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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

13.11.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

O fim de uma banda icónica nem sempre garante o sucesso de seja qual for o projecto a que os músicos se dediquem em seguida; antes pelo contrário, esse tipo de 'sequela' musical tende, na maioria dos casos, a ser algo ignorada pelos fãs do grupo original, que desejam apenas mais um álbum da sua banda favorita. Assim, qualquer músico que embarque neste tipo de 'aventura' tem pela frente uma série de obstáculos, a começar por essa mesma aceitação dos fãs, e que passa também pela vontade, bastante frequente, de se demarcar do som do seu grupo de origem, o que ainda ajuda a reduzir mais o interesse da 'massa adepta' pelo novo projecto.

Foi, precisamente, esse o paradigma com que se depararam Rui Pragal da Cunha e Paulo Gonçalves, dos efémeros mas icónicos Heróis do Mar, banda que marcou a cena pop-rock nacional durante os anos 80, mas que não sobreviveu ao dealbar da nova década, encerrando actividades logo nos primeiros meses da mesma. Não demorou, no entanto, até que os dois músicos demarcassem novo objectivo musical, e, menos de um ano após a dissolução dos Heróis, via a luz o primeiro (e único) registo do projecto LX-90.

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As capas das duas versões (nacional e internacional) do único álbum do projecto.

Com um nome que consiste, simplesmente, das formas abreviadas do ano e localidade de formação da banda (mas que consegue, mesmo assim, soar 'cool' e misterioso q.b.), este projecto vê Rui e Paulo juntar-se a DJ Vibe e aos desconhecidos Nuno Miguel e Nini Garcia para desenvolver um som dançante e psicadélico, alicerçado em estilos como o 'trip-hop', e pautado pelas vocalizações dramáticas e por vezes quase declamadas de Rui Pragal da Cunha; no fundo, uma espécie de versão mais 'pesada' e alternativa do 'synth-pop' dos Heróis, que não tentava sequer agradar aos fãs dos mesmos, e apontava, em vez disso, a uma demografia totalmente nova que começava a dealbar entre as gerações mais novas.

Talvez tenha estado aí a razão do insucesso do projecto: sem a ligação sonora aos Heróis do Mar, Rui e Paulo alienaram uma base de fãs antes de terem conseguido conquistar outra, e acabaram por se perder nas 'malhas' das cenas pop-rock e alternativa nacionais. O grupo ainda tentou um 'ataque' internacional, através de uma versão do álbum com músicas em Inglês, mas ficou mesmo por aí a sua discografia, tendo os músicos encerrado actividades pouco tempo depois.

Em anos subsequentes, no entanto, o projecto LX-90 atingiu um certo estatuto de culto, que motivou mesmo, já neste ano de 2023 (concretamente a 13 de Julho) uma reunião, para participar no festival Super Bock Super Rock. Desta nova formação fazem parte, além dos dois ex-Heróis do Mar e de DJ Vibe, Nuno Roque, João Gomes e Samuel Palitos, este último um ex-membro dos ícones do punk nacional Censurados. Resta saber se este foi um reencontro esporádico ou se haverá planos para prosseguir com a carreira de um nome que merecia mais do que a carreira breve e discreta de que gozou, e a audiência de culto que logrou angariar durante a mesma.

02.10.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

A grande maioria do movimento musical português continua, até hoje, a centrar-se em torno do pop-rock 'de guitarras' de pendor radiofónico, surgido nos anos 70 e consolidado como principal género lusitano nas duas décadas seguintes. Aqui e ali, surgem nomes proeminentes em outros estilos – nomeadamente o hip-hop, o metal e mesmo o tradicional fado – mas os mesmos continuam a ser uma minoria, e até mesmo esta breve 'janela' de oportunidade tende a não se estender a géneros mais periféricos do espectro musical. Serve esta introdução para clarificar que fundar um projecto de rock industrial em Portugal é nada menos do que um acto de coragem – e conseguir mantê-lo activo e relevante durante três décadas, uma façanha digna de ser louvada.

E, no entanto, é precisamente isso que Armando Teixeira e Rui Sidónio têm vindo a conseguir com o projecto Bizarra Locomotiva, cujo último álbum saiu há pouco mais de uma semana à data de publicação deste 'post', que teria sido escrito apenas dois dias após o seu lançamento, não fora o hiato forçado. Ainda assim, mesmo com este atraso, o lançamento de 'Volutabro' continua a ser relevante o suficiente para justificar uma retrospectiva dos seus autores, até por este ano assinalar o trigésimo aniversário do projecto.

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De facto, foi em 1993 que Teixeira e Sidónio procuraram reunir uma banda, com vista a participar no Concurso de Música Moderna de Lisboa. Desse primeiro passo à transição para banda 'a sério' mediariam apenas alguns meses, com o álbum de estreia auto-intitulado a sair logo no ano seguinte, pela independente Simbiose, uma das principais editoras de bandas 'underground' de rock pesado em Portugal.

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O álbum de estreia do grupo, lançado em 1994.

Esse mesmo selo viria, nos dois anos subsequentes, a editar mais dois registos de originais de um grupo que provava ter uma ética de trabalho 'à moda antiga', e que, no tempo que normalmente leva a uma banda a escrever um único álbum, lançava três registos, por entre uma agenda de concertos bastante preenchida – uma atitude que, aliada à qualidade do colectivo, não tardaria a torná-los conhecidos dentro dos círculos do rock, punk e metal portugueses, e que lhes valeria o respeito de nomes como Fernando Ribeiro, dos Moonspell (que viria a participar num dos discos do colectivo) e a participação na Bienal de Jovens Criadores da Europa Mediterrânica, em meados da década. Até final da mesma, tempo ainda para um quarto álbum ('Bestiário', de 1998, novamente pela Simbiose) e para a participação no lendário tributo aos Xutos e Pontapés, 'XX Anos, XX Bandas', com uma reinvenção industrializada do tema 'Se Me Amas' que não deixava de se destacar do som mais clássico e típico de outros colectivos presentes no disco, como os Entre Aspas.

O Novo Milénio via, finalmente, o ritmo de trabalho do grupo abrandar para um ritmo mais normal – nos primeiros dez anos do século XXI, saem três registos de originais, o último dos quais, 'Álbum Negro', de 2009, com intervalo de cinco anos em relação ao anterior 'Ódio' – mas sem beliscar minimamente a reputação do grupo, que perduraria até quando, na década de 2010, o grupo quase parou a produção criativa, soltando apenas um único álbum, o sétimo, intitulado 'Mortuário' e lançado por outra 'grande' independente portuguesa, a Rastilho, em 2015. Pelo meio, o afastamento do fundador e vocalista Armando Teixeira – um acontecimento que ditaria o fim de muitas bandas, mas não dos Bizarra, que, por entre compassos de espera tão forçados quanto necessários, chegariam, após tortuosos oito anos, ao disco correspondente (o oitavo) que prova que pouco ou nada mudou na sonoridade metálica industrial do grupo agora capitaneado por Rui Sidónio, um exemplo de perserverança numa cena que continua a ser ingrata para quem não aposte num estilo radiofónico e vendável. Que contem ainda muitos anos, porque o algo estagnado panorama musical português precisa de 'anomalias' como eles.

Primeiro avanço do novíssimo álbum do grupo, lançado no passado mês de Setembro

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