma marca mais generalista, a Skechers visava, nessa primeira fase, sectores mais especializados da faixa jovem, nomeadamente os praticantes de 'skate', ao mesmo tempo que tentava rivalizar e competir com marcas como a Dr. Martens no mercado das botas. O foco rapidamente se alargaria, no entanto, e a marca não tardaria a conseguir o seu primeiro grande sucesso com a linha D'Lites, precursora dos ténis de sola grossa, quase plataforma, que povoariam o vestuário juvenil nas décadas seguintes. Se esse foi o grande 'cartão de visita' da marca nos seus EUA natais, no entanto (tendo, inclusivamente, dado à marca estatuto suficiente para permitur colaborações com mega-estrelas 'pop' e celebridades como Kim Kardashian) já em Portugal, foram mesmo os ténis de 'skate' que se tornaram sinónimos com o nome Skechers, e que foram activamente procurados e cobiçados pela juventude da época, tendo inclusivamente servido de 'inspiração' e modelo para um sem-número de inevitáveis imitações, algumas delas, inclusivamente, lançadas por marcas concorrentes, algumas já bem estabelecidas no mercado.

Tal como aconteceu com a Airwalk, no entanto, também a Skechers acabou, inevitavelmente, por ceder caminho a outras marcas 'da moda', como a Vans e a New Balance. À medida que o Novo Milénio avançava, e a juventude 'millennial' dava, progressivamente, lugar à 'Z', a fabricante californiana foi, progressivamente, perdendo expressão dentro do seu próprio mercado, a ponto de, um quarto de século volvido sobre o auge da sua popularidade, ser considerada, em certas partes do Mundo, uma marca de índole quase ortopédica, e favorecida pelo público idoso – uma ideia, no mínimo, causadora de dissonância cognitiva para quem, em adolescente, teve (ou sonhou ter) um par de ténis Skechers para combinar com as calças largas e t-shirt de 'skate'...

01.03.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Hoje em dia, numa era em que tudo fica 'registado' por meio digital, é mais fácil traçar uma 'moda' ou 'febre' infantil ou adolescente até à sua origem – normalmente, uma qualquer celebridade ou 'influencer' do TikTok ou Instagram; nos anos 90, no entanto (quando o mais próximo desse paradigma eram os programas de televisão ou os filmes americanos) as referidas modas e estilos pareciam surgir do mesmo 'nada' para onde desapareciam no fim do seu 'ciclo de vida', alguns meses ou um par de anos depois – a menos, claro, que fizessem parte da nova colecção de qualquer das lojas de 'fast fashion' onde as referidas demografias adquiriam grande parte do seu guarda-roupa. O artigo de vestuário que abordamos esta Sexta insere-se nesse grupo, tendo gozado de efémera popularidade entre a juventude do dealbar do Terceiro Milénio, antes de desaparecer sem quase deixar rasto, ou mesmo grande memória em quem não chegou a ter tal artigo.

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Falamos dos casacos da marca 'Paul's Boutique', uma espécie de híbrido entre casaco 'de dar estilo' e 'quase-parka' que capturou a imaginação das adolescentes portuguesas por alturas da viragem do Milénio. Sem serem, ao contrário do que se poderia pensar, uma referência ao disco lançado pelos Beastie Boys alguns anos antes (que, por sua vez, também não se refere a esta Paul's Boutique, que era inglesa, e sim a uma outra, na Nova Iorque natal do grupo) estes casacos não deixavam, ainda assim, de proclamar alto e bom som a sua marca, bordada em garrafais letras maiúsculas nas costas da peça, criando aquele tipo de estética que quase faz parecer que a pessoa que a veste trabalha na própria loja. Nada que fizesse muita 'espécie' ao público-alvo, que envergava orgulhosamente para a escola o seu casaco 'de marca' (invariavelmente azul com letras rosa, embora aparentemente existissem outras cores) para melhor fazer inveja às amigas e chamar a atenção dos rapazes – pelo menos até ao dia em que deixaram de o fazer.

Sim, conforme já referimos acima – e à semelhança de tantas outras peças de que já aqui falámos – também estes casacos se 'desvaneceram no éter' ao fim de alguns anos, tendo praticamente deixado de se ver a partir de meados dos anos 2000, e desaparecido por completo à entrada para os 2010. Ainda assim, para uma certa faixa da população portuguesa da geração 'millennial', esta peça não terá deixado de criar memórias – talvez não tão vivas ou imediatas como as referentes às camisas da Sacoor ou blusões da Duffy, por exemplo, mas ainda assim nítidas o suficiente para serem activadas pela leitura de um artigo como este...

16.02.24

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Ao longo do tempo de vida deste 'blog', e desta rubrica em particular, temos vindo a recordar os mais diversos estilos de calçado, não sendo as botas excepção a esta regra – até por, no Portugal dos anos 90, este ter estado entre os tipo de calçado que mais frequentemente 'entrou' e 'saiu' de moda. Das Panama Jack às botas texanas, passando pelas 'famosas' Timberland ou Doc Martens, foram muitos (e muito saudosos) os tipos e modelos de bota a adornar os pés das crianças e adolescentes (bem como de muitos adultos) durante a última década do século XX. E enquanto que alguns destes formatos estavam associados aos chamados 'betinhos', e outros a estilos mais 'alternativos', apenas um conseguia conferir, quase imediatamente, ao seu dono o estatuto de 'mauzão': as botas de biqueira de aço.

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De facto, para muitos 'millennials' nacionais, a mera menção deste termo conjurará imagens do 'metaleiro' lá da escola, ou daquele indivíduo que todos receavam, pela sua propensão para brigas e outras actividades menos do que desejáveis. Isto porque, durante o breve período em que deixaram de ser instrumentos de trabalho para passarem a moda adolescente, as botas de biqueira de aço tendiam a ser compradas e utilizadas pelo sector da 'sociedade' escolar que procurava projectar uma imagem vagamente 'perigosa', fosse a mesma puramente estética ou baseada em aspectos da sua personalidade. Talvez por isso este modelo de calçado fosse tão cobiçado por aqueles que, por uma razão ou outra, eram incapazes de se 'impôr' – talvez na esperança que, como os sapatinhos vermelhos de Dorothy ou os ténis de 'Like Mike', as mesmas lhes conferissem 'poderes' especiais de auto-confiança uma vez envergadas. O preço proibitivo das mesmas – bem como o aspecto algo austero e pouco condicente com indumentárias 'normais' – mantinha, no entanto, essa ambição no plano do simples desejo, restringindo o uso destas botas ao tal sector mais 'feio, porco e mau' da população escolar.

Mais de vinte anos depois, as botas de biqueira de aço parecem ter regressado ao nicho do calçado de trabalho, sendo raros os modelos puramente estético deste tipo de sapato, pelo menos para quem não se insere nos meandros do movimento 'metaleiro'; para qualquer 'millennial' que tenha andado no ensino secundário em finais dos anos 90 e inícios do Novo Milénio, no entanto, as mesmas continuarão, sem dúvida, a simbolizar uma certa estética e forma de estar tão invejada quanto temida nos pátios de recreio do País de então...

 

06.01.24

NOTA: Este post é respeitante a Sexta, 04 de Janeiro de 2024.

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Os anos 80 e 90 foram palco de uma maior diversificação no tocante a calçado infanto-juvenil, e mesmo mais adulto. Sem terem abandonado todos os modelos clássicos de décadas anteriores – como as botas ou os ténis – os fabricantes de calçado nacionais e internacionais principiaram a injectar uma maior dose de originalidade nos seus sapatos, dando azo a peças tão icónicas quanto os famosos Converse da bandeira americana. No entanto, nem todas as mudanças e inovações tinham esse nível de mediatismo – pelo contrário, muitas surgiam sem grande 'alarido', mas acabavam por se tornar parte integrante do guarda-fatos da maioria dos jovens, não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo.

pantufa_infantil_feminina_ferpa_cachorro_3d_24287_

pantufa_infantil_pimpolho_antiderrapante_monstrinhDois exemplos bem típicos do tipo de calçado em causa.

Um dos melhores exemplos dessa tendência, e que continua a ser encontrado em sapatarias e lojas por esse Portugal fora até aos dias de hoje, são as pantufas de 'patas' ou de 'animais', talvez uma das mais famosas peças de vestuário 'de casa' junto da geração 'millennial', e que continua a reter um charme considerável até aos dias de hoje. Isto porque, por mais idade que se tenha, a ideia de meter os pés numas enormes patas de felino (ou cabeças de cão, ou qualquer que seja o motivo que as pantufas tentam emular) nunca deixa de ser apelativo, o que explica o porquê de serem, até hoje, lançados modelos actualizados deste tipo de sapato, e invariavelmente em tamanhos para adultos – bem como o facto de se verem, ainda, muitos 'crescidos' de ambos os sexos andarem com pantufas destas em casa durante os meses de Inverno.

Apesar da contínua actualização destes modelos ano após ano, no entanto, uma falha gritante continua por colmatar – nomeadamente o facto de estes sapatos terem solas de tecido, que se 'ensopam' ao mínimo contacto com uma superfície molhada e tornam o uso da pantufa extremamente desconfortável. Não fora esse pequeno mas significativo detalhe, e decerto estas pantufas teriam atingido estatuto ainda mais lendário, e feito parte do panteão dos calçados de 'elite' de finais do século XX e inícios do seguinte.

10.11.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Apesar de ficar apenas atrás da roupa interior e dos produtos de higiene na lista de posses pessoais mais íntimas, a roupa de cama é um elemento tão importante como qualquer outro para qualquer criança ou jovem, independentemente do período que habite – não só pelo prazer de se deitar entre os seus heróis (que contagia, inclusivamente, seres humanos mais velhos) mas também pela inevitável e irresistível vontade de mostrar os seus lençóis ou edredom com os 'bonecos da moda' a quaisquer amigos que possam eventualmente ser convidados lá para casa.

Os anos 90 não foram, de todo, excepção a esta regra, antes pelo contrário, tendo-se limitado a dar continuidade à tendência, iniciada nas duas décadas anteriores, para a criação de roupa de cama e banho estampada com as principais propriedades intelectuais da época. No caso da última década do século XX, tal traduziu-se, essencialmente, no surgimento de lençóis, edredons e toalhas centrados em torno de personagens da Disney (fossem elas os tradicionais Mickey e Minnie ou as estrelas dos mais recentes filmes da companhia) ou de heróis tão ou mais populares, como as Tartarugas Ninja, os Power Rangers ou – mais tarde – os Pokémon.

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Algo muito semelhante a isto foi cobiçado lá por casa em inícios dos 90...

Escusado será dizer que quase todos estes produtos rapidamente se tornavam alvo de cobiça activa por parte do público-alvo, tendo quase garantido um alto volume de vendas, pelo menos enquanto cada uma das propriedades se mantivesse popular – um paradigma que, aliás, subsiste até aos dias de hoje, com alguns dos desenhos da época, inclusivamente, a resistir à passagem das 'modas', continuando a ser mais do que comum ver lençóis e edredons do Rei Leão, da Barbie ou do Homem-Aranha, entre outros.

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...e isto, certamente, também teria sido.

Qualquer 'millennial' que se preze saberá, no entanto, que não se limitava a esta vertente a roupa de cama infantil dos anos 90, sendo ainda mais comum ver jogos de cama estampados com carros, motas, ursinhos, coelhinhos ou simplesmente letras, alguns dos quais em elaborados desenhos que cobriam quase toda a superfície do lençol, enquanto outros surgiam mais pequenos e dispostos no tradicional mosaico que muita da referida geração associa, ainda hoje, à palavra 'lençol'. Fosse qual fosse a vertente vigente no respectivo quarto, no entanto (lá por casa, apostava-se, sobretudo, em padrões invulgares, embora os carros e o alfabeto também tenham marcado presença) a mesma formava parte importante da estética do quarto, contribuindo para dar à divisão o mesmo 'Style' que o seu dono ou dona tentava apresentar na vida quotidiana, fosse à Sexta ou em qualquer outro dia.

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